Você está na página 1de 26

Comuns da terra: potências e limites no uso de Community

Land Trusts como ferramenta de luta emancipatória.


Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental (IEE-USP)
Link para download

ALUNA: CAMILA JORGE HADDAD


O R I E N TA D O R A : P R O FA . D R A . TAT I A N A R O T O N D A R O
P E R G U N TA D E P E S Q U I S A

Os TTCs podem ser ferramentas para criação


de comuns da terra?
Quais são os limites para que sua aplicação no Brasil se estabeleça de forma emancipatória?
1

Introdução
C O N T E X T O , P E R G U N TA D E P E S Q U I S A E M E T O D O L O G I A
Contexto
• O capitalismo financeirizado, em suas múltiplas crises de caráter especulativo, H E C TA R E S

migrou para a terra como alternativa de investimento rentável. TRANSACIONADOS


EM 2020

• Movimento de despossessão ou expulsão das pessoas mais vulneráveis dos seus 2,7 mi
territórios, e também modos e projetos de vida (SASSEN, 2016).
• Uma crise multidimensional requer soluções inovadoras e emancipatórias, que
superem a dualidade Estado x Mercado (FRASER, 2020). MORTE POR
CONFLITOS NO

• Movimentos de resistência das últimas décadas são heterogêneos e distintos das CAMPO 2021

lutas operárias do século XIX e XX. +1100%


• O comum surge como uma alternativa: modos de vida, produção, reprodução
radicalmente democráticos e necessariamente coletivos. DÉFICIT
• É possível pensar alternativas à propriedade da terra a partir do arcabouço do H A B I TA C I O N A L 2 0 1 9
comum? 5,8 milhões
2

A Propriedade
A P R O B L E M ÁT I C A D A P R O P R I E D A D E C A P I TA L I S TA D A T E R R A
A terra como A R E L A Ç Ã O H O M E M - N AT U R E Z A

nexo de "a função econômica é apenas uma entre as muitas funções vitais da terra. Ela
questões dá estabilidade à vida do homem; é o local de sua habitação, é a condição de
sua segurança física, são as paisagens e as estações do ano. Imaginar a vida do
socioambientais homem sem a terra é o mesmo que imaginá-lo nascendo sem mãos e pés. E, no
contemporâneas entanto, separar a terra do homem e organizar a sociedade de forma tal a
satisfazer as exigências de um mercado imobiliário foi parte vital do conceito
utópico de uma economia de mercado" (POLANYI, 2012, p. 199).
A ACUMULAÇÃO NO NEOLIBERALISMO

Quando esgota suas possibilidades de obter lucro pela exploração do trabalho,


o capitalismo se utiliza de outras formas de acumulação, sempre predatórias,
muitas delas ligadas à ocupação da terra (grilagem, invasão de terras públicas,
processos de "revitalização" urbana que expulsão a população para as
periferias).
3

O Comum
U M P R I N C Í P I O P O L Í T I C O P A R A A S L U TA S E M A N C I P AT Ó R I A S
Os comuns e Os comuns são bens (ex: os peixes que estão em um rio); e o comum - no singular -
são a prática anticapitalista que cria os comuns (ex: as práticas/regras
o comum. comunitárias que garantam que todos possam pescar sem depredar).
TERRA OU TERRITÓRIO?

Comuns da terra como as práticas de produção, reprodução e (auto)governo, baseadas na cooperação


e no compartilhamento, que geram direitos e obrigações, e estão diretamente implicadas no espaço.
É o comum que faz da terra um território.
O COMUM NA CORRENTE CRÍTICA

Hardt e Negri Dardot e Laval Silvia Frederici


Problemática Império Racionalidade neoliberal Novos cercamentos
Via de superação Produção do comum Instituição do comum Comunização da reprodução
Sujeito político Multidão Populações engajadas em lutas Mulheres
instituintes
O comum é, ao mesmo tempo, Os comuns aparecem como
as riquezas materiais e O comum é a práxis que relações sociais, modos de vida
Definição do comum imateriais, a nova forma de
organização social da
institui o inapropriável. É
dessa atividade que surgem os coletivos, produto da prática
multidão, e, principalmente, “bens” comuns política de luta contra os
um novo modo de produção. cercamentos.
Abrir a propriedade (em sua Decidir quais coisas serão Propriedade compartilhada das
Novas formas de forma pública ou privada) ao inapropriáveis, instituindo um riquezas naturais e sociais,
propriedade uso comum a partir de formas direito de uso expandido que destinada ao uso de todos os
diversas de impeça o direito ao capital. integrantes, e indisponível para
compartilhamento. venda.
ESTRUTURA ANALÍTICA

01 sobre os outros direitos


PRIMAZIA DO USO

02 e cooperação internas
RELAÇÕES DE CUIDADO

03 sobre a terra ocupada


C O N T R O L E C O M U N I TÁ R I O

04 da comunidade do CLT
PA RT I C I PAÇ ÃO P O L Í T I C A
4

Os TTCs na prática
E SEU POTENCIAL NA CRIAÇÃO DE COMUNS DA TERRA
PA N O R A M A D O S C AS O S E ST U DA D O S

19 CLTs, sendo 13 com dados individualizados


15 nos Estados Unidos (os demais em Porto Rico, Quênia, Bélgica e Reino Unido)
7 usos além de habitação (Horta, Agricultura Comercial, Estufa, Espaços
comerciais, Áreas Verdes, Área de Preservação, Espaço para Idosos)
11 de 13 em áreas urbanas, 1 periurbana e 1 rural.
15% em assentamentos informais.
46% em territórios majoriatariamente negros ou de populações de imigrantes.
Primazia do uso • Percebida a partir da luta pela permanência, nos múltiplos usos guiando o
sobre os outros design dos CLTs, e na visão da casa pelo seu valor subjetivo, de moradia,
direitos espaço de pertencimento em contraposição ao valor de
mercado/investimento.
• Ainda assim, em alguns casos, vemos como a lógica proprietária não é tão
facilmente superada.
Relações de • Percebida a partir da preferência pelas pessoas mais vulneráveis na
cuidado e comunidade de usuários (justa distribuição), e pelas cooperação e
coletivização da produção e da reprodução.
cooperação • Existe uma tensão em relação à comunidade do entorno, quando um CLT
muda o perfil dos usuários ou quando gera melhorias sem o efeito mitigador
da gentrificação.
• Em CLTs criados por agentes externos, há pouco senso de comunidade e
dependência da equipe do CLT para mantenção de laços.
Controle • Esse elemento se dá tando pela participação/mobilização comunitária na
comunitário origem do CLT, na sua participação formal nas instâncias de governança e na
contínua mobilização interna da comunidade de usuários e expandida.
sobre a terra • Esvaziamento da participação: arrefecimento da mobilização com a
ocupada conquista da terra ou da casa, assim como a mudança na composição das
instâncias de governança com o cresimento dos CLTs são riscos relevantes.
CLTs como • Como agente coletivo, o CLT tem maior capacidade de mobilização e luta
ferramenta de para melhorar o território de atuação, assim como reivindicar direitos de
forma mais ampla.
luta política • A depender de sua configuração e contexto, os CLTs podem se posicionar
como instrumentos puramente técnicos, serem vozes nos processos de
planejamento, ou uma ferramenta emancipatória na luta por direitos.
CLTs no Brasil
• Comunidades Catalisadoras e o projeto Termo
Territorial Coletivo.
• Desafios: ideologia da propriedade individual,
financiamento, conservadorismo jurídico
(RIBEIRO, 2021), arrefecimento da participação,
perda de controle comunitário.
• Caminhos possíveis: mobilização contínua,
pensamento crítico sobre o território, produção e
reprodução compartilhadas, modelos de
financiamento distribuídos e alianças estratégicas.
Considerações finais
• O modelo dos CLTs, por si só, não confirma nem refuta a ideia de comuns da terra.
• É inerentemente flexível para se adaptar a diferentes usos e contextos, o que significa que arranjos muito distintos podem
se nomear indistintamente como CLTs.
• A flexibilidade garantiu sua expansão e popularidade, mas também levou, em alguns casos, a um esvaziamento do
conteúdo político.
• Os CLTs estudados apontam para diferentes destinos: cooptação, reforma ou emancipação.
• Observando as conquistas e dificuldades de cada caso, juntamento com o que se tem produzido no Brasil, foi possível
delinear alguns apontamentos para uma prática emancipatória e abrir uma janela para pesquisas futuras.
OBRIGADA!

CRÉDITOS

@Julian Ebert
@Duangphorn Wiriya
@Matilde Marie
Proud Ground CLT
Dudley Street CLT
Caño 3 punto 7
Roots and Branches
Cooper Square CLT
Projeto TTC
OBJETIVOS

Investigar casos de CLTs operacionais para analisar se e como


eles atuam na produção e instituição de comuns da terra.
1. Entender os desafios e as problemáticas criadas pela propriedade capitalista da terra, especialmente no Brasil;
2. Revisar a literatura contemporânea crítica sobre o comum, para chegar a elementos que nos permitam analisar os CLTs;
3. Encontrar casos de CLTs operacionais já estudados, para avaliar o quanto os elementos do comum se fazem neles presente;
4. A partir da análise dos referidos casos, apontar, de forma preliminar, os principais desafios identificados, bem como
caminhos para sua superação, permitindo que a implementação de CLTs no Brasil seja favorável ao estabelecimento de
comuns.
Sobre o modelo
• Calcado nos conceitos de custódia da terra e comunidade.
• Estão presentes na governança: organização custodiante, comunidade de usuários, comunidade ampliada, agentes
externos.
• A organização custodiante é proprietária da terra e é total ou parcialmente proibida de vendê-la, as pessoas tem a
propriedade individual das construções e benfeitorias.
• "Opção preferencial pelos pobres".
• Não pode ser considerado inerentemente o comum, podendo ser um modelo reformista ou transformador.
• Potência ao analisar a propriedade como feixe de direitos: queremos "enterrar" o direito ao capital.
Modelo no Brasil
Mapa de CLTs no Mundo
Casos de
operacionais
CLTs estudados

Você também pode gostar