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06/08/2021

CURSO
Engenharia em Geotecnia (M. Eng.)

DISCIPLINA
Geotecnia Aplicada a Resíduos Urbanos

PROFESSOR
DSc. Eng. Cícero Antonio Antunes Catapreta

RESÍDUOS SÓLIDOS e REJEITOS - CONCEITO

Lei 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos)

Resíduos Sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de


tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a
disposição final ambientalmente adequada.

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

1. Paradigma: resíduos como nova unidade geotécnica.


2. Mecânica dos resíduos = aplicação de conceitos e métodos da Mecânica
dos Solos.
3. Dificuldades principais de trabalhar/entender o comportamento dos
resíduos sólidos:
▪ Heterogeneidade
▪ Variação das características ao longo do tempo
▪ Pouca disponibilidade de dados históricos (importância de publicar)
▪ Ausência de modelos específicos (vêm sendo desenvolvidos)

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA – RSU

A composição física dos resíduos sólidos, caracterizada pela composição


gravimétrica de seus componentes, é obtida através da determinação de cada
componente e, a partir desta constituição, permite que sejam pesquisados, por
análises químicas, os teores de Carbono, Nitrogênio, Fósforo, Potássio e
outros componentes essenciais para o estudo da destinação final,
principalmente do reaproveitamento e reciclagem de resíduos, do
dimensionamento de usinas de tratamento ou transformação e de usinas de
incineração .

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA DOS RSU:

1. Característica de grande influência nas propriedades geomecânicas dos


RSU.
2. Varia com o local (hábitos e desenvolvimento econômico da população).
3. Varia com o tempo (mudança dos hábitos da população ou flutuações na
economia).

Geralmente:

▪ Materiais putrescíveis (resíduos alimentares, resíduos de jardinagem e


varrição, e demais materiais que se decompõem rapidamente)
▪ Papéis/papelões
▪ Plásticos
▪ Madeiras/couro/borrachas
▪ Metais
▪ Vidros
▪ Outros (entulhos, espumas, solos, cinzas, tecidos, óleos, graxas, resíduos
industriais não perigosos etc.)

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Fonte: IBAM, 2005.

Fonte: IBAM, 2005.

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Segundo Sowers (1973):


COMPONENTE CARACTERÍSTICAS

Resíduos alimentares Muito úmido, putrescível, degradação rápida, compressível.

Papel, trapos Seco a úmido, degradável, inflamável, compressível.

Resíduos de jardinagem Úmido, putrescível, degradável, inflamável.

Plástico Seco, compressível, pouco degradável, inflamável.

Metais Seco, corrosivo, pode ser amassado.

Metais maciços Seco, fracamente corrosivo, rígido.


Seco, inflamável, compressível, não pode ser amassado, pouco
Borracha
degradável
Vidro Seco, pode ser amassado, compressível, pouco degradável.

Madeiras, espumas Seco, pode ser amassado, compressível, degradável, inflamável

Entulho de construção Úmido, pode ser amassado, erodível, pouco degradável.


Úmido, possui características de solo, compressível, pode ser ativo
Cinzas, pó
quimicamente e parcialmente solúvel.

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO FÍSICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM BH


Ano de Realização do Estudo (% peso úmido)
Parâmetro
1972(1) 1985(1) 1991(1) 1995(2) 2004(3)
Papel 16,77 13,44 10,7 8,11 8,39
Papelão - 2,43 2,8 3,3 1,13
Vidro 2,07 1,48 2,22 2,39 2,85
Madeira 0,93 0,97 0,56 0,53 0,99
Metal ferroso - 2,3 2,5 2,26 1,75
Metal não ferroso 3,32 - 0,2 0,38 0,54
Plástico 1,9 4,92 6,5 11,27 10,88
Trapo 2,19 2,94 1,5 2,27 2,45
Couro 0,28 1,42 0,2 0,26 0,21
Folhagem - 6,53 5,4 2,04 9,05
Borracha 0,09 1,56 0,42 0,27 0,39
Animal - 0,18 - - -
Osso 0,11 - - 0,07 -
Cerâmica 0,38 - 0,15 - 0,3
Alimento - 8,94 - - -
Matéria orgânica putrescível 69,88 52,89 64,4 65,4 52,54
Outros (pedras, etc.) 2,08 2,45 1,45 8,53
Total 100 100 100 100 100

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

ÍNDICES FÍSICOS

▪ Peso específico
▪ Teor de umidade
▪ Peso específico dos grãos
▪ Peso específico aparente seco, índice de vazios, porosidade, saturação.

▪ Problema: amostragem

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

PESO ESPECÍFICO DOS RSU

Resíduos soltos: 1,5 a 3,5 kN/m 3


Resíduos compactados (Fassett et al., 1994):
- Resíduo mal compactado = 3 a 8 kN/m 3
- Resíduo moderadamente compactado = 5 a 9 kN/m 3
- Resíduo bem compactados = 10 a 11 kN/m 3

Determinação: pode ser determinado in situ (vala, percâmetro) ou estimado por


controle de operação (topografia e quantidade disposta).

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

PESO ESPECÍFICO DOS RSU

Determinação do peso específico de alguns constituintes de RSU (McDouglall ,et al., 2004)

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

TEOR DE UMIDADE

▪ Muito difícil de obter: varia com a pluviometria, condições de drenagem


interna e superficial do maciço, composição dos RSU, e profundidade, além
de não haver ensaios normalizados.
▪ Na bibliografia internacional, valores de 15% até superiores a 130%.
▪ Não existe ainda um consenso quanto à variação da umidade nos maciços
de RSU com a profundidade.
▪ Fundamental na velocidade de degradação dos materiais putrescíveis e,
conseqüentemente, nos recalques dos maciços de RSU.

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

TEOR DE UMIDADE

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

CAPACIDADE DE CAMPO

• A capacidade dos campo de resíduos sólidos é a quantidade total de


umidade que pode ser retida numa amostra de resíduos (teor de umidade
que a porosidade do material armazena em seus poros) em oposição à
força da gravidade (TCHOBANAGLOUS (1993) .

• Importância: determinação da formação do lixiviado nos aterros sanitários (a


água que exceder a capacidade de campo produzirá lixiviado).

• Varia com a intensidade de pressão aplicada e com o estado de


decomposição dos resíduos.

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

PROPRIEDADES GEOMECÂNICAS

• Permeabilidade
• Resistência ao cisalhamento
• Compressibilidade

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

PERMEABILIDADE

• Projeto de sistemas de drenagem interna de líquidos lixiviados e biogás


• 10-4 a 10-8 m/s
• Valores nacionais inferiores aos da bibliografia internacional
• Pressões de gás de até 170 kPa (Kaimoto & Cepollina, 1996)

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

PERMEABILIDADE

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

• Envoltória de Mohr-Coulomb: coesão e ângulo de atrito


• RSU são granulares;
• Efeito-fibra;
• Elevadas deformações sem atingir ruptura em ensaios: parâmetros
especificados a um nível de deformação
• Parâmetros se alteram com o tempo

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Efeito fibra

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Estimativa dos parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito)

• Ensaios de laboratório
• Ensaios de campo
• Retroanálises de rupturas

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Dados retroanálises (Simões, 2018) citando vários autores:

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Dados ensaios de campo (Simões, 2018) citando vários autores:

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Dados ensaios de laboratório (Simões, 2018) citando vários autores:

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU

▪ A ocorrência de recalques em aterros sanitários tem sido bastante


investigada nos aterros brasileiros nos últimos anos.
▪ Ainda observa-se uma ausência significativa de dados sobre o desempenho
de aterros sanitários brasileiros, principalmente devido à não realização de
um acompanhamento sistemático dessas obras, através de instrumentação
adequada.
▪ Os resíduos sólidos dispostos em um aterro sofrem grandes recalques,
▪ Estimativas de recalques totais de aterros sanitários variam de 25 a 50 %
(Wall & Zeiss, 1995; Edgers et al., 1992). Segundo Ling et al. (1998), os
recalques finais em um aterro sanitário podem ser de 30 a 40% da altura
inicial, ao longo de sua vida útil.
▪ A ocorrência de recalques, no entanto, é indesejável para a manutenção do
aterro, já que pode causar o desenvolvimento de trincas e rupturas no
sistema de cobertura, acúmulo de água no topo do aterro, comprometimento
dos sistemas de drenagem de líquidos e gases (Ling et al., 1998; Bjarngard &
Edgers, 1990; Edgers et al., 1992; Singh, 2005).

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU

A magnitude dos recalques em aterros sanitários é influenciada por diversos


fatores, incluindo:

▪ Composição dos resíduos e porcentagem de material degradável;


▪ Peso específico e índice de vazios dos resíduos;
▪ Dimensões do aterro;
▪ Técnicas de compactação;
▪ História de tensões, envolvendo todas as etapas de operação e após o
fechamento;
▪ Pré-tratamento dos resíduos (incineração, compostagem, mistura,
fragmentação etc.);
▪ Nível e flutuação dos líquidos no interior da massa;
▪ Existência de sistemas de extração de gases;
▪ Fatores ambientais, tais como teor de umidade, temperatura e gases,
presentes ou gerados no interior da massa.
▪ Método de operação do aterro, com ou sem recirculação de líquidos
lixiviados.

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU

Mecanismos de recalque

Solicitação Mecânica (distorção, dobra, esmagamento, quebra e rearranjo),


Dissipação de Pressões Neutras, Alterações Físico-Químicas (corrosão,
oxidação e combustão), Biodegradação, Ravinamento Interno e “Creep”
(deformação lenta e contínua dos resíduos).

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU

Importância

▪ Estimativa a vida útil do aterro sanitário;


▪ Reaproveitamento das áreas após o encerramento da disposição;
▪ Monitoramento geotécnico do maciço;
▪ Projeto e implantação dos sistemas de drenagem superficial e de drenagem
de efluentes; e
▪ Desempenho do sistema de cobertura

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU

Estágios da compressibilidade

Os recalques ocorrem essencialmente em três estágios distintos, conforme


descrito por Wall & Zeiss (1995) e Ouvry & Page (2005):

▪ Compressão inicial (ou mecânica);

▪ Compressão primária (compactação devida à dissipação de poro pressões


dos espaços vazios e ocorre rapidamente);

▪ Compressão secundária (devida ao peso do corpo do aterro e à


decomposição biológica).

CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU

Estágios da compressibilidade
Estágios de tempo-recalque típicos para um aterro de resíduos sob uma carga
( Liu et al., 2006) Sólidos Inertes Estáveis

Materiais altamente deformáveis


Materiais degradáveis

1 - 3 meses 1 - 3 anos 10 - 30 anos Tempo (log)

Estágio II
Recalque Primário

Recalque Secundário

Estágio IV
Recalque em função da biodegradação
Recalque (%)

Estágio V
Recalque residual

▪ Estágio I – recalque instantâneo, por meio de compressão mecânica devida ao decaimento de macro-poros devido ao
movimento de deformação de resíduos altamente deformáveis;
▪ Estágio II – recalques mecânico primário com compressão contínua e ajuste de resíduos;
▪ Estágio III - deformação mecânica secundária devido ao arraste de resíduos e a decomposição inicial de material orgânico;
▪ Estágio IV - decomposição primária de material orgânico;
▪ Estágio V - deformação residual mecânica e biológica.

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

COMPRESSIBILIDADE DOS RSU Modelo Pesquisador


Edil et al. (1990)
Modelo Reológico Bleiker et al. (1995)
Chen & Chou (1998)
Modelos de previsão de recalques Função logarítmica Yen & Scanlon (1975)
Edil et al. (1990)
Power creep law Punyamurthula (1995)
Zhao et al.(2001)
Método da Regressão Função hiperbólica Ling et al. (1998)
Bjarngard & Edgers (1990)
Função bi-linear Jesseberg & Kockel (1991)
Stulgis et al. (1995)
Função multilinear Deutsch, Jr. et al. (1994)
Sowers (1973)
Yen & Scanlon (1975)
Rao et al. (1977)
Oweis & Khera (1986)
Bjarngard & Edgers (1990)
Edil et al. (1990)
Landva & Clark (1990)
Modelos baseados em expressões semelhantes às
Morris & Woods (1990)
da teoria de adensamento de solos
Wall & Zeiss (1995)
Deusch, Jr. et al.(1994)
Fasset et al. (1994)
Boutwell & Fiore (1995)
Stulgis et al. (1995)
Ourry & Page (2005)
Gourc & Oliveir (2005)
Wall & Zeiss (1992)
Diaz et al. (1995) e Espinace et al. (1999)
Park & Lee (1997/2002)
Modelo de Biodegradação
Edgers et al. (1992)
Simões (2000)
Marques et al. (2003)
Fonte: adaptado de Liu et al. (2006).

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