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Ouestões

Práticas
PERGUNTA: Seminário. Promoção por órgão público. Contratação de palestrante.
Determinado órgão público promoverá seminário sobre regularização
fundiária. É possível contratar um palestrante para tal evento? É admissível
incluir na avença os valores que serão despendidos com deslocamento,
hospedagem e alimentação do conferencista?

RESPOSTA: A contratação de palestrante para ministrar palestra em seminários é


juridicamente viável, uma vez que é um dever inerente à Administração
Pública o treinamento e aperfeiçoamento de seu pessoal.
O meio pelo qual se dará a contratação dependerá da situação vivenciada
pela Administração.
A primeira hipótese será a implementação de certame licitatório. Consoante
determina o § 1º do art. 13 da Lei de Licitações, ressalvados os casos de
inexigibilidade de licitação, a modalidade a ser adotada para a contratação
será, preferencialmente, o concurso.
É oportuno o entendimento de Marçal Justen Filho:
“Quando não for cabível a contratação direta (fundada no art. 25), a licita-
ção para contratação de serviços técnicos profissionais especializados
far-se-á preferencialmente na modalidade de concurso. Essa é a solução
mais adequada, pois o concurso exige uma evidenciação concreta das
habilidades do interessado. O vencedor, será aquele que apresentar o
melhor desempenho na execução do serviço. Porém e como já apontado,
não é obrigatório adotar a modalidade de concurso. Assim, por exemplo,
suponha-se a hipótese de serviços comuns de auditoria, sujeitos a pa-
drões internacionais. A ausência de variações significativas entre as diver-
sas alternativas de contratação pode conduzir à viabilidade de competi-
ção. Não será caso de adotar concurso, mas outra modalidade comum.

* Nota dos Editores: As respostas às Questões Práticas são oriundas da Consultoria NDJ e de posicionamentos
externados nos Eventos NDJ.
502 BLC – Boletim de Licitações e Contratos – Maio/2010

Poderá escolher-se a concorrência, com tipo técnica e preço, por exem-


plo” (Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 12ª ed.,
São Paulo, Dialética, 2008, p. 166).
Se houver viabilidade de competição entre diversos palestrantes, será
possível a realização de procedimento licitatório, cuja modalidade prefe-
rencialmente adotada será o concurso.
Deve-se salientar que, se o caso concreto preencher os requisitos legais,
a contratação poderá ser celebrada com base no inc. II do art. 25 da Lei de
Licitações, ou seja, contratação direta por inexigibilidade de licitação.
A contratação de serviços técnicos especializados, fundamentados no
inc. II do art. 25 da Lei nº 8.666/93, poderá ser realizada desde que se
trate de serviços elencados no art. 13 da Lei de Licitações, de natureza
singular, com profissionais ou empresas de notória especialização.
Por serviço de natureza singular há que se entender aquele portador de
uma tal complexidade que o individualiza, tornando-o diferente dos da
mesma espécie, e que exige, para a sua execução, profissional ou empre-
sa de especial qualificação.
Preleciona Marçal Justen Filho:
“A natureza singular caracteriza-se como uma situação anômala, incomum,
impossível de ser enfrentada satisfatoriamente por todo e qualquer profis-
sional ‘especializado’ ” (ob. cit., p. 350).
Segundo Diogenes Gasparini, “Por natureza singular do serviço há que se
entender aquele que é portador de uma complexidade executória que o
individualiza, tornando-o diferente dos da mesma espécie, e que exige,
para a sua execução, um profissional ou empresa de especial qualifica-
ção” (Direito Administrativo, 14ª ed., São Paulo, Saraiva, 2009, p. 577)
(grifou-se).
Por sua vez, o profissional de notória especialização está definido no § 1º
do art. 25 da Lei de Licitações, ou seja, o profissional ou empresa deve ser
conceituado por aqueles que militam na mesma área e pelos seus clientes.
A notória especialização do futuro contratado deve estar, portanto, intima-
mente ligada ao objeto pretendido pela Administração e ser suficiente
para atender à singularidade imposta pelo interesse público.
Observe-se o conteúdo do Enunciado nº 39 do Tribunal de Contas da
União:
“Notória especialização só tem lugar quando se trate de serviço inédito ou
incomum, capaz de exigir na seleção do executor de confiança, um grau
de subjetividade, insusceptível de ser medido pelos critérios objetivos de
qualificação inerentes ao processo de licitação”.
A contratação direta somente poderá efetivar-se com base no inc. II do art.
25 da lei se constatada a existência simultânea dos dois requisitos mencio-
nados, a saber: a singularidade e a notória especialização.
Desde que cumpridos os requisitos, a contratação direta com base no inc.
II do art. 25 da lei estará autorizada.
De outro modo, a licitação impor-se-á, observados os preceitos do Estatu-
to federal Licitatório.
Não basta, frise-se, demonstrar a notória especialização do pretenso con-
tratado. A lei exige que o objeto reclame dita especialização para que se
justifique a inexigibilidade.
Constatada a hipótese de inexigibilidade, para que se perfaça a contratação
direta faz-se mister que se observem os requisitos procedimentais insertos
no art. 26, caput e parágrafo único, da lei.
QUESTÕES PRÁTICAS 503

Conclui-se que a legalidade da contratação de serviços técnicos profissio-


nais especializados sem licitação dependerá do preenchimento desses
dois requisitos: a singularidade e a notória especialização. A presença de
somente um não autorizará a celebração do ajuste de forma direta.
Outra hipótese pertinente será, dependendo do caso concreto, a contrata-
ção direta com base no inc. II do art. 24 da Lei de Licitações, ou seja,
dispensa de licitação em razão do pequeno valor.
Para que possa concluir por essa contratação, deverá a Administração
observar se durante o exercício financeiro já realizou contratações dessa
natureza, sob esse fundamento jurídico, que alcançassem o montante de
8 mil reais.
Considerando a hipótese de que este será o primeiro seminário a ser
implementado pela Administração neste exercício financeiro (e que ne-
nhum outro palestrante tenha sido contratado durante este período), será
necessário averiguar se as contratações de todos os palestrantes soma-
das alcançam a quantia de 8 mil reais. Se a ultrapassarem, por certo essa
alternativa não poderá ser adotada, uma vez que poderia ser configurado
o fracionamento da licitação.
De outro modo, se os honorários a serem pagos aos palestrantes, soma-
dos, não ultrapassarem aquela quantia, a contratação poderá, também,
ser baseada no inc. II do art. 24 da Lei de Licitações.
Preleciona Marçal Justen Filho:
“A pequena relevância econômica da contratação não justifica gastos com
uma licitação comum. A distinção legislativa entre concorrência, tomada
de preços e convite se filia não só à dimensão econômica do contrato. A
lei determinou que as formalidades prévias deverão ser proporcionais às
peculiaridades do interesse e da necessidade pública. Por isso, tanto mais
simples serão as formalidades e mais rápido o procedimento licitatório
quanto menor for o valor a ser despendido pela Administração Pública”
(ob. cit., p. 288).
No que tange à informação de que o deslocamento, hospedagem e ali-
mentação do palestrante estarão inclusos na sua contratação, cabe ob-
servar que, em geral, a própria Administração Pública realiza a contratação
de hospedagem, alimentação e transporte aos palestrantes. Tais contrata-
ções costumam ser precedidas dos competentes certames licitatórios, de
modo que se permita a contratação mais vantajosa para a Administração,
conforme dispõem o inc. XXI do art. 37 da Constituição Federal e o art. 2º
da Lei nº 8.666/93. Essa regra somente é excepcionada nas situações de
licitação dispensada, dispensável ou inexigível.

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