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1
CALDERON DE LA BARCA, Pedro. A vida é sonho. São Paulo: Hedra, 2010, p, 39
por seu sangue tingido dava morte a sua mãe, sendo assim humana
víbora. Chegou o dia do parto e os presságios se cumpriram.2
2
Ibidem, p, 45
3
Ibidem, p, 62
a corte, mas agora cumprindo aquilo que se espera de um verdadeiro príncipe,
age com temperança, perdoa o seu pai o seu lacaio (único homem com o qual
tivera contato no período de sua experiencia na torre) e supera o que foi
profetizado pelo sonho de sua mãe.
O mundo é um teatro – “el gran teatro del mundo” – cujo diretor é Deus.
Na obra de Calderon toda a história, particular ou universal, mais uma
vez é história sagrada. Tudo faz parte do grande processo entre Deus e
o demônio, iniciado com a queda do homem e de antemão decidido no
juízo final. Toda a vida humana é parte de um espetáculo em que
“Todomundo” desempenha o papel prescrito por Deus. O homem
barroco sabe que está em um espectáculo, exatamente como Crespo da
peça de Calderon que no fim se dirige ao público, dizendo que aqui
termina a estória e pedindo desculpas pelas deficiências.4
4
ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Editora Perspectiva, 1985, p, 60
corporativo transformava o príncipe em espelho do reino, em personificação da
divindade para os seus súditos e vassalos.
Por uma parte, a peça afirmava a salvação pela fé devotada a Deus que
no momento certo intercede para que a paz e a justiça prevaleçam entre os
homens, bem como, ela combatia qualquer capacidade humana de prever o
5
ELIAS, Norbert. A sociedade de corte. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001, p, 132
6
Ibidem
7
ELIAS, op. cit., p, 133
8
IMAGINARIO, Andrea. La vida es sueño de Calderon de la Barca. Disponível em:
https://www.culturagenial.com/es/la-vida-es-sueno-de-pedro-calderon-de-la-barca/ Acessado
em 19 jul. 2002
destino de uma pessoa, pois o destino somente a Deus pertence, demonstrando
mais uma contradição na qual se vê envolvido o homem (não somente o homem
daquela época, é preciso dizer), que não sabe ao certo se o que importa em sua
trajetória de vida é a predestinação ou o livre-arbítrio, embora a posição de La
Barca seja favorável ao segundo.
Tendo a obra muitos temas abordados, outro que carece menção é aquele
que retrata Segismundo, que alijado das convenções sociais, repentinamente
vê-se diante de uma condição muito peculiar, uma vez que da falta de liberdade,
passa quase que instantaneamente a desfrutar de poder sobre as pessoas em
seu entorno. Neste ponto, pode-se perceber que La Barca alerta para o fato de
que o príncipe, por mais que tenha poder, também não pode tudo, não deve
ficar à mercê de seus instintos, bem como, aponta Cardim, “um sistema
corporativo impunha ao rei determinadas balizas e possibilidades de atuação” 10
não somente em relação ao seus comportamentos individuais, mas também em
suas ações visando manter o status quo e o equilíbrio das forças sociais.
Entretanto, o que a peça também nos mostra é que é pouco provável que
ser humano criado à parte da sociedade ou de um regimento específico como
9
BLANCO AGUINAGA, Carlos. RODRÍGUEZ PUÉRTOLAS, Julio. ZAVALA, IRIS M. Historia
Social de la Literatura Espanhola. Madrid: Editorial Castalia, 1979, p, 343
10
CARDIM, Pedro. As cortes na política do século XVII. Cortes e cultura política no Portugal do
Antigo Regime. Lisboa: Cosmos, 1998, p, 20
caso daqueles que precisam se comportar em concordância com uma série de
rituais (a sociedade de cortes) venham a fazê-lo por conta própria e de modo
eficiente sem uma estrutura social que lhe dê suporte em seu desenvolvimento.
11
HATZFELD, Helmut. Estudos sobre o barroco. São Paulo: Perspectiva, 1989, p, 312
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS