Você está na página 1de 16

A criação do Estado absolutista

Do ponto de vista teórico, absolutismo seria "aquela forma de


governo em que o detentor do poder exerce este último sem de-
pendencia ou controle de outros poderes, superiores ou interio-
res Mas há certa inexatidão na frase, pois o poder absolutista
unca toi exercido sem limites, ao menos na Europa Ocidental.
cOm
Lomo Idade Média", "absolutismo" foi termo criado

dito crítico. O uso contemporâneo se deve à comparaçao


teraC1a
feudal, wis, diante del
pois, diantedela,
etapa
que
ele propicia
com a

discricionário nas mãos dr ..


signif
cou
concentraçâo de poder rei. Em
absoluto do Estado é trac.
o poder
verdade, e n t r e t a n t o , s
vai emergir com o aparecimento do totalitarismo na século

"absolutismo"énal
XX Perry Anderson chega a dizer que vra
o modo de governo pós-ldade Méd.
imprópria para designar
ilumina uma dificuldade da sta
A questão terminológica
do absolutismo é, em boa medida, a dos con
dos.
secão: a história
com os que lhe
fizeram oposiçaão. Esmiuçar cada u na
frontos
análise intinita. Há outro complicad.
das pelejas tornaria
a

absolutista variou bastante


nos Estados em e se
a trajetória
estabeleceu. Como lembra Anderson,

o absolutismo espanhol sotreu sua primeira grande derrota no


final do século xvi, nos Países Baixos; o absolutismo ingls foi
ceifado em meados do século xvII; o absolutismo francês durou
até o fim do xvii1; o absolutismo prussiano sobreviveu até o fim
do xix; e o absolutismo russo só foi destronado no século Xx48

Seria contraproducente entrar nas filigranas de cada expe


riencia. No capítulo 4, serão considerados os momentos finais
do absolutismo ingls e francs, por meio do estudo das revo
luções democráticas que lá ocorreram. Aqui vamos abordar as
caracteristicas gerais do fenômeno.
A Baixa ldade Média-o período que abarca dos séculos xl
axV assistiu a uma
contínua unificação regional ao reao e
casas
nobiliárquicas que se sobrepuseram às demais. Ao pa SsO

gue
desafiavam poder da lgreja, os monarcas lutavam ntra
o
OS demais nobres. col
Portugal se destacou como
precoce, com dom
Afonso Henriques
experi
declarando a indep
déncia do condado Portucalense já no século xue as fronteiras
sendo consolidadas no seculo seguinte, sob o reinado de dom

Dinis i (1279-1325).

O caso portugués, todavia, contou com uma singularidade


que foi, simultaneamente, fraqueza e força: na região pratica
que

men
ente não havia nobres. Era uma zona em que o feudalismo
não se desenvolvera, fazendo com que continuasse pobre em

comparação a outras. O quadro se alterou quando se ergueram


ali dinastias capazes de empreender as grandes navegações,

como as de Borgonha e de Avis.


Para o futuro do absolutismo, foram mais relevantes os

acontecimentos Ocorridos na vizinha Espanha. A união de

em I469, acumulou riqueza e poder resul-


Castela e Aragão,
tantes da prosperidade do feudalismo nos dois reinos. Castela,
bater os fidalgos locais, adotara u m conjunto
de
depois de
em processos simila-
medidas posteriormente reproduzidas
res ao redor da Europa. demolição dos cas-
Podem-se citar: a

desalojamento dos senhores das áreas fronteiriças, a


telos, o
exército
a constituição de u m
proibição das guerras privadas,
autonomia municipal, o reforço
e
cerceamento da
regular, o
o controle dos provimentos ecle
a ampliação da justiça real,

aparelho local da Igreja


do papado), o
siásticos (ao separar o

o aumento dos rendimentos fiscais,


controle dos parlamentos,
senhores no conselho real
O atastamento da influência dos
nos escalðes
burocracia recrutada
e a constituição de uma

inferiores da pequena nobreza.0


chamado de "programa de reorganização
Oque poderia ser
envolvia de-
em marcha na Espanha,
aaministrativa'",51 posto o
feudalismo. Não por acaso,
nolir os regramentos típicos do
no clássico
Dom Quixote de
nm do estilo de vida feudal aparece
Estado eder
racia
90

de 1605,
nhol
do espanh
Miguel de
Miguel
Cervantes, conside.
Cerv

La
Mancha, r o m a n c e . Há
Há passagem ilustrativa.
passagen

inventor
do gênero
rado o
que compensa reproduzir:

da.
juizo, [Dom Quixote] veio a
com
seu
Então, já rematado louce
pensamento
com que jamais deu algum I

o mais estranho
conveniente e necessáni.
foi que Ihe pareceu
neste mundo, e

honra como para o servico de


de sua
de siua
o aumento
tanto para
cavaleiro andante e
sair pelo mundo com suas
república, fazer-se
busca de aventuras.
Ea primeira coisa
armaseseu cavalo em
armadura dos bisavós que, coberta de
e
que fez foi limpar uma
seculos havia que estava posta
ferrugem e azinhavre, longos e

a um canto.2
esquecida

O romance de Cervantes é uma såtira das narrativas de cava-


laria medieval, muito em voga em seu tempo, mas que já não
passavam de resquício nostálgico de um passado irreversível.
Dai encarná-lo no personagem patético do "cavaleiro de triste
figura", tão mergulhado na irrealidade quanto as histórias que
o livro satiriza, e da qual é de tempos em tempos despertado
pelo discreto escudeiro, Sancho Pança, representante da reali-
dade e, ao mesmo
tempo, de um horizonte desencantado que
então se abria.
O
desenvolvimento absolutista espanhol se
beneficiou dos
vínculos internacionais
tinham." Com o casamento
privilegiados os man- que Habsburgo
entre Filiper
de Castela, em
L496, a casa austríaca, na
(Habsburgo) e joana
do época a mais poderosa
mundo, entrava na
Espanha,54 o que deu a esta ültima d
dianteira em relação à
França e à Inglaterra. O reino espann0
conquistou boa parcela da América, e a
expansão ultramarina
Estado moderno
As raizes do
9I

foi responsável por custear as crescentes


despesas do Estado.
Cam a União Ibérica, entre I580 e
1640, a Espanha passou a
controlar todos os territórios americanos, do México à Pata
oonia (Brasil inclusive), toda a costa oeste da Africa e parcela
significativa da costa leste-0que lhe garantia o controle do

Atlântico-, além de territórios da Asia, como as Filipinas.


Integrada ao universo dos Habsburgo, a Espanha se tornava a
maior potência do planeta no século xv.
França e Inglaterra seguiram a vereda absolutista espanhola,
mas com especificidades. Na França, a principal diferença foi
a profunda integração nacional; na Inglaterra, a permanência
de resquícios medievais, sobretudo no que diz respeito à força
dos senhores de terra. Apesar das distinções, os dois países aca-
baram por se converter em modelos do absolutismo ocidental

Absolutismo e classes sociais

Que relações os monarcas absolutistas estabeleceram com as


tres classes fundamentais da época: aristocracia, burguesia e

camponeses? Indicamos que há uma íntima relação entre a

crise do feudalismo e o absolutismo, o qual, ao mesmo tempo

que procurava sustentar a classe dominante feudal, abriu as

portas ao capitalismo. Karl Marx, em O 18 Brumário de Luis

Bonaparte, de 1852, diz que o poder do Estado,

e militar, com a
COm a sua monstruosa organização burocrática
exército de
artificiosa, esse
maquina estatal multifacetada
Sua e

somado a um exército
clonarios de meio milhão de pessoas
da monarquia
egular de mais meio milhão [..] surgiu no tempo
C1a

92
do
decadência do
d e c a d ë n c i a
sistemz
sistema feudal, para cuja
ra
época
da
da
na
absoluta,

a c e l e r a ç ã o c o n t r i b u i u . "

raciocini0, quase vinte


linha de
mesma
Seguindo a
de 1871, ele sustentou q e
e
na França,
denois. em A guerra civil

centralizado, com
seus orgaos onipresentes, comn
o poder estatal
e magistratura permanen.
en-
burocracia, clero
seu exército, polícia,
um plano de divisão sistemáticaa
segundo
tes órgãos traçados
tem sua origem nos tempos da mo.
e hierárquica dotrabalho,
nascente sociedade da classe média como
absoluta e serviu d
narquia
luta contra o feudalismo.56
uma arma poderosa em sua

Mas seria equivocado imaginar que,


mesmo quando vence-

dor, o absolutismo foi inteiramente contrário à nobreza. Um

exemplo é a busca por garantir aos nobres postos e rendas,


mesmo quando derrotados nos confrontos militares. Em ver
dade, o absolutismo não tendia a eliminálos, mas a "estati-
zá-los", incorporando-os à administração pública. O exemplo
mais eloquente, não resta dúvida, foi a construção do palácio
de Versalhes, na França, no século xvi1, onde a nobiliarquia
foi convidada a morar, e aceitou.
Por outro lado, a produção feudal excedente e a retomada
do comércio fizeram surgir uma burguesia mercantil, classe
com tendências antiaristocráticas, interessada na redução de

tributos ancestrais. O diário de


viagem de Andreas Ryt, cro
nista suiço do século
xv1, de 1597, conta que entre Colonlac
Basileia
pagavam-se 31 pedágios, um a cada quinze
tros, aos senhores
quilone
feudais de cada região. No rio Reno, a Via
de
comunicação mais importante da Europa Central no fim ua
do Estado moderno
As vaizes

Idade Média, havia sessenta pedágios fácil imaginaroque


os comerciantes burgueses
pensavam a
civilização material
a obrigada a sustentar rentistas que exploravam
privilégins
Caadais ultrapassados. Nåo
surpreende que apoiassem a reti
rada das cobranças, promovida pelos reis absolutistas
O capitalismo europeu deslanchou durante o Renascimento
em particular graças ao impulso dado pelas cidades indepen
Aentes do norte da ltália às atividades comerciais, industriais e
hancárias. Mas também encontrou nas grandes monarquias ab-
solutistas um importante aliado. A centralização padronizou,
no território de cada nação, moedas, medidas e procedimen
tos juridicos, elementos intrinsecos ao cálculo empresarial. As
expedições ultramarinas promovidas pelo absolutismo eram
igualmente rendosas para comerciantes e banqueiros.3
Segundo alguns intérpretes, o fortalecimento da burguesia
ocidental gerou tamanho equilibrio com a nobreza que im
pediu esta última de voltar a exercer uma hegemonia incon-

teste, ao contrário do que aconteceu na parcela oriental do

continente, especialmente na Prússia.° Em suma, o Estado


absolutista estimulou o capitalismo, criando as condições
de
Juridicase políticas que tornaram possível a acumulação
"acumu-
capital inclusive a obtida por meios coercitivos (a
americanas
lação primitiva"), como a exploração das colônias
e os cercamentos.0

as bases da
servidão por
dinamização econômica erodiu
razão pela qual os
yue ez com o valor da terra se elevasse,
que
o
cedidas aos servos.
onores retomaram aquelas áreas antes

da existéncta dos
POaer de classe dos senhores parecia depender
mas o cenario quc
O, SObre quenm exerciam a dominação,
servil.
desmobilização da instituição
5 4 era marcado pela
4

estabeleciam novas relações de trabal.


ho.
Os agora exservos futuramente,
proletários s
foreiros e,
meeiros,
como diterentes direções, coma ene.

evidências em
Dadas as c l a s s e s soctais? Oprinein.
as
absohitismo com
relacão do alemão Friedeie
o filósofo
intelectual de Marx,
absolutismo cone
panceio
1884, interpretouo
enm
geis, escrevendo burguesia
a nobreza e a
resutado de um equilibrio entre

equilibram de tal modo


Ha periodos em que as lutas declasses se
Estado, como mediador aparente, adquire certa
gue o poder do
independência
momentânea em
face das classes. Nesta situacão

achava-seamonarquia absoluta dosseculos xviIexvil, que con


trolava a balança entre a nobreza e os cidadãos [burgueses[...1

da interpretação de Marx quanto da efe-


Divergindo tanto
tuada por Engels, Perry Anderson tentará mostrar que o abso
lutismo foi um regime favorável à manutenção do feudalismo,
ainda que para isso precisasse enfrentar a classe feudal. A tese é
surpreendente pelo fato de o feudalismo se caracterizar pela
soberania descentralizada e o absolutismo, pelo oposto.
Para Anderson, o objetivo básico do absolutismo seria rear
rumar a dominação feudal, após a expansão das relações mer
fim da servidão,
cantis. Entre os sinais de reorganização está o
mas que, ao contrário da interpretação corrente, não terta

significadoo desaparecimento das relações feudais no campo


Enquanto a propriedade aristocrática impediu o livre mercadole
terras mobilidade do elemento humano, bloqueou-se a transto
e a

mação dos camponeses em "força de trabalho". Resultado. a>


relaçoes de produção continuaram feudais, embora não mai

S
Servis. O absolutismo fixou os camponeses em novas JoT
95
de exploraçao, cuja essência a
extraçã do
excedente
meio do direito tradicionalcontinuou a
por
11danca ocorreu, mesma.
A portanto, no
plano politico, com
lizacão da soberania para a
cen
a

manutenção das relacões


rOdcão feudais. O deslocamento da
soberania foi possi
norque feudalismo logrou produzir
o
excedente. Segundo
Aaderson, a ascensão das
monarquias nacionais não expulsou
cmabrezas das tunçoes administrativas. AS
aristocracias con-
tinuaranm politicamente infiuentes, embora não mais
dominan-
tes. Veja-se que a venda de cargos burocráticos garantia que a

politica fiscal fosse, na prática, uma renda feudal centralizada.

Dois consistia em arrancar riqueza dos camponeses. Nessa ar


gumentação, continuava a vigorar a expropriação baseada em
coações extraeconômicas.
Isso coloca a pergunta: se é assim, por que então a nobreza
resistiu tanto ao absolutismo? Segundo Perry Anderson, ela o re-
chaçou porque não queria perder o poder politico. Porém. para
manter a dominação econômica, ela precisava ceder o poder a
uma estrutura centralizada e profissional, que era o Estado ab-

Solutista. "Em épocas de transição, nenhuma classe compreende


é necessårio um
de imediato a lógica da sua situação histórica:
ela aprenda
longo período de desorientacão e confusão até que
as regras necessárias de sua própria soberania.*
Estado
argumento é interessante porque, ao indicar que o
feudal, sugere que ele
aUSOutista se impôs à própria classe
Por u
não estava acima das classes.
estava e
dmente,
se sobrepôs elas; por outro, precisav
a
Cava, porque
a politica
ajuda a compreender por que
nelas. Isso nos
D em relaçao
a

autonomia relativa
erna é dotada de uma
dela.

O 1 a , sem poder se desligar conmpletamente


La

g da tese éé a c
i m p l i c a ç õ e s
da tesee que classe do-
implicaçoes
ais
principais
direção
putar a d o
i r e ç ã o do Estado, poisseu
das disputar
a
Uma
a Repetind..
obrigada
ri.
priori o
m i n a n t e
é a Repetindo:
a s s e g u r a d o
Estado
está
dominio
não os
inte: das
d a
diir
reet
ta
teresses classes eco
m a n e i r a
maneira
de alheio a
reflete nem se torn
orna eles
nem até
d o m i n a n t e s ,

nomicamente
parte do
ma parte
uma
do excede
excedente produzido
capturar
precisa burocracia
administratiua r
porquc Desse
e a
funções
mantersuas tan.
para mobilizado se afasta
atasta tanto da
utmento mobilizado
argumento
o tipo de coe
àngulo, entendia o Estado como
sustentado por
Marx, que entendia apa
qucle classe dominante, quanto
aos
interesses da do
rato
vinculado
a autonomia do Estado.
formulado por Engels,
para quem
momentos especificos.
estabelecia e m
se

e parlamento
Ponto de fuga: soberania

A elaboração de teorias e doutrinas políticas refletiu as mudan-


cas absolutistas. O conceito de soberania, por exemplo, tinha
origem medieval e dizia respeito ao sistema de privilégios favo-
ráveis à nobreza, criado a partir de redes de direitos e deveres
reciprocos. O termo "soberano" surge para designar a posição
Superior de alguém na estrutura hierárquica feudal65 Mas den
tro de um sistema de organização social descentralizado, em
que suditos nobres tinham força relativamente equitativa, 0
soberano não
conseguia exercer a autoridade suprema.
A
SItuaç0 muda com o advento da Reforma Protestane
no século xV1, uma
neira
verdadeira revolução ideológica. e ma-
inédita, a unidade D
espiritual da monopolizada
peia lgreja católica foi Europa monop
as
posta em questão. Ao mpo,
mesmo
n a s c e n -
disputas ameaçavam a
integridade territorial das "***
A sr a i z e s d U .

97

tes monarquias abs absolutistas e sua


pretensão de monopólio
es Os
do
Tda coerçâo. súditos e famílias dinásticas se
dividiram
1artidos" religiosos dispostos a resolver suas difem,
renças pela força.

De maneira algo esquemåtica, pode-se dizer que o norte da


Europa, a que se somavam zonas da Alemanha ea Inglaterra,
aderiu aos protestantes, enquanto o sulEspanha, Portugal e
Irália-permaneceu sob influência católica. Na região central
Eranca, Holanda, Suiça, Austria, Polônia e Hungria ins.
talaram-se conflitos de proporções significativas. Os "partidos"
atraDolavam os territórios, intervindo em países alheios, As
nativacões religiosas se somavam à busca por alterar a balanca

de noder entre os Estados, de modo que vários deles entraram

civil por conta dos confrontos.


em guerra
Na França, que, embora de maioria católica, abrigava expres
sivo contingente protestante, as lutas foram acirradas. Cada vez
mais sangrentas, as batalhas acabaram por favorecer teses sobre
a necessidade de reforçar um poder absoluto, capaz de controlar
os dois lados. Diante da guerra civil entre católicos e calvinistas
o massacre da Noite de
(huguenotes), cujo episódio crucial foi
São Bartolomeu, em 1572, O teórico francês Jean Bodin escreveu,
em i576, os Seis livros da República. A obra altera o conceito de

Soberania. Ela não é mais concebida como posição hierårquica


Superior meramente formal, mas sim como "o mais elevado,

aDsoluto e
de umna
perpétuo poder sobre os cidadãos e súditos
toi o di
Tepublica",66 O elemento que propiciou a modificação
arti-
este não teria mais gênese no sistema de privilgios

O e n t r e os mas no soberano, que


nobres do período feudal,
parla a
orgen
posição por vontade de Deus. A soberania, cuja
Sera
divina, é que criava o direito.
mOcraciaa
98

favorecia o Estado absoluticta


Bodin na luta
o livro de Jean
utilizando uma
das armas desta lti a-
contra a
lgreja,
sobre a origem do poder sobera
argumento teológico A
reivindicação papal de plenitudo potestatis no seio da Igreja es.

as futuras pretensões dos prinei


tabeleceuo precedente para pes
realizadas precisamente contra
seculares, com frequência a

exorbitància religiosa daquela."67


No outro lado do canal da Mancha, o filósofo Thomas Hoh
bes, um dos maiores autores jusnaturalistas,"8 completará a
"revolução" no conceito de soberania ao destacar que a sua ori.

gem não seria divina, como argumentava Bodin, mas natural,


fruto de um contrato de mútuo interesse hrmado pelos súditos.
Hobbes escrevia tendo em mente a aflição decorrente dos agu-
dos conflitos religiosos na Inglaterra, onde eles desencadearam
uma guerra civil e duas revoluções sucessivas, colocando em
pauta a ideia de um Estado centralizado, mas constitucional,
como veremos nos capítulos 3 e 4.
Segundo o historiador Quentin Skinner, foi Hobbes, autor
do Leviat, quem formulou a teoria completamente moderna
da soberania.6° Os passos
inaugurais foram dados pelo pen
samento romano, retomado pelos renascentistas, que com-
preendia a autoridade soberana como um cargo oficial, vale
dizer, exercido ex officio, em virtude de uma determinada
missão. Ainda que fosse um
cargo vitalício, devia-se separa-lo
da pessoa
particular que o ocupava. A originalidade de Hobbes
teria consistido em
realizar uma dupla
entre o
distinção: não só aquela
cargo soberano e a pessoa
tambem
particular que o ocupa, ia1s
entre o O
a
Estado soberano e
Estado, diz Hobbes, é um população a que servc
artefato humano- tal como uma
maquinaperfeitamente separado da comunidade, ecriau
do Estado moderno
As raizes
99

.araproteger seus memDrOS Tanto de ameaças internas à sua


teoridade física quanto de ameaças externas.
Seria por conta desse papel precípuo a
que existência do
Estado se justiicar1a, firmando sua
legitimidade perante a po-
alacão sobre a qual exerce
o
domínio. Para detalhar
ponto,
Hobbes imagina um
pacto de fundação da soberania, no qual
as futuros súditos decidem, entre si, transferir poder de mando
a uma autoridade indivisa e suprema, na
expectativa de que
esta venha a proteger suas vidas, segundo o adágio: Protego ergo
obligo ("Protejo, logo obrigo"). Em outras palavras, na medida
em que o Estado soberano fosse capaz de proteger os gover-
nados contra ameaças, ele teria o direito de submetê-los, pela
força, se necessário, a obedecer às ordens que emanava. Tal
dever, contudo, emerge de um direito antecedente inaliená-
vel-ainda que mínimo, no caso hobbesiano dos próprios

governados, o direito à vida.


Gestado no Medievo, o conceito de soberania acabou sendo
a pedra de toque do constitucionalismo moderno. Também
transformados no período absolutista, o parlamento e a re-
como ele, so uma instituição e um conceito ba-
presentação,
silares da política moderna. Por volta dos séculos x1vexv, em
vista da dispersão feudal, os reis convocavam os senhores de
terras e clérigos para trocarem informações e arquitetarem
noticias das
alianças. Os nobres repassavam aos monarcas as
even-
localidades, ao mesmo tempo que lhes cabia retransmitir
habitantes. Além disso, os encontros
tuais mensagens reais aos

a cobrança de im-
Serviam para se colocarem de acordo sobre
Postos, especialmente em tempos de guerra.

não era inter-


papel primário das assembleias representativas
endosso ås de-
Lcalar o consenso, mas garanti-lo por meio do
Estado e democracia

T00
t r a d u z i n d o - a s ,
de modo confiável
centro,
tomadas
pelo os parlamentoe
cisoes Nesse sentido,
äs localidades.
localid
volta ås
quando
de
o rei junto ao povoque
jur povo
r e p r e s e n t a v a m

mais
111edievais

J u n t oa 0rCi.

passaram ac.

Os p a r l a m e n t o s Ser
tempo,
Com o
decorrerdo apresentassem dema.
os l o c a i S an-
utilizados, em parte, para que
modificaram
suas funções, exerCend.
nd lo
nobres
das ao rei. Os
das
comunidades. Portanto, não era er

representativos
papéis entre reise aristocracia.
1a a
incomum que houvesse conflitos
Quandoa correlacãn
respeito da convocação
dos parlamentos.
tendia a se centralizar
de forças favorecia o rei, o poder politico
em corte real. Mais uma vez, o caso
ea converter o parlamento
Basta recordar a derrota queo cardeal
francês é paradigmático.
a França, entre I642 e I661, impôs
Jules Mazarin, que regeu
aos nobres na revolta da Fronda, em 1653. Não å toa, o reinado
do
seguiu, o de Luís xiv (1643-1715), toi apogeu absolu-
o
que se

tismo, no qual os nobres tranceses tornaram-se cortesãos em


Versalhes. Já quando os senhores se sobrepunham aos reis, o
poder político tendia à descentralização. Nesse caso, o exemplo
clássico é o da Inglaterra, onde os barões, com apoio da lgreja,
impuseram em 1215 a Magna Carta ao rei João 1, conhecido
como João Sem Terra (1199-1216).
Podemos definir o parlamento moderno como

uma assembleia ou um sistema de assembleias baseadas num

principio representativo", que é diversamente especificado, mas


aetermina os critérios da sua composicão. Essas assenmbielas
gozamde atribuições funcionais variadas, mas todas elas sc ca
acterizam por um
denominador comum: a participação eta
13mota. muito ou pouco TeCievante, na
ou ind
elaboração das leis
le s e

das opções políticas, a fim de que elas correspondam à "vontade

popular"

Dor que essa é uma deiniça0 moderna de parlamento? Por

duas razões: porque ela é baseada na ideia de "vontade popular

umaagència coletiva-como marca da soberania, virtual-


enfe ausente nas praticas medievais, e porque tornava o par-

lamento um espaço de deliberaçao, e não apenas de consulta.

É nele que atuam os representantes, responsáveis por geriro

poder coma delegação de quem não pode fazê-lo diretamente


veremos no capítulo 5.72 Pelo que ficou
-

os eleitores, como

dito, estáclaro que há um vinculo estreito entre parlamento


e

tenha
representação. Importa destacar que, embora a função
existido na ldade Média, não havia o termo "representante"
Como o nome "conselho régio" sugere, os nobres que exer
propriamente
Ciam funções representativas não participavam
do governo, constituindo-se numa espécie
de intermediários
antes do
entre as comunidades locais e os reis-até porque,
do qual
aDsolutismo, não havia um "governo" centralizado
concer-
e parlamento são
par. Soberania, representação
entre
einstituições fundamentais na articulação moderna
EStado e democracia, como se verá adiante.
estado
e democracia

uma

introdução
ao estudo

dn nolítica

Você também pode gostar