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CEI-DELEGADO

DE POLÍCIA CIVIL
2ª EDIÇÃO

ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

CEI-DELEGADO
DE POLÍCIA CIVIL
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

DURAÇÃO

22/02/2016 A 20/04/2016

MATERIAL ÚNICO
Questões Totalmente Inéditas.

ACESSÍVEL
Computador, Tablet, Smartphone.

36 QUESTÕES OBJETIVAS
Por rodada.

2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
Por rodada.

1 PEÇA PRÁTICA
Por rodada.

IMPORTANTE: é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI CEI-DEPOL
possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. 2ª ED.
O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. Agradecemos pela 2016
sua gentileza de adquirir honestamente o curso e permitir que o CEI continue existindo.

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

PROFESSORES
Henrique Hoffmann Monteiro de Castro – Coordenador do Curso e Professor de Legislação Penal Especial
Delegado de Polícia Civil do Paraná. Ex-Delegado de Polícia Civil do Mato Grosso. Professor Coordenador da Pós-Graduação em
Ciências Criminais da FACNOPAR. Professor Convidado da Escola Nacional de Polícia Judiciária, Escola Superior de
Polícia Civil do Paraná, Escola da Magistratura do Paraná, Escola do Ministério Público do Paraná e Curso
de Formação de Defensores Públicos de Santa Catarina. Colunista do Conjur. Mestrando em Direito
pela UENP. Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela UGF. Especialista em Segurança
Pública pela UNIESP. Bacharel em Direito pela UFMG. Membro do Instituto Brasileiro de Direito
Processual Penal e da Associação Internacional de Direito Penal. Assessor Jurídico da Federação
Nacional dos Delegados de Polícia Civil. Facebook, Instagram, Twitter e Periscope: profhenriqueh.

facebook.com/profhenriquehoffmann

Bruno Taufner Zanotti – Professor de Direito Constitucional e Direito Civil


Delegado de Polícia Civil do Espírito Santo. Doutorando e Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais
pela FDV. Especialista em Direito Público pela FDV. Professor da Especialização em Direito Público da
Faculdade Estácio de Sá. Professor da Especialização da Associação Espírito-Santense do Ministério
Público. Professor de cursos preparatórios para concurso público. Cofundador do site www.pensodireito.
com.br. Colunista do site www.delegados.com.br.

Elisa Moreira Caetano – Professora de Direito Administrativo


Delegada de Polícia Civil de Minas Gerais. Professora Convidada da Academia de Polícia Civil de
Minas Gerais e da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais. Professora da Pós-graduação em
Ciências Criminais da FACNOPAR. Professor do Supremo TV. Cofundadora do Canal EM DELTA.
Especialista em Ciências Penais pela UFJF. Bacharel em Direito pelo IBMEC. Facebook e Instagram:
elisaemurillodelta / Periscope: emdelta.

facebook.com/elisaemurillodelta

Leonardo Marcondes Machado – Professor de Direito Processual Penal


Delegado de Polícia Civil de Santa Catarina. Examinador Titular da Fase Oral do Concurso para Delegado de Polícia Civil
de Santa Catarina. Colunista do Conjur. Professor Convidado da Academia de Polícia Civil de Santa Catarina, da
Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Academia Brasileira de Direito Constitucional, da Faculdade
Cenecista de Joinville, do Centro Universitário Católica de Santa Catarina e do Complexo de Ensino
Superior de Santa Catarina. Mestrando em Direito pela UFPR. Especialista em Direito Penal e
Criminologia pelo ICPC/ULCA/UNINTER. Especialista em Ciências Penais pela UNISUL/IPAN/LFG.
Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Página no Facebook: facebook.
com/leonardomarcondesmachado.

facebook.com/leonardomarcondesmachado

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Murillo Ribeiro de Lima – Professor de Direito Administrativo


Delegado de Polícia Civil de Minas Gerais. Professor Convidado da UEMG. Professor da Pós-
graduação em Ciências Criminais da FACNOPAR. Professor do Supremo TV. Cofundador do Canal
EM DELTA. Especializando em Ciências Criminais pela UNESA. Bacharel em Direito pela UEM.
Facebook e Instagram: elisaemurillodelta / Periscope: emdelta.

facebook.com/elisaemurillodelta

Rodolfo Queiroz Laterza - Professor de Medicina Legal e Língua Portuguesa


Delegado de Polícia Civil do Espírito Santo. Coautor do livro “Manual do Delegado – Teoria e Prática”.
Professor Convidado da Academia de Polícia Civil do Espírito Santo, da Universidade de Vila Velha e
da FINAC. Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Espírito Santo. Mestrando em
Segurança Pública pela UVV. Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela UNESA. Bacharel
em Direito pela UFRJ.

Ruchester Marreiros Barbosa – Professor de Direito Penal


Delegado de Polícia Civil do Rio de Janeiro. Colunista do Conjur. Coautor do livro “As novas fronteiras
do Direito”. Professor Convidado da Fundação de Apoio ao Ensino e Pesquisa da Polícia Civil, da
Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro
e da Universidade Estácio de Sá. Doutorando em Direito pela UNLZ. Especialista em Direito
Penal e Processo Penal pela UCAM. Bacharel em Direito pela UCAM. Facebook: facebook.com/
ruchestermarreiros / Instagram e Twitter: ruchestermb / Periscope: rmarreiros.

facebook.com/ruchestermarreiros

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QUESTÕES DISSERTATIVAS

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 15 linhas. Procure responder com consulta tão somente
à legislação seca e com agilidade, a fim de simular a situação encontrada em prova.

PROFESSOR: BRUNO TAUFNER ZANOTTI


E-mail: profcei.brunozanotti@gmail.com

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. A polícia militar conduziu à Autoridade Policial um cidadão pelo furto de sabonetes e


alimentos, totalizando um valor aproximado de R$ 30,00. Se o Delegado de Polícia deixar de
efetuar a instauração de inquérito policial, seja por auto de prisão em flagrante ou por portaria,
será tal hipótese um controle repressivo de constitucionalidade do Código Penal? Ao analisar o
questionamento, disserte sobre o tema do controle repressivo atípico de constitucionalidades
pelo Poder Executivo e pelo Poder Legislativo, apontando quais são essas hipóteses, bem como
respondendo o contexto da atuação do Delegado de Polícia no quadro fático-jurídico apontado.
(limite de 30 linhas)

RESPOSTA

COMENTÁRIO

O controle de constitucionalidade das leis tem por finalidade analisar a compatibilidade dos atos
normativos com a Constituição Federal. Esse controle pode ocorrer de forma preventiva ou de forma
repressiva. O controle repressivo ocorre após a publicação da norma e é função atribuída tipicamente ao
Poder Judiciário. No entanto, essa função também é, de forma atípica, do Poder Legislativo e do Poder
Executivo.

Em relação ao Poder Legislativo, é competência do Congresso Nacional “sustar os atos normativos do


Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa” (art. 49,
inciso V, da Constituição Federal). Outra hipótese de controle atípico de constitucionalidade decorre da
Medida Provisória, pois, após sua publicação, possui força de lei e a análise posterior pelo Congresso
Nacional (art. 62 da Constituição Federal) pode ser hipótese de controle repressivo de constitucionalidade,
caso tenha por fundamento a inconstitucionalidade da Medida Provisória. Tem-se, ainda, o controle de
constitucionalidade pelo Tribunal de Contas, consoante Súmula 347 do STF.

Em relação ao Poder Executivo, todos os Chefes do Poder Executivo (Presidente da República, Governador

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do Estado e Prefeito) podem negar a aplicação de lei que julgar inconstitucional. Deve-se salientar que
tal atribuição do Chefe do Executivo somente pode ser exercida enquanto a questão não é decidida com
força vinculante pelo Poder Judiciário, seja via controle de constitucionalidade, seja via súmula vinculante.
Do mesmo modo, não mais poderá legitimamente fazer uso da citada atribuição quando, no controle
difuso de constitucionalidade, a obrigatoriedade para o cumprimento de a lei decorrer de decisão judicial
imposta ao Chefe do Executivo que deixou de cumprir a citada lei.

Diante desse cenário, não se apontou o Delegado de Polícia como exemplo, no Poder Executivo, de
autoridade com força para negar a aplicação de lei que julgar inconstitucional, uma vez que, consoante
posição dos Tribunais Superiores (STF: REsp 23121, julgado em 6/10/1993, Rel. Humberto Gomes de Barro;
STJ: ADI-MC 221, julgada em 29/3/1990, Rel. Ministro Moreira Alves), tal faculdade é exclusiva do Chefe
do Executivo. Isso ocorre porque, ao analisar o caso concreto que lhe é submetido, como o exemplo
da questão, a Autoridade Policial tem o dever de fazer uma leitura constitucional do fato, a fim de
confirmar ou não a prisão do conduzido. Com base no princípio da fragmentariedade, o direito penal
só intervirá quando se tratar de fato indesejado que cause lesão ou perigo de lesão relevante ao bem
jurídico tutelado. Por esse motivo, o princípio da insignificância encontra respaldo no desdobramento
lógico da fragmentariedade e condiciona a intervenção do Estado de acordo com a relevância à lesão ou
ameaça de lesão. É importante ressaltar que a correta aplicação do princípio da insignificância passa pela
necessária análise dos seus requisitos, consoante posição do STF:

A aplicação do princípio da insignificância de modo a tornar a conduta atípica exige a


ocorrência de conduta minimamente ofensiva, a ausência de periculosidade do agente, o
reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a lesão jurídica inexpressiva. Convém
distinguir, ainda, a figura do furto insignificante daquele de pequeno valor. O primeiro,
como é cediço, autoriza o reconhecimento da atipicidade da conduta, ante a aplicação do
princípio da insignificância. Já no que tange à coisa de pequeno valor, criou o legislador a
causa de diminuição referente ao furto privilegiado, prevista no art. 155, § 2º, do Código
Penal. (HC 104117, julgado em 26/10/2010, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski)

Como afirma Rogério Greco (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 12. ed. rev. atual. ampl.
Rio de Janeiro: Impetus, 2010, p. 59-61), ao contrário de fomentar a prática de crimes, como defendem
certos autores, a aplicação do princípio da insignificância tem a finalidade de ajustar a aplicação da lei penal
aos casos que lhe são apresentados, evitando a proteção de bens cuja inexpressividade, efetivamente,
não mereceram a atenção do legislador penal. Os atos do Delegado de Polícia, da mesma forma que as
decisões judiciais e as leis, somente são legítimos se visualizados como instrumentos de concretização da
Democracia e da Constituição Federal.

Em razão do exposto, não constitui a citada hipótese, propriamente, um exemplo de controle de


constitucionalidade; desse modo, trata-se, mais precisamente, de um controle de tipicidade com reflexos
na constitucionalidade da conduta do indivíduo, a ser analisada incidentalmente a um caso concreto.

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MELHORES RESPOSTAS

GABRIELA MAYUMI HIRABAE


Não configura controle de constitucionalidade repressivo ato de Autoridade Policial que deixa de realizar
auto de prisão em flagrante ou abertura de inquérito policial por entender que ao fato se aplica o princípio
da insignificância. Na verdade, a autoridade administrativa possui atribuição para exercer o controle sobre
a existência ou não da tipicidade penal sob o aspecto material, no primeiro elemento configurador do
delito no conceito estratificado de crime.

Sob esse prisma, sabe-se que o controle repressivo de constitucionalidade pode ser exercido atipicamente
tanto pelo Legislativo como pelo Executivo, existindo certa discussão doutrinária sobre o controle exercido
por este último poder já que não há autorização expressa na Constituição Federal/88 nesse sentido.

O controle repressivo pelo Legislativo é autorizado quando no art. 49, V, CF expõe que compete ao
Congresso Nacional sustar atos normativos do Executivo que exorbitem do poder regulamentar, bem
como no art. 52, X, CF ao admitir que o Senado Federal de efeito erga omnes no controle incidental
realizado pela Suprema Corte. Quanto ao Executivo, não há na Carta Constitucional previsão expressa
sobre a possibilidade do exercício do controle repressivo, porém doutrina majoritária e o Supremo Tribunal
defendem que o Executivo pode deixar de aplicar, em seu âmbito, norma que afronte a Constituição
Federal, bastando que o Chefe do Executivo se manifeste nesse sentido ao argumento de que compete
a todos os Poderes garantir a supremacia e eficácia das normas constitucionais.

Dessa forma, o Delegado de Polícia, como integrante do Poder Executivo, não exerce controle de
constitucionalidade das leis, contudo ao se deparar com lei que entender inconstitucional, pode informar
ao Chefe do Executivo para que este, se concordar, emita ato próprio determinando a inaplicabilidade da
lei ou que ingresse com a ação de inconstitucionalidade no Judiciário.

VINNICIUS LOBO OLIVEIRA


O controle de Constitucionalidade na ordem jurídica brasileira surge como uma relevante ferramenta
de regularização normativa, seja no aspecto formal da construção das normas, seja no aspecto material,
reflexo dos princípios e ditames elucidados pela Carta Magna. Nesta senda, o citado instrumento permite
uma coesão e um equilíbrio normativos fundamentais para implementação de um modelo plural de
garantias e de direitos.

O Judiciário, então, surge como ator principal, mas não único, na desenvoltura deste assentamento,
reconhecendo ou afastando a constitucionalidade de normas difusa ou abstratamente; de fato, a doutrina
ensina que tanto o legislativo quanto o executivo atuam de forma mais limitada exercendo controle sobre
a constitucionalidade de diversas; repressivamente, o Legislativo quando susta atos do Executivo que
exorbitem a devida competência estipulada, ou quando o Tribunal de Contas da União reconhece, em

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caráter difuso, a inconstitucionalidade de normas, ou, ainda, em razão de construção doutrinária, os


órgãos do executivo descumprem voluntariamente normas de flagrante vício de inconstitucionalidade,
têm-se hipóteses de controle repressivo (a norma já está em vigor) de constitucionalidade.

Dentre a atuação dos órgãos do executivo, a atuação do Delegado de polícia surge como um dos
novos paradigmas inseridos na CR/88, visto que carreira jurídica, que é a atuação deste agente vai ao
encontro da análise de coesão normativa entre a Constituição e as diversas normas derivadas; questão
relevante sobre o controle de constitucionalidade exercido pelo Delegado de Polícia requer cautela.
Primeiro, é importante observar que a autoridade policial atua exercendo atividade interpretativa e
decisória, porque, do surgimento do fato penalmente relevante, cabe ao citado agente a aplicação
das normas infraconstitucionais, porém sempre efetuando a devida filtragem constitucional, esta que
não enseja ao Delegado um controle (ainda que atípico) repressivo de constitucionalidade; reitera-se,
a autoridade ao aplicar os ditames constitucionais enfrenta a matéria, prioritariamente, interpretando o
sistema normativo como um todo e jamais de forma compartimentada. A partir deste exercício, de forma
fundamentada nasce o decreto decisório que, no aspecto formal, não determina o afastamento em
razão de (in) constitucionalidade, mas, sim, reconhece a aplicação, como fruto normativo-argumentativo
da confluência de princípios e regras, da norma mais justa ao evento jurídico. Portanto, a incidência
ou não do Princípio da bagatela, pelo Delegado de Polícia, não funciona como controle repressivo
de constitucionalidade, entretanto, exsurge como modelo interpretativo inerente a atividade jurídico-
argumentativa para concretude da justiça em sociedade.

NATASHA DOLCI
O controle repressivo ou posterior é aquele exercido sobre a lei já em vigor. Por regra, tal controle
será jurisdicional, ou seja, realizado pelo Poder Judiciário. Há, entretanto, exceções constitucionalmente
previstas em que o controle repressivo será realizado pelo Poder Executivo e pelo Poder Legislativo.

A competência do Congresso nacional para sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem
o poder regulamentar ou os limites de delegação legislativa, bem como a rejeição de medida provisória
fundada em inconstitucionalidade, são exemplos de controle repressivo de constitucionalidade exercido
pelo Poder Legislativo.

E, ainda, a possibilidade de descumprimento de lei considerada inconstitucional pelo Chefe do Poder


Executivo é exemplo de controle repressivo exercido pelo Poder Executivo.

Em relação à Autoridade Policial, segundo doutrina majoritária, não cabe a ela exercer controle de
constitucionalidade, devendo suscitar a tese perante o Chefe do Poder Executivo, para que este, então,
autorize o descumprimento da lei.

É necessário ressaltar, entretanto, que, no caso em tela, não houve controle repressivo de constitucionalidade,
deixando a Autoridade Policial apenas de instaurar o inquérito policial, não por entender que a tipificação

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do furto é inconstitucional, mas por entender que a conduta é materialmente atípica, em decorrência da
aplicação do princípio da insignificância.

Convém aduzir que a aplicação do princípio da insignificância pelo Delegado de Polícia é matéria
controvertida na doutrina. Parte desta entende que a análise deve ser feita em cada caso concreto
pelo magistrado. Outros autores, porém, ressaltam que o citado princípio exclui a tipicidade material da
conduta e, sendo o fato atípico, não deve o inquérito policial ser instaurado.

JOLINE LAUTERT CANDIDO 


O controle de constitucionalidade dentre suas várias classificações, é classificado, quanto ao momento,
em controle preventivo e controle repressivo. No que tange ao controle repressivo, que tem como objeto
leis e atos normativos em vigor, é tipicamente desempenhado pelo poder Judiciário por meio do controle
difuso e do controle concentrado, este último de titularidade exclusiva do Supremo Tribunal Federal. É
de se destacar, no entanto, que de maneira atípica, os poderes Legislativo e Executivo também podem
desempenhar este controle de constitucionalidade repressivo. Ainda que inexista previsão legal nesse
sentido, doutrina e jurisprudência entendem que o Poder Executivo desempenha tal função em razão
da possibilidade de o Chefe do executivo dar negativa de cumprimento à lei ou atos normativos por ele
considerados inconstitucionais. Quanto ao poder Legislativo, a doutrina cita e a jurisprudência do STF
confirma, através da Súmula 347, a possibilidade de o Tribunal de Contas apreciar a constitucionalidade
de leis e atos do poder público, assim como a possibilidade de o Congresso Nacional sustar ato de
Presidente da República que exorbite limites de delegação legislativa e ainda a hipótese da rejeição de
medida provisória quando os parlamentares vislumbrarem ausência de relevância e urgência exigidas
pela Constituição Federal.  

Levando em consideração o caso concreto mencionado na questão, verifica-se que se trata de hipótese
de aplicação, pelo Delegado de Polícia, do princípio da insignificância o que gera a atipicidade da conduta.
A evolução de um direito penal fragmentário, subsidiário, garantidor de direitos e, em ultima análise
um direito penal constitucionalista deu ensejo a criação daquilo que atualmente é chamada de teoria
constitucionalista do delito, a qual divide a tipicidade em formal e material, sendo necessária, no caso
concreto, se verificar a ocorrência destas “duas tipicidades” para se falar em tipicidade penal. A tipicidade
formal é apenas a adequação do fato à norma, contudo a material faz uma análise acerca da ocorrência
concreta de lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma.

O delegado de polícia, que não possui, ao menos aos olhos da doutrina e jurisprudência tradicionais,
legitimidade para realizar controle de constitucionalidade repressivo das leis, quando faz a sua análise
técnico-jurídica do caso concreto, poderá deixar de lavrar APF ou deixar de realizar um indiciamento em
razão da aplicação do princípio da insignificância, já que, em última análise, tal fato é atípico, inexistindo
então qualquer interesse em puni-lo, ao menos no âmbito da persecução penal.

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PROFESSOR: LEONARDO MARCONDES MACHADO


E-mail: profcei.leonardomarcondes@gmail.com

DIREITO PENAL

2. Disserte, de maneira técnica, crítica e fundamentada, sobre a (im)possibilidade de o Poder


Judiciário presidir investigações criminais no Brasil. Caso haja divergência sobre a matéria,
mencione os diversos argumentos.

RESPOSTA

A investigação pelo Poder Judiciário é tema polêmico. A discussão versa sobre a existência (ou não)
de autorização legal, além de compatibilidade constitucional, para que o órgão julgador coordene
investigações preliminares no Brasil. Nesse sentido, duas seriam as hipóteses: a) quando os envolvidos
fossem membros do próprio poder judiciário (art. 33, parágrafo único, da LC n. 35/79 - LOMAN); b) em se
tratando de investigados com foro especial por prerrogativa de função, ocasião em que a apuração deveria
tramitar sob a fiscalização do respectivo órgão do Poder Judiciário competente para o julgamento do
caso. Muito embora haja concordância dos Tribunais Superiores, inclusive do Supremo Tribunal Federal, a
respeito da validade dessas hipóteses, existe considerável crítica na doutrina especializada sobre a matéria,
no sentido de que a ordem constitucional não reconheceria poderes investigatórios aos juízes, mas sim
à polícia judiciária. Aponta-se, ainda, toda a problemática inerente à acumulação quântica de poder e
o risco de abusos no sistema de justiça criminal por violação ao devido processo legal, especialmente
pela quebra da imparcialidade, quando diante de investigações “presididas” ou “supervisionadas” pelo
Poder Judiciário. Registre-se, por fim, que as antigas disposições atinentes à suposta possibilidade de
“investigação judicial” nas revogadas Lei de Falências (Dec-Lei n. 7661/45) e Lei de Crime Organizado
(Lei n. 9.034/95), foram definitivamente abandonadas, assim como o modelo de juizados de instrução,
processo judicialiforme e ação penal “ex officio” com o advento da Constituição de 1988.

COMENTÁRIO

A questão exigia do aluno precisa articulação entre conhecimentos doutrinários e jurisprudenciais, sempre
com observância de encadeamento lógico na apresentação das ideias e de respeito à língua culta.

A resposta esperada poderá ser conferida no espelho disponibilizado.

Aproveitamos, portanto, este espaço para uma breve apresentação do tema, servindo o conteúdo abaixo
como roteiro de estudos.

Sucesso (sempre)!

Investigação Criminal pelo Poder Judiciário / Investigação Judicial.

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O Poder Judiciário pode assumir o lugar de investigador criminal no sistema brasileiro? Ou seja: pode
figurar como órgão intelectual ou de presidência das investigações preliminares, a configurar um sistema
judicial de apuração? Essas serão as questões enfrentadas sucintamente neste tópico.

Permissões. No Brasil, o juiz somente pode presidir a investigação criminal em duas hipóteses:

a) Investigação Interna. Quando os envolvidos forem membros do próprio poder judiciário - Art. 33,
parágrafo único, da LC n. 35/79 (LOMAN).

Art. 33, § parágrafo único, da LC n. 35/79. Quando, no curso de investigação, houver indício
da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que
prossiga na investigação.

Acompanhe, nesse sentido, importante julgado do STJ:

HABEAS CORPUS. DENÚNCIA ANÔNIMA IMPUTANDO A PRÁTICA DE CRIMES A


MAGISTRADO FEDERAL. AUTORIDADE POLICIAL QUE REALIZA DILIGÊNCIAS PRÉVIAS PARA
A APURAÇÃO DA VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES. PROVIDÊNCIAS QUE ULTRAPASSAM
A SIMPLES APURAÇÃO INFORMAL DA DELAÇÃO. AVERIGUAÇÕES REALIZADAS POR
DELEGADO DE POLÍCIA DESPROVIDO DE ATRIBUIÇÃO. PRERROGATIVA DE FUNÇÃO DE
UM DOS INVESTIGADOS. NECESSIDADE DE REMESSA DA NOTITIA CRIMINIS AO TRIBUNAL
COMPETENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA.

1. Esta Corte Superior de Justiça, com supedâneo em entendimento adotado por maioria pelo
Plenário do Pretório Excelso nos autos do Inquérito n. 1957/PR, tem entendido que a notícia
anônima sobre eventual prática criminosa, por si só, não é idônea para a instauração de inquérito
policial ou deflagração da ação penal, prestando-se, contudo, a embasar procedimentos
investigatórios preliminares em busca de indícios que corroborem as informações da fonte
anônima, os quais tornam legítima a persecução criminal estatal.

2. Na hipótese em apreço, conquanto se tenha utilizado de expedientes confidenciais para a


realização das diligências preliminares, o certo é não foram elas efetivadas informalmente,
mas sim por meio de despacho, tomada de declarações e relatórios formais, devidamente
documentados e identificados com o número da denúncia anônima recebida, procedimento
que destoa daquele recomendado para os casos de delação anônima, já que foram tomadas
providências próprias de um inquérito policial já instaurado, tendo-se, inclusive, procedido à
oitiva de supostas testemunhas.

3. Além de ter efetivado atos que excederam, e muito, a simples apuração informal da
veracidade da delação anônima, a autoridade policial que atendeu e registrou a denúncia não
tinha atribuição para atuar no caso, pois desde o recebimento da denúncia anônima já se sabia
do possível envolvimento fatos relatados de pessoa ocupante de cargo detentor de foro por

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prerrogativa de função.

4. Diante da presença de simples indícios do cometimento de ilícitos por parte de magistrado


federal, autoridade que possui foro privilegiado, o Delegado Chefe da Delegacia de Polícia
Federal de Chapecó/SC deveria ter encaminhado a notitia criminis para o Tribunal competente,
nos termo do artigo 33, parágrafo único, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei
Complementar 35/1979).

5. Ordem concedida para trancar a Investigação n. 2008.04.00.022780, em curso no Tribunal


Regional Federal da 4ª Região (STJ, Rel. Min. Jorge Mussi, HC n. 130789/SC, DP 26/08/11).

Crítica. Eugênio Pacelli de Oliveira defende a inconstitucionalidade (melhor seria falar em “não recepção”)
desse dispositivo, ao reservar ao órgão superior da magistratura a privatividade para a investigação de
fato criminoso imputado a juiz. Argumentos: - a CF não reconhece poderes investigatórios aos juízes (ao
juiz não é dado investigar); - a CF reserva à polícia judiciária (embora sem exclusividade) a missão de
investigações. O que se deve vedar é o indiciamento sem autorização expressa do órgão de jurisdição
competente para o julgamento da matéria (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15 ed.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, pp. 82 e 83).

b) Foro Especial por Prerrogativa de Função. Em se tratando de investigações criminais de autoridades


públicas com foro especial (pela prerrogativa de função), essas deveriam tramitar sob a fiscalização do
respectivo órgão do Poder Judiciário competente para o julgamento do caso.

O Supremo Tribunal Federal entende que a competência originária da Corte para processar e julgar
parlamentar federal, por exemplo, alcança a “supervisão de investigação criminal”, sob pena de nulidade
dos atos praticados (STF, Inquérito n.º 3438/SP, Rel. Min. Rosa Weber, DP 09/02/15). Diversos são os
julgados do STF nesse sentido, senão vejamos: i) “A orientação jurisprudencial desta Suprema Corte é firme
no sentido de que o órgão competente para o controle jurisdicional direto de investigações concernentes
a eventuais crimes cometidos por parlamentares, detentores de foro especial por prerrogativa de função
é, exclusivamente, o Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, I, b, da Constituição” (STF, Medida
Cautelar na Rcl 15.912/PR, Min. Ricardo Lewandowski, DP 23/07/2013); ii) “Uma vez envolvido deputado
federal, cumpre ao Supremo os atos próprios ao inquérito” (STF, Inq. 2291 AgR/DF, Rel. Min. Carlos Brito,
Rel Min. p/ acórdão Marco Aurélio, DP 13/11/07); iii) “A competência penal originária por prerrogativa de
função atrai para o Tribunal respectivo a supervisão judicial do inquérito policial” (STF, Rcl 555/PB, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, DP 07/06/02).

Procedimento. E, mais, prevê o Regimento Interno do STF, no artigo 74, caput, que “a ação penal será
distribuída ao mesmo Relator do inquérito”. Relator, aliás, que poderá valer-se de “magistrados instrutores”
para o desempenho de funções na investigação preliminar. Nesse sentido, o artigo 21-A do Regimento
do STF concede ao ministro relator o poder de “convocar juízes ou desembargadores para a realização
do interrogatório e de outros atos da instrução dos inquéritos criminais”.

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Crítica. Acúmulo de Poder. Devido Processo Legal. De antemão, registre-se que a problemática das
investigações “presididas” ou “supervisionadas” pelo Poder Judiciário, ainda que admitidas em diplomas
legislativos ou regimentais, não pode ser afastada de uma análise quanto ao risco de acúmulo ou abuso
de poder no sistema de justiça criminal.

Vedações.

a) Revogação do Inquérito Judicial da Antiga Lei de Falências (Dec-Lei n. 7661/45). Observe que, diante
da Nova Lei de Falências e Recuperação Judicial de Empresas (Lei n. 11.101/05), juiz não mais investiga
crime falimentar.

b) Inconstitucionalidade da Investigação Judicial na “Antiga” Lei de Crime Organizado. O suposto “poder


investigatório judicial” na antiga (e revogada) lei de crime organizado (Lei n. 9.034/95), cujo artigo 3º
fazia expressa referência à possibilidade de diligências a serem realizadas pessoalmente pelo juiz, fora
inicialmente esvaziado pela Lei de Sigilo Bancário (LC n. 105/01) e posteriormente declarado inconstitucional
pelo Supremo Tribunal Federal (ADI n. 1570/DF). Ao fim, com a edição da Nova Lei de Organizações
Criminosas (Lei n. 12.850/13), revogando por completo a legislação anterior (Lei n. 9.034/95), a pretensa
“investigação judicial” fora definitivamente abandonada.

c) Não Recepção dos Juizados de Instrução, Processo Judicialiforme e Ação Penal “Ex Officio”. Com o
advento da Constituição de 1988, todos esses mecanismos persecutórios criminais que atribuam ao juiz a
possibilidade de presidir as investigações e iniciar o processo de ofício, fazendo as vezes de investigador
e acusador, foram abolidas.

MELHORES RESPOSTAS

LUIS RICARDO OLIVEIRA DANTAS


Segundo leciona a maior parte da doutrina pátria, a Carta Magna de 1988 inaugurou em nosso País o
sistema acusatório no processo penal, deixando de lado a antes presentes figura do juiz inquisidor, típico
do sistema inquisitivo. O sistema acusatório consiste na separação das funções de investigar e julgar o
agente delituoso, antes por vezes concentrada nas mãos de uma só figura. No sistema acusatório, com
origem na Grécia e também em Roma, o juiz, a fim de manter a sua imparcialidade, se manterá distante
das investigações criminais, que ficarão a cargo de outro órgão estatal, alheio a estrutura do Poder
Judiciário, somente intervindo para assegurar as garantias e direitos fundamentais, como nos casos de
tutela das liberdades individuais e quando necessária a observância da cláusula de reserva de jurisdição.
Quando o juiz instaura, de ofício e por autoridade própria, o processo de natureza penal, tem-se o
chamado processo judicialiforme, que foi retirado do nosso ordenamento jurídico com a vigência da
Constituição Federal de 1988.

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DE POLÍCIA CIVIL
2ª EDIÇÃO

ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

CLÁUDIA MAELI 
Ao Poder Judiciário não é possível presidir investigações criminais no Brasil. Existem várias autoridades
competentes para investigar o cometimento de crimes. Em regra, as investigações criminais são conduzidas
pela Polícia Judiciária, conforme prevê o artigo 4º, parágrafo único, do CPP, o que não impede a de
outras autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. Autoridades com
foro por prerrogativa desenvolvem investigações sob a presidência de um ministro do STF, porém, isso
não é pacífico. O Poder Judiciário exerce o permanente controle dos atos de investigação de natureza
penal conduzidos por quaisquer autoridades, pois deve-se garantir o respeito aos direitos que assistem a
qualquer pessoa sob investigação do Estado. Ademais, o sistema acusatório adotado pelo ordenamento
jurídico pátrio coloca o magistrado na condição de imparcial. Assim, diante do sistema constitucional
brasileiro onde se distribui a função de acusar, defender e julgar a órgãos distintos, as investigações
criminais no Brasil feitas pelo Poder Judiciário acarretaria uma usurpação às atribuições da Polícia Civil.

FELIPE OLIVEIRA FREITAS


O ordenamento jurídico brasileiro consagrou o sistema processual penal acusatório, em que há separação
entre as funções de acusar, defender e julgar. No âmbito das investigações, em regra, a atribuição de
investigar crimes cabe à polícia e ao Ministério Público e a de julgá-los cabe ao judiciário. Isso a fim de
evitar que a imparcialidade do juiz seja afetada. Em razão do princípio acusatório, o juiz deve envolver-se
o mínimo possível na investigação, o que não afasta sua competência para supervisionar as investigações,
bem como de autorizar os atos investigativos que dependam de deliberação judicial, como nas hipóteses
de reserva de jurisdição. Nessa esteira, a investigação criminal no Brasil, em regra, é atribuição da polícia
judiciária, embora o Ministério Público também possa investigar. Da mesma forma que diversos outros
órgãos públicos investigam fatos que podem ter consequências na seara criminal, o que milita em favor
de o Judiciário poder presidir investigações criminais no Brasil, principalmente aquelas que tramitam nos
tribunais superiores, em que os investigados possuem foro por prerrogativa de função e a ação penal
originária é regulamentada pela Lei 8.038/90.

LUIS CUNHA
Com a CRFB/88, consagrou-se, no Brasil, a adoção do sistema acusatório, cuja principal característica é
a completa separação de funções. Dessa forma, não pode o Poder Judiciário, através da figura do juiz,
presidir investigações criminais, sob pena de ver violada a sua imparcialidade. Ao juiz, cabe, tão somente,
exercer a função jurisdicional, deixando a cargo do Ministério Público a função de acusar e a cargo do
Delegado de Polícia a função de presidir o inquérito policial. Qualquer situação que não respeite tal
divisão de funções estará violando o princípio acusatório, o que implica na violação de uma série de
outros princípios, tais como o devido processo legal e a imparcialidade do juiz. Apesar de essa ser a
regra, não se pode desconsiderar a exceção prevista no artigo 33, parágrafo único, da Lei Complementar

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

n. 35/79 (Loman), que prevê verdadeira hipótese em que a investigação criminal será presidida pelo
Poder Judiciário. Isso ocorrerá quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por
membro do Judiciário. Portanto, o atual sistema processual brasileiro é incompatível com a possibilidade
de o Poder Judiciário presidir investigações criminais. Tal tarefa, frise-se, foi atribuída aos Delegados de
Polícia, nos termos do artigo 144, §§1º e 4º, da CRFB.

FREDERICO MESQUITA
No que se refere ao processo penal, o Brasil adota o sistema acusatório, verdadeira garantia constitucional
de que só é possível processar alguém por algum fato, mediante a formulação da acusação ou queixa-
crime. Neste sistema, a figura das partes e do juiz possuem funções bem delimitadas. Às partes cabem
a função de produzirem as provas e ao juiz cabe a função de julgar os fatos nos ditames das provas
produzidas. Esta é a segunda fase da persecução penal. Ou seja, a persecução penal se inicia com as
investigações criminais. Esta função cabe em regra à polícia judiciária, exercida pela Polícia Federal no
âmbito da União e pela Polícia Civil no âmbito dos estados-membros e Distrito Federal, conforme o
disposto no artigo 144 da Constituição Federal. Ademais a Lei 12830, em seu artigo 2, inciso I, confere ao
delegado de polícia a condução das investigações por meio de inquérito policial. A problemática ocorre
quanto às autoridades que possuem foro por prerrogativa de função. Sustentam alguns, em virtude de
algumas decisões, que cabe às autoridades judiciárias, a condução das investigações nessas situações.
Sendo assim, a condução das investigações serão realizadas diretamente entre a autoridade policial
e o relator direto do caso. A presidência e condução do inquérito é da autoridade policial, mediante
determinação e supervisão do respectivo relator. A única condução de investigação por parte do Poder
Judiciário, se refere aos crimes cometidos por seus próprios membros, e isso não se excetua.

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

PEÇA PROFISSIONAL

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 20 linhas. Não se identifique no corpo da resposta,


procure responder com consulta tão somente à legislação seca e com agilidade, a fim de simular
a situação encontrada em prova.

PROFESSOR: HENRIQUE HOFFMANN MONTEIRO DE CASTRO


E-mail: profcei.henriquehoffmann@gmail.com

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

No dia 29/02/2016, “A”, padrasto da criança “B”, passou sua genitália na menor enquanto ela
dormia. “C”, mãe da criança, não presenciou o fato, mas percebeu uma súbita mudança de
comportamento na filha que, ao ser questionada pela mãe, relatou o ocorrido.

“C” procurou a Polícia Civil, e, mesmo sem a representação, da representante legal o Delegado de
Polícia instaurou inquérito policial mediante portaria a fim de apurar o fato.

No curso das investigações, a Autoridade de Polícia Judiciária determinou a oitiva de “B”, na


presença de psicóloga, a oitiva de “C”, e o interrogatório de “A”. Requisitou exame de corpo de
delito a fim de constatar a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, sendo o laudo
inconclusivo.

Elabore o despacho de indiciamento, indicando a(s) pessoa(s) indiciada(s) e a tipificação do(s)


crime(s).

RESPOSTA

DECISÃO DE INDICIAMENTO

A Polícia Civil do Estado XXXX, por intermédio do Delegado de Polícia que esta subscreve, no uso das
atribuições conferidas pelo art. 144 da Constituição Federal e dos dispositivos do Código de Processo
Penal, Lei 12.830/13 e demais diplomas legais correlatos, profere a seguinte decisão.

Cuida-se do Inquérito Policial XXXX, instaurado mediante portaria, visando apurar o crime de estupro de
vulnerável majorado (art. 217-A c/c art. 226, II do CP) praticado por “A” contra a vítima “B”. Colhidos os
elementos informativos e probatórios atinentes à investigação, constatou-se que o suspeito “A” praticou
outro ato libidinoso com a menor de 14 anos “B”.

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

Essa conclusão é extraída principalmente da palavra da vítima, que ganha especial relevo em crimes
como este, praticado na clandestinidade, longe dos olhares de testemunhas.

Não há indicativos suficientes de que “C” tenha deliberadamente se omitido para prejudicar sua filha. Pelo
contrário. Ao notar brusca alteração de comportamento na filha, imediatamente procurou a Polícia para
as providências legais, razão pela qual deixo de indiciá-la pelo crime na modalidade omissiva imprópria.

Destarte, nos termos do art. 2º, § 6º da Lei 12.830/13, indicio “A” pelo crime de estupro de vulnerável
majorado (art. 217-A c/c art. 226, II do CP), determinando a comunicação do Instituto de Identificação e
a juntada de folha de antecedentes do indiciado. Dispensada a realização de novo interrogatório.

Local e data / Nome e assinatura

COMENTÁRIO

A Lei 12.830/13, em boa hora, veio lembrar que o indiciamento é ato privativo do Delegado de Polícia:

Art. 2º. § 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado,
mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
circunstâncias.

Por isso é que eventual requisição de indiciamento formulada por juiz ou membro do Ministério Público
é ilegal, ainda que essas autoridades disponham de provas que incriminem o suspeito, conforme posição
do STF:

Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não existe fundamento
jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar ao Delegado de Polícia
o indiciamento de determinada pessoa. A rigor, requisição dessa natureza é incompatível com
o sistema acusatório, que impõe a separação orgânica das funções concernentes à persecução
penal, de modo a impedir que o juiz adote qualquer postura inerente à função investigatória.
Doutrina. Lei 12.830/2013 (STF, HC 115.015, Rel. Min. Teori Zavaski, DP 27/08/2013)

A doutrina não destoa:

O indiciamento é o ato resultante das investigações policiais por meio do qual alguém é apontado
como provável autor de um fato delituoso. Cuida-se, pois, de ato privativo do Delegado de
Polícia (...). Portanto, se a atribuição para efetuar o indiciamento é privativa da autoridade
policial (Lei n° 12.830/13, art. 2o, §6°), não se afigura possível que o juiz, o Ministério Público
ou uma Comissão Parlamentar de Inquérito requisitem ao delegado de polícia o indiciamento
de determinada pessoa (LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de processo penal. Niterói: Impetus,
2013, p 143.)

O conceito de indiciamento e sua abrangência podem ser extraídos da doutrina:

Indiciamento é o ato-produto decorrente do procedimento de atribuição exclusiva da autoridade

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

de polícia judiciária (delegado de polícia), consistente na atribuição da autoria do delito à pessoa


investigada, com descrição da materialidade e de suas circunstâncias. (...) O ato de indiciamento
é inerente ao poder discricionário do delegado de polícia, dentro do espaço de conformação de
sua atribuição na condução do inquérito policial. (...) Para o indiciamento basta a existência de
um lastro mínimo de prova vinculada à prática delitiva, passando-se do juízo de possibilidade
para o juízo de probabilidade. (TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito
processual penal. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 144/147-149)

É importante destacar também uma questão terminológica. Embora esteja consagrada pelo uso a
expressão despacho, acreditamos ser mais correto o termo decisão, porquanto se trata de manifestação
do Delegado de Polícia por meio da qual delibera acerca de fato controvertido (a existência ou não de
materialidade e indícios suficientes de autoria), e não de mero impulso ao procedimento.

Superadas essas questões conceituais, analisemos o caso em si.

Foi dito que a vítima é criança. Isso significa que possui menos de 12 anos (art. 2º do ECA), encaixando-a
no conceito de vulnerável do art. 217-A do CP, que abarca os menores de 14 anos. Sequer é preciso se
valer da vulnerabilidade por equiparação estampada no §1º do dispositivo.

Assim, tem-se o crime de estupro de vulnerável, incluído pela Lei 12.015/09:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos

Como o autor é padrasto da ofendida, incide a majorante a seguir:

Art. 226. A pena é aumentada:

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,


tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade
sobre ela;

A ação penal em regra é condicionada à representação, mas independe de representação se a vítima for
menor de 18 anos ou pessoa vulnerável, o que é justamente o caso em comento:

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a


vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Daí o acerto do Delegado em iniciar o inquérito policial independentemente da vontade da ofendida.

Corretamente também foi empregado o chamado depoimento sem dano. Consiste em método de

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

inquirição do ofendido menor, tanto na fase processual, quanto em sede policial como prova antecipada,
na qual a autoridade realiza a oitiva com auxílio de assistente social ou psicólogo. A finalidade é permitir
um ambiente menos constrangedor e mais propício para a busca da verdade. Trata-se de técnica
desenvolvida em respeito à condição especial de pessoa em desenvolvimento. O procedimento é aceito
pelo STJ (HC 226.179), e o CNJ editou a Recomendação 33/2012 aconselhando a adoção da técnica.

De outro lado, sabemos que, pela inteligência do art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios,
será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
do acusado. Como nos crimes sexuais é comum que restem vestígios, a Autoridade de Polícia Judiciária
requisitou exame pericial a fim de verificar se houve conjunção carnal ou alguma evidência de outro ato
libidinoso.

O fato de o laudo ter sido inconclusivo não afasta a incidência do delito, pois o crime do art. 217-A do
CP se aperfeiçoa não apenas com a conjunção carnal, mas com qualquer outro ato libidinoso, ainda que
não deixe vestígios.

Sabe-se também que, nos crimes sexuais, em regra praticados longe dos olhos de testemunhas, na
clandestinidade, a palavra da vítima ganha especial relevo (STJ, AgRg no REsp 578.515).

Por fim, cabe sublinhar que inexistem elementos para incriminar a mãe por omissão imprópria (art.
13, §2º do CP). O simples fato de não ter presenciado o crime não leva à conclusão de que tenha
deliberadamente se omitido e concordado com a agressão.

MELHORES RESPOSTAS

NATASHA DOLCI
Despacho de indiciamento

Nos autos do supracitado inquérito policial, ficou constatado que “A”, padrasto da criança “B”, passou sua
genitália na menor enquanto ela dormia.

Fato este que chegou ao conhecimento da Polícia Civil por intermédio de “notitia criminis” oferecida por
“C”, mãe da criança, que não presenciou os fatos, mas soube destes segundo relatos de “B”.

Apesar do laudo pericial ser inconclusivo, é sabido que as palavras da vítima quando incontroversas são
suficientes para a persecução penal em crimes contra a dignidade sexual, a qual foi ouvida na presença
de psicóloga.

Diante do exposto, formado o convencimento desta Autoridade Policial, mediante análise técnico-jurídica
do fato, com fulcro no artigo 144, §4º da Constituição Federal e na Lei 12.830/13, indicio “A”, já qualificado
nos autos do inquérito policial em epígrafe, pelo delito de estupro de vulnerável, capitulado no art. 217-
A do Código Penal, com causa de aumento de pena por ser padrasto da vítima previsto no artigo 226,
inciso II, também do Código Penal, devendo se adotar as seguintes providências:

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

I – Elaborar os boletins de vida pregressa e individual estatístico, requisitando ao Instituto de Identificação


sua folha de antecedentes penais;

II – Lançar o indiciamento nos sistemas de informática da Polícia Civil do

Local, data.

Delegado (a) de Polícia

LUIS FERNANDO
Despacho de indiciamento:

O Excelentíssimo Delegado de Polícia Civil, o Dr. Fulano de Tal, com fundamento nos arts. 144, inciso IV,
§4ª da Constituição Federal de 1988, arts. 4º e ss do Código de Processo Penal, art. 225, parágrafo único,
do Código Penal e art. 2º, §6º, da Lei 12830/13, indicia a pessoa de “A”, como incurso no crime previsto
no art. 217-A c/c art. 226, inciso II, ambos do CP, com fundamento no conjunto fático e probatório
colhido nos autos de inquérito, consistentes nas declaração da ofendida prestada na presença da Sra.
Psicóloga Beltrana de Tal às fls., bem como no testemunho de sua genitora, a Sra. “C”, de fls., as quais
foram uníssonas em afirmar que o investigado “A” praticou ato libidinoso, consistente em “passar” a sua
genitália na menor “B” enquanto esta dormia. Sendo assim, o investigado praticou o crime de nomem
iuris “Estupro de Vulnerável”, previsto no art. 217-A do CP. Incidiu, ainda, na causa de aumento de pena,
de metade, prevista no art. 226, inciso II, do CP,

pois o ora indiciado ostenta o predicado de padrasto da menor.

Por fim, cabe ressaltar que em casos de crimes contra a dignidade sexual, que em sua maioria ocorre na
clandestinidade, às escuras, a palavra da vítima, mesmo que criança, quando coesa e harmônica assume
especial relevo probatório.

Local e data.

Autoridade Policial

CECILIA DELGADO
DESPACHO DE INDICIAMENTO

Inquérito Policial nº.

Diante das investigações efetuadas até o presente momento, e dos elementos até então colhidos,
formou-se a convicção técnico-jurídica desta Autoridade Policial, nos termos do art. 2º, par. 6º, da Lei
n. 12.830/2013, no que tange à autoria delitiva, materialidade e circunstâncias da conduta criminosa ora
investigada.

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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

Segundo afirmado pelo pela vítima, que é menor de idade, em depoimento constante dos autos às
fls., no dia 29 de fevereiro de 2016, seu padrasto, de nome “B”, passou a genitália no corpo da vítima
enquanto ela dormia.

Em hipóteses como a em tela, conforme se sabe, à palavra da ofendida atribui-se excepcional valoração,
devendo-se salientar que seu depoimento foi prestado na presença de psicóloga especializada no assunto
e corroborado pelo depoimento prestado pela testemunha “A”, sua mãe, a qual, embora não tenha
presenciado os fatos, presenciou uma subida mudança no comportamento da filha após o ocorrido.

Nesse sentido, muito embora o exame pericial tenha restado inconclusivo quanto à prática de conjunção
carnal ou outro ato libidinoso, até mesmo em razão de ser remota a possibilidade de a conduta do
investigado ter deixado vestígios materiais, entendo haver indícios suficientes de autoria e materialidade,
de modo que, com fulcro no art. 6º, V, do Código de Processo Penal, e no art. 2º, par. 6º, da Lei nº,
12.830/2013, procedo ao INDICIAMENTO FORMAL DE “B” pela conduta descrita no art. 217-A c/c art. 226,
II, ambos do Código Penal Brasileiro.

Junte-se aos autos a qualificação do indiciado, seu termo de vida pregressa e de interrogatório.

CUMPRA-SE.

Cidade, data.

HUGO LIMA
DEPACHO DE INDICIAMENTO

I. P. nº _______ Cidade, dia, mês e ano.

Sr. Escrivão,

Proceda ao indiciamento formal de “A” carreando aos autos sua qualificação, pregressamento e termo de
interrogatório, haja vista as razões de fato e de direito a seguir expostas.

À vista dos depoimentos de fls._______, em cotejo com a conclusão do laudo pericial de fls.______, formou-
se a convicção técnico-jurídica desta Autoridade Policial no que tange à autoria delitiva, do ora indicado,
quanto ao crime de Estupro de Vulnerável, previsto no art. 217-A, c/c art. 226, II, do Código Penal.

Tal conclusão deriva das investigações preliminares que levaram a esta autoridade a colher suficientes
indícios de autoria e materialidade da prática de ato libidinoso pelo indiciado com a menor (sua enteada).

Apesar de o referido laudo pericial ter sido inconclusivo, com os depoimentos da menor, na presença
de uma psicóloga, e da sua genitora, permitiu-se aferir o abalo emocional e psíquico ocasionado pelo
suposto ato libidinoso.

Ademais, trata-se de crime de ação penal pública incondicionada, conforme art. 225, parágrafo único,

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do Código Penal.

Logo, fulcrado no artigo 6.º, inciso V do CPP e no art. 2.º § 6.º da lei 12.830/2013 ORDENO formal
indiciamento.

CUMPRA-SE.

DELEGADO(A) DE POLÍCIA

JULIANO SILVA
INDICIAMENTO

Incide presente ato sobre as atribuições da Polícia Judiciária, conforme o art. 144, §§1º e 4º, da Constituição
Federal, ex vi arts. 3º, 4º, 5º e 6º, todos do Código de Processo Penal, c/c art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/13.

Existe expediente investigativo para caracterização de prática criminosa onde se objetiva a constituição

final de autoria e materialidade delitiva, mediante junção de informações para complementar a atividade
em tela. Através de análise Técnico‐Jurídica dos Fatos em epígrafe, foi possível estabelecer entendimento
consistente em face do que adiante passa a enumerar.

I. DOS FATOS

Conforme consta na notitia criminis, o indivíduo A, padrasto da criança B, teria passado sua genitália na
menor enquanto ela dormia. O fato não foi presenciado por C, mãe da criança, ou outra testemunha. A
mãe da criança notou uma mudança brusca de comportamento na filha, que ao ser questionada pela
mãe, relatou o ocorrido.

O crime é de ação pública incondicionada, não sendo necessária a representação para dar início à
persecução penal.

II. DA MATERIALIDADE

No decorrer das investigações, a Autoridade de Polícia Judiciária determinou a oitiva de B, na presença


de psicóloga, a oitiva de C, e o interrogatório de A.

Foi requisitado exame de corpo de delito a fim de constatar a prática de conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, visto ser um crime que pode deixar vestígios. O laudo resultou inconclusivo, entretanto, não
vincula o juiz e pode ser contestado por outros elementos probatórios.

Não existindo vestígios, o que é comum nos casos de abuso sexual intrafamiliar, a prova de materialidade
e autoria será efetuada por outros meios, como depoimentos e declarações, compondo o exame de
corpo de delito indireto.

Há doutrinadores que consideram essencial o depoimento da criança e que uma vez repleto de coerência,

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plausibilidade e verossimilidade, bem de acordo com o caso criminal, pode se tornar o fundamento
probatório processual.

Através da coleta de conteúdo probatório, materializou-se o delito em questão, exprimindo a existência


do crime em toda sua estrutura jurídica essencial com a percepção analítica do fato típico e antijurídico
típico e antijurídico.

III. DAS CIRCUNSTÂNCIAS

As circunstâncias objetivas da infração penal realçam a exposição do tempo, lugar e modo de execução.
O delito em mote ocorreu no dia 29/02/16. O sujeito ativo passou sua genitália na menor enquanto ela
dormia.

As circunstâncias subjetivas se relacionam com o caráter pessoal do sujeito ativo e os motivos da prática
delitiva. Constatou-se vontade específica do sujeito ativo em pratica ato libidinoso com menor de 14
anos. Ainda, como causa de aumento de pena, tem-se que o autor é padrasto da vítima, conforme Art.
226, II, CP.

IV. DA AUTORIA E DO INDICIAMENTO

Consoante os predicados acima descritos, onde demonstraram fundamentos que consolidaram a


convicção jurídica deste signatário, reconhecido legalmente o poder conferido à Polícia Judiciária, nos
moldes da literatura jurídica supracitada, formaliza-se o INDICIALMENTO do sujeito ativo A, como incurso
na conduta vaticinada pelos Artigos 217-A, CP, conjugado com o Artigo 226, II, CP.

Certifique-se, junte-se aos autos.

LOCAL E DATA

DELEGADO

OBS: ultrapassou o limite de linhas

FREDERICO MESQUITA
DESPACHO DE INDICIAMENTO

Compete ao delegado de polícia, a condução de investigação criminal mediante inquérito policial,


com o fim de demonstrar a materialidade e indícios de autoria, conforme a Lei 12830, artigo 2, §1°. Os
fatos relatam que a criança B fora estuprada mediante a prática de um ato libidinoso praticado por seu
padrasto A, qual seja ele ter passado sua genitália em B. Os fatos foram relatados por C, mãe de B, que
não presenciou o fato, mas notou uma mudança de comportamento em sua filha.

O inquérito foi instaurado de ofício, vez a notitia criminis relatada confere com o crime presente no
artigo 217-A do CP combinado com o artigo 226 do CP, qual seja, o estupro de vulnerável praticado

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pelo padrasto da vítima, o qual possui a natureza de ação penal pública incondicionada. Destarte o
conhecimento da infração penal, procedeu-se às diligencias necessárias para a elucidação dos fatos.
Requisitou-se o exame de corpo de delito, sendo que o laudo fora entregue inconclusivo para estupro, a
oitiva da vítima ocorrido na presença de uma psicóloga e a oitiva da sua mãe, além do interrogatório do
ofendido, medidas presentes no corpo do artigo 6°, CPP.

Nos crimes sexuais contra vulnerável, em que há prática que represente um ato libidinoso, como no caso
em apreço, na maioria das vezes ocorre na clandestinidade, somente entre o autor e a vítima, devendo
a palavra da vítima ganhar importante relevância por ser na maior parte das vezes, a única forma de
se provar que o fato evidentemente ocorreu e não deixar que o autor escape impune frente a ausência
de provas mais concretas. Ora, uma criança não tem cognição para fantasiar um ato sexual e libidinoso
tal como um homem esfregar nela, a sua genitália, de modo a fazer com que ela mude todo o seu
comportamento repentinamente.

A Lei 12.830, §6°, dispõe que o indiciamento é ato privativo do delegado de polícia, mediante a análise
técnico-jurídica do fato, por ato fundamentado. Pelos motivos anteriormente expostos, determino o
indiciamento de A.

OBS: ultrapassou o limite de linhas

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DE POLÍCIA CIVIL
2ª EDIÇÃO

ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

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