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Propostas e Projetos para o Ensino de Física

Como já mencionado no trabalho anterior, anualmente o Brasil investe quase 1,4


bilhão de reais em compra e distribuição de livros didáticos no ensino básico de todo país,
ou seja, o MEC é o principal cliente das grandes editoras, embora tenha alcançado a
completa distribuição de livros didáticos em escolas públicas somente após 2005. Agora
que praticamente todos os estudantes dispõem de livros didáticos, cabe-nos analisar e
refletir sobre algumas dessas obras.
Em pesquisa feita com estudantes de terceiros anos do Ensino Médio de doze
escolas estaduais do Paraná, KLOSTER (2016) investigou diversas questões
relacionadas ao uso de livros didáticos, particularmente o do componente de Física, em
casa. Em seu estudo, 95% dos estudantes entrevistados relataram nunca ou raramente
utilizar a obra em casa, dado não a possuírem ou não terem recebido orientações do
professor sobre como utilizá-la. Nota-se, assim, que o material não parece estar
suficientemente integrado ao currículo, de modo que possa compô-lo substancialmente.
A Base Nacional Comum Curricular tenta melhorar esse cenário ao sugerir uma
base comum para cada etapa da formação básica, mas pautada no desenvolvimento de
competências e de habilidades e não objetivamente na apreensão de conteúdos. Livros
didáticos mais recentes já apresentam um viés de interdisciplinaridade proposto para os
novos currículos.
Para tentar entender melhor essa grande mudança nas legislações educacionais e
consequentemente nos livros didáticos nos últimos anos, o grupo escolheu analisar os
conteúdos de “Leis de Newton” dos livros: Curso de Física vol 1, de Antônio Máximo e
Beatriz Alvarenga, 1997, e Multiversos Ciências da Natureza vol 2, de Leandro Godoy,
Rosana Maria Dell’ Agnolo e Wolney C. Melo, 2020. O grupo optou por escolher o
Multiversos Ciências da Natureza por ser um livro de 2020 e estar no PNLD (Programa
Nacional do Livro Didático) atual. A escolha do livro Curso de Física, por sua vez, se deu
principalmente por ser uma edição publicada há 25 anos e por ter sido composta por
autores muito influentes na história do livro didático de Física no Brasil..
O contexto histórico-social dos dois livros é distinto, inclusive pelo grande intervalo
de tempo que os separa. O Curso de Física é conteudista, com ênfase em
fundamentação sólida e explicações corretas, buscando fornecer explicações
completas sobre os tópicos abordados sem deixar pontas soltas. Para isso, usa diversos
textos e exercícios, totalizando 88 páginas para abordar as três leis de Newton. Já o
Multiversos se apresenta mais enxuto, inclusive por fazer parte de uma coletânea de
outros cinco livros, que abordam conteúdos não apenas de física mas de outras áreas das
ciências da natureza. Desta forma, em 7 páginas apresenta menos exercícios, menor
aprofundamento e um dinamismo que pode ser uma resposta à disputa de atenção dos
alunos com os recursos digitais, em especial o celular. Também há maior disponibilidade
de informação na internet, não sendo mais o livro a única fonte de informação. Também
há integração com recursos digitais.
O Curso de Física opta por abordar a segunda lei de newton por último,
argumentando que a análise conceitual deste conteúdo é diferente da análise para as
outras leis. Ainda assim, os dois livros apresentam os conceitos de maneiras bem
tradicionais. O Multiversos não traz interdisciplinaridade no capítulo das Leis de Newton,
falhando nas premissas colocadas na BNCC. A integração é apenas formal, com o
mesmo livro tratando temas de química, física e biologia separadamente, mesmo estes
sendo próximos.
A estrutura do Curso de Fìsica é a mesma, contando com a mesma estrutura em
todos os tópicos e capítulos. Textos e exemplos são seguidos por exercícios de fixação
em todos os tópicos. Ao final dos capítulos há uma leitura complementar, seguida por
exercícios de revisão, proposta de experimentos simples, exercícios mais desafiadores,
seguidos por exercícios de vestibular. O livro Multiversos possui estrutura mais fluida e
diagramação mais dinâmica e colorida. As imagens são mais modernas (há 25 anos de
diferença entre eles), uma vez que o Curso de Física contava com cartuns feitos à mão.

Referências
ALVARENGA, Beatriz, MÁXIMO, Antônio. Curso de Física Volume 1. São Paulo, Ed.
Scipione, 1997.
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quê?: o que dizem os estudantes das escolas públicas do município de Almirante
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