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Disciplina: PEDOLOGIA

Prof. Eurico L. de Sousa Neto

Textura do Solo

A textura de um solo constitui-se numa das características mais estáveis do


solo e representa a distribuição das partículas do solo quanto ao tamanho. A grande
estabilidade faz com que a textura seja considerada elemento de grande importância
na descrição, identificação e classificação do solo. A textura confere alguma qualidade
ao solo, no entanto, sua avaliação apresenta conotação prioritariamente quantitativa.
Areia, silte e argila são as três frações texturais de um solo que apresentam
amplitudes de tamanho variáveis em virtude do sistema de classificação adotado.
Existem diversos sistemas de classificação, todos baseados em critérios arbitrários
na separação dos tamanhos das diversas frações. Contudo, dois sistemas são
considerados os mais importantes, são eles: Sistema Norte Americano, desenvolvido
pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e Sistema
Internacional ou Atterberg desenvolvido pela Sociedade Internacional de Ciência do
Solo (ISSS) (Quadro 1).
Apesar da classificação dos grupos de partículas serem arbitrária, ela segue
determinados princípios básicos, especialmente quanto à capacidade de retenção de
água, condutividade hidráulica, movimento capilar, mineralogia, além de propriedades
químicas (CTC). Com base nisto estabeleceu-se o limite principal de separação de
partículas como sendo 0,002 mm. Este ponto separa, aparentemente, física e
quimicamente o material de maior atividade (argilas) do material grosseiro,
considerado inerte. Existe uma grande correlação ente quantidade de partículas com
diâmetro inferior a 0,002mm e a CTC, a água não disponível e a superfície específica
respeitada as variações na mineralogia e no teor de matéria orgânica do solo.

Quadro 1. Frações granulométricas encontradas nos Sistemas de Classificação Norte


Americano (USDA) e Internacional (ISSS).
Sistemas
Frações
USDA ISSS
--------------------Diâmetro (mm)-------------------
Areia muito grossa 2-1 -----
Areia grossa 1-0,5 2-0,2
Areia média 0,5-0,25 -----
Areia fina 0,25-0,10 0,2-0,02
Areia muito fina 0,10-0,05 -----
Silte 0,05-0,002 0,02-0,002
Argila <0,002 <0,002

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Natureza das frações do solo


Fração areia
As partículas de areia são aquelas com diâmetro entre 0,05 e 2,00 mm. Elas
podem ser arredondadas ou angulares, dependendo do grau de desgaste que elas
tenham sofrido pelo processo abrasivo durante a formação do solo.
Ao tato apresentam aspecto de aspereza e geralmente são visíveis ao olho nu. Em
virtude do seu grande tamanho, entre as partículas de areia, existe um grande espaço
o que promove o fluxo facilitado de água e ar no solo.
Fração silte
Compreende partículas com diâmetro menores que 0,05 mm e maiores que 0,002
mm, não são visíveis ao olho nu e nem apresentam aspecto de aspereza. Em função
do seu diâmetro reduzido, são mais propendas à ação do intemperismo, liberando
quantidades significativas de nutrientes para as plantas.
Embora o silte seja formado por partículas com formato similar as partículas de
areia, ele apresenta sensação de sedosidade ao tato. Os poros (espaços) entre as
partículas de silte são menores, dessa forma, o silte retem mais água e permite uma
menor taxa de drenagem (quando comparados à fração areia).
Fração argila
As partículas com diâmetro menor que 0,002 mm são classificados como
argilas, pelo fato de possuírem uma grade área específica apresentam uma enorme
capacidade de adsorção de água e outros compostos químicos.
A argila compreende uma partícula tão pequena que se comporta como um
colóide quando suspensa em água não se depositando facilmente. Os poros
(espaços) entre as partículas de argila são extremamente pequenos e irregulares, o
que confere movimento lento de água e ar no solo.
É a fração argila que mais influência o comportamento físico do solo. Sua
superfície é carregada negativamente, sendo que suas cargas negativas são
neutralizadas por uma “nuvem” de cátions.
As cargas da superfície da partícula mais os cátions neutralizantes formam a dupla
camada elétrica. A “nuvem” de cátions consiste de uma camada mais ou menos fixa
na proximidade da superfície da partícula chamada de Stern, e uma parte difusa
estendendo-se até certa distância da superfície da partícula. A atração de um cátion

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a uma micela de argila carregada negativamente, geralmente aumenta com o


aumento da valência do cátion (Figura 1A).
Assim quando existirem um grande número de cátions di ou tri-valentes, estes
proporcionaram uma grande atração entre as partículas promovendo a floculação
(Figura 1B), por sua vez os cátions monovalentes são mais facilmente repelidos do
que cátions di ou trivalentes, cátions altamente hidratados tendem a ficar mais longe
da superfície da partícula e, portanto mais facilmente trocados do que cátions menos
hidratados. Dessa forma, os cátions monovalentes formam uma dupla camada
espessa causando a dispersão (Figura 1C). A ordem de preferência de troca de
cátions nas reações geralmente é a seguinte: Al+3>Ca+2>Mg+2>K+>Na+>Li+

Dupla Camada Elétrica


Partícula de argila

+ + + +

+ + + +

A
Dupla Camada Elétrica Dupla Camada Elétrica
Partícula de argila
Partícula de argila

Na+ Na+
Al+3 Ca+2
K+ Li+
Mg+2 Ca+2

C
B
Figura 1. Comportamento entre partículas de argila e cátions presentes. A) dupla
camada em situação normal; B) dupla camada reduzida (floculação) e C)
dupla camada aumentada (dispersão).

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Tabela 2. Influência das frações texturais nas propriedades e/ou comportamento dos
solos.
Propriedade e/ou comportamento Areia Silte Argila
Capacidade de retenção de água Baixa Média e alta Alta
Aeração Boa Média Baixa
Alta Lenta a Muito lenta
Taxa de drenagem
Média
Teor de matéria orgânica no solo Baixo Médio a Alto Alto a Médio
Suscetibilidade à compactação Baixo Médio Alta
Suscetibilidade a erosão hídrica Moderada Alta Baixa
Baixa Alta Moderado a
Suscetibilidade a erosão eólica
muito alto
Capacidade para construção de Baixa Baixa Alta
barragens e aterros
Potencial de lixiviação de poluentes Alto Médio Baixo
Capacidade de armazenamento de Baixo Médio a Alta Alto
nutrientes
Resistência à mudança de pH Baixa Média Alta

Determinação da Textura do Solo


A análise e a determinação da distribuição das partículas de uma amostra de
solo quanto ao tamanho é, geralmente, denominada análise textural ou
granulométrica. Porém alguns pesquisadores consideram o termo análise textural
incorreto, exceto quando a análise envolve todas as classes de frações possíveis de
estarem presentes no solo, e não apenas aquelas menores que 2,00 mm. Nesse caso
a denominação “análise textural” seria mais correta.
A textura do solo pode ser determinada por dois métodos:
A) Teste de campo
Neste teste procura-se correlacionar a sensibilidade ao tato com o tamanho e
distribuição das partículas unitárias do solo. A areia dá sensação de atrito (aspereza);
o silte, da sedosidade e argila, plasticidade e pegajosidade. Essa avaliação é muito
subjetiva e como tal muito sujeita ao erro.

B) Análise textural ou mecânica ou granulométrica


A análise textural é feita no laboratório e tem por finalidade fornecer e
distribuição das partículas unitárias menores que 2,00 mm. O êxito da análise textural
está na dependência de se conseguirem suspensões de solo onde suas partículas se
apresentem realmente individualizadas e assim se mantenham até sua separação e
quantificação.

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De modo geral, pode-se considerar a marcha analítica dos métodos de análise


textural em três fazes: pré-tratamentos, dispersão e separação das frações do solo.

B 1) Pré-tratamentos
A fase do pré-tratamento tem pra finalidade eliminar os agentes cimentantes,
os íons floculantes e sais solúveis que podem afetar a dispersão e estabilização da
suspensão do solo. São exemplos de pré-tratamentos:
Remoção da matéria orgânica: realizada em solos com teores de matéria
orgânica superior a 5% os principais compostos químicos utilizados para remoção de
matéria orgânica são a água oxigenada (H2O2) e o hipoclorito de sódio (NaClO).
Remoção de carbonatos: promovida com o uso de tratamentos ácidos.
Recomenda-se a utilização de ácido clorídrico (HCl) 10 % ou hexametafosfato de
sódio (calgon).
Remoção de sais solúveis: uma das maneiras mais eficientes em se eliminar
os sais de uma amostra de solo á através da lavagem e lixiviação. Para isto,
geralmente é utilizado água destilada, completando-se com filtragem ou
centrifugação, pode-se ainda utilizar álcool etílico 60 % nesse processo de lavagem.
Pode concluir que a fase dos pré-tratamentos não é intensamente empregado
para solos brasileiros, uma vez que eles geralmente apresentam baixos teores de
matéria orgânica e carbonatos.

B 2) Dispersão
A fase da dispersão tem por finalidade destruir os agregados do solo,
transformando-os em partículas individualizadas que deverão permanecer em
suspensão estável durante toda a marcha analítica.
As argilas, ao se desidratarem, podem exerce considerável força coesiva que
cimenta vigorosamente os agregados do solo. Fica, neste caso, a dispersão
condicionada à sua re-hidratação. Pesquisas realizadas a esse respeito mostraram
que, pára conseguir uma suspensão de solo efetivamente dispersa, há necessidade
de substituir cátions Ca+2, Mg+2 e H+ que mais frequentemente são encontrados
saturando as argilas, por outros cátions monovalentes mais hidratáveis, como o Li +,
Na+, K+, NH4+. A presença desses cátions mais hidratáveis aumenta o potencial

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elétrico das partículas de argila, proporcionando, assim condições favoráveis de


estabilidade para as suspensões do solo.
Para se obter a dispersão máxima das amostras de solo há necessidade de se
combinar o uso de métodos mecânicos e químicos.
Os métodos mecânicos mais frequentemente usados são: agitação suave e
demorada, agitação violenta e rápida, aquecimento e desagregação manual.
Dentre os compostos químicos mais empregados, destacam-se os compostos
de lítio e sódio, por serem os mais eficientes. Apesar dos compostos de lítio ser mais
ativos, generalizou-se o uso do hidróxido de sódio e do calgon, por serem mais
facilmente encontrados no comércio e mais baratos.
Embora ainda pouco utilizado no Brasil, a dispersão pode também ser feita por
meio de vibração ultra-sônica.

B 3) Separação das frações texturais


Nesta fase, as partículas do solo, já previamente individualizadas, são
separadas em grupos. As frações mais grosseiras, ou seja, as areias são separadas
por tamisagem, utilizando-se peneiras diversas, conforme o sistema de classificação
adotado. As frações mais finas (silte e argila) são separadas por meio de
sedimentação das partículas. Nessa separação, utilizando-se da Lei de Stokes,
calculam-se os tempos de sedimentação das frações, para posterior determinação
das frações em suspensão.

B 4) Métodos de análise textural


A análise textural pode ser efetuada basicamente por dois grupos de métodos,
segundo a técnica utilizada na separação das frações silte e argila:
Método da Pipeta: é especialmente utilizado para determinação da argila
podendo determinar, também a fração silte. É um método de sedimentação, utilizando
a pipeta para coletar uma alíquota a profundidade e tempo determinado. Embora seja
reconhecido com método mais preciso, é muito demorado.
Método do hidrômetro (BOUYOUCOS): foi proposto em 1926, por
BOUYOUCOS, que também empresta seu nome ao método. O método baseia-se no
princípio de que o material em suspensão (silte a argila) confere determinada
densidade ao líquido, com a ajuda de um hidrômetro, BOUYOUCOS relacionou as

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densidades com o tempo de leitura e com a temperatura, calculando-se com esses


dados à percentagem das partículas. O método é relativamente rápido, porém pouco
preciso.

Classificação textural
Três grupos principais de classes texturais são conhecidos: solo arenoso,
franco e argiloso. Dentro de cada grupo, classes texturais específicas fornecem uma
idéia da distribuição do tamanho de partículas (Tabela 3).

Tabela 3. Relação entre textura e classe textural.


Termos Gerais
Classe Textural
Nomes Gerais Textura
Arenoso
Solos arenosos Grosseira
Areia franco
Moderadamente Franco arenosa
grosseira
Franco
Média Franco siltoso
Solos franco
Siltoso
Franco argiloarenosa
Moderadamente fina Franco argilosiltosa
Franco argilosa
Argilosa arenosa
Solos argilosos Fina Argiloso siltoso
Argiloso

Baseados em valores quantitativos, uma forma de se determinar a classificação


textural de um solo é baseada nos diagramas ou triângulos texturais. Existem vários
modelos de triângulos texturais, no Brasil são usados dois triângulos: o da Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, baseado no sistema de classificação do USDA e do
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com base no sistema de classificação da
ISSS.

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Figura 2: Diagrama textural adotado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.


Exemplo de utilização do diagrama textural: Após a análise textural o solo apresenta:
45 % de argila; 25 % de areia e 30 % de silte.
1º Traçar uma reta paralela ao ponto referente a 45 % de argila.
2º Traçar uma reta paralela ao teor de 25 % de areia.
3º A intersecção das duas retas coincide como teor de silte, no caso 30 %
4º A junção das três retas determinara a qual classe textural pertence o solo.
5º No exemplo solo apresentará textura argilosa.

Figura 3. Exemplo de determinação gráfica da classe textural de um solo

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