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CLC – Saberes fundamentais

Autobiografia

A autobiografia consiste na narração retrospetiva do percurso existencial (crescimento,


formação, aventuras e desventuras de uma vida mais ou menos atribulada e envelhecimento) de um
indivíduo redigida pelo próprio. Estamos, pois, perante um texto narrativo onde autor, narrador e
personagem principal correspondem ao mesmo indivíduo.

A autobiografia é, pois, narrada na 1ª pessoa e evidencia-se por um carácter mais expressivo do


que propriamente informativo, uma vez que é marcada pela subjetividade. Além disso, sendo uma
narrativa posterior, assistimos a um desvio temporal entre o eu presente e o eu passado, através da
recriação de uma visão retrospetiva e englobante construída através da memória. A autobiografia
permite-nos viajar no tempo e no espaço, transportando-nos também para um tempo psicológico,
traduzido pelas vivências subjetivas do indivíduo, e para um espaço psicológico, um espaço minado de
emoções, sensações e sentimentos. Por outro lado, a autobiografia não segue necessariamente a ordem
cronológica; observamos, muitas vezes, desvios temporais: flashbacks (analepses), antecipações
(prolepses) e/ ou associações entre episódios pertencentes a tempos diferentes.

Formador vitormendesmorgado@sapo.pt
Sophia de Mello
Breyner Andresen

Nasci no Porto mas vivo há muito em Lisboa.

Durante a minha infância e juventude passava os verões na praia da Granja, de que falo em tantos
dos meus poemas e contos.

Estudei no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Porto, e quando tinha 17 anos inscrevi-me na
Faculdade de Letras de Lisboa, em Filologia Clássica, curso que, aliás, não terminei.

Antes de 25 de Abril de 1974 fiz parte de diversas organizações de resistência, tendo sido um dos
fundadores da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.

Depois de 25 de Abril de 1974 fui deputada à Assembleia Constituinte (1975-1976) e detesto


escrever currículos...

[...]

Comecei a inventar histórias para crianças quando os meus filhos tiveram sarampo. Era no inverno e
o médico tinha dito que eles deviam ficar na cama, bem cobertos, bem agasalhados. Para isso era
preciso entretê-los o dia inteiro. Primeiro, contei todas as histórias que sabia. Depois, mandei comprar
alguns livros que tentei ler em voz alta. Mas não suportei a pieguice da linguagem nem a
sentimentalidade da "mensagem"; uma criança é uma criança, não é um pateta. Atirei os livros fora e
resolvi inventar. Procurei a memória daquilo que tinha fascinado a minha própria infância. Lembrei-me de
que quando eu tinha 5 ou 6 anos e vivia numa casa branca na duna - a minha mãe me tinha contado que
nos rochedos daquela praia morava uma menina muito pequenina. Como nesse tempo, para mim, a
felicidade máxima era tomar banho entre os rochedos, essa menina marinha tornou-se o centro das
minhas imaginações. E a partir desse antigo mundo real e imaginário, comecei a contar a história a que
mais tarde chamei Menina do Mar.

Os meus filhos ajudavam. Perguntavam:

- De que cor era o vestido da menina?

O que é que fazia o peixe?

Aliás, nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha
infância.

Formador vitormendesmorgado@sapo.pt
in De que são feitos os sonhos

1. Fala-se em currículos.

1.1. Que parte do texto mais se assemelha a:

- um curriculum vitae

- selecione o excerto de autobiografia.

1.2. Distinga curriculum vitae de autobiografia.

Retrato/Autorretrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,

bem servido de pés, meão na altura,

triste de facha, o mesmo de figura,

nariz alto no meio e não pequeno.

Figura 1
Bocage
Incapaz de assistir num só terreno,

mais propenso ao furor do que à ternura,

bebendo em níveas mãos por taça escura

de zelos infernais letal veneno.

Devoto incensador de mil deidades

(digo, de moças mil) num só momento

e somente no altar amando os frades,

Formador vitormendesmorgado@sapo.pt
eis Bocage, em quem luz algum talento.

Saíram dele mesmo estas verdades

num dia em que se achou mais pachorrento.

1. Delimite, no soneto de Bocage, a apresentação das suas características físicas, psicológicas e


ideológico-afetivas.

2. Demonstra que o autorretrato físico do sujeito poético se aproxima da caricatura.

3. Transcreva do poema o(s) verso(s) que exprimem, em relação ao eu poético:

- a incapacidade de se fixar;

- o temperamento arrebatado;

- a inconstância no amor

- o seu suposto anticlericalismo.

4. De que forma o último terceto atesta a autenticidade do autorretrato apresentado?

Atividade:

1. Inspire-se nos textos apresentados e elabore uma autobiografia.

1.1. Pode inventar uma personagem… que pode ser uma pessoa, um animal ou um
objeto;

1.2. Pode fazer a sua própria autobiografia, tendo, por exemplo, em conta os
antecedentes do nascimento, o porquê do nome, a vida escolar, a concretização de
sonhos da adolescência, os acontecimentos mais marcantes, a vida profissional, a
importância da família/ amigos.

Formador vitormendesmorgado@sapo.pt

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