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A globalização na conjuntura pós-pandemia da Covid-19: vulnerabilidades e desafios da
integração e interdependência econômicas

A globalização na conjuntura pós-pandemia da


Covid-19: vulnerabilidades e desafios da integração
e interdependência econômicas
 Diálogos Internacionais  15/08/2022  Artigos, Edição Atual, Volume 9 (2022)

Volume 9 | Número 93 | Ago. 2022

Por Iago Gonçalves Ferreira

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A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA NO SÉCULO XXI: UM BREVE PANORAMA


CONJUNTURAL

Nas primeiras décadas do século XXI, a evolução das tecnologias de transporte, de


comunicação e de processamento de dados intensificaram o processo de integração
econômica e social mundial, ampliando os fluxos comerciais, financeiros e migratórios entre
os países (BAUMANN, 2021). Frente a esse contexto, o fenômeno da globalização se
consolida no cenário internacional, sustentado pelo progressivo intercâmbio econômico e
cultural entre as distintas sociedades (DUGNANI, 2018).

 Acerca do conceito de globalização, conforme ressaltam Campos e Canavezes (2007), a


literatura revela marcadas divergências em relação às dimensões, aos enfoques e às origens
do fenômeno, embora perspectivas convergentes possam ser delineadas. Assim, os autores
descrevem a globalização como um processo de escala mundial, que promove a interligação
crescente entre Estados, organizações e indivíduos, nas esferas política, econômica e
social (CAMPOS; CANAVEZES, 2007).

Diante dessa conjuntura, as sociedades nacionais contemporâneas — sobretudo das grandes


potências econômicas ocidentais — desfrutaram de importantes benefícios como a

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ampliação dos mercados consumidores, o aumento da automação e da qualificação de


processos produtivos, a redução de custos operacionais, dentre outros benefícios
propiciados pelos avanços tecnológicos e informacionais (BAUMANN, 2021; DUGNANI,
2018). 

Todavia, se por um lado a globalização promove uma maior interligação econômica entre os
países, por outro eleva seu grau de interdependência no âmbito internacional. Na clássica
obra ‘Power and Interdependence’, Keohane e Nye conceituam o fenômeno da
interdependência como relações entre atores internacionais, nas quais forças ou
circunstâncias externas afetam reciprocamente os agentes articulados (KEOHANE; NYE,
2012). 

Por esse prisma, a evolução da integração econômica internacional não se limitou à


ampliação dos fluxos financeiros e comerciais, abrangendo também a divisão internacional
do trabalho, as cadeias produtivas globais e a oferta de serviços, com marcada tendência ao
deslocamento de plataformas de produção de empresas transnacionais em direção a países
da ‘periferia global’, impulsionada pela procura por incentivos fiscais e redução de custos
operacionais (CASTAÑEDA‐NAVARRETE; HAUGE; LÓPEZ‐GÓMEZ, 2021; KATZ, 2018). Dessa
forma, constituem-se avançadas estruturas de produção com alto grau de segmentação e
internacionalização — denominadas cadeias globais de valor, que demandam arcabouços
econômicos cada vez mais sólidos e integrados (CASTAÑEDA‐NAVARRETE; HAUGE; LÓPEZ‐
GÓMEZ, 2021).

Contudo, sob outro ângulo, uma elevada integração internacional implica em maior
vulnerabilidade e suscetibilidade a intempéries domésticas e regionais, as quais podem
prontamente desencadear rupturas nas conjunturas socioeconômicas globais. Nesse sentido,
a intensa circulação de pessoas e mercadorias — característica intrínseca da globalização —
favorece também a rápida disseminação de doenças infecciosas, que podem se tornar
pandemias de escala mundial, como se constituiu a Covid-19 (SHRESTHA et al., 2020).

OS IMPACTOS DA PANDEMIA DA COVID-19: AS VULNERABILIDADES DA INTEGRAÇÃO


E INTERDEPENDÊNCIA ECONÔMICAS INTERNACIONAIS

Em dezembro de 2019, casos de infecções respiratórias desencadeadas pelo vírus SARS-CoV-


2 foram reportados na cidade Wuhan, província de Hubei, na China. Nas semanas
subsequentes, a nova doença denominada Covid-19 disseminou rapidamente por diversos
países e continentes, expondo assim uma perigosa face da globalização: o risco de céleres

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repercussões mundiais de incidentes locais, como as epidemias por agentes


infecciosos (DARLENSKI; TSANKOV, 2020; SUN et al., 2020).

A pandemia da Covid-19 acarretou profundos efeitos na conjuntura internacional, seja pela


necessidade de medidas sanitárias como isolamento social, ‘lockdowns’ e fechamento de
fronteiras, que impactaram fluxos comerciais e migratórios; seja pelas repercussões nos
sistemas de saúde com elevado número de internações e óbitos pela doença, que expuseram
fragilidades e limitações de governos e estruturas estatais (BUSS; TOBAR, 2020; FERHANI;
RUSHTON, 2020; GUIMÓN; NARULA, 2020).

Frente a esse contexto, os impactos da pandemia acometeram fortemente a economia


mundial, que apresentou retração de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano de 2020,
sendo considerada pelas principais agências econômicas internacionais como pior que a
recessão causada pela crise de 2008 (BANCO MUNDIAL, 2022; SHRESTHA et al., 2020; ZAYED
et al., 2021). Segundo Shrestha et al. (2020), as pandemias podem prejudicar o cenário
econômico de diferentes formas, provocando o aumento das incertezas de consumidores e
investidores, a redução do aporte de recursos e demandas, o aumento do desemprego, e
consequentemente, depreciando o crescimento econômico e ampliando desigualdades
sociais (SHRESTHA et al., 2020). 

Nesse sentido, Chowdhury et al. (2022) apontam como principais causas da queda do PIB
advindas da pandemia da Covid-19: a escassez de mão de obra no setor produtivo, devido às
restrições de circulação; o declínio das exportações associada ao aumento dos custos de
transporte e comércio transfronteiriço; a ruptura das atividades de turismo, hotelaria e
recreação; e a queda do consumo e demanda por bens e serviços motivada pelo panorama
de adversidades e incertezas decorrentes da pandemia (CHOWDHURY; KHAN; DHAR, 2022).

Todavia, as repercussões da Covid-19 afligiram de forma mais acentuada os países da


‘periferia’ global, cujas bases econômicas encontram-se frequentemente atreladas à
produção de matérias-primas e suprimentos para os países desenvolvidos, os quais
reduziram consideravelmente suas demandas por esses insumos, agravando os cenários de
desigualdade e insuficiência nessas economias (BUSS; TOBAR, 2020; CASTAÑEDA‐
NAVARRETE; HAUGE; LÓPEZ‐GÓMEZ, 2021; FERHANI; RUSHTON, 2020; ZAYED et al., 2021).
Outrossim, no âmbito intranacional, os efeitos aturam de forma assimétrica, impactando de
forma mais acentuada grupos sociais marginalizados como migrantes, refugiados, minorias
étnicas e pessoas em situação de vulnerabilidade e pobreza (CIRAVEGNA; MICHAILOVA,
2022). 

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 A partir dessa compreensão, Gonçalves (2005) ressalta o conceito de vulnerabilidade


unilateral na análise das assimetrias do sistema de interdependências econômicas, de forma
que países da ‘periferia’ global demonstram maior sensibilidade às circunstâncias adversas
ocorridas nas economias avançadas, enquanto “os eventos desse países têm impacto nulo ou
quase nulo sobre o sistema econômico mundial” (GONÇALVES, 2005). 

Em relação às estruturas de produção globais, as impreteríveis medidas sanitárias para o


controle da pandemia, abrangeram importantes restrições aos transportes e fluxos de
comércio exterior. Estima-se que apenas no primeiro trimestre de 2020, houve  uma redução
de cerca de 70% nos voos programados em relação ao primeiro trimestre do ano anterior,
repercutindo sobre os custos comerciais no setor de aviação, que revelaram aumentos de 30
a 50% nas operações no primeiro ano da pandemia (VO; TRAN, 2021).

Ademais, segundo estimativas da Organização Mundial do Comércio (OMC), as barreiras


alfandegárias, as políticas regulatórias e os encargos de transportes transfronteiriços podem
representar cerca de 10% dos custos do comércio exterior, sendo que, em meio ao contexto
da pandemia da Covid-19, conjectura-se aumento de 25% nas despesas das transações
comerciais internacionais. Diante desse quadro, os sistemas de distribuição e abastecimento
de insumos foram fortemente impactados, provocando importantes interrupções e
desarranjos nas cadeias produtivas globais e, por conseguinte, a falta de materiais e
mercadorias, inclusive no setor de saúde (CHOWDHURY; KHAN; DHAR, 2022; VO; TRAN,
2021; ZHANG; WANG, 2022). 

Dessa forma, à medida em que a pandemia da Covid-19 se disseminava por países e


continentes, ampliava-se a demanda por equipamentos médico-hospitalares — como
respiradores, desinfetantes, equipamentos de proteção individual e, posteriormente, vacinas
— desencadeando assim uma desvairada “corrida” pela aquisição desses recursos,
acompanhada por especulação e escassez no mercado de suprimentos de
saúde (CASTAÑEDA‐NAVARRETE; HAUGE; LÓPEZ‐GÓMEZ, 2021; CIRAVEGNA; MICHAILOVA,
2022; SHRESTHA et al., 2020). 

À vista disso, visando a garantia desses recursos estratégicos, a partir de uma lógica de ‘soma
zero’, governos nacionais adotaram políticas unilaterais e isolacionistas, e em certos casos,
até mesmo a suspensão e o rompimento de tratados e acordos existentes. Outrossim,
iniciativas de cooperação internacional e instituições intergovernamentais — como a
Organização Mundial de Saúde (OMS) — foram negligenciadas e/ou desconsideradas,

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dificultando enormemente o enfrentamento da pandemia da Covid-19 (CIRAVEGNA;


MICHAILOVA, 2022). 

O panorama de adversidades econômicas exposto pela Covid-19 fragilizou os arranjos e as


dinâmicas de cooperação e integração internacionais, fomentando correntes de
pensamentos e retóricas antiglobalização, alimentados pelo contexto de inseguranças,
vulnerabilidades e competição entre os atores estatais.

‘DESGLOBALIZAÇÃO’: AS HESITAÇÕES E OS RISCOS À INTEGRAÇÃO ECONÔMICA


GLOBAL

O conceito de ‘desglobalização’ ainda apresenta diferentes compreensões e definições na


literatura internacional. Inicialmente, o termo relacionava-se às críticas e propostas em
contraponto à internacionalização do capitalismo liberal, representando uma tentativa de
atenuação das adversidades e desigualdades oriundas da globalização econômica (ALVES;
ALMEIDA, 2022). 

Posteriormente, em meio ao surgimento de movimentos contrários à globalização e o


emprego de políticas isolacionistas e protecionistas por parte de alguns países, a concepção
de ‘desglobalização’ também passou abarcar a descrição desses antagonismos (ALVES;
ALMEIDA, 2022), os quais se encontram em consonância com os fenômenos observados na
pandemia da Covid-19, portanto, assumiu-se essa interpretação no escopo deste ensaio.

As correntes e mobilizações antiglobalização, todavia, não se principiaram com a pandemia.


A medida em que as tecnologias de comunicação e de transportes avançaram — sobretudo
nas primeiras décadas do século XXI — os efeitos adversos decorrentes do processo de
globalização se intensificaram, assim como sua percepção e resistência por parte de
determinados segmentos e grupos sociais das sociedades nacionais (BAUMANN, 2021;
CIRAVEGNA; MICHAILOVA, 2022). 

Frente às contradições da globalização — juntamente às críticas legítimas e fundamentadas


— emergem também visões e argumentos populistas e nacionalistas, manifestando-se
através de tentativas de deslegitimação e enfraquecimento de organizações
intergovernamentais, de revogação de acordos e parcerias multilaterais, e de esvaziamento
de debates e fóruns internacionais. À vista disso, despontam iniciativas como o Brexit
(retirada do Reino Unido da União Europeia), a retórica protecionista e unilateralista do
governo Trump e as recorrentes críticas às organizações intergovernamentais durante a

pandemia, sobretudo à Organização Mundial de Saúde. 
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 Por essa perspectiva, alguns autores têm apontado como principais indutores da
‘desglobalização’ na esfera econômica — ainda no cenário ‘pré-pandemia’ — o processo de
financeirização da economia com o crescimento do mercado especulativo, culminando na
crise econômico-financeira de 2008; o aumento da desigualdade de renda e pobreza, tanto
nos planos domésticos como no âmbito internacional; bem como a exacerbação da
concentração de riqueza (ALVES; ALMEIDA, 2022). 

Mediante a essas tendências, a eclosão da pandemia da Covid-19 contribuiu para a


aceleração e intensificação das dinâmicas contestatórias à globalização, ampliando
sentimentos de desconfiança, descontentamento e rivalidade por parte dos atores
internacionais, de maneira a fomentar o unilateralismo, o nacionalismo e o populismo. Nesse
sentido, Ciravegna e Michailova (2022) destacam que, em conjunturas de instabilidade
socioeconômica e agitação social, líderes populistas tendem a incorporar discursos
nacionalistas e antiglobalização para respaldar políticas protecionistas, explorando a
insatisfação popular na obtenção de capital político (CIRAVEGNA; MICHAILOVA, 2022).

Contudo, Alves e Almeida (2022) ressaltam que, embora os cenários de instabilidade


econômica internacional possam desencadear a acentuação de movimentos de
‘desglobalização’, tais tendências encontram-se mais vinculadas a distúrbios geopolíticos e
falhas nos mecanismos de governança, do que a fatores intrinsicamente econômicos (ALVES;
ALMEIDA, 2022). 

Por esse prisma, as posturas isolacionistas e conflituosas, adotadas por parcela significativa
dos governos nacionais, tendem a ser mais prejudiciais ao processo de globalização na
medida em que minaram instituições intergovernamentais, acordos multilaterais e transações
internacionais (CIRAVEGNA; MICHAILOVA, 2022). A título de ilustração, pode-se vislumbrar
que a disputa geopolítica entre Estados Unidos e China — intensificada pelas divergências
acerca da origem do vírus SARS-CoV-2 — denota potencial mais ameaçador à globalização,
a longo prazo, que a queda na produção econômica nos anos pandêmicos.  

A ascensão econômica da China nas primeiras décadas do século XXI, alcançando a posição
de segunda maior economia em 2010, o que desafiou a, até então, preponderante
hegemonia estadunidense. O déficit comercial dos EUA com a China representa uma das
principais razões para os conflitos econômicos entre as duas potências, os quais foram
intensificados durante o governo Trump, com a imposição de tarifas de importação ao aço e
ao alumínio chinês (PARK, 2020). 

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Os conflitos entre China e EUA também se expressam na esfera tecnológica, sobretudo em


relação à expansão das tecnologias 5G, mercado em que se destaca a empresa chinesa
Huawei. Nesse sentido, alegando questões de segurança nacional, em 2019, o governo
norte-americano suspendeu as atividades da empresa asiática no mercado dos EUA,
instigando seus aliados a adotarem a mesma postura (PARK, 2020). A despeito da eleição do
democrata Joe Biden em 2020, as posições dos EUA acerca das relações econômicas com
China — embora assumindo retóricas menos beligerantes que na ‘Era Trump’ — se
mantiveram firmes e ofensivas, sinalizando uma continuidade da rivalidade entre os países. 

Considerando essa conjuntura, Park (2020), Zemaityte e Urbsiene (2020) ressaltam que os
conflitos comerciais entre as duas potências podem impactar negativamente a economia
global, provocando aumento de preços, rupturas de cadeias globais de valor e incerteza
econômicas (PARK, 2020; ŽEMAITYTĖ; URBŠIENĖ, 2020). 

Em meio ao complexo cenário econômico, em parte decorrente das vulnerabilidades


expostas na pandemia da Covid-19, a recente invasão russa à Ucrânia e as subsequentes
sanções econômicas dos países ocidentais, bem como os últimos atritos entre EUA e China
em relação à Taiwan, tornam ainda mais obscuras as perspectivas da globalização. À vista
disso, caso as tensões entre “Ocidente” e “Oriente” se mantenham em escala, uma partição
econômica entre grupamentos de países pode se mostrar inevitável, delineando uma ‘Cortina
de Ferro 2.0’.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da complexidade e multidimensionalidade do fenômeno da globalização, o contexto


da pandemia da Covid-19 tornou evidente a necessidade de iniciativas de cooperação
internacional, em busca de ações que visem a formulação de ‘soluções globais para
problemas globais’. Nesse sentido, salienta-se a importância do fortalecimento das estruturas
de governança multilaterais, recursos estratégicos para o diálogo e a articulação entre os
heterogêneos atores internacionais, do contrário, apontam Alves e Almeida (2022): “Na
medida em que a estrutura global de governança se torna disfuncional, a desglobalização se
instala e desafia a lógica globalizada, tensionando o globalismo, o regionalismo, a integração
e, portanto, a supranacionalidade” (ALVES; ALMEIDA, 2022).  

Zemaityte e Urbsiene (2020) advogam que a integração econômica global, com intensos
fluxos de bens e serviços, pode aumentar a concorrência, a inovação e a eficiência de
processos produtivos, gerando relevantes benefícios econômicos aos agentes envolvidos. Em

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contrapartida, o aumento do protecionismo e a imposição de barreiras comerciais podem


propiciar a ineficiência das produções domésticas, a desarticulação de cadeias de
suprimentos, a redução de investimentos, além de estimular posturas reativas e retaliações
entre os países implicados (ŽEMAITYTĖ; URBŠIENĖ, 2020). Todavia, vale destacar que a
globalização também revela efeitos colaterais consideráveis,  favorecendo a desigualdade de
renda e a concentração de riqueza, que podem fomentar tensões, instabilidades e
antagonismos no âmbito intranacional (ALVES; ALMEIDA, 2022). 

Os avanços tecnológicos do século XXI juntamente com o ambiente favorável e de


entusiasmo neoliberal pós-Guerra Fria pareciam conceder um caráter perene e irreversível à
globalização. Todavia, a crise econômica de 2008, o reordenamento hegemônico global, a
pandemia da Covid-19 e os conflitos entre “Ocidente” e “Oriente” introduzem novas matizes
ao painel econômico internacional, pondo à prova a acreditada globalização.

REFERÊNCIAS: 

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Iago Gonçalves Ferreira é Médico graduado pela Universidade do Estado do Pará, mestre em
Ensino na Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA),
mestrando em Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS).

Como citar esse texto:


FERREIRA, Iago Gonçalves. A globalização na conjuntura pós-pandemia
da Covid-19: vulnerabilidades e desafios da integração e
interdependência econômicas, Diálogos Internacionais, vol.9, n.93,
ago.2022. Disponível em: https://dialogosinternacionais.com.br/?p=2742

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Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e
Economia Política Internacional ISSN 2596 2353

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