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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ


CAMPUS BELÉM
COLEGIADO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL II
PROFESSORA ROSEMARY COUTINHO

5ª AULA PRÁTICA: Preparação de um corante contendo grupamento azo


(CORANTE A)

1. OBJETIVOS
Preparar um azo composto de importância na indústria de corantes. Conceitos e
habilidades abordados nesta experimentação.
Objetivos específicos
Reatividade de aminas e compostos aromáticos, Corantes, Controle de temperatura

2. INTRODUÇÃO
A prática do uso de corantes é uma arte que vem desde a antiguidade. Os egípcios, fenícios
e romanos já empregavam alguns corantes, que eram compostos químicos em estado puro
como o índigo, a alizarina e a henna. Até meados do século XIX, os principais corantes
eram de origem vegetal como o índigo, isolado da planta Indigosfera tinctoria, conhecido
há mais de 4000 anos na Ásia.

Azo compostos como corantes


Dentre as diversas classes químicas que produzem cor, os azo-compostos,
indubitavelmente, ocupam um papel de destaque, em função, principalmente, da
facilidade e variedade com as quais os mesmos podem ser sintetizados. De fato, a grande
maioria das aminas aromáticas primárias pode ser transformadas em sais de diazônio a
partir do tratamento com NaNO2 ou HNO2, em meio ácido (geralmente se usa HCl), sendo
estes, espécies eletrofílicas (fracas) que realizam acoplamentos com espécies aromáticas
ricas em elétrons (Esquema 1).
Esquema 1. Formação de sal de diazônio e de um azo composto.
Os azos compostos, de modo geral, são espécies contendo conjugação π-estendida, que
emitem luz na região do visível e, por isso, dentre outras aplicações, podem ser utilizados
como corantes. À medida que uma molécula se torna mais conjugada, a mesma requer
menos energia para passar do estado fundamental para o estado excitado (ou seja, tem seu
gap de energia diminuído) por, basicamente, dois motivos: i) aumento da energia do
HOMO; ii) diminuição da energia do LUMO; e como E ~ 1/λ, a emissão de luz tende a
ocorrer em comprimentos de ondas maiores. Tal fato se torna ainda mais pronunciado
quando na presença simultânea de grupos doadores e aceptores de elétrons nas moléculas,
o que explica a atuação dos azo-compostos como corantes, uma vez que os anéis
aromáticos unidos pela ‘ponte’ azo (-N=N-) são funcionalizados por grupos NR2, OH,
OH, SO3Na, dentre outros. Ainda, substituintes polares como –SO3Na e –OH são
importantes agentes de fixação do corante na superfície de uma fibra polar como algodão,
lã ou náilon. Abaixo estão apresentados dois exemplos de azo compostos utilizados como
corantes na indústria e também como indicador de pH.

Cor e o espectro visível


Para que o olho humano possa ver a cor de um objeto, este deve emitir luz na região
visível (400-800 nm) do espectro eletromagnético. Um objeto preto absorve todos os
comprimentos de onda da luz visível. Quando somente alguns dos comprimentos de onda
são absorvidos, a cor é detectada devido aos comprimentos de onda que são refletidos ou
transmitidos. Nós vemos a cor complementar daquela que é absorvida. Deste modo, um
material que absorve a luz azul, por exemplo, pode aparecer com a coloração amarela. A
diferença entre os comprimentos de onda absorvidos e emitidos é chamada de
deslocamento de Stokes e se deve pelas diferentes formas de dissipação de energia
(quando uma molécula retorna do estado excitado ela libera energia, sendo essa,
basicamente, na forma de luz e calor).
Tabela 1. Cor observada e comprimento de onda absorvido.
Questionário Pré-Laboratório. Deverá ser entregue juntamente com o relatório da
prática.
1. Como você sintetizatia os compostos Bromo-benzeno e Benzonitrila?
2. Planeje uma síntese do alaranjado II a partir de β-naftol e ácido sulfanílico (ácido
p-amino-benzeno-sulfônico). Como você sintetizaria o β-naftol a partir do
naftaleno?
3. Escreva um mecanismo para a reação da N-metil-N-nitroso-pptolueno-
sulfonamida com base.
4. Muitos dos indicadores de pH que usamos são corantes do tipo AZO. Por exemplo
o vermelho do congo é um vermelho em solução básica ou neutra e azul em
solução ácida. Sugira uma estrutura para a forma azul do corante.

2.METODOLOGIA
Pipetas Àcido sulfanílico
Erlenmeyers β-naftol
Espátula Nitrito de sódio, NaCl
Funil Ácido clorídrico
Termômetro, pedaço de tecido de Água destilada, banho de gelo
algodão branco

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL (Leia com atenção)


1ª Parte: Preparação do corante
1. Em um erlenmeyer de 50 mL dissolva rapidamente 0,40 g de β-naftol em 10 mL de
uma solução de hidróxido de sódio a 10%, medida com pipeta graduada. Aqueça se
necessário, porém esfrie a mistura em banho de gelo antes da próxima etapa.
2. Em outro erlenmeyer de 50 mL dissolva 0,5 g de ácido sulfanílico em 2 mL de uma
solução NaOH 10% medida em pipeta graduada. Resfrie a mistura entre 0 a 5°C em banho
de gelo/sal (3:1). Adicione a esta solução, 2 mL de NaNO2 a 20%, recentemente
preparado. Mantendo a temperatura próxima de zero grau e acrescente, lentamente e com
agitação vigorosa (agitação com barra magnética), 5 mL de HCl 5 N.
3. Com a mistura ainda sob agitação, adicione a solução alcalina e gelada de β-naftol.
4. Continue a agitação da mistura e deixe que adquira espontaneamente a temperatura
ambiente (~10minutos).
5. Acrescente então 2 g de NaCl a mistura, filtre o corante (filtração comum) e lave-o com
30 mL de água gelada. Deixe secar ao ar.
2ª Parte:Tingimento
• Coloque um pedaço de tecido (2x5 cm) em um Becker com 50 mL de água e aqueça a
50°C por 10 minutos.
• Em outro Becker de 100 mL contendo 50 mL de água prepare o banho de tingimento
dissolvendo aproximadamente 0,25 g de Alaranjado II, 0,4 g de sal de Glauber (sulfato
de sódio) e 0,25 mL de ácido acético. Aqueça a 50°C. Com o auxílio de um bastão de
vidro transfira o tecido para o banho de tingimento e eleve lentamente a temperatura até
alcançar ebulição mantendo-a por 10 minutos. Remova o tecido, lave bem, esprema e
seque.

3. Questionário Pós-Laboratório (resolva após a realização das práticas). Deverá


ser entregue juntamente com o relatório da prática.
1. Justifique o porquê dos compostos azo serem estruturalmente adequados para serem
utilizados como corantes.
2. Comente acerca da relação conjugação/absorção/emissão de luz.
3. Apresente o mecanismo de formação de um sal de diazônio.
4. Apresente um mecanismo geral de substituição eletrofílica aromática envolvendo um
sal de diazônio como eletrófilo.

REFERÊNCIAS

E. B. Mano, A. P. Seabra, Práticas de Química Orgânica. 2ª ed., Ed. Edart – São Paulo,
1977.
J. S. Nimitz, Experiments in organic chemistry: from microscale to macroscale.
Englewood Cliffs, N.J. Prentice Hall, 1991.
W. W. Linstromberg, H. E. Baumgarten, Organic experiments, 6th ed. D. C. Healthand
Company, 1987.
D. L. Pavia, G. M. Lampman, G. S. Kriz, R. G. Engel, Química orgânica experimental,
técnicas de escala pequena. 2a ed. Bookman, 2009.
CORANTE B
EXPERIÊNCIA: PREPARAÇÃO DE UM CORANTE:ALARANJADO DE
METILA
1-INTRODUÇÃO

Na região de Blumenau a química está fortemente relacionada com a Indústria


Têxtil, desde a limpeza e tratamento da matéria-prima com agentes químicos para
branqueamento e uniformização do tecido cru até o uso de corantes e pigmentos
químicos para o tingimento e/ou estamparia dos substratos têxteis durante o
beneficiamento. O entendimento das reações químicas presentes no beneficiamento
(limpeza do tecido ou fibra, tingimento, estamparia) é fundamental para o sucesso no
desenvolvimento do um produto final, que deve apresentar características
específicas como uniformidade de cor, maciez ao toque, entre outras. Para o perfeito
tingimento do tecido é essencial a combinação correta de corante e do tipo de fibra
têxtil, bem como da condição de banho de tingimento. Para cada fibra têxtil há um
corante específico que confere uniformidade ao tecido tinto e solidez a lavagem. Por
exemplo, o corante básico apresenta maior solidez, afinidade e intensidade de cor
para fibras acrílicas. Já o tingimento de fibras celulósicas, como de algodão, é mais
eficiente com o corante reativo, pois este corante contém um grupo eletrolítico
capaz de formar uma ligação covalente com grupos hidroxila das fibras celulósicas,
tornando o tingimento mais estável (Esquema abaixo). A fibra de poliéster, por não
apresentar grupos polares não pode ser tingida por mecanismos iônicos, com corantes
hidrossolúveis. O processo de tingimento com corante disperso é puramente físico.

Esquema: Comportamento da fibra celulósica em contato com corante reativo

Corantes AZO são os maiores e mais importantes grupos de corantes sintéticos. Eles são
usados em roupas, alimentos e como pigmentos de pinturas. São também empregados
nas tintas para impressão colorida. Os corantes Azo possuem a estrutura básica Ar-
N=N-Ar1, onde Ar e Ar1designam grupos aromáticos quaisquer. A unidade contendo a
ligação -N=N- é chamada de grupo azo, um forte grupo cromóforo que confere cor
brilhante a estes compostos. Na formação da ligação azo, muitas combinações
de ArNH2 e Ar1NH2 (ou Ar1OH) podem ser utilizadas. Estas possíveis combinações
fornecem uma variedade de cores, como amarelos, laranjas, vermelhos, marrons e
azuis. A produção de um corante azo envolve o tratamento de uma amina aromática
com ácido nitroso, fornecendo um íon diazônio (1) como intermediário. Este
processo chama-se diazotização.

O íon diazônio (1) é um intermediário deficiente de elétrons, sofrendo, portanto, reações


com espécies nucleofílicas. Os reagentes nucleofílicos mais comuns para a preparação
de corantes são aminas aromáticas e fenóis. A reação entre sais de diazônio e nucleófilos
é chamada de reação de acoplamento azo:

2 -METODOLOGIA
Neste experimento será preparado o corante metil orange (“alaranjado de metila”, 6) a
partir da reação de acoplamento azo entre ácido sufanílico 2 e N,N-dimetilanilina 4, em
duas etapas, conforme descrito a seguir:

1ª etapa: Síntese do sal de diazônio: derivado do ácido sulfanílico – diazotização do ácido


sulfanílico. A síntese do sal de diazônio (3) ocorre a partir da reação entre uma amina
aromática (no exemplo abaixo, sal derivado de ácido sulfanílico) (2) e o íon nitroso
conforme mecanismo reacional representado pelo Esquema 1, onde a amina aromática
(nucleófilo) ataca o íon nitroso (eletrófilo).
O sal derivado de ácido sulfanílico pode ser obtido pelo tratamento do ácido sulfanílico
(4) com uma solução básica de carbonato de sódio. Este procedimento deve ser
realizado, porque o ácido sulfanílico é insolúvel em ácido e, como a etapa de
diazotização do ácido sulfanílico será realizado neste meio, é preciso transformá-lo
em uma espécie solúvel em ácido (Esquema 2)

O íon nitroso é formado in situ pela reação do NaNO2 (nitrito de sódio) com HCl, cuja
reação passa pelo intermediário ácido nitroso (Esquema 3).
2ª etapa: Síntese do metil Orange. Uma vez obtido o sal de diazônio derivado do ácido
sulfanílico (3), este reagirá com a N,N-dimetilanilina (5) via reação de acoplamento azo.
O primeiro produto obtido da reação de acoplamento é a forma ácida do metil orange,
que é vermelho brilhante, chamado heliantina (6). Entretanto, em solução básica ocorre
a desprotonação do nitrogênio da heliantina, convertendo-a no sal de sódio laranja
(7), chamado Metil Orange ou Alaranjado de Metila (Esquema 4)

É interessante destacar que o metil orange possui aplicação também como um indicador
ácido-base. Em soluções com pH > 4,4, metil Orange existe como um íon negativo que
fornece a coloração amarela à solução. Em soluções com pH < 3,2, este íon é
protonado para formar um íon dipolar de coloração vermelha.

3-PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1 -DIAZOTIZAÇÃO DO ÁCIDO SULFANÍLICO:

Em um Erlenmeyer de 125 mL dissolva 0,3 g de carbonato de sódio anidro em 25


mL de água. Adicione 1,0 g de ácido sulfanílico a esta solução e aqueça em banho-maria
até a completa dissolução do material. Deixe a solução atingir a temperatura
ambiente e adicione 0,4 g de nitrito de sódio, agitando a mistura até a completa
dissolução. Resfrie a solução em banho de gelo por 5-10 minutos, até que a temperatura
fique abaixo de 0 oC. Em seguida, adicione 1,25 mL de ácido clorídrico, mantendo
uma agitação manual. O sal de diazônio do ácido sulfanílico separa-se como
um precipitado branco finamente dividido. Mantenha esta suspensão em um banho de
gelo até ser utilizada.
3.2 -PREPARAÇÃO DO METIL ORANGE:
Misture em um béquer de 50 mL, 0,7 mL de N,N-dimetilanilina e 0,5 mL de ácido
acético glacial. Com a ajuda de uma pipeta de Pasteur, adicione esta solução à
suspensão resfriada do ácido sulfanílico diazotizado preparado previamente] (item
3.1). Agite a mistura vigorosamente com um bastão de vidro. Em poucos minutos
um precipitado vermelho de heliantina será formado. Mantenha esta mistura resfriada
em banho de gelo por cerca de 10 minutos. Adicione 7,5 mL de hidróxido de sódio 10%.
Faça isso lentamente, com agitação, enquanto mantém a mistura resfriada em banho
de gelo. Verifique se a mistura está básica, com o auxílio de um papel de tornassol (é
possível verificar a basicidade pelo aparecimento da coloração alaranjada). Se
necessário, adicione mais base. Leve a solução básica à ebulição por 10-15 minutos, para
dissolver a maioria do metil orange recém formado. Em seguida, adicione 2,5 g de
cloreto de sódio e deixe a mistura atingir a temperatura ambiente. A completa
cristalização do produto pode ser induzida por resfriamento da mistura reacional. Colete
os sólidos formados por filtração em funil de Buchner, lavando-os com água gelada.

3.3 -RECRISTALIZAÇÃO:
Transfira o precipitado (juntamente com o papel filtro) para um béquer de 125 mL,
contendo cerca de 75 mL de água em ebulição. Mantenha a mistura em ebulição
branda por alguns minutos, agitando constantemente. Nem todo o corante se dissolve,
mas os sais contaminantes são dissolvidos. Remova o papel filtro e deixe a mistura
atingir a temperatura ambiente, resfriando posteriormente em banho de gelo. Filtre
a vácuo e lave com um mínimo de água gelada. Deixe o produto secar, pese e calcule o
rendimento.
3.4 -TESTE COMO INDICADOR DE pH:
Dissolva em um tubo de ensaio, uma pequena quantidade de metil orange em água.
Alternadamente, adicione algumas gotas de uma solução de HCl diluído e algumas
gotas de uma solução de NaOH diluído, observando a mudança de cor no ponto
de viragem (pH = 3,1: solução vermelha; pH = 4,4: solução amarela).

5-QUESTIONÁRIO1
1. Por que a N, N-dimetilanilina acopla com o sal de diazônio na posição para- do
anel aromático?
2. A reação de acoplamento do sal de diazônio é uma reação de substituição
eletrofílica aromática. Forneça o mecanismo para a síntese do corante metil
orange.
3. Forneça a estrutura de outros corantes empregados industrialmente.
4. Discuta seus resultados em termos de rendimento, pureza e teste de pH.
5. Qual a função da solução de NaOH 10%?
6. Qual a função da solução de NaCl?

REFERÊNCIAS

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