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ENTRADA

Público é levado a passar por dentro da toca, e guiado até as folhas.


Sons de relógio.
Jogo das Alices
[ALICE] Bem! Depois de uma queda desta, não vou me importar nada de levar um
trambolhão da escada! Como vão me achar corajosa lá em casa!
Ora, eu não diria nadinha, mesmo que caísse do topo da casa!
Devo estar chegando no centro da Terra, deixe-me ver: isso seria perto de uns seis mil
e quinhentos quilômetros de profundidade, acho…
Sim, a distância certa é mais ou menos esta…
Jogo com Coelho Branco.
[ALICE] Coelho? Ei, Coelho Branco! Me espere, por favor!
[COELHO] Ai, ai, ai, eu estou muito atrasado!
[ALICE] Ora, ao menos seja educado e pare um pouco! Espere, eu posso ir com você!
Espere!!!
[COELHO] Ai,ai,aii como estou atrasado!
Segundo jogo Alices
[ALICE] Quantos quilômetros já caí até agora? Ou é muito fundo, ou se cai muito
devagar… Será que vou chegar no centro da terra? Vou atravessar o centro da
Terra? O que é isso? Melhor guardar pra depois pra depois!
Quando todos estiverem sentados, parar com todos os sons, exceto os de relógio.
Silêncio. Alice cai. Ouve-se o Coelho correr de um lado para outro.
Alice corre um pouco mais atrás dele, mas para, cansada.
[ALICE] Coelho! Você esqueceu a sua caixinha! Ora! Se ele tem tanta pressa, achado
não é roubado!
Hmm… Primeiro temos de ter certeza de que não é veneno.Precisamos saber se não
está escrito “veneno” ou “perigo”… Ah, nada além de “Me coma”! Então é seguro que
não fará mal!
CENA 2 - ALICE CRESCE
(jogo de voz- Alice crescendo)
[ALICE] Céus! Espichei como um telescópio!!! Ai, meus pezinhos, quem vai calçar
meias e sapatos em vocês agora? Com certeza eu vou estar longe demais pra me
incomodar com vocês: arranjem-se como puderem… Mas é melhor ser gentil com
eles, ou vão andar pra onde querem! (começando a chorar) 
[COELHO] ( a voz aumentando, vindo de longe) Onde deixei minhas luvinhas? A
Rainha vai ficar furiosa por eu fazer ela esperar! (topa com Alice e leva um
susto) Monstro!!! Socorro!!!
[ALICE] Eu não sou um monstro!
[COELHO] Pelos meus bigodes, SOCORROoo… (foge)
[ALICE] Por que fui tão curiosa? Como vou voltar pra casa agora? Ninguém vai me
reconhecer, nem eu mesma me reconheço!
(chorando, chorando, esguichando as lágrimas na plateia)
[ALICE] Coelho! você deixou as suas luvinhas! Será que você // esquece tudo?
Jogo de voz das Alices, Alice diminuindo.
[ALICE] Bem melhor! Mas não devia ter chorado tanto, Alice, está ensopada! Se ficar
doente, será um belo castigo! Agora, onde estará aquele Coelho?
CENA 3 - A LAGARTA
Ouve-se o corpo da lagarta se movimentando, suas puxadas no narguilé e sente-se a
essência do narguilé. Alice vai parando de chorar, aos soluços.
[LAGARTA] Quem és tu?
[ALICE] Eu não sei mais dizer… Mudei tanto desde que acordei!
[LAGARTA] O que quer dizer com isso?
[ALICE] Eu sinto que não sou mais eu mesma… vê?
[LAGARTA] Eu não vejo.
[ALICE] É porque você não me viu cinco minutos atrás! Mudar de tamanho, dessa
forma, é tão perturbador…
[LAGARTA] Não é.
[ALICE] Talvez porque você não descobriu ainda. Mas quando você se transformar em
uma crisálida (orgulhosa de saber o que é uma crisálida) - você vai um dia, sabe - e
depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá se sentir um pouco estranha,
não irá?
[LAGARTA] Nem um pouco.
[ALICE] (tentando manter a calma)Bem, dona… Senhora Lagarta, talvez seus
sentimentos possam ser diferentes, mas é muito estranho para mim.
[LAGARTA]  -(desdenhando) Você! Quem é você?
[ALICE] -Eu acho que você deveria me dizer quem você é primeiro!
[LAGARTA]  -Por quê?
[ALICE] Mas que conversa sem pé nem cabeça! (indo embora- passos gigantes)
[LAGARTA] Volte! Eu tenho algo importante para dizer!
(Alice volta, a Lagarta puxa lentamente o narguilé, assopra) Mantenha a calma.
[ALICE] Isso é tudo?!
[LAGARTA] Não. Então você acha que mudou, não é?
[ALICE] Eu temo que sim… Senhora.
[LAGARTA] De que tamanho você quer ser?
[ALICE] Não faço questão de um tamanho certo… Apenas um que não fique
mudando!
[LAGARTA] Está satisfeita agora?
[ALICE] Bem… já que perguntou, gostaria de ser um pouco maior. Não se ofenda, oito
centímetros é um tamanho meio ridículo para mim…
[LAGARTA] Eu tenho nove centímetros e é uma altura MUITO BOA!
[ALICE] Mas eu não estou acostumada com isso!
[LAGARTA] Você se acostumará… com o tempo.(outra longa puxada no narguilé) Um
lado a fará crescer e o outro a fará diminuir. (começa a bater as asas)
[ALICE] Um lado de quê? Outro lado do quê?
[LAGARTA] Do cogumelo!!! (voando para longe)
[ALICE] Hunf. Mas ele é completamente redondo! E agora, Alice, qual é qual? Bem, o
prudente seria guardá-los e esperar até ter certeza. Além do mais, quando se está
perdida, aconselha-se a ficar no mesmo lugar até que alguém a encontre. Mas quem
vai me encontrar aqui? Esse lugar é tão solitário…
CENA 4 - O JARDIM DAS FLORES
Ao longe, ouve-se um coro.
[ALICE] Que maravilha! Vamos até lá! Quem sabe alguém saiba como sair daqui!
Alice e os outros atores pegam a plateia e guiam até as Flores, que vão cantando
cada vez mais alto.
Alice se empolga e começa a cantar junto das flores, desafinadamente.
[ROSA] Quem está fazendo essa barulheira horrível? Foi você, Margarida?
[MARGARIDA] Nem vem, aposto que foi o Lírio! Não cala a boca durante os ensaios!
[LÍRIO] Eeu? Sua Maria-sem-vergonha!
[ROSA] Quietas!
[ALICE] Oh, me desculpem… Eu acho que eu me empolguei um pouco…
[MARGARIDA] E o quê exatamente é você? Credo, as pétalas todas caídas!
Todas riem muito.
[ROSA] Meninas, quietas! Afinal, brotinho, que tipo é você?
[ALICE] Tipo?
[MARGARIDA] Parece que já morreu, nem perfume essa coisinha tem!
Todas as flores riem de Alice.
[ROSA] Muito bem. Chega, chega! As Margaridas são as piores. Quando uma fala,
começam todas ao mesmo tempo, deixam qualquer um murcho!
[ALICE] Como é possível vocês falarem tão bem?
[LÍRIO] Ponha a mão na terra.
Levar as mãos do público ao chão. Eles estarão numa superfície áspera.
[ALICE] É… dura.
[MARGARIDA] Eu adoro! Hahaha
[ROSA] Na maioria dos jardins a terra é fofinha, por isso as flores vivem dormindo.
[ALICE] Nunca pensei nisso antes!
[VIOLETA] Na minha opinião, você nunca pensa em nada.
Continuam a chacotear Alice.
[ALICE] Ora, se não pararem já, vou colher todas vocês!
[ROSA] Que ultraje!
[LÍRIO] Sabia que não era gente boa! E olhe em volta, tem outros!
[MARGARIDA] Aposto que são m-a-t-i…
[ROSA] Matinho! Ervas-daninhas!
[MARGARIDA] Vai passar pras crianças!
[ALICE] Eu não sou matinho!Vou mostrar a vocês!
Sons de mastigadas (cogumelo)
[ALICE] Tomara que dê certo…
Vozes das Flores diminuem e afinam até sumir.
[ALICE] Pronto! Metade do caminho está cumprido! Agora, onde estará aquele
Coelho?
CENA 5  - O GATO
Ouve-se o barulho de alguém se mexendo, rapidamente, de um lado a outro do
espaço.
[ALICE] -Coelho?
Então ouve-se o ronronado - todos os atores ronronam perto do público- e sente-se a
cauda do Gato passando pelas pernas/braços da plateia.
[ALICE] Ah, que gracinha, um gatinho! Vem bichano, pss, pss!
O Gato ri.
[GATO] -Você deixou ele escapar!
ALICE -Mas ele foi tão rápido! Como pode estar tão atrasado? Você viu pra onde ele
foi?
[GATO] Quem?
[ALICE] O Coelho Branco…
[GATO] Que Coelho?
[ALICE] O que eu estava… esquece. Sabe como posso sair daqui?
[GATO] Depende de pra onde você quer ir.
[ALICE] Na verdade, não me importa muito pra onde…
[GATO] Então não importa o caminho que tome. (pausa). Se você vier nesse
caminho, encontrará um Chapeleiro.
[ALICE] Um Chapeleiro? Que curioso!
[GATO]  Sim, um Chapeleiro Louco.
[ALICE] Ah, mas eu não quero me meter com gente louca.
[GATO](rapidamente muda de lugar) Se você vier nesta direção, encontrará a Lebre
de Março…
[ALICE] Então, creio que vou…
[GATO] Que também é louca!
[ALICE] Não há ninguém aqui que não seja maluco?
[GATO] Oh! É inevitável! Somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca!
[ALICE] Como sabe que sou louca?
[GATO] Só pode, senão não estaria aqui.
Gato some, suas risadas cada vez mais longe.
[ALICE] Já vi lebres antes, e como estamos em setembro talvez ela não esteja tão
louca quanto em março.
CENA 5 - HORA DO CHÁ
Enquanto alguns -a definir- levantam o público e o levam até a mesa do chá, outros
vão fazer barulhos com as xícaras, o chá, os talheres, algo perto de uma melodia;
Chapeleiro e Lebre começam o diálogo durante a locomoção do público.
[LEBRE] Chapeleiroo! CHÁ-peleiroo!!! Hahahaha
[CHAPELEIRO] Adoro esse trocadilho, diga de novo!
[LEBRE] CHAAAAAPELEIROOO…. Vamos tomar um chá!
[CHAPELEIRO] Ah, mas eu adoro um chá! Chá de manhã!
[LEBRE] Chá de percevejos!
[CHAPELEIRO]Chá de terracota!
[LEBRE] Chá de picão do campo!
[CHAPELEIRO]Chá de água!
[LEBRE] Chá de terra amarela!
[CHAPELEIRO] Chá de sumiço!
[CHAPELEIRO E LEBRE] E chá de cogumelo! hahaha!
[ALICE] Um chá! Posso me juntar a vocês?
[CHAPELEIRO e LEBRE] Não há lugar!
[ALICE] Tem lugar de sobra! (Alice senta)
[LEBRE] Quer vinho, Alice?
[ALICE] (Como se estivesse dizendo algo proibido) Tem vinho aqui?
[CHAPELEIRO] Não há vinho!
[ALICE] (Desanimada) Então não foi muito educado perguntar…
LEBRE(remendando Alice) Não foi muito educado sentar sem ser convidada!
[CHAPELEIRO] Foi rude, muito rude, mal educada!
[ALICE] Eu não sabia que essa mesa era sua. E tem lugar pra muito mais que três
pessoas!
[LEBRE] Ó, quantos convidados! Todos, bebam seus chás! Vamos, bebam! É pra
beber!!!
[CHAPELEIRO] (pausa, mexendo o chá) Alice, parece que alguma coisa está te
incomodando… Conte tudo pra gente!”
[ALICE] “É que eu estava procurando..."
sons da Lebre e do Chapeleiro “chupando” o chá interrompem Alice
[LEBRE] (interrompe) É, e comece do início.
[ALICE] É que eu estava procurando um co...
[CHAPELEIRO]  (interrompe) Sim, sim! Haha! E quando chegar no fim… pare. Está
bem?
[ALICE]  É que eu estava pro...  
Lebre puxa o chá da xícara com a boca, fazendo muito barulho, durante um longo
tempo. Quando Alice tenta falar novamente, o Chapeleiro junta-se à ação da Lebre.
Quando param, Alice retoma a fala.
[ALICE] É que eu estava procurando um coelho!
[LEBRE] Um coelho?
[ALICE] Sim, ele tinha um relógio e estava correndo! (animada por finalmente ser
ouvida)
[CHAPELEIRO] Hmmm, hehe... Acho que eu vi o Coelho!
[LEBRE] Sim! Hehe... (sussurrando) Acho que ele está debaixo da mesa!”
[ALICE] Mesmo?
[CHAPELEIRO e LEBRE] Uhummmm
Alice se abaixa e vai para debaixo da mesa procurar. Chapeleiro toca "campainha" e
Alice bate com a cabeça debaixo da mesa. Os dois rompem em risadas.
[LEBRE] Ela acreditou! Que tola!
[ALICE] Não achei graça nenhuma!
[CHAPELEIRO] Quem sabe em outra cadeira então… MUDAR DE LUGAR! (toca o
sininho)
[LEBRE] Todos se levantem! Vamos! E levem suas xícaras! TROQUEM DE LUGAR!
Esperar que o público levante - atores auxiliam os que não se levantarem.
[CHAPELEIRO] SIM! Troca de lugar! Troca de lugar! (Quando todos tiverem
trocado) Quer mais chá, Alice?
[ALICE] Mas eu ainda não tomei nenhum… Então acho que não posso tomar mais.
(Muito satisfeita com a sua resposta)
[LEBRE] Você quer dizer que não pode tomar menos.Sempre se pode tomar mais que
nada! Que idiota!
[ALICE] Ninguém pediu a sua opinião!
[CHAPELEIRO] CALMA!
[LEBRE] Ela está maluca!
[ALICE] Eu não to maluca!
[CHAPELEIRO]Troca!Troca troca troca de lugar!!!!
[ALICE] Eu já cansei de trocar de lugar!
Chapeleiro começa a chorar.
[LEBRE] Olha o que você fez!
[ALICE] Desculpa… eu não queria te chatear… eu não pensei…
[LEBRE] Se não pensa, não devia falar nada.
[ALICE] Ora essa…
[LEBRE] Tive uma ideia! Vamos mudar de assunto!
[ALICE] Esse foi o pior chá que já participei! Vocês não sabem como fazer uma festa!
[LEBRE E CHAPELEIRO] Isso não era uma festa, isso era um chá!
Alice indica a todos que se levantem atrás dela.
CENA 6 - A RAINHA
Coelho surge, com um sininho.
[ALICE] Coelho!
[COELHO] Silêncio! A Rainha! A Rainha!
[CHAPELEIRO] Majestade!
[RAINHA] Quem é você?
[LEBRE] É a Lebre!
[RAINHA] Idiota! Qual o seu nome, criança?
[ALICE] Meu nome é Alice, pra servir a nossa majestade.
[RAINHA] E quem são esses?
[ALICE] Como eu poderia saber? Isso não é da minha conta.
[RAINHA] CORTEM A CABEÇA!
[ALICE] Ora, isso não é justo!
[RAINHA] Fale quando lhe falarem!
[ALICE] Mas se todo mundo obedecesse a essa regra e você só falasse quando lhe
falassem, e a outra pessoa sempre esperasse você começar, veja, ninguém nunca
diria nada, de modo que…
[RAINHA] CORTEM A CABEÇA!
[COELHO] Pense bem, majestade, é apenas uma criança!
[RAINHA] E quem está dando esse chá?
[CHAPELEIRO] Esse chá é meu!
[LEBRE] Mas a mesa é minha!
[RAINHA] E posso saber porque não fui convidada?
[CHAPELEIRO] Perdoe-me, majestade, não havia terminado meu chá ainda!
[RAINHA] Pois deveria! Quando começou?
[CHAPELEIRO] Dia 14 de março, penso eu.
[LEBRE] Foi dia 15!
[CHAPELEIRO] Dezesseis!
[RAINHA] Todos aqui são culpados! CORTEM A CABEÇA DE TODOS! GUARDAS!
[ALICE] Levantem! Vamos sair daqui!
Alice indica ao público que se levante e coloque uma mão sobre o ombro da pessoa à
direita. Passos dos guardas. Público foge com Alice até as folhas.
Gato entra.
[ALICE] Gato! Nos ajude! Ela quer cortar nossas cabeças!
[GATO] Ora… você sabe que é só um sonho!
[ALICE] Não sou um sonho!
[GATO] Se o dono do sonho acordasse, você sumiria igual a uma vela, PUF!
[ALICE] Não sumiria! E se eu não fosse real, não conseguiria chorar.
[GATO] Espero que você não imagine que suas lágrimas são reais!
[ALICE] Não acredito nisso!
[GATO] Tente de novo. Respire fundo…
[ALICE] Não adianta tentar, não se pode acreditar em coisas impossíveis.
[GATO] Com certeza não tem muita prática. Na sua idade, se pode acreditar em até
seis coisas impossíveis antes do café da manhã.
Passos dos guardas. De longe, a Rainha continua:
[RAINHA] CORTEM AS CABEÇAS!
Público sai em meio às falas das personagens.
[ALICE] Acorde Alice!
[CHAPELEIRO E LEBRE] Vamos tomar um chá!
[LAGARTA] Volte! Quem és tu?
[COELHO] A Rainha! A Rainha! Ai,ai,ai, estou atrasado!
[FLORES] Sabia que não era gente boa! Matinhos! Credo, as pétalas todas caídas!
Nem perfume essa coisinha tem!
[GATO]  Eu sou louco. Você é louca!

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