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Os impactos da pandemia de COVID 19 nas empresas de pequeno e médio porte e o


empreendedorismo como possibilidade de solução.

GÓES, Gabriel Archangelo de1


CARMO, Aguinaldo Roberto do2
Resumo
O ano de 2020 adquiriu um valor simbólico muito importante na história recente.
Pela primeira vez, o mundo capitalista globalizado passou por uma crise sanitária
sem precedentes em decorrência da pandemia de COVID-19. Fronteiras foram
fechadas, as pessoas se contaminavam e morriam rapidamente, muitas vezes sem
sequer conseguir acessar os serviços de saúde devido à superlotação dos leitos. A
economia também foi fortemente impactada por esse cenário, uma vez que foram
adotadas medidas de restrição da circulação de pessoas, conhecidas como
lockdown, que buscavam diminuir a circulação do vírus. Tal medida, no entanto,
limitava o funcionamento das empresas e, em consequência, muitas pessoas
ficaram desempregadas, o que impactou de forma direta as empresas de pequeno e
médio porte, principalmente. O presente artigo tem por objetivo compreender os
impactos da pandemia de COVID-19 e sua subsequente crise econômica nas
empresas de pequeno e médio porte do Brasil e avaliar as diferentes soluções
encontradas pelos empresários para superar os desafios impostos, bem como a
influência da mentalidade empreendedora como ferramenta capaz de possibilitar
soluções para os problemas decorrentes da crise econômica e do lockdown.

Palavras-chave: crise, empreendedorismo, empresas, pandemia, soluções

1
Aluno da Faculdade de Santo Antônio da Platina – Fanorpi

2
Bacharel em Administração, especialista em MKT e GP
2

Abstract

The year 2020 acquired significant symbolic value in the history of humanity. For the
first time, the globalized capitalist world experienced an unprecedented health crisis
due to the COVID-19 pandemic. Borders were closed, people were rapidly infected
and succumbed, often unable to access healthcare services due to the overcrowding
of facilities. The economy was also profoundly affected by this scenario, as measures
restricting the movement of people, known as lockdowns, were implemented to curb
the virus's spread. However, these measures hindered business operations, leading
to widespread unemployment, particularly impacting small and medium-sized
enterprises. This article aims to comprehend the impacts of the COVID-19 pandemic
and its subsequent economic crisis on small and medium-sized enterprises in Brazil.
It seeks to evaluate the various solutions devised by entrepreneurs to overcome the
challenges posed, as well as the influence of an entrepreneurial mindset as a tool
capable of providing solutions to the problems arising from the economic crisis and
lockdown measures.

Keywords: business, crisis, entrepreneurship, pandemic, solutions


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Observação da realidade

O advento da pandemia de COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2,


representou um ponto de virada significativo no cenário econômico global e, em
particular, na realidade econômica do Brasil. A disseminação rápida e incontrolável
da doença, que se espalhou por todos os cantos do planeta a partir do final de e
2019 e se intensificou em 2020, impôs desafios extraordinários às economias
mundiais, forçando governos, empresas e cidadãos a se adaptarem a uma realidade
marcada por incertezas, isolamento social e medidas de contenção que tiveram
impactos profundos nos setores produtivos e na vida cotidiana
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar de que forma as medidas
empreendedoras foram capazes de proporcionar soluções para que as empresas de
pequeno e médio porte do Brasil se reinventassem e pudessem manter o
funcionamento em meio à pandemia. Além disso, busca-se avaliar as consequências
decorrentes da crise no cotidiano das empresas e na dinâmica de mercado entre os
anos de 2020 e 2022.
Os impactos da pandemia foram distintos em diferentes partes do mundo, a
depender de variáveis como a prontidão dos sistemas de saúde, a eficácia das
respostas governamentais, a estrutura econômica e a capacidade de adaptação das
empresas. Nesse contexto, o Brasil já contava com uma economia fragilizada por
desafios pré-existentes e enfrentou uma série de obstáculos adicionais, que vão
desde a volatilidade do mercado financeiro até as mudanças abruptas na demanda
por produtos e serviços. No entanto, a existência do Sistema Único de Saúde (SUS)
foi muito importante no combate à pandemia, desde a prestação de serviços de
atendimento e cuidados, até a capacidade capilar do sistema em distribuir as doses
de vacina.
Porém, as empresas brasileiras, independentemente de seu porte ou setor de
atuação, se viram diante de um ambiente empresarial radicalmente transformado,
onde a adaptação à nova realidade se tornou uma questão de sobrevivência. Diante
do rápido avanço da doença, foram tomadas medidas que buscavam diminuir a
disseminação do vírus, dentre elas, o isolamento social se configurou como a mais
eficaz medida paliativa de acordo com uma série de infectologistas (Freitas,
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Napimoga e Donalisio, 2020). Nessa perspectiva, as empresas de varejo foram


enquadradas como serviços não essenciais, sendo os primeiros estabelecimentos a
serem impedidos de funcionar diante do cenário de avanço da doença. Em
consequência dessa restrição, o fluxo de vendas das empresas teve uma redução
brusca, principalmente nos momentos iniciais da pandemia. Um estudo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020) revelou que durante a primeira
onda da doença, até junho de 2020, 716.372 empresas encerraram suas operações,
sendo 99,8% delas de menor porte.
No entanto, essas empresas enquadradas como não essenciais são de
extrema importância para a economia brasileira. De acordo com dados do Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, as micro e pequenas empresas
são as importantes geradoras de riqueza no Comércio no Brasil, já que respondem
por cerca de 30% do PIB deste setor (SEBRAE, 2023).
Nessa perspectiva, foram necessárias políticas públicas por parte do governo
em âmbito federal, estadual e municipal para possibilitar que essas empresas
mantivessem o funcionamento e fossem capazes de superar a crise (Castro, et al,
2020). Dentre elas, pode-se destacar a Resolução Codefat nº 850, de 18 de
março de 2020, voltada para o atendimento da demanda por financiamento
de capital de giro isolado para empresas com faturamento de até R$ 10
milhões; Lei n° 13.999, de 18 de maio de 2020, que institui o Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
(Pronampe), para o desenvolvimento e o fortalecimento dos pequenos
negócios; Medida Provisória n° 992, de 16 de julho de 2020, que dispõe sobre o
financiamento a microempresa e empresa de pequeno e médio porte;
Resolução CGSN n° 158,de 24 de março de 2021, que Dispõe sobre a
prorrogação de prazos de pagamento de tributos no âmbito do Simples
Nacional; e a Lei n° 14.161, de 2 de junho de 2021, que institui o Pronampe de
forma permanente, como política oficial de crédito (Polastrini, Saraiva e Silva,
2023).
Apesar de importantes, as políticas públicas se mostraram muitas vezes
insuficientes devido à falta de recursos para que todas as empresas pudessem
acessá-las e também à longa duração da pandemia e, consequentemente, das
medidas restritivas que impediam o seu funcionamento em condições de
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normalidade. Nesse contexto, os proprietários dessas empresas tiveram que se


reinventar para conseguir manter o funcionamento de suas empresas por meio de
práticas empreendedoras, tais como o e-commerce.
O presente artigo pretende, de maneira geral, compreender as consequências
da pandemia e como as medidas empreendedoras contribuíram para que as
adversidades da pandemia fossem superadas.
Além disso, pretende-se identificar quais as novas dinâmicas comerciais
trazidas em decorrência dessa adaptação das empresas a um cenário de restrição
de circulação aliado à crise econômica, e também possibilitar alternativas para que
empresários que tenham passado por dificuldades durante a pandemia ou que
estejam começando seus empreendimentos possam aplicar em seus negócios
visando melhorar seu faturamento.

Pontos-chaves

O presente trabalho tem como questão norteadora: ‘’Como o


empreendedorismo foi capaz de proporcionar soluções para que as empresas de
pequeno e médio porte pudessem superar os desafios impostos pela pandemia?’’.
Pretende-se, de modo geral, compreender os efeitos da crise originada pela
pandemia e de que forma o empreendedorismo proporcionou o surgimento de
estratégias utilizadas para manter o funcionamento das empresas diante de um
cenário de lockdown.
Será feita revisão bibliográfica sobre o tema de empreendedorismo em meio à
pandemia e a busca de soluções que se mostraram efetivas para possibilitar a
manutenção do funcionamento dessas empresas. Ademais, também será avaliado o
impacto do uso das tecnologias como ferramenta de facilitação do comércio.

Teorização

A elaboração deste artigo utiliza como metodologia o Arco de Maguerez, uma


metodologia de problematização baseada em cinco etapas que buscam auxiliar no
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processo de alfabetização científica. A primeira etapa chama-se ‘’Observação da


Realidade’’ na qual os alunos são estimulados a observar e identificar situações ou
problemas do mundo real que despertem seu interesse e curiosidade. Essa fase
inicial visa criar um contexto autêntico para a aprendizagem, incentivando os
estudantes a se envolverem com questões relevantes e concretas. A crítica aqui
reside na importância de partir da realidade vivida pelos alunos, tornando a
aprendizagem mais significativa e conectada com suas experiências. A segunda
etapa é denominada ‘’Pontos-chave’’ e nela o estudante deve observar quais são os
temas principais a serem desenvolvidos no seu trabalho. Em seguida, a etapa de
‘’Teorização’’ corresponde à investigação científica, na qual são trazidas as
literaturas, dados e estatísticas sobre o tema que está sendo desenvolvido em busca
de embasá-lo cientificamente. Já a quarta etapa intitulada ‘’Hipótese e solução’’
consiste na elaboração das próprias ideias e proposições do autor a partir de suas
convicções e do conhecimento obtido nas etapas anteriores. Por fim, a ‘’Aplicação à
realidade’’, onde as hipóteses e soluções serão confrontadas com as perspectivas e
possibilidades de transposição para o mundo real (Berbel, 2012).
A inovação é a força motriz de quase todas as grandes transformações da
história da humanidade. Em ‘’Sapiens: uma breve história da humanidade’’, o
historiador Yuval Harari aponta três grandes revoluções decisivas para a
perpetuação da espécie humana: a Revolução Cognitiva (há cerca de 70 mil anos),
na qual o homo sapiens evoluiu como ser pensante e racional, o que lhe deu
significativa vantagem evolutiva em relação às demais espécies de humanóides; a
Revolução Agrícola (há cerca de 12 mil anos), na qual o homem passou a dominar
as técnicas e práticas agrícolas que impactou na mudança de um estilo de vida
nômade à base de caça e coleta, para o estilo de vida sedentário, possibilitando o
estabelecimento dos grupos em regiões fixas e a constituição de sociedades mais
numerosas e complexas; E por fim a Revolução Científica (há cerca de 500 anos),
que está diretamente relacionada ao renascimento comercial no ocidente e ao
processo de urbanização do mundo. Embora distintas, todas essas transformações
surgiram da necessidade do homem de se adaptar ao meio em que habita e inovar o
seu modo de vida.
O advento da pandemia de COVID-19 no final de 2019, que se concretizou
em 2020, impactou severamente no modo de vida das pessoas de todo o mundo.
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Essa crise de saúde pública se caracterizou por uma série de medidas de mitigação,
como o isolamento social, o uso generalizado de máscaras faciais e a imposição de
restrições a grandes eventos e reuniões públicas. Além disso, a disseminação
incontrolada do vírus resultou em taxas de mortalidade significativas e na
sobrecarga dos sistemas de saúde em vários países. O impacto direto na vida
cotidiana das pessoas foi imediato e transformador. As medidas de isolamento social
alteraram radicalmente a forma como as pessoas interagem, trabalham, estudam e
socializam. O fechamento de escolas e universidades levou à rápida adoção do
ensino à distância, desafiando tanto educadores quanto alunos a se adaptarem a
uma nova realidade de aprendizado. Além disso, o isolamento social afetou a saúde
mental das pessoas, gerando aumento do estresse, da ansiedade e da solidão. A
interrupção das rotinas diárias, a incerteza em relação ao futuro e a falta de contato
social tiveram impactos negativos significativos no bem-estar psicológico.
A pandemia também gerou desafios econômicos substanciais para muitos. O
fechamento de empresas e as restrições de mobilidade resultaram em uma queda
acentuada na atividade econômica e em taxas de desemprego crescentes. De
acordo com dados do IBGE, 20 estados brasileiros tiveram a taxa de desemprego
recorde no ano de 2020, e a taxa média subiu de 11,9% de desempregados em
2019, para 13,5% em 2020. (IBGE, 2021). Além disso, a maioria das empresas teve
que mudar seu plano estratégico para 2020 para se adaptar à crise emergente
(Backes, et al, 2020). Estima-se que a pandemia tenha ocasionado a pior crise
econômica mundial em 100 anos, tendo afetado a economia em aproximadamente
90 trilhões de dólares (Jackson, Weiss, Schwarzenberg, & Nelson, 2020).
O estudo de Cowling, Brown e Rocha (2020) constatou que as
microempresas estavam mais suscetíveis a riscos de fechamento a curto e médio
prazo, principalmente devido à falta de reservas financeiras para manter o
funcionamento durante os períodos de lockdown mais severos. Tal cenário se
agrava à medida que essa categoria de empresas é responsável por cerca de 30%
das riquezas geradas no setor de comércio brasileiro (SEBRAE, 2023), um cenário
muito comum em países emergentes, como os latinos americanos, sul africanos e
algumas nações asiáticas.
No entanto, diante desse cenário de crise iminente, um dado chama bastante
a atenção: no ano de 2020 1,044 milhões de empresas foram fechadas, enquanto
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3,359 milhões de empresas foram abertas (Ministério da Economia, 2021). Tais


dados demonstram que houve um saldo positivo de 2,315 milhões novas empresas
abertas no primeiro ano da pandemia, o que demonstra a importância do
empreendedorismo como ferramenta capaz de propor soluções para a superação
durante os momentos de crise.
O SEBRAE estabelece basicamente que existem dois tipos de
empreendedorismo: de necessidade e de oportunidade. O empreendedorismo por
necessidade ocorre quando não há oportunidades de emprego disponíveis para o
indivíduo, e, com o objetivo de garantir sua própria subsistência e, ocasionalmente, a
de seus familiares, a única saída se torna empreender. Já o empreendedorismo de
oportunidade é comumente o mais bem sucedido, uma vez que ocorre de forma
mais planejada a partir da análise de possibilidades de obtenção em boas
oportunidades de negócios.

Hipótese de solução

O conceito de empreendedorismo é muito amplo e suas raízes remontam à


palavra francesa "entreprender", que significa "empreender". No entanto, a
concepção moderna de empreendedorismo emerge no século XVIII, com os escritos
de economistas e filósofos iluministas. Richard Cantillon, em sua obra "Ensaio sobre
a Natureza do Comércio em Geral" (1755), explorou a ideia do empreendedor como
alguém que aloca recursos em atividades produtivas, assumindo riscos calculados.
A Revolução Industrial do século XIX foi um marco no desenvolvimento do
empreendedorismo. Nesse período, empreendedores notáveis, como John D.
Rockefeller, Andrew Carnegie e Thomas Edison, destacaram-se por sua capacidade
de inovação e sua habilidade em setores como petróleo, siderurgia e eletricidade. A
ênfase recaiu na inovação tecnológica, na gestão eficaz e na acumulação de
riqueza, moldando a narrativa do "self-made man", ou seja, o homem que alcança o
sucesso com os próprios méritos, e estabeleceu as bases para a visão
contemporânea de empreendedorismo.
No século XX, o estudo sistemático do empreendedorismo ganhou destaque
com a contribuição de teóricos como Joseph Schumpeter, que cunhou o termo
"destruição criativa". Schumpeter enfatizou a importância do empreendedor na
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introdução de inovações disruptivas que revolucionam mercados existentes. Na


virada do século XXI, o empreendedorismo experimentou uma ressurgência,
influenciada pela revolução tecnológica e pela globalização. Empresas como
Google, Amazon e Apple se tornaram símbolos do empreendedorismo
contemporâneo, caracterizado pela inovação, agilidade e alcance global.
Atualmente, uma boa definição de empreendedor seria um indivíduo que explora
uma oportunidade de negócio por meio de alguma forma de inovação. Isso
significa prever uma lacuna no mercado e preenchê-la por uma nova ideia de
negócio. Para fazer isso, é necessário criar alguma forma de produto, processo
ou serviço que levará a ganhos financeiros (Ratten, 2020 apud De Castro,
et al, 2021).
No contexto da pandemia, o empreendedorismo está relacionado ao conjunto
de estratégias utilizadas pelas empresas para manterem seu funcionamento e
faturamento em meio a maior crise sanitária da história. Uma importante estratégia
utilizada pelas empresas foi o chamado marketing de relacionamento. Para
Yamashita e Gouvêa (2017), o marketing de relacionamento consiste no conjunto de
estratégias organizacionais utilizadas no intuito de manter a fidelidade dos
consumidores por meio de diferenciais em seus produtos e serviços tendo por base
a comparação com a concorrência. De acordo com Souza et. al (2020) existem
algumas estratégias principais para a criação e manutenção de relações duradouras
e satisfatórias com os clientes, que podem ser categorizadas em cinco principais
abordagens: 1) prestação de serviços de atendimento de alta qualidade; 2) a
concessão de descontos atrativos; 3) a oferta de serviços pós-venda eficazes; 4) a
implementação de programas de fidelidade e, por fim, 5) a distribuição de brindes
como parte das ações promocionais. Cada uma dessas estratégias visa fortalecer o
relacionamento com os clientes, o que se torna fundamental em um contexto de
mercado consumidor reduzido e restrito como durante foi durante a pandemia.
Para Santos et al (2021), as estratégias de marketing de relacionamento
desempenham um papel fundamental na gestão de negócios, pois uma vez
estabelecido um vínculo próximo e significativo por meio de um atendimento
qualificado, demonstra-se uma genuína preocupação em relação aos interesses e à
realidade do cliente. De fato, a construção de uma relação de proximidade,
autenticidade e dedicação para com o consumidor é central, pois a partir desse
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relacionamento sólido, emerge uma base de clientes fiéis que mantêm uma relação
de longo prazo com a organização. Isso, por sua vez, possibilita um crescimento
sustentável, caracterizado pela expansão tanto no âmbito mercadológico quanto nas
esferas pessoais, consolidando, assim, uma relação mutuamente benéfica entre
cliente e empresa que se torna imprescindível em momentos de crise financeira.
No entanto, o comércio online ou e-commerce foi a estratégia que
demonstrou o maior impacto positivo. De acordo com uma pesquisa da Ebit-Nielsen,
durante o primeiro semestre de 2020 houve um aumento de 47% no faturamento
das lojas virtuais. No mês de abril do mesmo ano, em um cenário de início da
pandemia, o aumento foi de 87% (Ebit-Nielson, 2021). O comércio eletrônico,
abreviado como "e-commerce," é um processo que envolve a compra e venda de
produtos por meio de dispositivos eletrônicos com o intermédio da Internet. Este
fenômeno abrange não apenas o setor de varejo e compras online, mas também
envolve transações eletrônicas em geral. Tal ferramenta facilitou o acesso a uma
ampla variedade de produtos, anteriormente inacessíveis, de forma imediata, uma
vez que, com um simples clique, é possível explorar ofertas de concorrentes,
selecionar marcas, consultar as avaliações de outros consumidores sobre os
produtos em análise, tudo em tempo real. O e-commerce, portanto, refere-se a
transações comerciais realizadas integralmente no ambiente online. Desde a
seleção do produto pelo consumidor até a conclusão do pedido, incluindo o
pagamento, todo o processo ocorre por meios digitais. Assim, no comércio
eletrônico, a única fase que envolve o mundo físico é a logística relacionada à
entrega das encomendas aos compradores (Premebida, 2020 apud Silveira, 2020).
Dessa maneira, o comércio eletrônico passou a desempenhar um papel
central na interação entre empresas e consumidores. Estes últimos tornaram-se
mais exigentes em suas compras, já que agora têm a capacidade de adquirir
produtos de qualquer lugar por meio da internet, evitando filas e desfrutando da
conveniência de realizar uma pesquisa detalhada para comparar o preço e a
qualidade dos itens disponíveis. Essa dinâmica obrigou as empresas a se
reinventarem, com o propósito de atrair e manter sua clientela, bem como a se
adaptarem às novas transações comerciais. Diante desse cenário, as empresas de
pequeno e médio porte que funcionavam majoritariamente no espaço físico que se
adaptaram mais rapidamente a essa realidade do e-commerce puderam observar
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um menor impacto em seu faturamento, ou em alguns casos, até aumentaram suas


rendas. De acordo com uma pesquisa promovida pela Visa, em torno de 96% das
pequenas empresas conseguiram sobreviver à pandemia graças às vendas online
que hoje representam cerca de 53% de seu faturamento (VISA, 2022).
Outra importante estratégia utilizada é a adoção do marketing digital.
Segundo Ebit-Nielsen (2020), no contexto dos seis primeiros meses de 2020, cerca
de 30 bilhões de reais em receita foram gerados por lojas que estabeleceram
marketplaces, refletindo um crescimento de 56% em comparação com o mesmo
período no ano de 2019. Essa transformação organizacional representa uma
abordagem fundamental para ajustar-se à nova dinâmica do mercado e assegurar a
continuidade das operações empresariais. A pandemia, ao impor a necessidade de
adotar novos métodos comerciais, acelerou a urgência da digitalização da marca
como um imperativo estratégico até mesmo para as empresas de pequeno e médio
porte.
Para Da Silva (2021), ‘’a preocupação das empresas deve ser em atender
de maneira célere e satisfatória às necessidades dos consumidores, cada vez
mais presentes no ambiente virtual e atentos aos preços, promoções e à
conveniência na compra. Uma boa experiência de compra online será um
diferencial e a relação entre custo e benefício será cada vez mais priorizada
pelos clientes. Além disso, a comunicação eficaz e ampla com os consumidores e a
preocupação das empresas com a sustentabilidade são atributos cada vez mais
observados pelos consumidores na opção pela compra em alguma empresa.’’.
Dessa forma, a qualidade atendimento constitui um atributo importante na
fidelização dos clientes.

Aplicação à realidade

Passado pouco mais de 1 ano após o governo federal ter decretado o final do
estado de emergência em saúde pública, no dia 22 de abril de 2022, os efeitos da
pandemia ainda podem ser observados na economia brasileira e também mundial.
Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), um terço da economia
mundial deve estar em recessão no ano de 2023, no qual este artigo foi redigido. A
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pandemia da COVID-19 teve repercussões profundas e duradouras nos mercados


financeiros, nas cadeias de suprimentos, no emprego e na economia global como
um todo. Embora as políticas públicas de facilitação do acesso ao crédito e isenções
fiscais tenham sido importantes, se mostraram insuficientes. Observamos empresas
lutando para se adaptar a um ambiente em constante mudança e consumidores
ajustando seus comportamentos de compra e suas prioridades.
A pandemia de COVID-19 serviu como catalisador para a transformação
digital nas empresas de pequeno e médio porte, revelando a importância do
e-commerce e do marketing digital como estratégias fundamentais de sobrevivência
e crescimento. Os empreendedores que conseguiram se adaptar rapidamente a
essa nova realidade se destacaram ao aproveitar as oportunidades oferecidas pelo
ambiente digital. O marketing digital não apenas permitiu que essas empresas
alcançassem seus públicos-alvo de maneira mais eficaz, mas também incentivou a
inovação em seus produtos e serviços. A lição aprendida é que, em um mundo cada
vez mais digital, o empreendedorismo e as empresas de pequeno e médio porte
devem adotar abordagens ágeis e estratégias de e-commerce e marketing digital
para prosperar, independentemente dos desafios que possam surgir no futuro.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviços, de janeiro a julho de 2023, 2,3 milhões de novas empresas foram criadas
no Brasil, o que representa um saldo positivo de mais de 1 milhão em relação às
empresas fechadas no mesmo período (Ministério do Desenvolvimento, Indústria,
Comércio e Serviços, 2023). Além disso, ‘’o número de lojas virtuais saltou de
529.193 em 2021 para 565.300 em 2022, o que representa um crescimento 6,82%.
As vendas totais registradas no e-commerce brasileiro atingiram a marca de
R$169,6 bilhões em 2022, com crescimento de 5% em relação ao ano anterior. Para
2023, a projeção de crescimento é maior. A expectativa gira em torno de 9,5%,
podendo atingir os R$186 bilhões ao fim do ano.’’ (Associação Brasileira de
Comércio Eletrônico, 2023).
Já em relação ao Marketing digital, dados de uma pesquisa promovida pela
RD Station demonstram que no ano de 2022, 75% das empresas não bateram suas
metas de Marketing. Além disso, o estudo demonstra que 40% dos entrevistados
afirmam que vão investir mais em marketing em 2023 do que investiram no anterior,
enquanto 41% pretendem investir o mesmo valor, ou seja, 81% dos entrevistados
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pretendem manter ou aumentar o investimento feito em estratégias de marketing, o


que demonstra sua relevância no atual cenário econômico. Dentre as ferramentas
mais utilizadas, as 5 primeiras são: 1) Design; 2) Google analytics; 3) Gestão de
redes sociais; 4) Automação de marketing e 5) Gestão de projetos (RD Station,
2023). Dessa forma, fica evidente que o sucesso do e-commerce impacta
diretamente em uma maior demanda dos serviços de marketing digital.
Tais dados corroboram para a constatação de que a mentalidade
empreendedora mais uma vez se mostrou importante para a adaptação das
empresas à uma nova realidade, tanto durante o período pandêmico, quanto no
pós-pandemia. O aumento do número de empresas criadas mesmo diante de um
cenário global de recessão econômica demonstra que há uma esperança por parte
da população de que o empreendedorismo, mesmo que por necessidade, possa
auxiliar no cenário de recuperação da economia. Além disso, o saldo positivo de
lojas virtuais e o aumento de seu faturamento nos últimos anos demonstra que as
empresas que conseguiram se adaptar ao e-commerce colheram, e continuam
colhendo, bons frutos trazidos por uma nova dinâmica nas relações de consumo, e
as perspectivas continuam boas para o futuro.
Espera-se que este trabalho colabore para uma visão mais otimista e
esperançosa em relação ao futuro do cenário econômico para os empresários e
também para as pessoas que desejam começar seus empreendimentos. Em um
mundo globalizado e conectado, é importante estar sempre atento às novas
transformações e ferramentas que vão surgindo. Quem deseja empreender, deve
estar sempre atualizado e disposto a encarar as mudanças de forma positiva, pois
dessa forma pode encontrar soluções capazes de melhorar significativamente seus
rendimentos e também sua qualidade de vida.
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Referências

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