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O IMPACTO SOCIOECONÓMICO DA COVID-19 EM MOÇAMBIQUE

THE SOCIOECONOMIC IMPACT OF COVID-19 IN MOZAMBIQUE

Eleutério José Machava1, Simeão Nhabinde 2

Resumo

Introdução: O vírus conhecido como Novo Coronavírus que acusa a Síndrome respiratória aguda
grave - cuja sigla é SARS-CoV-2, ou popularmente denominada de COVID-19, foi oficialmente
detectado e isolado na cidade chinesa Wuhan entre o final de Dezembro de 2019 e meados de
Janeiro de 2020. Objectivo: o artigo tem como objectivo compreender o impacto do Covid-19 na
economia de Moçambique. Metodologia: trata-se de uma revisão sistemática de literatura de
abordagem qualitativa. Resultados: o Covid-19 teve um impacto negativo e imensurável para
muitos países incluindo Moçambique. O impacto socioeconómico do Covid-19 inclui a descida
drástica do PIB, o enfraquecimento do desempenho do sector externo a cair 15% em 2020, o
enceramento de grandes e médias empresas, que por sua vez recrudesceu o índice de desemprego e
consumo a nível familiar, entre outras consequências. Sugestões: Garantir medidas focais que
aliviem a situação das grandes e pequenas empresas, incluindo as famílias carenciadas e garantir a
implementação adequada do programa de protecção social.

Palavras-chave: Covid-19, Economia, Impacto económico do Covid-19 em Moçambique.

Abstract

Introduction: The virus known as the New Coronavírus that accuses Severe Acute Respiratory
Syndrome - whose acronym is SARS-CoV-2, or popularly called COVID-19, was officially
detected and isolated in the Chinese city of Wuhan between the end of December 2019 and mid-
January 2020. Purpose: The article aims to understand the impact of Covid-19 on the Mozambican
economy. Methodology: this is a systematic literature review with a qualitative approach. Results:
Covid-19 had an immeasurable negative impact on many countries including Mozambique. The
socioeconomic impact of Covid-19 includes the drastic decline in GDP, the weakening of the
performance of the external sector to fall by 15% in 2020, the closure of large and medium-sized
companies, which in turn increased the unemployment rate and consumption at the family level,
among other consequences. Suggestions: Ensure focal measures that alleviate the situation of large
and small companies, including needy families and ensure proper implementation of the social
protection program.

Keywords: Keywords: Covid-19, Economy, and Economic Impact of Covid-19 in Mozambique.

1
Mestrando em Saúde pública na Universidade Católica de Moçambique. 4ª Edição. 2022.
2
PhD candidate em economia do desenvolvimento.
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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização

O vírus conhecido como Novo Coronavírus que acusa a Síndrome respiratória aguda
grave - cuja sigla é SARS-CoV-2, ou popularmente denominada de COVID-19, foi
oficialmente detectado e isolado na cidade chinesa Wuhan entre o final de Dezembro de
2019 e meados de Janeiro de 2020. Desde o início do contágio, foram registados
49.541.141 casos de infecções pelo coronavírus e 1.246.221 óbitos da COVID-19 em 198
países e territórios (OMS, 2020). O mais marcante é a velocidade da difusão do vírus e da
doença, que provocou o colapso do sistema de saúde de países como Itália, Espanha,
França e Inglaterra e, no fim de Abril de 2020, dos Estados Unidos e do Brasil.

Na África subsaariana, os primeiros registos de contaminação pelo Coronavírus foram


anunciados pelas autoridades sanitárias da Nigéria (27/02/2020) e do Senegal
(02/03/2020), (Monié, 2020).

Em consequência deste fenómeno, o Comité para a Política de Desenvolvimento


das Nações Unidas manifestou preocupação sobre os impactos negativos que poderiam
advir da pandemia do Covid-19 nos países em desenvolvimento, desde o início de 2020
(Nações Unidas, 2020).

A eclosão, em todo o mundo, da COVID-19, trouxe sérios desafios à saúde


humana, ao meio ambiente e à economia mundial. Esses desafios têm relação com medidas
rigorosas, adoptadas por quase todos os países, para controlar a propagação da COVID-19,
o que resultou na desaceleração significativa das actividades económicas (Kumar, et al.,
2020).

Portanto, países de todo o mundo iniciaram a implementação de acções políticas


sem precedentes, para combater o vírus, fornecer assistência médica e evitar o colapso
económico. Alguns países começaram a reduzir o consumo de combustível fóssil e os
impostos de carbono subsequentes, e a reivindicar regulamentações ambientais (Steffen et
al., 2020; Reilly et al., 2021; Koçak et al., 2021).

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A pandemia não se comportou de forma diferente em Moçambique, na medida em


que medidas restritivas foram impostas pelo governo, com efeitos imediatos na actividade
económica e na reprodução social, o que influenciou de forma negativa a importação de
bens essenciais, matérias-primas, bens de capital e bens básicos de consumo. Deve-se levar
em conta que Moçambique depende muito da importação de produtos básicos de consumo
(IESE, 2021).

Em Moçambique, a Covid-19 se impôs como um importante desafio, tendo em


conta que, em 2021, já se faziam sentir os efeitos de uma imensa crise económica,
caracterizada pela subida de preços de produtos básicos, pela depreciação do Metical (que,
no primeiro trimestre de 2021, chegou a custar 75 meticais por dólar norte-americano)
seguida pela valorização, em Abril, para um valor nominal de 55 MZN/USD (IESE, 2021).
Portanto, para conter a propagação da doença de coronavírus, medidas de confinamento
produziram resultados positivos, mas por outro lado, contribuíram para a desaceleração do
crescimento económico, ao reduzir as actividades industriais e comerciais (Wang et al.,
2020).

Assim, este artigo procura compreender como é que a COVID-19, convencionada


como crise sanitária, rapidamente se transformou em crise socioeconómica, mostrando não
só como um problema de saúde pública mas também como um problema de nicho
financeiro.

1.2.Motivação

Para além da busca de novos subsídios, o presente artigo tem a intenção de contribuir
para a compreensão do impacto socioeconómico do COVID-19 em Moçambique.
Ademais, a disposição dos subsídios em questão poderão ser reutilizados como material
bibliográfico por outros autores interessados pelo tema assim como para o desenho de
estratégias para potencializar a economia das áreas afectadas.

1.3. Definição do problema

A pesquisa será delimitada pela seguinte questão de partida:

 Qual é o impacto do COVID-19 na economia de Moçambique?

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1.4. Fundamentação do problema

O ano 2020 começou com uma enorme preocupação global, pois era o início da
circulação de informações sobre a ocorrência, em Wuhan, de um novo vírus da família
coronavírus, designado Sars-CoV-2 ou novo coronavírus, responsável pela doença
infecciosa respiratória denominada Covid-19.

Para se conter a sua propagação, os governos de diferentes países sob a orientação da


OMS foram obrigadas a decretar um conjunto de medidas. A maior parte das medidas
concorria para reduzir a circulação de pessoas, o que, no nível mais grave, culminou com o

confinamento total, conhecido como lockdown.

Foi notório que as medidas de confinamento, que visavam preservar a saúde das
pessoas acabou por afectar a economia, ou seja, o que seria uma mera crise sanitária
acabou por se transformar numa crise financeira ou económica, visto que alguns sectores
da economia tiveram que parar literalmente, ficando a funcionar apenas sectores
essenciais, mas de forma condicionada.

O abrandamento económico global devido à pandemia da COVID-19 está a travar e a


reverter os progressos recentes na redução da pobreza. A diminuição da procura global e as
restrições de viagem que afastam os turistas estão a atingir fortemente os países mais
pobres como Moçambique. Além disso, os governos têm uma margem fiscal limitada para
contrariar a recessão económica em comparação com os generosos pacotes de apoio em
curso nas economias mais ricas. Antes da pandemia, as previsões de crescimento para
Moçambique para 2020 chegavam a ascender a 6 por cento (Nações Unidas, 2020). No
entanto, no final de 2020, o produto interno bruto (PIB) a preços de mercado tinha na
verdade diminuído 1,3 por cento (INE, 2021a).

Embora o Governo tenha até agora conseguido evitar o extremo da implementação de um


confinamento total, a pandemia, combinada com as medidas de mitigação, acarretou um
pesado custo para a economia. Para melhor lidarmos com o impacto e os dilemas de
política envolvidos, tendo em vista a concepção de respostas de política optimizadas, é da

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maior importância reforçarmos a nossa compreensão do impacto da pandemia e das suas


consequências em toda a economia.

1.5. Objectivos

1.5.1. Objectivo geral

 Compreender o impacto do COVID-19 na economia Moçambicana.

1.5.2. Objectivos específicos

 Descrever o panorama geral da pandemia do COVID-19 na África Subsaariana e


Moçambique;

 Definir conceitos de crise financeira/económica e suas principais características;

 Descrever de que forma os sectores mais afectados pelo COVID-19 impactaram na


economia de Moçambique.

1.6. Estrutura do artigo

O presente artigo está estruturado em 5 (cinco) capítulos essenciais: no capítulo I são


apresentados subsídios introdutórios, tais como a contextualização, motivação, definição
do problema, a justificativa e os objectivos (geral e específicos) da pesquisa; o capítulo II
trata da revisão de literatura onde anunciamos e discutimos os principais conceitos da
pesquisa; o capítulo III trata sobre a metodologia usada na pesquisa; o capítulo IV trata
sobre a apresentação e análise dos resultados e por fim o capítulo V dedicado à descrição
das conclusões e sugestões para a pesquisa.

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CAPÍTULO II: REVISÃO DE LITERATURA

2.1.Definição de conceitos fundamentais

2.1.1. A pandemia do Coronavírus/ COVID-19 na África subsaariana e em


Moçambique

Não existe, ainda, alguma certeza sobre a real origem do novo vírus da família
coronavírus, designado Sars-CoV-2 responsável pela doença respiratória denominada
Covid-19. A única certeza é que os primeiros casos da manifestação da doença
verificaram-se na cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei nos finais do ano de
2019 (OMS, 2020).

O aparecimento do novo coronavírus foi identificado após o surgimento de casos de


pneumonia, com causas desconhecidas, em Wuhan. Contudo, o COVID-19 pode causar
diversos tipos de infecções respiratórias cujos sintomas assemelham-se aos de resfriados e
gripes, como espirros, tosse, coriza e febre, podendo, no entanto, elevar-se para situações
mais graves como pneumonia, insuficiência respiratória aguda, lesões pulmonares e até a
morte1 (OMS, 2020).

A sua transmissão pode ocorrer através do contacto com pessoas e ou animais


contaminados e ou toque de superfícies contaminadas onde o vírus pode sobreviver por
várias horas ou dias. A transmissão da COVID-19 entre pessoas pode ocorrer através de
gotículas de secreções eliminadas pelos doentes sintomáticos ou assintomáticos, durante a
tosse, espirro ou a partir de objectos contaminados e os canais de penetração da doença são
a boca, as narinas e os olhos (Monié, 2020).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 31 de Dezembro,


quando a China informou a OMS que um vírus, até então desconhecido, estava se
espalhando pelo país, o COVID-19 chegou no dia 11 de Março de 2020, a 114 países, com
registo de mais de 118 mil casos e 4.291 mortes (WHO, 2020). Foi neste contexto de
grande escalada e velocidade do Sars-cov-2, que a OMS classificou a Covid-19 como

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pandemia, no dia 11 de Março de 2020 e daí em diante o número de novos casos positivos,
mortes e lugares atingidos tem vindo a crescer exponencialmente em todo mundo.

Na África subsaariana, o primeiro caso de COVID-19 foi detectado e confirmado


no dia 27 de Fevereiro de 2020, na cidade de Lagos, capital económica da Nigéria (Monié,
2020). Volvidos cerca de três meses, os casos testados positivos atingiram 101.860 e o
número de mortes pela pandemia.

Embora os primeiros casos da COVID-19 tenham chegado alguns dias antes da


declaração da pandemia à África Subsaariana, relativamente tarde comparativamente a
outras regiões do planeta, a sua evolução, cerca de cem dias depois, indica uma tendência
crescente do ponto de vista quantitativo e espacial.

O registo tardio dos primeiros casos de Coronavírus na África Subsaariana pode


ser, consequência de três fatores principais. O primeiro, relacionado a existência de
“desertos estatísticos” nas regiões mais conturbadas e/ou periféricas do continente, o
segundo, diz respeito a carência de testes de detecção, o que gera incertezas quanto a
evolução real da pandemia, e o terceiro factor está relacionado à baixa conectividade
relativa da África subsaariana às cadeias de valor e às redes logísticas globais.

Em Moçambique, o primeiro caso positivo foi diagnosticado no dia 22 de Março,


na cidade de Maputo, importado de Londres. Todavia, de acordo com os dados do
Ministério da Saúde (MISAU), quase cerca de setenta dias depois o país contava com 316
casos positivos cumulativos da doença e 3 mortes. Durante os 9 dias finais do mês de
Março o número de casos positivos da COVID-19 cresceu de 1 para 8, numa média de 0,8
casos por dia e todos concentrados na cidade de Maputo, a capital do país. O mês de Abril
caracterizou-se por um crescimento quantitativo e espacial, com o registo de 68 novos
casos positivos, numa média diária de 2,2 casos, distribuídos por três focos,
nomeadamente, cidade de Maputo, província de Maputo e província de Cabo de Delgado,
com um cumulativo de 76 casos positivos (MISAU, 2020).

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A pandemia do coronavírus no mundo em geral, bem como na África Subsaariana e


em Moçambique, em particular, tem várias consequências destacando-se algumas, como
sérios problemas de saúde públicas causados pela doença.

2.1.2. Crise económica/financeira

Uma crise financeira pode ser caracterizada como os desequilíbrios e recessões


oriundos da busca pela riqueza, tanto em termos de crescimento económico, como em
património do investidor. Para estes autores, as crises podem ser: de inflação, choques
cambiais, estouro de bolha de activos, crises bancárias, crises de dívidas internas e externas
(Gomes et al., 2016, p. 19).

A definição técnica da palavra crise é explicada a partir do ponto de inflexão na


fase ascendente do ciclo, momento em que a expansão é quebrada e, com isso, começa
uma etapa com características contrárias. A crise demonstra uma situação anormal, pois ela
não rompe apenas com a prosperidade recebida e desfrutada até o momento, mas também
cria um conjunto de escassez e dificuldades para a grande maioria dos envolvidos (Cechin
& Montoya, 2017, p. 151).

Ao longo de uma crise há redução da actividade económica. A demanda por


consumo diminui, o que leva ao decrescimento da taxa de lucro das empresas. Como as
empresas passam a lucrar abaixo do normal, muitas delas acabam por demitir
colaboradores funcionários, aumentando de taxas de desemprego, o que por sua vez o que
leva a um baixo consumo das famílias (Carvalho, 2018).

Em resumo e fazendo das palavras de (Souza, 2009, p. 2), os elementos de uma


crise económica são: retracção, estagnação ou crescimento insuficiente do produto; piora
geral ou localizada das condições materiais dos agentes dentro do ambiente económico; e
esgarçamento da ordem social ora estabelecida, muitas vezes acompanhada de
esgarçamento da ordem política.

2.1.3. O impacto socioeconómico da COVID-19 em Moçambique

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Tal como em todo o mundo, a pandemia da COVID-19 tem tido um impacto social
e económico muito significativo em Moçambique. Uma série de choques de procura e de
oferta em curso, que atingiram Moçambique desde o início da pandemia, explicam este
facto. Estes vão desde o forte abrandamento experimentado pela economia mundial e o seu
impacto em Moçambique, que tem uma das economias mais abertas da África Subsaariana,
à adopção pelo governo de medidas rigorosas de distanciamento social e de bloqueio. No
seu conjunto, estes choques afectaram gravemente a actividade económica e perturbaram a
vida e a subsistência dos moçambicanos em todo o país (OMS, 2021).

A nível macroeconómico, a economia de Moçambique sofreu em 2020 a sua


primeira contracção em quase trinta anos, em grande parte devido à pandemia, com o PIB
a cair 1,23 por cento, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2021). A
mesma fonte afirma ainda que os sectores mais duramente atingidos foram o turismo, os
serviços, os transportes, a indústria transformadora e a construção, todos eles contraídos
em 2020. As indústrias extractivas, que em 2019 representavam 7 por cento do PIB,
também sofreram um declínio muito acentuado de 15,1 por cento, embora este tenha sido
em grande parte impulsionado por factores específicos da indústria extractiva, e não pelo
impacto da COVID-19.

Do lado da procura, este acentuado abrandamento da actividade económica


reflectiu-se também no fraco desempenho do sector externo de Moçambique, com o valor
das exportações a cair 15 por cento em 2020, o das importações a cair 0,4 por cento,
enquanto o investimento directo estrangeiro em projectos que não os mega-projectos
registou um declínio muito acentuado, de 875,3 milhões de dólares em 2019 para apenas
212,5 milhões de dólares em 2020. O consumo agregado, por outro lado, caiu 7,2 por cento
em 2020, com reduções tanto no consumo privado como público, de 2,1 e 19,3 por cento,
respectivamente (INE, 2021).

Enquanto aos mais recentes números macroeconómicos divulgados pelo INE


apontam para uma recuperação da actividade económica, as perspectivas de Moçambique a
curto e médio prazo continuam tépidas, com o FMI a projectar um crescimento do PIB de
apenas 2,1 por cento em 2021 e de 4,7 por cento em 2022.

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Um importante motor por detrás da forte contracção da actividade económica em


Moçambique tem sido, desde o início da pandemia, a adopção de uma série de medidas de
confinamento e distanciamento social por parte do Governo desde o início da pandemia,
destinadas a reduzir a propagação da COVID-19 no país. Desde a introdução da legislação
sobre o estado de emergência no final de Março de 2020 (Decreto Presidencial n.º 11/2020
de 30 de Março de 2020), o país viu serem introduzidas medidas para reduzir o horário de
trabalho, limitar e, em alguns casos, proibir certo tipo de actividades comerciais (por
exemplo, ginásios, venda de álcool, barracas, etc.), reduzir a mobilidade e as limitações às
reuniões sociais, encerrar o tráfego aéreo internacional, limitar o acesso a espaços públicos
(por exemplo, praias), reforçar os controlos de carga e viagens internacionais, ou esquemas
de rotação para os trabalhadores dos sectores público e privado, entre outros. Além disso, a
ruptura das cadeias de abastecimento internacionais e, especialmente, regionais, também
desempenhou um papel importante. Este é particularmente o caso das cadeias de
abastecimento com a vizinha África do Sul, um país que em 2019 representava 28,5 por
cento das importações de Moçambique e do qual depende para o fornecimento de todo tipo
de mercadorias, desde peças sobressalentes, a equipamentos, material de construção,
alimentos frescos, ou bens de consumo.

Não surpreendentemente, o impacto da COVID-19 tem sido fortemente sentido tanto


nas empresas como nas famílias. A nível das famílias, o Inquérito de Alta Frequência do
INE e o Banco Mundial, que tem vindo a acompanhar regularmente a situação dos
agregados familiares urbanos desde o início da pandemia, ajuda a ilustrar o grave
sofrimento enfrentado pelas famílias em todo o país. Os resultados das primeiras seis
rondas do inquérito, abrangendo o período de Junho a Novembro de 2020, apontam para
um impacto significativo na segurança alimentar, com cerca de 60 por cento dos agregados
familiares inquiridos a relatar terem falhado uma refeição em resultado da crise, e com até
37 por cento das famílias ficarem sem comer durante um dia inteiro durante as fases
iniciais da pandemia. O inquérito também sugere um impacto considerável no desemprego
como resultado da crise (INE & BM, 2021).

Um inquérito nacionalmente representativo de 1.333 adultos realizado em Fevereiro de


2021 como parte da Parceria para Resposta baseada em Evidência à COVID-19 demonstra

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um quadro igualmente sombrio. Assim, 30 por cento dos inquiridos relataram ter
dificuldade em obter medicamentos nos três meses anteriores ao inquérito, enquanto 23 por
cento indicaram ter faltado ou atrasado as visitas de saúde durante os seis meses anteriores
ao inquérito, em resultado da crise da COVID-19. Por outro lado, 61 por cento dos
inquiridos afirmaram ter sofrido uma perda de rendimentos devido à pandemia e 54 por
cento declararam ter faltado refeições. As principais barreiras ao acesso aos alimentos
relatadas neste inquérito incluíram a redução do rendimento, o aumento dos preços dos
alimentos, o encerramento dos mercados, restrições de mobilidade e escassez de oferta
alimentar (PERC, 2021).

Contra este pano de fundo, (Barletta et al., 2021) estimam que a crise COVID-19
resultou numa queda no consumo doméstico entre 7,1 por cento e 14,4 por cento em 2020,
e num aumento da pobreza baseada no consumo entre 4,3 e 9,9 pontos percentuais, com até
2 milhões de pessoas adicionais a entrarem na pobreza. De acordo com a sua análise, é
provável que este impacto da pobreza tenha sido mais intenso nas zonas rurais, uma vez
que os níveis de consumo já eram baixos antes da pandemia.

As empresas foram fortemente atingidas pela pandemia. Um inquérito realizado pelo


Instituto Nacional de Estatística a mais de 89.000 empresas em todo o país entre Abril e
Julho de 2020 concluiu que 2,3 por cento destas empresas tinham fechado como resultado
da Covid-19, o que resultou num total de 43 mil perdas de emprego. As pequenas empresas
foram particularmente afectadas por estes encerramentos, com 3,1 por cento delas a
encerrar, representando 95 por cento das perdas de emprego relacionadas com a COVID19.
As estimativas deste mesmo inquérito situam a perda de receitas das empresas durante o
primeiro semestre de 2020 em 41 por cento, sendo esta queda particularmente intensa para
as pequenas empresas: 48,7 por cento (INE, 2020).

O impacto da pandemia nas empresas tem sido especialmente intenso em sectores


como o turismo, fortemente dependente de visitas internacionais. Assim, um estudo de
Junho de 2020 da CTA, a principal associação empresarial de Moçambique, concluiu que
cerca de 75 por cento dos estabelecimentos turísticos inquiridos para este estudo na

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província de Inhambane, o principal destino turístico de Moçambique, tinham encerrado


(CTA, 2020).

É importante notar que estes eventos têm lugar contra uma economia já enfraquecida e
um sector empresarial e tecido social frágeis. Assim, a pandemia segue-se a vários anos de
fraco desempenho económico, com a economia moçambicana a crescer apenas a 3,3 por
cento entre 2015 e 2019, de uma média de 7,9 por cento entre 1993 e 2015, o resultado de
choques adversos de clientela temática que atingiram o país nos últimos anos, os baixos
preços de algumas das principais exportações de Moçambique e a crise da dívida oculta,
entre outros factores. Segue-se também a vários anos de queda do rendimento per capita,
resultado do fraco desempenho económico de Moçambique e do elevado crescimento
populacional, actualmente perto dos 3 por cento por ano, um dos mais elevados do mundo
(CTA, 2020).

Em resposta a estes impactos, o governo de Moçambique articulou uma série de


medidas destinadas a aliviar a situação das famílias e as empresas. As respostas de política
social incluíram a introdução de isenções no pagamento do IVA e de impostos de
importação de equipamentos médicos, alimentos (açúcar, óleo) e outros bens de consumo
básicos (por exemplo, sabão). Uma redução geral de 10 por cento das tarifas de
electricidade, aumentando para 50 por cento para as famílias que pagam a chamada “tarifa
social”, bem como o atraso no pagamento das facturas de água e a sua isenção de
pagamento para os utilizadores de baixo consumo. Uma medida chave na frente social tem
sido a expansão do actual programa de protecção social de Moçambique, que visa
aumentar a cobertura de 592.179 para 1.695.004 famílias afectadas pela pandemia da
COVID-19, que de outra forma não seriam elegíveis para apoio (BM, 2021).

Entre as medidas de apoio às empresas contam-se o adiamento do pagamento de


impostos sobre as sociedades às empresas com um volume de negócios inferior a 2,5
milhões de MZN, a compensação dos créditos fiscais de IVA com outros impostos, uma
redução de 10 por cento das tarifas de electricidade para as empresas, a suspensão das
tarifas de telefonia móvel, um aumento temporário dos limites das transacções de telefonia
móvel ou o perdão de multas de contribuição social, a introdução de uma linha de crédito

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subsidiada de 22,9 milhões de dólares para apoiar as PME’s, bem como medidas mais
gerais do Banco de Moçambique para reduzir as taxas de juro e os requisitos
regulamentares bancários, contribuindo para aumentar a liquidez no sector financeiro (BM,
2021).

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2.2. Principais teorias sobre o assunto

A execução do artigo seguinte teve como teorias base as descritas no livro “Desafios para
Moçambique 2021”, 12ª edição. A 12ª edição do livro “Desafios para Moçambique 2021”
dedica-se à abordagem e reflexão sobre os desafios que a pandemia do novo coronavírus
(COVID-19) trouxe para Moçambique. Esta edição da série Desafios para Moçambique
reflecte sobre os desafios de uma crise associada à saúde pública, num cenário em que o
contexto social, político e económico são marcados por diversos eventos que afectam
negativamente a população moçambicana. Neste livro são destacadas as seguintes teorias:

COVID-19 e a teoria “Sociedade de Risco” e “Racionalidade social do risco”: A


«Sociedade de Risco» é a sociedade moderna que emerge das transformações provocadas
pela revolução industrial e pela globalização. Sendo que, a revolução industrial, trouxe
para a sociedade moderna problemas resultantes da produção de riqueza, como pandemias,
problemas ambientais, nucleares, genéticos, terrorismo, entre outros que têm contribuído
para a emergência de risco associado a estes problemas (Beck, 2011).

Quanto à “Racionalidade social do risco”, (Guivant, 2016) afirma que quando o COVID-
19 eclodiu na China e se alastrou por outros países da Ásia, da Europa e das Américas, a
sociedade moçambicana teve diferentes entendimentos e reacções, destacando, pelo menos,
duas: (I) a ideia de que a doença era dos «outros», particularmente dos chineses, dos
brancos ou ainda dos ricos. Associada a isto estava a ideia de que Moçambique (e outros
países africanos) não seria infectado pelo vírus devido ao clima quente, que, por um lado,
não permitiria a sobrevivência do vírus, condição que tornava impossível a sua
propagação, e, por outro, os moçambicanos (e outros povos africanos) eram naturalmente
imunes ou tinham uma grande resistência ao vírus devido aos elevados níveis de vitamina
D no organismo, em resultado da sua exposição ao sol; e (II) ao contrário da primeira,
houve uma crescente preocupação em relação à propagação do vírus, devido à falta de
tratamento e à incapacidade de resposta dos sistemas de saúde bem como aos efeitos
colaterais das vacinas que por vezes causam a morte, situação que fez com que fossem
adoptadas medidas de prevenção, como o distanciamento social, lavagem das mãos com
sabão e/ou a sua desinfecção à base de álcool12 e uso de máscaras.

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2.3. Estudos relacionados ao tema

Quadro 1: Estudos relacionados ao tema

Tema Objectivo Local de Perío Metodologi Dados/resultados Conclusão


estudo do a
O impacto Reflectir em Maputo 2021 Inquérito Em geral, a análise Os resultados deste estudo
socioeconómico torno da COVID- apresentada nesta indicam que a pandemia
CISS
da COVID-19 na 19 e seu impacto secção mostra que a teve um impacto muito
economia na economia pandemia da significativo e negativo nos
informal urbana informal COVID-19 teve um trabalhadores informais em
de Moçambique impacto muito grave Maputo e nas suas
nas empresas dos famílias. O impacto tem
trabalhadores sido sentido em muitas
informais, nas áreas: no emprego, nas
condições de horas trabalhadas, no
emprego e nas suas rendimento e na poupança
vidas, bem como nas e, por conseguinte, na
das suas famílias, capacidade de investir.
especialmente Também, num ambiente
durante as fases empresarial e de mercado
iniciais da crise. cada vez mais desafiador,
Embora a situação com o aumento dos preços
enfrentada por estas dos bens que os
pessoas se tenha trabalhadores informais
estabilizado ao longo compram para revender, a
do tempo, os queda da procura e menos
trabalhadores clientes, ou restrições nas
informais continuam horas sem trabalho.
a enfrentar uma
aparência muito
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desafiante.
Impacto da Analisar os Lisboa 2021 Estudo de Os resultados A crise sanitária da
COVID-19 nas impactos da caso, demonstram que a COVID-19 impactou mais
Economias dos COVID-19 na através da crise sanitária da o défice orçamental da
Países Africanos Economia dos combinação Covid-19 afectou Guiné-Bissau e Cabo-
de Língua Oficial PALOP. de métodos significativamente as Verde, seguidos de
Portuguesa qualitativos economias dos Moçambique, atendendo as
(PALOP) e as e PALOP e as medidas estruturas económicas
medidas tomadas quantitativo tomadas foram dominadas pelo sector
pelos diferentes s. importantes na informal, forte
Governos para mitigação dos dependência das receitas
responder à Crise impactos da proveniente da
Pandémica pandemia nas comercialização e
famílias e nas exportação da castanha de
empresas, mas não caju e ajuda ao
foram desenvolvimento
suficientemente
capazes de atenuar a
pobreza como
desejado.
O impacto da Avaliar o Moçambiq 2021 Modelo de Embora as áreas No seguimento do choque
COVID-19 na impacto da multiplicad urbanas tenham sido da COVID-19, o número
ue: Maputo
pobreza de pandemia da ores de as mais afectadas de agregados familiares a
consumo em COVID-19 e do contabilida pelo choque da cair na pobreza ou a sofrer
Moçambique estado de de social COVID-19, os uma grande quebra no
emergência resultados indicam consumo aumentou. Isto
implementado que as áreas rurais inclui categorias de
pelo Governo de sofreram um maior agregados familiares
Moçambique aumento das taxas de anteriormente consideradas
(GdM) na pobreza devido aos geralmente menos
pobreza de níveis de consumo já vulneráveis, como os
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ARTIGO/ARTICLE

consumo dos baixos. A pobreza agregados familiares


agregados muito provavelmente urbanos, os indivíduos a
familiares. aumentou também trabalhar no sector
no período pré- informal ou mesmo no
COVID de 2015- sector formal, mas em
2020 devido a outros sectores gravemente
choques, pelo que afectados pela pandemia,
Moçambique se os pequenos comerciantes
encontra numa luta a residir nas áreas mais
intensa e cada vez afectadas ou as pessoas a
mais profunda contra trabalhar no sector da
a pobreza. hotelaria e restauração.
O impacto Avaliar os custos Moçambiq 2021 Modelo de Os sectores A maior parte do impacto
macroeconómico económicos da multiplicad económicos mais da COVID-19 na economia
ue: Maputo
da COVID-19 em COVID-19 e do ores de fortemente afectados resultou, em 2020, do
Moçambique estado de contabilida são os do comércio canal das exportações. Tal
emergência de social & alojamento e da facto ilustra vividamente a
implementado mineração. Além dependência de
pelo Governo de disso, a nossa Moçambique relativamente
Moçambique simulação sugere a um pequeno número de
que, entre os factores produtos de exportação e a
de produção, o sua vulnerabilidade aos
capital e a mão-de- choques externos. A
obra urbana diversificação do cabaz de
sofreram um exportações e a
impacto maior do investigação de como
que a mão-de-obra desenvolver o potencial do
rural. Acresce que o mercado interno são duas
exercício dos recomendações óbvias.
multiplicadores
salienta a forte O impacto económico foi
16
ARTIGO/ARTICLE

dependência de mais forte para a


Moçambique população urbana e para o
relativamente a um rendimento do capital. Este
número reduzido de facto está relacionado com
produtos de o primeiro ponto,
exportação especialmente com o sector
(incluindo o da mineração, identificado
turismo). como impulsionador do
Consequentemente, impacto, sendo uma
Moçambique deveria indústria intensiva em
promover a capital.
diversificação
económica e
explorar o potencial
de redução da sua
vulnerabilidade aos
choques externos.
Pandemia da Avaliar os Moçambiq 2021 Revisão Os impactos da É difícil mensurar os
covid-19: impactos da Sistemática COVID-19 na África impactos da pandemia da
ue: Maputo
impactos para o pandemia da da são imensuráveis, COVID-19 na África.
continente COVID-19 no Literatura dado que, para além Além da incerteza sobre a
africano continente da pandemia, os cura, os países enfrentam
africano países são sérios problemas
vulneráveis a muitas socioeconómicos e de
intempéries, e são estruturação sanitária. Os
dependentes centros de saúde não
economicamente de reúnem condições para
outros países. assegurar o atendimento de
Sugere-se, com a pacientes infectados. A
pesquisa, a população africana vive
necessidade de maioritariamente na base
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ARTIGO/ARTICLE

implementação de da renda e do mercado


medidas de informal, dificultando,
prevenção menos assim, o processo de
duras, contemplando confinamento. Essas e
a assistência outras situações afectam
financeira entre os não só a saúde física da
povos e população, mas também a
disponibilizando vida emocional,
apoios externos, psicológica e político-
sempre que possível. cultural

2.4.Crítica literária

Num contexto generalizado foi observado desde o primeiro ao último artigo utilizado a pesquisa uma concordância relativamente
ao contexto em que a COVID-19 é descrita e evidenciada, tanto no nicho, social assim como político e económico. No entanto,
notou-se que as obras de alguma forma complementam-se ao relatar os eventos dissociados pela COVID-19 numa perspectiva
simplista assim como complexa dependendo do interesse de cada artigo/obra literária. Todas as obras observam os critérios
desejados para o desenvolvimento do conhecimento científico. Em suma, nas obras seleccionadas para a elaboração do presente
artigo não foram observadas discrepâncias relevantes, porém, notou-se de forma recorrente a repetição de alguns aspectos, facto
considerado normal, tratando-se de um fenómeno novo e de interesse universal.

18
ARTIGO/ARTICLE

CAPÍTULO III: METODOLOGIA

Para a produção deste artigo, recorreu-se essencialmente a pesquisa bibliográfica


que, segundo (Marconi & Lakatos, 2003, p.158) “é um apanhado geral sobre os principais
trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados
actuais e relevantes relacionados com o tema”. Deste modo, foram privilegiados os
seguintes passos: escolha do tema, elaboração do plano de trabalho, identificação e busca
do material, compilação e elaboração de fichas de resumos, análise e interpretação e
redacção do artigo.

Em súmula, foram consultadas perto de uma dezena de livros, com destaque para as
seguintes obras: O impacto socioeconómico da covid-19 na economia informal urbana de
Moçambique; Impacto da COVID-19 nas Economias dos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP) e as medidas tomadas pelos diferentes Governos para
responder à Crise Pandémica; O impacto da COVID-19 na pobreza de consumo em
Moçambique; O impacto macroeconómico da COVID-19 em Moçambique e Pandemia da
covid-19: impactos para o continente africano.

19
ARTIGO/ARTICLE

CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A nível macroeconómico, o PIB de Moçambique caiu 1,23% (INE, 2021). De


acordo com a fonte anterior, os sectores mais duramente atingidos foram o turismo, os
serviços, os transportes, a indústria transformadora e a construção. As indústrias
extractivas sofreram um declínio muito acentuado de 15,1 por cento.

O desempenho do sector externo de Moçambique enfraqueceu com o valor das


exportações a cair 15 por cento em 2020, o das importações a cair 0,4 por cento, enquanto
o investimento directo estrangeiro em projectos que não os mega-projectos registou um
declínio muito acentuado, de 875,3 milhões de dólares em 2019 para apenas 212,5 milhões
de dólares em 2020.

O consumo agregado, por outro lado, caiu 7,2 por cento em 2020, com reduções
tanto no consumo privado como público, de 2,1 e 19,3 por cento, respectivamente. Em
suma, mais de 89.000 (2,3%) empresas em todo o país entre Abril e Julho de 2020
enceraram suas actividades como resultado da Covid-19, o que resultou num total de 43
mil perdas de emprego.

A nível microeconómico, as pequenas empresas foram particularmente afectadas


por estes encerramentos, com 3,1 por cento delas a encerrar, representando 95 por cento
das perdas de emprego relacionadas com a COVID-19. As estimativas situam a perda de
receitas das empresas durante o primeiro semestre de 2020 em 41 por cento, sendo esta
queda particularmente intensa para as pequenas empresas: 48,7 por cento

O Covid-19 trouxe um impacto significativo na segurança alimentar das famílias


em todo país, com cerca de 60 por cento dos agregados familiares a relatar terem falhado
uma refeição em resultado da crise, e com até 37 por cento das famílias ficarem sem comer
durante um dia inteiro durante as fases iniciais da pandemia. O desemprego é também
mencionado como resultado da crise.

Quanto aos serviços básicos de saúde, 30 por cento da população moçambicana


teve dificuldade em obter medicamentos, enquanto 23 por cento indicaram ter faltado ou
atrasado as visitas de saúde durante seis meses em resultado da crise da COVID-19. Por
outro lado, 61 por cento da população sofreu uma perda de rendimentos devido à pandemia

20
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e 54 por cento teve falta de refeições. As principais barreiras ao acesso aos alimentos
incluíram a redução do rendimento, o aumento dos preços dos alimentos, o encerramento
dos mercados, restrições de mobilidade e escassez de oferta alimentar.

A crise COVID-19 resultou numa queda no consumo doméstico entre 7,1 por cento
e 14,4 por cento em 2020, e num aumento da pobreza baseada no consumo entre 4,3 e 9,9
pontos percentuais, com até 2 milhões de pessoas adicionais a entrarem na pobreza.

21
ARTIGO/ARTICLE

CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusão
A conclusão da pesquisa é evidente, o Covid-19 teve um impacto negativo e
imensurável para muitos países incluindo Moçambique. A maior parte do impacto da
COVID-19 na economia resultou, em 2020, do canal das exportações. Tal facto ilustra
vividamente a dependência de Moçambique relativamente a um pequeno número de
produtos de exportação e a sua vulnerabilidade aos choques externos. A diversificação do
cabaz de exportações e a investigação de como desenvolver o potencial do mercado interno
são duas recomendações óbvias.

O impacto económico foi mais forte para a população urbana e para o rendimento do
capital. Este facto está relacionado especialmente com o sector da mineração, identificado
como impulsionador do impacto, sendo uma indústria intensiva em capital. O sector
agrícola, por outro lado, parece ter sofrido um impacto negativo menor, o que contribui
para o resultado de o impacto nas áreas rurais ter sido menor. Tendo em conta a elevada
importância do sector agrícola na economia moçambicana, este facto pode ser interpretado
como sendo, de certo modo, uma bênção para muitas famílias com baixos rendimentos.
Contudo, tal bênção é frágil. Moçambique já tem taxas muito elevadas de pobreza e a
situação poderia rapidamente deteriorar-se se a COVID-19 se propagar em áreas rurais,
onde o impacto na saúde poderia ser mais severo devido à falta de instalações de cuidados
de saúde adequadas.

5.2. Recomendações
 Manter a longo prazo as medidas-chave já existentes para o alívio geral das
sequelas financeiras fruto do Covid-19;
 Garantir medidas focais que aliviem a situação das grandes e pequenas empresas,
incluindo as famílias carenciadas (dado que para estas, mesmo pequenas perdas
absolutas para os agregados familiares pobres podem ter uma grande relevância
para o seu bem-estar);
 Garantir a implementação e supervisão adequada do programa de protecção social
de modo a viabilizar maior abrangência das medidas acima descritas.

22
ARTIGO/ARTICLE

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