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ATIVIDADE PARCIAL LITERATURA BRASILEIRA III (VALE 4,0 pontos)

Aluno: Renato dos Santos Barbosa


1. Conforme o material discutido em sala de aula, discorra sobre (no máximo 01
página, valor: de 0,0 a 2,0 pontos)

a) A ressonância da estética romântica na simbolista.


b) Os caracteres gerais da estética simbolista.
c) A poética da excentricidade e seu teor melancólico.

O romantismo fez frente aos ideais iluministas pautados na razão calculadora, no


sujeito e na ciência, do mesmo modo que o simbolismo se contrapõe às correntes
analíticas de meados do séc. XIX pautadas no positivismo de A. Comte. Tanto o
romantismo quanto o simbolismo reconhecem nessas correntes (racionalismo,
mecanicismo, determinismo) o correlato da burguesia industrial em ascensão. Ambos os
movimentos têm interesses que vão além do meramente empírico, que são
transcendentais, metafísicos, ontológicos: a Natureza, Deus, o Absoluto, o Nada, o Ser.
No Simbolismo ressurge a valorização da subjetividade/interioridade (em
detrimento da exterioridade), espiritualidade, o mitológico, o místico, o vago e o oculto.
A poética simbolista valoriza o ilógico ligado ao mágico, a tentativa de conexão com a
totalidade pela quebra da individualidade, pela fragmentação do sujeito antes radicado
no cálculo dominador da exterioridade. A musicalidade parece servir bem aos
propósitos simbolistas, pois leva ao transe, à confusão dos sentidos, à embriaguez
dionisíaca. Como diria Cruz e Sousa, “Tudo nos turbilhões da Imensidade se confunde
na trágica ansiedade” (Últimos Sonetos - “Ansiedade”)
Essa forma de ver o mundo e a arte, seus interesses metafísicos e a fragmentação do
sujeito produzem tanto um teor melancólico como um caráter excêntrico nos poetas
simbolistas. A busca pela expressão de estados da alma, misticismos e ilogicidades
podem ser percebidos como formas de transgressão às normas sociais. A busca pela
singularidade produz estranhezas, uma poética da excentricidade. A melancolia se
produz pela natureza da poética simbolista: o ilógico, a diluição do Eu misturado à
totalidade, a compreensão da insignificância do indivíduo frente a Natureza, Deus, o
Absoluto…

2. Considerando o que diz o Dicionário dos símbolos, de Jean Chevalier e Alain


Gheerbrant, procure tecer comentários sobre a simbologia de (valor: de 0,0 a 1,0 ponto)

● “dionísio”, “vinho”, “dança” e “perfume”


O perfume tem papel importante nos rituais. A sutileza do perfume que, apesar
de não poder ser apreendida é real, simboliza a alma, a presença espiritual. O perfume
ativa lembranças e sensações que caem bem nos turbilhões de sinestesias das poesias
simbolistas.

O vinho carrega uma simbologia ambivalente, é símbolo de vida e de morte, de


conhecimento e embriaguez, de alegria e de ira. Os simbolistas usam largamente esse
símbolo para remeter à embriaguez dionisíaca.

Baco ou Dionísio deus do vinho para romanos e gregos tem como marca a
desordem, o desequilíbrio, o des-limite. Faz oposição à Apolo, deus da ordem e das
formas bem delimitadas.

A dança exprime o desejo de libertar-se das limitações naturais do homem. O


êxtase que ela proporciona propicia a união mística do homem com o cosmo, com a
criação ou emanação de tudo o que existe. Não é à toa que a dança e a música aparecem
como características do movimento simbolista: ela expressa o transe ritualístico de
união com o todo e perda da individualidade pela fragmentação do sujeito.

3. A partir das definições acima, procure discorrer sobre a experiência dionisíaca do


mundo. (mínimo 02 parágrafos, máximo 01 página - valor: de 0,0 a 1,0 ponto)

A experiência dionisíaca do mundo é arrebatadora. Ela é uma das pulsões que,


segundo Nietzsche, deu nascimento à tragédia grega. Ultrapassa todos os limites
perceptivos, cognitivos e lógicos. É mistura e desordem semelhante à embriaguez do
vinho. Todos os sentidos se misturam e o indivíduo se sente parte da totalidade do que
existe e sente tudo isso de uma única vez. Como se tudo se dissolvesse num perfume
que exalasse de um sacrifício ou funeral. O indivíduo se fragmenta: todos os limites são
dissolvidos em uma união mística do divino e do profano. O êxtase da dança se liga ao
descontrole e entrega-se ao divino.
Na experiência dionisíaca não existe Bem nem Mal, tudo se dilui numa pulsão
estética que não é a do Belo nem do Feio: é a mistura indistinta de tudo o que é vivo e
não-vivo. A rigor não se pode falar de sensações ou de experiência sensória dionisíaca,
pois tudo se cala no grito indistinto de sons absurdos. O olho ouve e o ouvido cheira, as
narinas enxergam e tudo silencia num som insuportavelmente inaudível.
O dionisíaco em luta com o apolíneo aparece na poesia simbolista, aparece em
outras várias manifestações artísticas. Mas no simbolismo podemos falar de uma
tendência maior ao dionisíaco, um olhar caro à desordem intrínseca ao mundo. É
perceptível a presença predominante da pulsão estética dionisíaca em poemas como
“Delírio do Som” de Souza e Cruz, no qual a tensão entre imagens e sons emergem
numa exaltação ao dionisíaco em que o vinho, a música e o sons embriagam e misturam
as sensações do eu lírico.

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