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BIOGRAFIA
Pedro Calderón de la Barca, nasceu em 17 de janeiro de 1600, em Madrid, Espanha, e
faleceu na mesma cidade, no dia 25 de maio de 1681. Foi um famoso dramaturgo e poeta
espanhol do século XVII. Escreveu 120 peças teatrais e é considerado um dos grandes nomes
do teatro do período barroco. Calderón também escreveu poesias líricas e obras em prosa.

Filho de uma família nobre, começou aos 14 anos a estudar filosofia, direito, arte e
teologia nas universidades de Alcalá e Salamanca. Em 1620, abandonou os estudos e três
anos depois se tornou líder de um grupo de poetas patrocinado pelo próprio Rei da Espanha,
Filipe IV. Em 1635, com a morte do renomado dramaturgo Lope de Vega, Calderón passou a
ser considerado “o mestre dos palcos espanhóis". Ano em que escreveu suas duas obras mais
famosas: A Vida é Sonho e O Médico e sua Honra.

Calderón, era muito conhecido por explorar em suas obras temas filosóficos e
psicológicos, além de também utilizar uma linguagem poética e complexa. Suas peças são
responsáveis pela ascensão da ópera na Espanha, ao introduzir dança, música e artes visuais.
Com temas diversificados, suas peças incluem dramas históricos, comédias, tragédias e autos
sacramentais. Foi um dos principais representantes do estilo literário conhecido como
"comédia nova", que se caracteriza por uma abordagem mais formal e elaborada em
comparação com o teatro renascentista.

A obra de Calderón ainda continua sendo estudada e encenada até os dias de hoje,
tanto na Espanha quanto no mundo. Sua contribuição para o teatro espanhol e para a literatura
em geral é amplamente reconhecida, e ele é considerado um dos maiores dramaturgos da
história.

Algumas obras:

A VIDA É SONHO
O MÉDICO E HONRA
O PREFEITO DE ZALAMEA
A SENHORA GOBLIN
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SINOPSE
Em "A Vida é Sonho" conhecemos o príncipe Segismundo, que é mantido em uma
prisão desde o nascimento devido a uma profecia que prevê que ele se tornará um rei tirano.
No entanto, o rei Basílio, seu pai, decide dar uma chance a Segismundo e o leva ao palácio
para testar sua natureza. Durante sua breve estadia no palácio, Segismundo é confrontado
com seu verdadeiro status como príncipe e reage de forma violenta e impulsiva, confirmando
as suspeitas de seu pai. Ele é então drogado e levado de volta à prisão, onde acorda e acredita
que tudo o que viveu no palácio foi apenas um sonho.

CONTEXTO HISTÓRICO
A peça foi publicada no final da idade média, em 1636, no século XVII. No período
Barroco que diferente da sua anterior, o renascimento que trouxe o poder da igreja sobre o
nome. O Barroco, sobre influência da Contra-Reforma leva através da literatura dramática
questionamentos.

Neste período, o homem acreditava comandar o próprio destino, o que era impossível
na idade média devido a crença de que Deus é quem guia meu caminho e minha ações. Sendo
assim o homem precisou construir sua própria identidade. No Renascimento, Deus havia
colocado o homem no mundo e o homem possuía o livre arbítrio e era julgado por sua
liberdade.

O estilo barroco do teatro era incomum para a época, muitas vezes animado e
considerado vulgar devido a projetos vistosos, trajes e cenários elaborados e efeitos especiais.
Além disso, o Teatro Barroco produziu alguns dos dramaturgos mais respeitados do mundo e
foi a base para o teatro moderno.
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ANÁLISE DA OBRA
Em A vida é sonho, não encontramos uma obra dividida em Atos, mas em jornadas.
Iniciamos a primeira jornada com didascálias, que em seu uso majoritário na obra, tem o
propósito de indicar local, a introdução de alguém em cena ou para dar ênfase nas vestes de
um personagem. Como acontece por exemplo com Rosaura em vários momentos e ao iniciar
a peça descobrimos que a personagem faz uso de vestes masculinas, acompanhada de Clarim.
Os dois estão perdidos em um campo escuro, até que encontram uma torre e ouvem barulhos
de correntes indicando que Segismundo, personagem central, se aproxima em lamentos
questionando sua falta de liberdade. O que ele havia feito para merecer aquilo? É quando
descobrimos, através do próprio Segismundo, que ele está preso naquela torre desde seu
nascimento e a única pessoa com quem interagiu em toda vida foi o velho Clotaldo, o
responsável por ele.

Ao serem pegos ao descobrir o segredo que apenas o velho Clotaldo e o rei sabiam.
Clotaldo ordena a execução de Rosaura e Clarim, mas ao reconhecer a espada que a jovem
carrega, descobrimos que Rosaura é filha de Clotaldo, através de um aparte falado pelo
próprio.

A personagem Rosaura é uma parte importante da peça, pois além de ser responsável
pela exposição na primeira jornada e de ter uma ligação direta com Clotaldo. Ela tem sua
própria história no enredo como uma subtrama. A jovem que está em busca de vingança para
defender sua honra que foi manchada por Astolfo, duque de Moscou. Sendo assim, a peça
não segue a unidade de ação desenvolvida por Aristóteles, já que para ele uma obra deve ter
trama única, ser completa em si mesma e não deve conter histórias secundárias. No entanto, a
subtrama de Rosaura é importante para a resolução final de Segismundo.

Na segunda jornada, temos a intrusão da obra, devido a decisão do rei que para
descobrir se a visão de que, Segismundo, seria um rei tirano e cruel é mesmo verdadeira ou se
ele poderia traçar o próprio destino. Segismundo, é posto para dormir e ao acordar no palácio,
agora com o conhecimento de que é o príncipe. Deixa ser guiado por todas suas emoções e
por nunca ter convivido em sociedade, repleto de mágoas e desejando se vingar do velho
Clotaldo que foi responsável por ele por toda vida e também de seu pai, o rei Basílio que
agora busca ter proximidade com o filho. Mas agora em um lugar de poder e revoltado com o
que foi vivido antes por ele comete o assassinato de um criado, ao joga-lo da janela. Se
encontrando outra vez com Rosaura e sem se reconhecerem, Segismundo se encanta pela
jovem agora vestida como dama de companhia da princesa Estrela, o príncipe deixa ainda
mais evidente seu lado tirano que faz com que a jovem Rosaura tenha por ele repúdio. Assim,
confirmando que a profecia dos astros sempre esteve certa e diante do fato, o rei decide que
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Sigismundo não pode viver no palácio. E colocado para dormir outra vez é mandado de volta
para a torre.

Assim podemos constatar que a ação se divide em dois lugares. Apesar dos
questionamentos de ser realidade ou sonho. A trama acontece de forma física por vezes no
palácio da Polônia, em uma torre pouco distante e no campo, não seguindo com exatidão a
unidade de espaço/lugar de Aristóteles, mas, ainda assim, a história não se distancia demais, e
os espaços se conectam ao conflito principal da obra, trazendo a verossimilhança.

Na terceira jornada, Segismundo acorda novamente preso na torre e não consegue


distinguir a realidade da fantasia. Para ele tudo que foi vivido foi apenas um sonho e acontece
o famoso monólogo sobre sonhos de Segismundo. Quando os súditos descobrem a existência
de um príncipe herdeiro que foi encarcerado pelo seu próprio pai, se revoltam e querem fazer
de Segismundo rei para que Astolfo não fique no trono ao casar-se com Estrela. Chegamos
então ao nó da peça. Levado ao palácio outra vez, desperto, ainda sem compreender vida e
sonho, somos pegos de surpresa por uma peripécia na reta final. O príncipe decide ser
prudente. E diferentemente de Édipo, onde a visão sobre o seu futuro se concretiza, a tragédia
de A vida é sonho é revertida. Segismundo perdoa o pai e o reconhece rei, transforma
Clotaldo em seu conselheiro, entrega a mão de Rosaura para Astolfo, abrindo mão da paixão
que teve por ela para que sua honra seja resgatada e se une a Estrela para que ela não seja
prejudicada e condena a traição o soldado que causou a revolta. Assim, Segismundo
estabelece a paz ao reino outra vez.

Para Aristóteles, a ação precisa ser resolvida no texto e A vida é sonho tem início,
meio e fim. Com um desenlace que resolve todas as problemáticas. No entanto, não podemos
dizer que as unidades aristotélicas foram seguidas, pois existe na obra do dramaturgo uma
complexidade. Para Aristóteles uma obra não deveria se prolongar muito e deveria se passar
no período de 24 horas. Porém, cada jornada tem a duração de um dia se afastando da
unidade de tempo, mas o Calderon conseguiu manter a tensão e urgência da narrativa mesmo
com os momentos em que Segismundo era posto para dormir além do uso de peripécias.

Com uma expressão própria do teatro barroco, onde o homem descobre não ser o
centro de tudo tem um desfecho moral e pedagógico. A obra de Calderón não se enquadra
como Tragédia, mas como uma comédia. Clarim, foi um personagem importante para ditar as
cenas leves e cômicas da peça, seu jeito covarde e irônico e sua passagem foi importante para
além do cômico, mas também responsável por trazer a canção para a obra.

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Que é a vida? Um frenesi. Que é a vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho, porque toda a vida é sonho e os sonhos, sonhos são.

Calderón La Barca

REFERÊNCIAS

Poética - Aristóteles
Verbetes
A vida é sonho - Calderón La barca
e outros textos usados em sala de aula.

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