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PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS METÁLICAS: Estudo de caso em torres de linha de

transmissão1.

Cleyton Précoma Portes2


Auro Candido Marcolan Júnior (orientador)3

RESUMO

As linhas de transmissão de energia estendem-se por grandes distâncias, onde


em sua grande maioria são compostas de estruturas metálicas. Por apresentarem grandes
extensões passam por diversos ambientes, dessa forma vários desafios devem ser
vencidos, iniciando com o projeto na escolha da série de estrutura a ser aplicada, na
fabricação com a utilização de processos automatizados e rigoroso controle de
qualidade dos materiais, na etapa de montagem com a utilização das melhores práticas
de construção, e por fim na fase de operação e manutenção com inspeções rotineiras.
Diante desse cenário neste trabalho vamos apresentar as patologias que essas estruturas
estão sujeitas e por final apresentar alguns estudos de casos ocorridos em estruturas
metálicas de Linhas de Transmissão de energia como por exemplo as patologias de
fabricação, montagem, pintura e corrosão.

Palavras-chave: Linhas de transmissão, Patologias, Estruturas Metálicas.

1 INTRODUÇÃO

Projetar uma estrutura é dar solução para segurança, funcionalidade e


durabilidade, os quais necessitam da mesma prioridade. As falhas ou acidentes
estruturais têm sua origem em qualquer ação associada ao processo de construção. Na
construção metálica as determinações seguem as fases: concepção estrutural (projeto,
detalhamento e dimensionamento), fabricação, montagem, utilização e manutenção.
Visualizam-se as falhas como um resultado de execução humana: ineficácia técnica do
pessoal comprometido em toda fase no processo de construção, utilização de materiais
de má qualidade, de causas naturais provocando o envelhecimento precoce dos
materiais que compõe as estruturas (por exemplo, corrosão) e de ações externas
ambientais conforme pesquisas feitas por (PRAVIA e BETINELLI, 1998).Os
problemas gerados pelo uso inadequado do aço são chamados de patologias. A
patologia acontece devido a vários fenômenos como: a movimentação dos materiais
provocada por variações térmicas; movimentações higroscópicas (pela deposição de
substâncias que retêm umidade onde aceleram o processo corrosivo); atuação de
sobrecargas exageradas; concentração de tensões; deformabilidade excessiva da
estrutura; corrosão; proteção inadequada contra incêndio. As patologias não têm sua
causa concentrada em fatores isolados, mas sofrem influência de um conjunto de
variáveis, que podem ser classificadas de acordo com o processo patológico como os
sintomas, indicando a causa que gerou o problema ou ainda a etapa do processo
produtivo em que ocorrem. Na construção metálica podem-se definir as seguintes
etapas: projeto (concepção estrutural, análise dimensionamento e detalhamento),
fabricação, montagem, utilização e manutenção. As falhas podem ser uma consequência
de ações humanas, como: a falta de capacitação técnica do pessoal envolvido no

1
Artigo apresentado à Unisul como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil, em 30 de junho de 2022.
2
Graduando em Engenharia Civil. E-mail: portescleyton@hotmail.com.br
3
Professor orientador. Mestre em Engenharia Civil. E-mail: auro.marcolan@yahoo.com.br
2

processo de construção, em todas suas etapas, utilização de materiais de baixa


qualidade, de causas naturais ligadas ao envelhecimento dos materiais componentes das
estruturas (por exemplo, corrosão) e de ações externas ambientais (DÁL BÓ, 2012).
As torres das linhas de transmissão são projetadas para atender a longos períodos
de operação, devendo apresentar proteção anti-corrosiva compatível com o meio.
Normalmente são dotadas de um revestimento obtido por imersão em banho de zinco,
estando sujeitas à agressividade de dois ambientes totalmente diferentes, que são a
atmosfera e o solo. Na atmosfera, o metal não é corroído por uma grande quantidade de
eletrólitos e, por isto, a maior parte da corrosão atmosférica opera lentamente, de forma
que toda a superfície metálica funciona como catodo e anodo ao mesmo tempo. Já
quando a estrutura está enterrada este processo ocorre de forma mais acelerada.
A confiabilidade do sistema de transmissão de energia elétrica é essencial no
mundo moderno, principalmente no Brasil onde a energia percorre grandes distâncias
entre as usinas e os centros de cargas consumidores. Além disso, a maior parte das
linhas de transmissão do país tem mais de 30 anos em operação, e muitas delas vêm
sofrendo com o processo corrosivo avançado. As falhas relacionadas com corrosão em
componentes de linhas de transmissão somam milhares de reais em custos de
manutenção, além de outros gastos relacionados com a indisponibilidade dos ativos.
(SERRA, 2006).
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica sobre as
manifestações patológicas que atingem as estruturas de aço e apresentar estudos de caso
para exemplificar as patologias encontradas em estruturas metálicas, utilizadas em
torres de linha de transmissão de energia.

2 REVISÃO DA LITERATURA

A fronteira entre o ferro e o aço foi determinada na Revolução Industrial, com a


invenção de fornos que permitiam não só eliminar as impurezas do ferro, como
adicionar-lhes parâmetros como resistência ao desgaste, ao impacto, à corrosão, etc.
Com a disseminação da revolução pela Europa, vários países começaram a empregar
estruturas metálicas em suas obras públicas. Em 1857, foi inaugurada a primeira ponte
metálica da Alemanha, a ponte Werchsel. No ano de 1887, concluiu-se a primeira ponte
metálica de Portugal, a ponte Pia Maria que apresenta um arco treliçado de ferro
fundido, projetado por Gustave Eiffel (SACCHI, 2016 apud LOURENÇO MENDES,
2009).
No Brasil o início da produção de ferro deu-se por volta de 1812, sendo que o
grande avanço na fabricação de perfis em larga escala ocorreu com a implantação das
grandes siderúrgicas. Como exemplo, tem-se a CSN –(Companhia Siderúrgica
Nacional), que começou a operar em 1946.
A produção de aço e energia são fortes indicadores do estágio de
desenvolvimento econômico de um país. O consumo desses produtos cresce
proporcionalmente à construção de edifícios, execução de obras públicas, instalação de
linhas de transmissão, produção de equipamentos e consumo da população (Dál Bó,
2012). Logo, o desenvolvimento de uma nação está diretamente ligado ao consumo de
energia. Atrelado a isto está a exigência da qualidade e continuidade do fornecimento de
energia elétrica, sendo extremamente necessário avaliar os fatores ligados ao
envelhecimento das linhas de transmissão de energia, provocados principalmente pela
corrosão dos materiais que a compõem (DÍAZ MORA, 2007).
Alguns países tiveram um crescimento bastante acelerado no ramo da construção
civil. Dessa forma, obras tiveram de ser executadas rapidamente, reduzindo assim o
controle de materiais e de serviços. O desenvolvimento tecnológico das estruturas e
3

materiais ocorreu por meio da investigação das falhas verificadas, como acidentes e
deterioração precoce em edificações (WEIMER, 2018).
Construções em estrutura metálica possui uma metodologia própria pouco
conhecida. A falta de domínio dessa nova técnica construtiva, acarreta problemas
patológicos que comprometem o desempenho, durabilidade e a vida útil de uma
edificação. Outros fatores que levam ao aparecimento de patologias nas construções
são: a concepção incorreta de projetos, o emprego de materiais impróprios, a simples
utilização e a falta de manutenção (RIBAS, 2006).
Este estudo dará destaque as patologias relacionadas as estruturas metálicas
empregadas em Linhas de Transmissão de energia, onde de maneira geral, essas
estruturas são treliçadas e seus elementos estão sujeitos à tração e compressão. A
cantoneira apresenta uma excelente relação raio de giração/área, o que lhe confere uma
ótima resistência à compressão (além também da ótima resistência à tração
apresentada). Atualmente, no Brasil, são utilizadas cantoneiras com padrão em
polegadas, as quais atendem às especificações do AISC (American Institute of Steel
Construction), e cantoneiras com padrão métrico, que atendem à norma brasileira NBR
6109, conforme pode ser visualizado na Figura 1 (FURNAS, 2009).

Figura 1 – Tipo de cantoneira mais utilizada em torres de linha de transmissão

Fonte: FURNAS, 2009

Atualmente a empresa Eletrobras tem aproximadamente 48.000 Km, cerca de


96.000 torres, 384.000 pés de torres que possuem mais 20 anos de vida operacional,
aproximadamente 70% das torres do sistema Eletrobras. Nessas condições, o aço
galvanizado original já atingiu a vida útil da proteção anticorrosiva do aço carbono
(base), sendo necessárias inspeções rotineiras para avaliar o grau de corrosão das
fundações. Nesse contexto, é necessária a utilização de ferramentas e instrumentação
mais ágeis e precisas para encarar o desafio de inspecionar e evitar falhas de um
backlog enorme de fundações de linhas de transmissão pertencente ao sistema
Eletrobras (BENDINELLI, 2022).

2.1 PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS METÁLICAS

Construções como pontes, viadutos, túneis, obras hidráulicas, construções


residenciais e comerciais, sofrem pela ação do clima. Elevados gradientes de
temperatura, muitas vezes no mesmo dia, grandes volumes de chuvas, poluições e
ambientes de grande agressividade contribuem para o surgimento de manifestações
patológicas que estão associadas com uma ou mais formas de deterioração. As
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anomalias em estruturas metálicas também são, na grande maioria, resultantes de falhas


de projetos, erros na fabricação e montagem das estruturas causadas por negligência ou
inexistência de controle de qualidade ou então da falta de manutenção (SACCHI, 2016).
Em geral, podemos dividir as patologias das estruturas metálicas em três
categorias (SILVA NETO, 2006):

• Adquiridas: São patologias estruturais procedentes de atuação externa, como a


poluição atmosférica, umidade, gases ou líquidos corrosivos e vibrações
excessivas provocadas pelo uso indevido da estrutura. Os efeitos geram
problemas que relacionam com a falta de preparo inicial da estrutura ou com a
falta de manutenção;
• Transmitidas: Hábitos ou desconhecimento técnico do pessoal de fabricação ou
montagem da estrutura. Transmitidas de obra para obra, como soldadores que
não se preocupam em retirar a pintura dos pontos de solda, ignorando que a
carbonização da tinta prejudica a qualidade do serviço e também os casos de
falta de prumo;
• Atávicas: São patologias resultantes de má concepção de projeto, erros de
cálculo, escolhas de perfilados ou chapas de espessuras inadequadas ou, ainda,
do uso de tipos de aço com resistência diferente das consideradas no projeto.
Não são fáceis de reparar, costumam exigir reforços, adições, escoramentos etc.

Na Tabela 1 são apresentadas as principais origens de manifestações patológicas


na construção civil.

Tabela 1 – Fontes de anomalias na construção civil.


Causa Porcentagem
Projeto 42,00%
Execução 28,40%
Materiais 14,50%
Uso 9,50%
Vários 5,60%
Fonte: HENRIQUES (2001).

As manifestações patológicas mais comuns em estruturas de aço podem ser


definidas em cinco tipos principais, conforme mostrados na Tabela 2.

Tabela 2 – Manifestações patológicas mais comuns e as principais causas.


Manifestações patológicas Principais causas
Causada por deficiência de drenagem das
águas pluviais e deficiências de detalhes
Corrosão localizada
construtivos, permitindo o acúmulo de
umidade e de agentes agressivos.
Causada pela ausência de proteção contra o
Corrosão generalizada
processo de corrosão.
Causadas por sobrecargas ou efeitos térmicos
Deformações excessivas
não previstos no projeto original, ou ainda,
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deficiências na disposição de travejamentos.


Causadas pelo uso de modelos estruturais
incorretos para verificação da estabilidade, ou
Flambagem local ou global deficiências no enrijecimento local de chapas,
ou efeitos de imperfeições geométricas não
consideradas no projeto e cálculo.
Falhas estas iniciadas por concentração de
tensões, devido a detalhes de projeto
Fratura e propagação de fraturas
inadequados, defeitos de solda, ou variações
de tensão não previstas no projeto.
Fonte: PRAVIA e BETINELLI (2016).

2.1.1 Patologia de Projeto

A vida útil de uma estrutura metálica começa no projeto e se consolida na


execução, mas os conceitos do projeto devem ser cumpridos até a conclusão da
execução. Em cada uma das diretrizes há vários desafios a serem vencidos, como o de
entender que projetar é fazer a gestão do desempenho da estrutura ao longo do tempo,
controlando o processo de perda do desempenho e prevenindo falhas durante um
período que justifique os recursos investidos.
Segundo Sacchi (2016), em geral os problemas patológicos nas estruturas de
aço, são resultantes da má concepção de projeto, erros de cálculo, má compatibilidade
dos projetos, no sistema de montagem, na escolha inadequada dos perfis, definição
equivocada das espessuras das chapas, uso de tipos de aço com resistências diferentes
das consideradas no projeto, falta de um plano de controle de qualidade nas etapas de
projeto, fabricação e montagem. Tais problemas, muitas vezes são resolvidos de
maneira inadequada e ineficiente.
Para um bom resultado é de extrema importância, a integração entre as áreas de
projeto, fabricação e montagem de uma estrutura metálica, onde deverão ser discutidas
as soluções de projetos e as características das peças fabricadas, de tal forma a se evitar
na montagem a não disponibilidade de equipamentos, custo excessivo,
incompatibilidade da sequência construtiva, alteração no esquema estático e falta de
segurança do trabalho. (SACCHI, 2016 apud RAAD JÚNIOR, 1999).
As principais causas de anomalias em estruturas metálicas decorrentes de falhas
em projetos estão assim distribuídas, conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 – Causas de falhas decorrentes de projetos

Causa Porcentagem
Detalhamento deficiente 59,00%
Concepção geral 18,00%
Erros de cálculo 13,00%
Materiais inadequados 10,00%
Fonte: BUREAU SECURITAS (1979).
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Segundo Sacchi (2016), as principais anomalias em projetos são citadas em


exemplos práticos, conforme abaixo:

• Inexperiência de projetistas;
• Incompatibilidade dos projetos de estruturas metálicas e concreto
armado;
• Falhas no gabarito de furação;
• Falta de detalhamento das ligações;
• Furos não previstos em projeto, realizados no momento da montagem;
• Locais inacessível para aperto dos parafusos;
• Locais de difícil acesso para montagem das estruturas;
• Peças grandes e local confinado para a montagem da estrutura;

Todas essas anomalias geram dificuldades durante a execução, que muitas vezes
para atender os prazos da obra são realizadas soluções de campo, onde em muitos casos
essas soluções acabam acelerando outras patologias, por exemplo, a corrosão.

2.1.2 Patologia de Fabricação

O processo de fabricação realizado dentro de uma indústria de estruturas


metálicas está sujeito a diversos métodos de inspeção. O fabricante deve estabelecer
métodos de controle de qualidade, para garantir que todo o trabalho seja executado de
acordo com as exigências. Este controle de qualidade inicia-se na escolha de
fornecedores com a rastreabilidade da matéria prima, controle de qualidade na
fabricação e montagem, máquinas e ferramentas adequadas para cada aplicação,
calibradores aferidos, planos de inspeção e funcionários qualificados e certificados para
exercer a funções que atuam em todas as fases do processo de fabricação. Na maioria
das obras o cliente pode contratar inspetores para atuarem junto ao fabricante (SACCHI,
2016).
Durante o processo de fabricação de estruturas metálicas é importante observar a
possibilidade de padronização das peças, e utilizar processos automatizados de
fabricação, onde além de baratear os custos minimizam os erros de fabricação, a seguir
algumas anomalias de fabricação:

• Falta de funcionários qualificados e certificados;


• Falta de rastreabilidade de matéria prima;
• Máquinas e ferramentas não adequadas;
• Não execução de pré-montagem das peças fabricadas;
• Falta de concordância em emendas (perfis diferentes);
• Falta de qualidade em soldas.

Em geral as anomalias do processo de fabricação vão impactar na montagem e


na vida útil da estrutura metálica desencadeando outras patologias como por exemplo a
corrosão.
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2.1.3 Patologia de Pintura

A pintura industrial é uma técnica de proteção anticorrosiva existente, ela tem


por finalidade aplicação de revestimentos anticorrosivos através da pintura, e é uma das
técnicas mais utilizadas para proteção do aço. Os defeitos encontrados nas pinturas são,
em sua maioria, identificados visualmente. A seguir, serão apresentados os defeitos
mais comuns encontrados na prática (SACCHI, 2016).

• Impregnação (lixa): Superfície da tinta apresenta-se áspera como lixa.


• Poros (porosidade): A película de tinta apresenta descontinuidades
invisíveis a olho nu ou não.
• Pele ou casca de laranja: A pintura apresenta-se rugosa semelhante a
uma casca de laranja.
• Pulverização seca (over spray): A superfície da tinta apresenta um
aspecto fosco e áspero, porém sem o desprendimento do pó.
• Empolamento (bolhas): A película de tinta apresenta-se com saliências
semiesféricas que variam de tamanho e intensidade
• Enrugamento: A película de tinta apresenta-se irregular, com
encolhimento e/ou ondulação da película.
• Sangramento: A película apresenta-se manchada pelo afloramento de
substâncias ou pigmento da cor da demão que está abaixo, devido à
solubilidade da demão inferior.
• Oxidação Precoce: A superfície pintada apresenta-se com pontos de
corrosão logo após a aplicação da primeira ou das primeiras demãos.

2.1.4 Patologia de Montagem

Cada obra possui condições particulares, como acessibilidade, topografia local,


disponibilidade de canteiro, tipo de estrutura, entre outras, a montagem estará sujeita a
desafios específicos e próprios de cada empreendimento. Sendo assim, deve ser
elaborado um plano de montagem que contempla desenhos e diagramas de montagem,
desenhos e constituintes dos subconjuntos da estrutura (treliças), programação de
embarque, lista de expedição (define composição de cada subconjunto e modo a ser
enviado para obra), cronograma e prazo final, no intuito de orientar todo o processo
relacionado aos aspectos específicos de montagem, tipo de estrutura e concepções de
fabricação (SACCHI, 2016 apud RAAD Júnior, 1999).
Dentre as anomalias durante o processo de montagem podemos citar as seguintes
situações:

• Falta de capacitação da mão de obra de montagem;


• Falta de cuidado no manuseio, transporte içamento das peças;
• Excesso de confiança e não observação do detalhamento do projeto;
• Erro de locação da estrutura;
• Soldas realizadas no canteiro sem os devidos cuidados;
• Adaptações realizadas na obra como furos e recortes;
• Parafusos entortados ou colocados de maneira forçada.
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2.1.5 Patologia dos Materiais

Segundo Garrido (2012), a Figura 4 aborda as patologias referentes aos materiais


onde é possível dividir em 5 subgrupos.

Figura 4 – Tipo de patologias referentes aos materiais metálicos

Fonte: GARRIDO, 2012

No entanto, neste estudo será explorado o fenômeno da corrosão, por ser a


patologia mais frequente em estruturas metálicas. Segundo a Revista M&T (05/2017),
um estudo da empresa norte-americana CCTechnologies mostra o impacto da corrosão
do aço na economia. A pesquisa avaliou que entre 1% e 5% do PIB dos países é
consumido pela corrosão. No Brasil, o número é de 4%, o equivalente a R$ 236 bilhões
em 2015, conforme aferiu a entidade IZA –(International Zinc Association), com apoio
da USP.
Como conceito geral, a corrosão é a deterioração das propriedades de um metal
pela reação química ou eletroquímica com o meio corrosivo que o envolve. Esta reação
consome o metal sendo que seus átomos são oxidados a íons separando-se da massa do
sólido metálico, a massa é gradativamente reduzida e finalmente chega à destruição da
peça. Chamada de oxidação-redução são as reações químicas que ocorrem no processo
de corrosão, que podem ocorrer conforme sua morfologia, mecanismos e causas
diferentes, fatores mecânicos e pelo meio corrosivo onde se encontram (GENTIL,
2021).
2.2.5.1 Corrosão Eletroquímica

Uniforme: Ocorre em toda extensão de sua superfície perdendo espessura é


chamada também de corrosão generalizada.
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Figura 5 – Trecho de chapa com corrosão uniforme.

Fonte: AUTOR, 2022

Por placas: Ocorre em partes localizadas da superfície metálica, formando


placas e escavações.

Figura 6 – Trecho de chapa com corrosão em placas.

Fonte: GENTIL, 2021

Alveolar: Ocorre na superfície metálica produzindo sulcos ou escavações.

Figura 7 – Corrosão alveolar em tubo de aço carbono.

Fonte: GENTIL, 2021

Puntiforme ou por pites: São cavidades com o fundo em forma de ângulo e


profundidade maior que o seu diâmetro.
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Figura 8 – Trecho de chapa com corrosão puntiforme / pites.

Fonte: GENTIL, 2021

Intergranular (ou intercristalina): A corrosão ocorre nos grãos da rede


cristalina do metal, que ao perder suas propriedades mecânicas pode romper.

Figura 9 – Corrosão intergranular ou intercristalina (micrografia).

Fonte: GENTIL, 2021

Intragranular (ou transgranular ou transcristalina): Semelhante a


intergranular.
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Figura 10 – Aço inoxidável submetido à ação de cloreto e temperatura (micrografia).

Fonte: GENTIL, 2021

Fendas: Ocorre em locais onde existe duas ou mais superfícies em contato ou


muito próximas entre si (0,025 a 0,1 mm). Esta corrosão é usual em chapas sobrepostas,
juntas rebitadas ou em revestimentos com chapas aparafusadas. Por ocorrer entre duas
superfícies é mais perigosa e imperceptível que a corrosão uniforme atuando apenas
numa área relativamente pequena da estrutura e afetando diretamente a secção
transversal da chapa ou perfil metálico.

Figura 11 – Corrosão em fendas.

Fonte: GARRIDO, 2012

Galvânica: Ocorre quando se utilizam diferentes metais em simultâneo devido à


formação de uma pilha eletrolítica. Este tipo de corrosão é tanto maior quanto maior for
a distância do material ao seu potencial eletroquímico.
É bastante usual nas ligações aparafusadas e nas coberturas, mais precisamente
na ligação entre telhas galvanizadas, ou de alumínio, com a estrutura.
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Figura 12 – Corrosão galvânica.

Fonte: GARRIDO, 2012.

Biológica: Corrosão induzida por microrganismos, também chamada microbiana


ou microbiológica, é aquela em que a corrosão do material metálico se processa sob a
influência de microrganismos.

Figura 13 – Trecho de chapa com corrosão biológica.

Fonte: GARRIDO, 2012.

Eletrolítica ou correntes parasitas: Não é uma corrosão espontânea,


acontecem devido a fatores externos, ocasionadas por corretes elétricas de fonte
alternada ou contínua, ocorrem geralmente em estruturas metálicas enterradas no
subsolo ou imersas em água.
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Figura 14 – Corrosão eletrolítica

Fonte: GARRIDO, 2012.

Filiforme: Ocorre em forma de filamentos que se propagam em diferentes


direções, ocorrendo em superfícies revestidas com tintas, removendo o seu
revestimento.

Figura 15 – Trecho de chapa com corrosão filiforme.

Fonte: GENTIL, 2021

Esfoliação: A corrosão ocorre em chapas ou componentes extrudados e como


consequência desintegra o material em forma de placas paralelas.
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Figura 16 – Esfoliação em liga de alumínio.

Fonte: GENTIL, 2021

Em torno do cordão de solda: observa-se em torno do cordão de solda.

Figura 17 – Trecho de chapa com corrosão em placas.

Fonte: GENTIL, 2021

Grafítica: A corrosão se processa no ferro fundido cinzento em temperatura


ambiente e o ferro metálico é convertido em produtos de corrosão, restando a grafite
intacta.

Figura 18 – Corrosão grafítica.

Fonte: GENTIL, 2021


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Dezincificação: Corrosão que ocorre em ligas de cobre-zinco (latões),


aparecimento de regiões com coloração avermelhada, contrastando com a característica
coloração amarela dos latões.

Figura 19 – Parte interna da válvula de latão com coloração avermelhada e destruição da parte
rosqueada.

Fonte: GENTIL, 2021

2.2.5.2 Corrosão Influenciada por Fatores Mecânicos

São fenômenos que resultam de uma interação entre o meio no qual está imerso
um sólido e sua resposta à solicitação mecânica, e como resultado desses fenômenos
temos alguns tipos de corrosão.
Empolamento pelo hidrogênio: O hidrogênio penetra no material metálico e
difunde-se rapidamente em regiões de descontinuidades formando pressão e formando
bolhas.
Figura 20 – Tubo de aço carbono com empolamento pelo hidrogênio.

Fonte: GENTIL, 2021


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Fadiga: Quando um metal é submetido a solicitações mecânicas alternadas ou


cíclicas pode, em muitos casos, ocorrer um tipo de fratura denominado fratura por
fadiga.

Figura 21 – Eixo de manivela com fratura por fadiga.

Fonte: GENTIL, 2021

Corrosão com erosão, cavitação e impingimento: Esses três tipos de corrosão


são ocasionados pelo contato de um metal com um material em movimento, podendo
ser este material sólido, líquido ou gasoso.

Figura 22 – Impelidor de bronze com deterioração por erosão.

Fonte: GENTIL, 2021

Figura 23 – Erosão por impingimento causada por vapor d’água em tubulação de condensado.

Fonte: GENTIL, 2021


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Figura 24 – Cavitação em cilindro de motor diesel (imagem ampliada).

Fonte: GENTIL, 2021

Corrosão sob tensão: Ocorre quando um material, submetido a tensões de


tração (aplicadas ou residuais), é colocado em contato com um meio corrosivo
específico, formando-se fissuras no material. A propagação da fissura por corrosão sob
tensão é geralmente lenta, até atingir o tamanho crítico para uma rutura brusca, ela
também é chamada de corrosão sob tensão fraturante.

Figura 25 – Corrosão sob tensão fraturante em tubulação de latão com presença de amônia e
umidade

Fonte: GENTIL, 2021

3 METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica, sucedido por
estudos de caso e seguido pela discussão e análise dos resultados, conforme
metodologia e procedimentos detalhados a seguir.

3.1 MÉTODO DE PESQUISA

A pesquisa bibliográfica pode ser aplicada a qualquer área de conhecimento,


caracterizando um instrumento necessário para se conhecer o estado da arte e delimitar
o tema da pesquisa pretendida, sendo ainda fonte para a fundamentação teórica e
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argumento para justificar os limites e as contribuições da pesquisa que será realizada


(CERVO e BREVIAN, 2007).
Em relação à pesquisa exploratória, esta proporciona maior familiaridade com o
problema, ou seja, com objetivo de torná-lo mais explícito, sendo que geralmente esse
tipo de pesquisa assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso (GIL,
2008).
Nesse contexto, o trabalho foi concebido a partir de uma pesquisa bibliográfica,
para isso, foram consultados estudos de diferentes autores, ao final, foi apresentado
alguns estudos de casos, vividos pelo próprio autor onde foi possível fazer uma
correlação da literatura com os estudos de caso.

3.2 COLETA DE DADOS

A consecução do trabalho foi precedida de uma busca livre na plataforma digital


Google Schoolar, que segundo a própria empresa Google LLC (2020), é uma ferramenta
de pesquisa que permite a consulta a trabalhos acadêmicos, literatura escolar, jornais de
universidade, artigos, dentre outros.
As consultas foram feitas utilizando-se da combinação das seguintes palavras
chaves de busca: “patologias em estruturas metálicas”. Foram privilegiados os trabalhos
mais recentes e as publicações com maior relevância científica.
Inicialmente avaliou-se a aderência do título e do resumo dos trabalhos aos
objetivos desta pesquisa, descartando-se as publicações não pertinentes ao tema e
aquelas que, embora pertinentes, não possuíam citação científica qualquer. As
publicações de interesse e relevância foram então estudadas em sua íntegra, compondo,
juntamente com obras consagradas e publicações de órgãos governamentais, o escopo
para o referencial teórico apresentado anteriormente.
Para subsidiar a discussão e análise dos resultados, foram identificadas dentre as
publicações, aquelas que tratavam de estudos de caso, possibilitando então constatar
quais as patologias de maior relevância em estruturas metálicas. As informações
coletadas foram organizadas e são apresentadas em formato de texto e fotos com os
tipos de patologias, facilitando a compreensão dos resultados junto com os estudos de
casos apresentados.

4 ESTUDO DE CASOS

Para contribuir com a pesquisa bibliográfica trazida neste trabalho, apresentamos


alguns estudos de casos de patologias em estruturas metálicas ocorridas em torres de
linha de transmissão de energia.

4.1 CORROSÃO EM FUNDAÇÃO COM GRELHA METÁLICA

Segundo Adorna (2017), as grelhas são estruturas compostas por barras


posicionadas em um mesmo plano, normalmente o horizontal. O dimensionamento das
grelhas envolve a análise do seu comportamento estrutural, de modo que ocorram
apenas momentos de flexão, momentos de torção, esforços cortantes e compressão, para
a determinação do seu equilíbrio estático e o cálculo e representação adequados dos
esforços seccionais que atuam sobre a estrutura.
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A aplicação da grelha metálica como fundação oferece algumas vantagens do


ponto de vista construtivo, mas com graves desvantagens de serem perecíveis se lhes
faltarem os continuados cuidados de manutenção por elas exigidas. É uma fundação
superficial constituída de perfis metálicos. Sua estrutura é composta basicamente por 4
montantes, 2 ferros “U” e várias cantoneiras de enchimento. Os montantes são
projetados de tal maneira que formam uma pirâmide, cujo eixo tem inclinação do
montante da torre e passa pelo centro da base. Dessa forma e, em função dos
carregamentos possuírem praticamente a direção do montante não se terá praticamente
momentos atuantes na base da grelha.
A facilidade de transporte e montagem que oferece são as vantagens para a sua
utilização em obras de linhas de transmissão, principalmente quando o acesso é uma
limitação construtiva.

Figura 26 - Instalação da fundação em grelha metálica.

Fonte: AUTOR, 2021

Essa fundação apresenta menor resistência à agressividade do meio natural, por


isso, deverá ser tomadas medidas de proteção adicionais, além da galvanização das
peças metálicas, em locais de solos agressivos. Na zona de transição, logo acima e
abaixo da superfície do terreno, as condições são mais favoráveis ao ataque do metal da
grelha por corrosão. A partir destes fatos, recomenda-se a previsão de proteção eficaz
para as partes metálicas situadas acima da superfície de terreno, bem como daquelas
situadas até cerca de 50 cm abaixo do contato solo-ar, ou mesmo de toda a sua parte
enterrada.
Neste caso vamos relatar a experiencia de uma concessionaria de energia em
resolver o problema de corrosão na zona de transição (logo acima e abaixo da superfície
do terreno) em fundações com grelhas metálicas. A linha de transmissão em estudo
chama-se LT230kV Jorge Lacerda B – Biguaçu e encontra-se em operação comercial
desde 1979 (43 anos), os relatórios de inspeção rotineiras e de monitoramento
apontaram 33 fundações com alto grau de corrosão em suas grelhas metálicas sendo
assim necessário à sua substituição.
20

Figuras 27, 28, 29 e 30 – Pés e grelhas com corrosão.

Dentre as fundações foram encontrados os mais variados tipos de corrosão como


por exemplo a generalizada, por placas, puntiforme, esfoliação e entre outras. Como a
linha de transmissão se encontra em operação, o desafio foi elaborar uma solução sem a
necessidade de desenergização da mesma, assim foi desenvolvido um projeto de uma
sapata sem a necessidade da retirada da grelha metálica. Por motivo de segurança e
estabilidade da estrutura, antes do início das escavações a estrutura era estaiada com 4
cabos dispostos a 90° cada, as escavações foram realizadas sempre em duas fundações
em diagonal uma da outra, a fim de dar segurança e estabilidade a estrutura em caso de
ventos, durante o período em que as fundações estivessem sem o reaterro. Realizado a
escavação, limpeza, preparação, instalação das armaduras, formas era feito a
concretagem da fundação, dado a cura do concreto era realizado o reaterro, após era
iniciado a execução das fundações da outra diagonal e assim sucessivamente até
completar as 33 torres. Como uma proteção extra contra a corrosão foi aplicado um
esquema de pintura anticorrosiva conforme as Normas da Eletrobras de pintura
21

anticorrosiva. Nas figuras abaixo detalhamos este processo de recuperação de


fundações.

Figuras 31 e 32 - Preparação do fundo de cava.

Figuras 33 e 34 - Instalação de formas e armaduras (E) fundação já concretada.

Figuras 35 e 36 - Reaterro compactado (E) finalização com pintura e concreto não estrutural (D).
22

Figura 37 - Substituição de fundação concluída.

As imagens das Figuras 27 a 37, foram obtidas junto à concessionária de energia


a partir de relatórios da obra de substituição das fundações.

4.2 TORRE DE ENERGIA

Este caso refere-se à recomposição emergencial de duas torres da linha de


transmissão 230kV Nova Santa Rita – Camaquã 3, as torres 48 e 49 foram derrubadas
por ação de tormentas elétricas (chamadas de microexplosões) ocorrida em setembro de
2018, na região metropolitana de Porto Alegre. Essas torres estão localizadas na
travessia do Rio Jacuí, consideradas torres especiais (torres com 100 metros de altura),
pois diferem-se das demais torres aplicadas ao longo da linha.

Figura 38 - Vista em planta do local.


23

Figura 39 - Vista geral do local da emergência.

Figuras 40 e 41 - Torre 48 (E) torre 49(D).

Como são torres especiais, não havia torres reservas para substituição. Para
restabelecer o sistema, foi contratado de forma emergencial os serviços para
recomposição das estruturas e cabos, incluindo o fornecimento de novas torres
completas. Paralelamente, foram montadas estruturas provisórias de emergência,
inclusive fundação, para recomposição da linha, os serviços do ramal emergencial
foram concluídos em 36 dias com a energização da linha de transmissão em torres
provisórias de emergência.
24

Figura 42 – Torre do ramal de emergência.

Após energizada a linha de transmissão de forma emergencial a contratada


continuou trabalhando para recompor a LT de forma definitiva conforme projeto
original, junto ao escopo da contratada estava a aquisição de novas torres especiais para
serem instaladas no mesmo local das torres sinistradas. A contratada realizou a compra
das novas torres metálicas em um fabricante que não tinha conhecimento técnico em
fabricação de torres de linhas de transmissão, ocorrendo que além de não possuir
processo automatizado, não havia espaço suficiente para realizar a pré-montagem das
torres em sua totalidade durante a inspeção em fábrica do produto. Mesmo com esses
apontamentos contratada foi autorizada transportar e montar a torres em seus locais
definitivos. Durante a inspeção de recebimento das estruturas (comissionamento) as
equipes de campo encontraram vários problemas sistêmicos nas estruturas conforme
fotos abaixo:

Figuras 43 e 44 – Chapa fabricada em campo já com corrosão (E) montante refurado em campo.
25

Figuras 45 e 46 – Projeto não prevê instalação de chapa de interligação.

Figuras 47 e 48 – Cobre junta, sem aperto e início de corrosão por fendas (E) desalinhado (D).

Figuras 49 e 50 – Falta de calços, deixando a peça solta (E) deixando a peça sob tensão (D).
26

Figuras 51, 52 e 53 – Chanfros feitos na montagem com início de corrosão.

Figuras 54 e 55 – Peças com início de corrosão.

Figuras 56 e 57 – Peças flambadas, provavelmente sob tensão.

As imagens das figuras 38 a 57, foram obtidas junto à concessionária de energia


a partir de relatórios da emergência das torres sinistradas. As patologias encontradas
neste caso podem ser classificadas como patologias de fabricação e montagem, onde
elencamos abaixo um conjunto de erros durante esse processo:

• Fabricante da estrutura não tinha expertise em fabricação de torres para


linha de transmissão;
• Não havia um processo automatizado e controle de qualidade na
fabricação;
• Não havia espaço suficiente em fábrica para realizar a pré-montagem da
estrutura por completo, foi realizado por partes;
27

• Devido serem torres especiais (100m de altura) e uma das estruturas estar
localizada em uma ilha a montagem da estrutura foi realizada de forma
manual;
• A empresa contratada para realizar a montagem, mesmo encontrando
problemas, seguiu com a montagem, refurando peças, adaptando chapas,
fazendo furos oblongos, sem comunicar a empresa contratada.

Após identificados todos esses erros, havia um problema entre a transmissora e a


contratada, onde a transmissora condenou a estrutura e a contratada alega não haver
problemas A transmissora contratou um parecer de um consultor independente, que
recomendou a substituição das estruturas. A relação comercial virou um entrave
jurídico, onde a transmissora foi autorizada pelo juiz a restabelecer a linha de
transmissão no projeto original, porém aguarda o resultado da perícia judicial para
realizar os trabalhos, este processo se perdura até hoje sem a solução definitiva.

4.3 FUNDAÇÕES EM ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS

Segundo Mendonça (2018), estaca helicoidal é uma estaca metálica de pequeno


diâmetro com pratos helicoidais associados que ajudam a transmitir os esforços ao
terreno, são utilizadas em solos onde as camadas superiores são fracas e as camadas
mais resistentes tem maior profundidade. Para Silva (2018), existe uma série de
benefícios que as estacas helicoidais apresentem em relação a outros tipos de fundações
profundas, sendo elas a possibilidade de aplicação temporária, facilidade de transporte
para locais remotos, instalação com equipamentos compactos, facilidade de constatação
de capacidade de carga a partir do torque de instalação, aplicação em locais abaixo do
nível de água, rapidez na instalação sem a produção de ruídos ou perturbações,
eliminação de formas de concreto e procedimentos de cura, além de não produzir
resíduos de perfuração.
Nos anos recentes foram introduzidas estacas metálicas helicoidais em aço
patinável como solução para as fundações de torres estaiadas de linhas de transmissão
de energia, em alternativa às tradicionais soluções em concreto armado, como tubulões
e bloco-viga “L”. A Figura 58 ilustra as estacas helicoidais aplicadas no projeto.

Figura 58 – Estacas aplicadas na LT 230kV Nova Santa Rita – Camaquã3.

Fonte: DALPRÁ (2019)


28

Este caso refere- se a LT 230kV Nova Santa Rita – Camaquã 3, localizada no


estado do Rio Grande do Sul, após 5 anos da instalação, algumas fundações em estaca
helicoidal apresentaram corrosão avançada na área de transição solo-ar, com
significativa perda de massa. Ainda, estuda-se uma solução para a patologia, de forma
experimental, foi realizada o envelopamento com concreto no trecho de transição (solo-
ar) em alguns locais, porém não se sabe ainda se essa solução é tida como definitiva. O
uso do aço patinável enterrado ou parcialmente enterrado está sendo questionado pela
comunidade científica. As imagens das figura 59 e 60 apresentadas a seguir ilustram a
natureza das patologias encontradas.

Figuras 59 e 60 – Corrosão com perda de massa não prevista na zona de transição solo-ar.

Fonte: DALPRÁ (2019)

Nas estacas helicoidais foram encontradas corrosão do tipo generalizada e em


alguns casos por esfoliação, neste caso já com desplacamento de material.
Figura 61 – Envelopamento do trecho de transição solo/ar.

Fonte: AUTOR (2020)


29

Além da LT 230kV Nova Santa Rita – Camaquã 3 esse tipo de fundação foi
aplicado em outros projetos, todas essas fundações estão sendo monitoradas durante as
inspeções de rotina. Consultado o fabricante da estaca, ele alega que seu projeto prevê
essa perda de massa ao longo da vida útil da fundação (30 anos), porém é questionado
essa previsão de perda de massa.

4.4 PÓRTICOS DE SUBESTAÇÃO DE ENERGIA

Os pórticos são conjuntos de vigas e colunas treliçadas que são conectadas entre
si formando uma estrutura única que tem a função de ancorar os cabos condutores e
cabos para-raios em subestações de energia. Dependendo da tensão, e da configuração
da subestação alguns equipamentos elétricos também podem ser instalados diretamente
nos pórticos.

4.4.1 Caso 1

Este caso refere-se à obra de ampliação da Subestação Biguaçu 525/230/138 kV,


no qual foi construído um novo pórtico para ancoragem de uma nova entrada de linha
de transmissão de energia. Durante a inspeção de recebimento (comissionamento),
próxima à data de energização comercial da obra de ampliação, foram detectadas
patologias sistêmicas de fabricação e montagem de um dos pórticos metálicos. Por
questões sistêmicas ocorreu a energização no prazo ANEEL, após 5 meses todas as
peças com problemas foram substituídas por outra em condição de uso.

Figuras 62 e 63 – Furos preenchidos parcialmente.


30

Figuras 64 e 65 – Montantes desalinhados.

Figuras 66 e 67 – Espessuras (calços) inadequados (E), furação desalinhada (D).

Figuras 68 e 69 – Pé cortado e soldado na obra (E), reforço inadequado no sistema de ancoragem


dos cabos condutores (D).

As imagens das figuras 62 a 69, foram obtidas junto à concessionária de energia


a partir de relatórios de inspeções e ilustram a natureza das patologias encontradas.
As patologias identificadas neste caso, referem se as patologias de fabricação e
montagem, em que no processo de fabricação não foi utilizado processos automatizados
e de controle de qualidade, ocorrendo por exemplo divergência dimensionais de peças.
31

Em conjunto com os problemas de fabricação, a no momento da montagem ocorreram


dificuldades, a qual não atendeu as necessidades dimensionais das peças. Para atender
os prazos da obra e conseguir realizar a montagem, fez adaptações, furos, soldas e
recortes nas peças, o que resultou na condenação de grande parte da estrutura.

4.4.2 Caso 2

Este caso refere-se a um pórtico metálico que faz a ancoragem dos cabos da LT
230kV Biguaçu – Desterro, para efetuar a transição de cabos aéreos para cabos
subterrâneos, localizada no sul da Ilha de Santa Catarina. Este pórtico possui
galvanização por camada de zinco e por solicitação do órgão ambiental através de
condicionantes a licença de instalação foi necessário realizar a pintura do pórtico na cor
verde.
Durante inspeção de manutenção de rotina, foi observado um rápido avanço na
deterioração da pintura (desplacamento) e da galvanização, provocando início de
corrosão do aço estrutural. Após avaliação técnica especializada, conclui-se que não foi
executado plano de manutenção periódico da pintura, o que permitiu a fissuração e
criação de bolhas e bolsões que permitiram o acúmulo de água, resultando em ataque
mais agressivo tanto à pintura, provocando seu desplacamento, assim como reduzindo
significativamente a vida útil da galvanização a fogo. Cabe ressaltar que a pintura foi
feita sobre a galvanização, o que reforça a hipótese de que a preparação da superfície
também possa ter sido realizada de maneira precária, porém é de difícil confirmação.

Figuras 70 e 71 – Estrutura com desplacamento de pintura e corrosão (E), Estrutura com


desplacamento de pintura (D).

Figuras 72 e 73 – Estrutura com corrosão vermelha.


32

As imagens das figuras 70 a 73, foram obtidas junto à concessionária de energia


a partir de relatórios de inspeções e ilustram a natureza das patologias encontradas.
Dentre as patologias encontradas pode-se classificar como de pintura, ocorrendo uma
oxidação precoce, fissuração criando meios para surgimentos de bolsões e acúmulo de
água. Como estes pórticos estão localizados a poucos metros da areia da praia, esse
acúmulo de água é altamente rico em sais, o que contribuiu para o surgimento de
corrosão do tipo generalizada, puntiforme e até filiforme.
A solução proposta foi executar o preparo de superfície para remoção da tinta
envelhecida por meio de ferramentas manuais e mecânicas, promover a limpeza da
superfície com água para remover produtos de corrosão e os sais, desengordurar as
superfícies a serem pintadas com solvente orgânico, aplicar uma demão de tinta de
fundo e por fim aplicar duas demãos de tinta de acabamento a base de poliuretano
acrílico.
Para se realizar os reparos nestes pórticos, é necessário a desenergização desta
linha de transmissão, porém ela é a principal fonte de abastecimento para a cidade de
Florianópolis, ou seja, é impraticável ser desenergizada, estes pórticos estão em
monitoramento. Acredita-se que em final de 2022, com a entrada em operação de duas
novas linhas de transmissão será possível fazer as devidas manutenções nestas
estruturas.

5 CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS ESTUDOS DE CASOS

Os estudos de caso relatados apontam que as principais manifestações


patológicas estão relacionadas à corrosão, seja ela decorrente ao meio onde a estrutura
está inserida, ou pela deficiência nos processos de fabricação e montagem das estruturas
metálicas. Os casos apresentados em que a estrutura está em contato direto com o solo,
o método mais adequado para monitorar essas patologias é por meio de inspeções
rotineiras. Obedecendo alguns critérios e premissas, consegue-se ter o melhor
aproveitamento da vida útil do aço, prevendo o melhor momento de se realizar uma
manutenção ou substituição, o que for pertinente em cada caso.
Nos estudos onde as manifestações patologias foram oriundas da deficiência nas
etapas de fabricação e montagem das estruturas, estas manifestações afetam de alguma
forma o comportamento estrutural, desencadeando outras manifestações como por
exemplo a corrosão, reduzindo de forma significativa a vida útil da estrutura.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi apresentado neste trabalho constatou-se que a principal


manifestação patológica que atinge as estruturas de aço é a corrosão, podendo ela ser
decorrente do seu uso ao longo do tempo ou por consequências dos processos de fabricação
e montagem.
Os cuidados com estruturas metálicas iniciam na concepção do projeto, na
geometria das formas e no criterioso detalhamento do projeto. Quanto à fabricação,
embora perfis laminados sigam rigorosos sistemas de controle de qualidade na usina,
nas unidades de corte, dobra e furação, tal controle mostra-se ainda deficiente, sendo
comum o recebimento de peças com defeito de fabricação. Além disso, soma-se as
deficiências de mão-de-obra durante a montagem, onde o controle de qualidade torna-se
ainda mais difícil. Para um melhor controle é necessário verificar as condições
ambientais para precaver-se de processos corrosivos, especificando assim o
33

revestimento mais adequado a cada situação. Ainda assim, a manutenção deve ser
criteriosa e frequente.
Conforme citado no item 2.2.5, no Brasil cerca de 4% do PIB são consumidos
anualmente pela corrosão, equivalente a R$ 236 bilhões em 2015, analisando apenas
esses números nota-se a importância que esse tema tem para que mais estudos sejam
realizados, afim de que exista uma melhoria continua nos processos, desde o projeto,
fabricação, montagem e manutenção das estruturas metálicas.

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