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12 Desemprego
se preocupam mais com alguns tipos de desemprego do que outros. A qualquer hora, por
exemplo, muitas pessoas estão “entre” empregos. Ou elas acabaram de pedir demissão
ou foram demitidas, ou elas acabaram de entrar (ou entrar novamente) no mercado de
trabalho. Leva tempo para aprender e localizar as oportunidades de emprego disponíveis.
Portanto, mesmo uma economia de mercado que esteja funcionando de forma ótima, onde
o número de empregos disponíveis equivale ao número de pessoas à procura de trabalho,
exibirá algum desemprego quando os trabalhadores estão procurando trabalho.
Em outras palavras, o nível de equilíbrio de desemprego não será zero. No entanto,
esse tipo de desemprego “friccional” não consegue explicar por que quase 25% da força de
trabalho dos Estados Unidos estava desempregada no auge da Grande Depressão, em 1933,
ou por que a taxa de desemprego chegou a 9,7% na recessão de 1982. Muitos trabalhadores
parecem estar desempregados não porque estão entre empregos, mas por causa de um
desequilíbrio fundamental entre a oferta e a demanda por trabalhadores.
Este capítulo mostra como as atividades de busca por emprego geram desemprego
em uma economia competitiva e identifica alguns dos fatores que podem prevenir o
mercado para se equilibrar – mesmo depois de se levar em conta as atividades de busca
por trabalho. Os economistas têm sido especialmente engenhosos em criar histórias de
como o desemprego surge em mercados competitivos. Cada teoria em particular con-
segue explicar certos aspectos do problema de desemprego. Porém, nenhuma teor ia,
sozinha, oferece uma explicação convincente de por que o desemprego às vezes aflige
uma grande proporção da força de trabalho, de porque o desemprego atinge mais alguns
grupos do que outros, ou por que alguns dos trabalhadores permanecem desempregados
por muito tempo.
A Figura 12-1 mostra a tendência histórica da taxa de desemprego nos Estados Unidos desde
1900. A taxa de desemprego tem flutuado drasticamente com o passar do tempo, atingindo
o seu pico de aproximadamente 25% em 1933 e níveis mais baixos de aproximadamente
1% em 1906 e 1944. Essa taxa nos mostra a fração de participantes na força de trabalho
que estão buscando emprego ativamente. Muitas pessoas que gostariam de trabalhar se
retiraram da força de trabalho porque não conseguiam achar empregos. A contagem dos
desempregados não inclui esses trabalhadores desmotivados. Como resultado, a taxa de
desemprego oficial pode subestimar a verdadeira abrangência do problema do desemprego,
especialmente depois de quedas econômicas graves, quando um grande grupo de trabalha-
dores desmotivados pode estar “esperando” o fim da recessão.
Os dados resumidos na Figura 12-1 também revelam que, da década de 1950 até o final
da década de 1980, houve um ligeiro aumento na taxa de desemprego. Nos anos de 1950,
a taxa média de desemprego era de 4,5%; em 1960, foi de 4,8%; em 1970, subiu para 6,2%;
e, durante os anos 1980, subiu mais um pouco, para 7,3%. Essa tendência foi quebrada nos
anos 1990, quando a taxa de desemprego caiu para níveis não vistos em mais de 30 anos.
Em 1998, a taxa de desemprego era de apenas 4%. Discutiremos alguns dos motivos dessas
tendências mais adiante.
546 Economia do trabalho
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Taxa de desemprego
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0
1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano
Figura 12-1
O desemprego nos Estados Unidos, 1900-2007
Fontes: As taxas de desemprego pré-1948 estão relatadas em Stanley Lebergott, “Annual Estimates of
Unemployment in the United States, 1900-1950,” The Measurement and Behavior of Unemployment, NBER Special
Committee Conference Series nº 8, Princeton, NJ: Princeton University Press, 1957, p. 213-39. As taxas pós-1948 são
da U.S. Bureau of Labor Statistics, “Historical Data for the ‘A’ Tables of the Employment Situation Release,” Table
A-12,”Alternative Measures of Labor Underutilization,” http://stats.bls.gov/cps/cpsatabs.htm. A taxa de desemprego
se refere à população acima de 16 anos de idade.
O fato de que a taxa de desemprego em 2007 era de 4,6% não infere que cada participante no
mercado de trabalho tinha 4,6% de probabilidade de ficar desempregado a qualquer momento
naquele ano. O desemprego não atinge todos os trabalhadores igualmente. Na verdade, ele
está concentrado entre grupos demográficos específicos e entre trabalhadores em setores
específicos da economia. A Figura 12-2 retrata uma característica-chave do desemprego
nos Estados Unidos: A taxa é mais alta entre os trabalhadores com menos escolaridade. Em
2007, a taxa de desemprego entre universitários era de apenas 2%, comparado com 4,4%
para os que terminaram o ensino médio e de 7,1% para os desistentes dele.
Nas últimas décadas, esse “hiato de desemprego” entre trabalhadores com mais e com
menos escolaridade expandiu-se e depois diminuiu substancialmente. Por exemplo, em
1970, a taxa de desemprego para os desistentes do ensino médio era de apenas 3,3 pontos
percentuais mais alta do que para aqueles que concluíram um grau superior. Por volta de
1985, esse hiato do desemprego já era de 9 pontos percentuais. Por volta de 2007, havia caído
novamente para 5,1 pontos percentuais.
A educação reduz as taxas de desemprego por dois motivos distintos. Primeiro, os
trabalhadores com mais escolaridade investem mais em treinamento no local de trabalho.
Como o treinamento específico “casa” as empresas e os trabalhadores, as empresas são
menos propensas a demitir os funcionários com mais escolaridade quando elas se defrontam
com condições econômicas adversas. Além disso, quando esse tipo de trabalhador troca de
emprego, ele faz essa troca sem passar pelo desemprego. Parece que os trabalhadores com
Capítulo 12 Desemprego 547
16
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Desistiram do ensino médio
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Taxa de desemprego
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2
Concluíram a universidade
0
1970 1980 1990 2000 2010
Ano
Figura 12-2
Taxas de desemprego por nível de ensino, 1970-2007
Fontes: U.S. Bureau of Labor Statistics, Labor Force Statistics Derived from the Current Population Survey, 1948-87,
Bulletin 2307, Washington, DC: Government Printing Office, 1988, p. 848-49; U.S. Bureau of the Census, Statistical
Abstract of the United States, Washington, DC: Government Printing Office, várias edições. Os dados pós-1992 são
do U.S. Bureau of Labor Statistics, “Historical Data for the ‘A’ Tables of the Employment Situation Release,” Table
A-4, “Labor Force Status of the Civilian Population 25 Years and Over by Educational Attainment,” http://stats.bls.
gov/cps/cpsatabs.htm. As taxas de desemprego se referem à população com mais de 25 anos de idade.
mais escolaridade são mais bem informados ou têm um networking melhor para aprenderem
sobre oportunidades de emprego alternativos.1
A Tabela 12-1 mostra as taxas de desemprego por idade, raça, sexo e indústria. É mais
provável que os trabalhadores jovens estejam desempregados do que os mais velhos. A taxa
de desemprego para os mais jovens é de 15% em comparação a apenas 3% para trabalhado-
res de 45 a 64 anos de idade. Como observamos na discussão sobre o impacto econômico da
legislação sobre o salário mínimo, é possível que parte dessa alta taxa de desemprego entre
os adolescentes esteja associada ao impacto adverso do salário mínimo.2
Os dados também indicam que os brancos têm taxas mais baixas de desemprego do que
os negros ou hispânicos. A grande diferença entre negros e brancos não pode ser atribuída
ao nível de escolaridade mais baixo dos negros. O hiato racial nas taxas de desemprego
permanece mesmo se compararmos trabalhadores negros e brancos com as mesmas qua-
lificações observáveis e que moram na mesma área.3
1 Um estudo interessante do elo entre o aumento no número de pessoas arroladas no programa federal de invalidez e as
tendências no desemprego é dado por David H. Autor and Mark G. Duggan, “The Rise in the Disability Rolls and the Decline
in Unemployment,” Quarterly Journal of Economics 118 (February 2003): 157-205.
2 Uma análise das consequências do desemprego de jovens é dada por Thomas A. Mroz and Timothy H. Savage, “The Long-Term
Effects of Youth Unemployment,” Journal of Human Resources 41 (Spring 2006) 259-93.
3 Leslie S. Stratton, “Racial Differences in Men’s Unemployment,” Industrial and Labor Relations Review 46 (April 1993): 451-63.
548 Economia do trabalho
Tabela 12-1
Taxas de desemprego em 2006, por grupo demográfico e indústria
Idade: Indústria:
16-19 15,4 Agricultura 7,2
20-24 8,2 Mineração 3,2
25-44 4,1 Construção 6,7
45-64 3,1 Manufatura 4,2
Transporte e utilidades públicas 4,0
Raça: Comércio varejista 5,4
Branca 4,0 Finanças, seguros e imóveis 2,7
Negra 8,9 Serviços profissionais e de negócios 5,6
Hispânica 5,2 Governo 2,3
Até recentemente, as mulheres tinham taxas de desemprego mais altas que os homens.
Por exemplo, em 1983, 9,8% dos homens e 15,3% das mulheres estavam desempregados.
Era muito comum argumentar que as mulheres tinham uma taxa de desemprego mais
alta porque provavelmente estivessem “de mudança”, ou seja, ou entre empregos, ou
entrando e saindo do mercado de trabalho. Esse período de transição é necessário para
que as mulheres procurem trabalho e assim a sua taxa de desemprego aumenta. Porém, a
Tabela 12-1 mostra que o hiato entre os sexos em relação ao desemprego desapareceu até
2007. Essa equalização provavelmente é atribuída ao aumento na participação da mulher
na força de trabalho, ao declínio na participação feminina na indústria manufatureira (que
historicamente emprega mais homens) e ao crescimento nas indústrias de serviço (as quais
contratam mais mulheres).
Por último, a tabela mostra que a taxa de desemprego varia muito entre as indústrias:
para trabalhadores na área de construção civil é de 6,7%; para trabalhadores na indústria
manufatureira, é de 4,2%; e para trabalhadores nas áreas de transporte e utilidades públi-
cas, 4,0%.
Existem quatro maneiras de um trabalhador ficar desempregado. Alguns deles perdem
o emprego por causa de demissões ou porque as fábricas fecharam; alguns trabalhadores
deixam os seus empregos; outros que buscam trabalho conseguem uma nova colocação
no mercado depois de passarem algum tempo no setor não mercado (reentrantes); e tam-
bém os que são novos no mercado, como os recém-formados do ensino médio ou superior
(novos entrantes). Como mostra a Figura 12-3, há um ligeiro acréscimo na proporção de
trabalhadores desempregados, pois perderam os seus empregos (ou seja, a primeira cate-
goria, perdedores de empregos) entre 1967 e 2007. Vale observar que mesmo no pico do
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60
Trabalhadores que perderam o emprego
50
40
Trabalhadores que se demitiram
Percentual
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Reentrantes
10
Novos entrantes
0
1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
Figura 12-3
Pessoas desempregadas por causa de desemprego, 1967-2007
(como porcentagem do desemprego total)
Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics, “Historical Data for the ‘A’ Tables of the Employment Situation Release,” Table
A-8, “Unemployed Persons by Reason of Unemployment,” http://stats.bls.gov/cps/cpsatabs.htm. Inclui todas as
pessoas desempregadas acima de 16 anos de idade.
crescimento econômico, no final dos anos de 1990, quase metade dos desempregados eram
indivíduos que perderam seus empregos.
A Figura 12-4 registra que a natureza do problema do desemprego mudou entre as
décadas de 1950 e de 1990, porque uma proporção maior de pessoas está agora passando
por uma fase muito longa de desemprego. No início dos anos de 1950, apenas 5 a 10% dos
desempregados enfrentaram fases que duravam mais de 26 semanas; em 2007, quase 18%
das pessoas passavam por fases longas de desemprego.
Por último, a taxa de desemprego mostra a proporção da força de trabalho que está sem
emprego e buscando trabalho. Pode haver também alguns trabalhadores desmotivados –
aqueles que desistiram de procurar emprego porque não conseguiam achar. O Bureau of
Labor Statistics também publica uma estatística alternativa que inclui qualquer “pessoa
marginalmente vinculada... que atualmente não está trabalhando nem procurando emprego,
mas indica que quer e está disponível para trabalhar e que procurou trabalho recentemen-
te” nesse grupo de desempregados. A Figura 12-5 mostra que a taxa de desemprego sobe
em torno de 1 ponto percentual quando os marginalmente vinculados são contados como
desempregados. Um grupo ainda maior são os “subempregados”, pessoas que “querem e
estão disponíveis para trabalho integral, mas tiveram de aceitar algum trabalho de meio
período”. A inclusão dos subempregados no numerador da taxa de desemprego aumenta essa
taxa em mais 3 ou 4 pontos percentuais. Em 2007, a taxa de desemprego oficial era de 5,1%.
A inclusão dos marginalmente vinculados e os subempregados aumentou a taxa para 8,3%.
550 Economia do trabalho
70
60
40
5-14 semanas
30
Mais do que 26 semanas
20
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15-26 semanas
0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano
Figura 12-4
Pessoas desempregadas por duração de desemprego, 1948-2007 (como porcentagem do
desemprego total)
Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics, “Historical Data for the ‘A’ Tables of the Employment Situation Release,” Table
A-9, “Unemployed Persons by Duration of Unemployment,” http://stats.bls.gov/cps/cpsatabs.htm. A população de
desempregados inclui todas pessoas acima de 16 anos.
12
Oficial + trabalhadores marginalmente empregados + trabalhadores em
tempo parcial disponíveis para tempo integral
10
Taxa de desemprego
4
Taxa oficial de desemprego
Oficial + trabalhadores marginalmente empregados
2
0
1994 1998 2002 2006 2010
Ano
Figura 12-5
Tendências em medidas alternativas da taxa de desemprego, 1994-2007
Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics, “Historical Data for the ‘A’ Tables of the Employment Situation Release,” Table
A-12 “Alternative Measures of Labor Underutilization,” http://stats.bls.gov/cps/cpsatabs.htm. A taxa de desemprego
se refere à população com mais de 16 anos de idade.
Capítulo 12 Desemprego 551
Tabela 12-2
Relação entre a segregação residencial de negros e a porcentagem
de negros ociosos, 1990
Cidade não muito Cidade muito
Grupo segregada segregada Diferença
Negros com 20-24 de idade 15,4 21,6 6,2
Brancos com 20-24 de idade 7,0 6,6 –0,4
Diferenças-em-diferenças – – 6,6
Fonte: David M. Cutler and Edward L. Glaeser, “Are Ghettos Good or Bad?,” Quarterly Journal of Economics 112 (August 1997): 842.
4William Julius Wilson, The Truly Disadvantaged: The Inner City, the Underclass, and Public Policy, Chicago: University of
Chicago Press, 1987.
552 Economia do trabalho
5 Veja também Richard W. Martin, “Can Black Workers Escape Spatial Mismatch? Employment Shifts, Population Shifts, and
Black Unemployment in American Cities,” Journal of Urban Economics 55 (January 2004): 179-94.
Capítulo 12 Desemprego 553
locados podem ser longos porque eles precisam “atualizar” as suas qualificações. Assim, o
desemprego estrutural surge em virtude de um descompasso entre as qualificações de que
os trabalhadores oferecem e as qualificações de que as empresas necessitam.
As prescrições políticas para esse tipo de desemprego estrutural são muito diferentes da-
quelas que reduziriam o desemprego friccional ou sazonal. As qualificações são o problema
e os desempregados estão equipados com capital humano que não é mais útil. Portanto, para
reduzir o desemprego, o governo teria que oferecer programas de capacitação que “injetariam”
os tipos de qualificações agora em demanda nos trabalhadores que estão fora do mercado.
Pode haver também um desequilíbrio estrutural entre o número de trabalhadores pro-
curando trabalho e o número de empregos disponíveis – mesmo se essas qualificações forem
perfeitamente transferíveis. Esse desequilíbrio pode surgir porque a economia entrou em
recessão. Agora, as empresas necessitam de uma força de trabalho menor para satisfazer à
demanda reduzida, e os empregadores acabam demitindo muitos trabalhadores, gerando o
desemprego cíclico. Há uma oferta excessiva de trabalhadores e o mercado não se equilibra
porque o salário é rígido e não pode ser reduzido. Já vimos que aumentos salariais por ordem
de sindicatos ou salários mínimos impostos pelo governo introduzem salários rígidos no
mercado de trabalho e previnem um equilíbrio do mercado. Como veremos a seguir, os eco-
nomistas elaboraram uma série de modelos que podem gerar salários rígidos e desemprego
mesmo na ausência de salários mínimos e sindicatos. As prescrições políticas para o desem-
prego cíclico não ajudam que trabalhadores encontrem trabalho nem com a reciclagem de
qualificações dos trabalhadores. Para reduzir esse tipo de desemprego, o governo precisará
estimular a demanda agregada e reestabelecer o equilíbrio de mercado nesse salário rígido.
A força de trabalho é definida como a soma das pessoas que estão empregadas ou desem-
pregadas, de forma que LF = E + U. A substituição da definição na Equação (12-1) resulta em
l ( L F − U ) = hU (12-2)
554 Economia do trabalho
Figura 12-6
Fluxos entre emprego
Trabalhadores que
e desemprego perdem emprego ( E)
Suponha que uma pessoa
esteja trabalhando ou esteja Empregados Desempregados
(E trabalhadoes) (U trabalhadores)
desempregada. Em qualquer
momento, alguns trabalhadores Trabalhadores que
perdem seus empregos e os encontram emprego (h U)
desempregados encontram
trabalho. Se a probabilidade de
perder o emprego for igual a l,
então l x E trabalhadores perdem
o emprego. Se a probabilidade de
se achar um emprego for igual a h,
então existem h x U trabalhadores
que encontram emprego.
A Equação (12-3) deixa claro que a taxa de desemprego do estado estacionário é deter-
minada por meio das probabilidades de transição entre emprego e desemprego (ℓ e h). As
políticas projetadas para reduzir o desemprego do estado estacionário precisam alterar
uma dessas probabilidades, ou ambas.
Como exemplo, suponha que a probabilidade de trabalhadores empregados perderem
os seus empregos em qualquer mês seja de 0,01, sugerindo que o emprego médio dura
100 meses. Suponha também que a probabilidade de desempregados acharem trabalho
em qualquer mês seja de 0,10, sugerindo que o período médio de desemprego dura 10
meses. A taxa de desemprego do estado estacionário é de 9,1%, ou 0,01/(0,01 + 0,10). O
exemplo ilustra que a taxa de desemprego é menor quando o emprego é mais estável, e
maior quando o período de desemprego dura mais tempo. Em outras palavras, dois fatores
determinam a taxa de desemprego: a incidência de desemprego (ou seja, a probabilidade
de um trabalhador empregado perder o seu emprego, ou ℓ) e a duração do período de de-
semprego (que equivale a 1/h).
Às vezes, a taxa de desemprego do estado estacionário derivada na Equação (12-3) é
chamada de taxa natural de desemprego.6 Proporcionaremos uma discussão mais deta-
lhada dos fatores que determinam a taxa natural mais adiante.
Obviamente, o modelo simples da dinâmica da força de trabalho apresentado nesta seção
não descreve com precisão os fluxos reais observados nos mercados de trabalho do mundo
real. Também existem fluxos para dentro ou para fora da força de trabalho, de forma que
uma pessoa pode estar em um de três estados diferentes: empregado, desempregado e fora
6 John Haltinwanger, “The Natural Rate of Unemployment,” in John Eatwell, Murray Milgate and Peter Newman, editors,
The New Palgrave, New York: Stockton Press, 1987, p. 610-12.
Capítulo 12 Desemprego 555
Figura 12-7
Fluxos dinâmicos no 1,8 milhão
mercado de trabalho dos
Estados Unidos, maio de Empregados: Desempregados:
(119,2 milhões) (8,9 milhões)
1993 2,0 milhões
Fonte: Joseph A. Ritter,
“Measuring Labor Market
Dynamics: Gross Flows of Workers 3,2 milhões
and Jobs,” Review, Federal
1,7 milhão
Reserve Bank of St. Louis 75
(November/December 1993): 3,0 milhões 1,5 milhão
39-57.
Fora da força
de trabalho:
(65,2 milhões)
do mercado. A Figura 12-7 retrata a magnitude desses fluxos em maio de 1993. Existiam 119,2
milhões de pessoas empregadas, 8,9 milhões de desempregadas e 65,2 milhões de pessoas
fora do mercado de trabalho. Durante o mês de maio de 1993, em torno de 1,8 milhão de
trabalhadores ficaram desempregados e mais 1,7 milhão de pessoas que estavam fora da força
de trabalho saíram à procura de emprego. Porém, ao mesmo tempo, 2 milhões de desem-
pregados acharam empregos e mais 1,5 milhão deixou a força de trabalho.7
Duração do desemprego
Suponha que haja 100 trabalhadores desempregados na economia e que 99 deles estejam
passando por um período de desemprego que dura apenas uma semana. No entanto, o
trabalhador remanescente está passando por um período de desemprego que dura 101
semanas. A maioria dos períodos de desemprego nesta economia seriam curtos, porque a
maioria dos trabalhadores está desempregada por apenas uma semana. Porém, ao mesmo
tempo, há um total de 200 semanas de desemprego nesta economia (99 semanas para cada
um dos trabalhadores, mais 101 semanas para o trabalhador com o período longo). Dessa
forma, a maior parte do tempo de desemprego pode ser atribuída a um único trabalhador
(101/200). Em outras palavras, a maioria dos períodos de desemprego pode ser curto, mas
a maioria das semanas em que trabalhadores passam desempregados pode ser atribuída a
poucos trabalhadores com períodos muito longos.
7 Uma reformulação do modelo algébrico permite o cálculo da taxa de desemprego do estado estacionário quando existem
fluxos entre os setores de mercado e não mercado, e quando há um fluxo contínuo de novos trabalhadores no mercado
de trabalho. A taxa de desemprego do estado estacionário dependerá da taxa de empregos perdidos, da duração média
dos períodos de desemprego e das taxas de transição entre desemprego e o setor não mercado. Veja Stephen T. Marston,
“Employment Instability and High Unemployment Rates,” Brookings Papers on Economic Activity (1976): 169-203.
556 Economia do trabalho
Muitas teorias buscam explicar por que o desemprego existe e persiste em mercados com-
petitivos. Começamos a discussão dessas histórias alternativas novamente enfatizando que
observaríamos o desemprego friccional mesmo se não houvesse nenhum desequilíbrio
fundamental entre a oferta e demanda por trabalhadores. Como empresas diferentes ofe-
recem oportunidades distintas de emprego, e como os trabalhadores não estão completa-
mente informados sobre onde os “melhores” empregos estão localizados, leva tempo para
encontrar as oportunidades disponíveis.
De fato, qualquer trabalhador pode escolher dentre as muitas ofertas diferentes de empre-
go. Assim como postos de gasolina que estão a apenas uma quadra da outra cobram preços
diferentes por um litro de gasolina, empresas distintas fazem ofertas diferentes para o mesmo
trabalhador.9 Esses diferenciais de salários para o mesmo tipo de trabalho encorajam um
desempregado a “procurar” até encontrar uma oferta de emprego melhor. Como leva tempo
para aprender sobre as oportunidades oferecidas por diferentes empregadores, as atividades
de busca prolongam a duração do período de desemprego. No entanto, o trabalhador está
disposto a aguentar um período mais longo de desemprego, pois esta espera pode levar a
um trabalho que pague um salário mais alto. Na realidade, o desemprego ocasionado pela
busca por trabalho é uma forma de investimento em capital humano pois, neste período, o
trabalhador investe para adquirir mais informações sobre o mercado de trabalho.10
8 Kim B. Clark and Lawrence H. Summers, “Labor Market Dynamics and Unemployment: A Reconsideration,” Brookings
Papers on Economic Activity (1979): 13-60.
9Veja Jonathan S. Leonard, “Carrots and Sticks: Pay, Supervision, and Turnover,” Journal of Labor Economics 4 (October
1987, Part 2): S136-52. Existem também evidências de que a mesma empresa paga salários diferentes para os trabalhadores
empregados no mesmo emprego; veja John E. Buckley, “Wage Differences among Workers in the Same Job and Establish-
ment,” Monthly Labor Review 108 (March 1985): 11-16.
10 Estudos técnicos dos modelos de busca de emprego incluem Dale T. Mortensen, “Job Search and Labor Market Analysis,” in
Orley C. Ashenfelter and Richard Layard, editors, Handbook of Labor Economics, vol. 2, Amsterdam: Elsevier, 1986, p. 849-919;
and Dale T. Mortensen e Christopher A. Pissarides, “New Developments in Models of Search in the Labor Market,” in Orley C.
Ashenfelter and David Card, editors, Handbook of Labor Economics, vol. 3B, Amsterdam: Elsevier, 1999, p. 2.567-627.
11 Joseph R. Meisenheimer II and Randy E. Ilg, “Looking for a ‘Better’ Job: Job-Search Activity of the Employed,” Monthly
Labor Review 123 (September 2000): 3-14.
Capítulo 12 Desemprego 557
Teoria em ação
Empregos e amigos
Existem muitas maneiras de procurar emprego, e algumas são mais bem-sucedidas do que
outras. Entre os desempregados jovens, quase 85% usaram referências dadas por amigos ou
parentes nas suas atividades de busca por trabalho; 80% se candidataram diretamente, sem
referência; e aproximadamente 50% usaram contatos proporcionados por agências de em-
prego estaduais ou classificados de jornais. (Essas porcentagens não somam 100% porque os
desempregados usam mais de um método de busca.)
Não é de surpreender que o resultado da atividade de busca dependa de como o contato
entre o trabalhador e a empresa foi iniciado. Se foi feito por meio de um amigo ou parente,
ou por meio de uma candidatura direta, o contato resultou em uma oferta de emprego em
torno de 18% das vezes comparado com apenas 10% quando é recomendado por uma
agência estadual ou por meio de um classificado no jornal. Além disso, ofertas de emprego de
contatos iniciados por meio de amigos ou parentes têm maior probabilidade de serem aceitos
do que outros tipos de ofertas. A forma utilizada para iniciar contatos entre trabalhadores e
empresas, portanto, também é mais produtiva em termos de geração de ofertas de trabalho
e aceitação de trabalho.
Fonte: Harry J. Holder, “Search Method Use by Unemployed Youth,” Journal of Labor Economics 6 (June 1988): 1-20.
Quando o trabalhador deveria parar de buscar e aceitar a oferta de emprego? Existem duas
abordagens para responder a esta pergunta,12 e cada uma fornece uma “regra de paragem”
(stopping rule) que diz ao trabalhador quando terminar as suas atividades de busca. O tra-
balhador poderia seguir uma estratégia de busca não sequencial. Nesta abordagem, ele
decide, antes de começar a sua busca, que irá visitar aleatoriamente, digamos, 20 empresas
e aceitar o emprego o qual pagará o salário mais alto (não será necessariamente aquele que
paga US$ 25 a hora). Essa estratégia de busca não é ótima. Suponha que, na sua primeira
tentativa, o trabalhador sem querer já acerta a empresa que pagará US$ 25 a hora. Uma
estratégia de busca não sequencial o forçaria a visitar mais 19 empresas sabendo muito bem
que não poderá achar algo melhor. Assim, não faz sentido para o trabalhador se compro-
meter com um número predeterminado de buscas independentemente do que acontece
enquanto estiver procurando por trabalho.
Uma estratégia melhor seria a busca sequencial. Antes de o trabalhador iniciar o pro-
cesso de busca, ele decide quais ofertas de emprego está disposto a aceitar. Por exemplo,
ele pode decidir que não está disposto a trabalhar por menos de, digamos, US$ 12 a hora.
O trabalhador então visitará outra empresa e comparará a oferta salarial com seu salário
desejado de US$ 12. Se a oferta salarial exceder US$ 12, ele aceitará o emprego, encerrará
a sua busca e o período de desemprego chegará ao fim. Se a oferta salarial for menos de
US$ 12, ele rejeitará a oferta e reiniciará o processo de busca (ou seja, ele visitará uma nova
empresa, fará a comparação da nova oferta salarial com o salário desejado e assim por dian-
te). A estratégia de busca sequencial infere que se um trabalhador tiver sorte o suficiente
para achar o emprego que pague US$ 25 logo na primeira tentativa, ele imediatamente
reconhecerá que teve sorte e encerrará o processo de busca.
O salário reserva (asking wage) é o salário limite que determina se o trabalhador de-
sempregado aceita ou rejeita as ofertas de emprego.13 Há uma clara relação entre salário
12 O modelo de busca não sequencial foi introduzido por George J. Stigler, “Information in the Labor Market,” Journal of
Political Economy 70 (October 1962): 94-104; o modelo de busca sequencial foi introduzido por John J. McCall, “Economics
of Information and Job Search,” Quarterly Journal of Economics 84 (February 1970): 113-26.
13 O salário pedido é chamado de salário reserva em muitos estudos. Usamos o termo salário pedido para diferenciar o limiar
que determina se uma pessoa desempregada aceita uma oferta de emprego de um salário reserva definido no Capítulo 2, o
Capítulo 12 Desemprego 559
qual determina se uma pessoa entra no mercado de trabalho. A intuição subjacente ao salário limiar em ambos os contextos
é a mesma; é o salário que torna um trabalhador indiferente entre duas ações alternativas.
560 Economia do trabalho
0 Oferta salarial
~ obtida em mãos
US$ 5 US$ 10 w US$ 20 US$ 25
e o trabalhador deve continuar a busca. Se a oferta salarial em mãos for de US$ 20 a hora
(acima do salário pedido), ele deve aceitar o emprego, porque os benefícios esperados de
uma busca adicional são menores do que o custo marginal da busca. Assim, o salário pedido
deixa o trabalhador indiferente entre continuar ou encerrar as suas atividades de busca.
O salário pedido do trabalhador responderá às mudanças nos benefícios e nos custos de ati-
vidades de busca. Assim como com todo investimento em capital humano, os benefícios da
busca são obtidos no futuro, de forma que eles dependem da taxa de desconto do trabalhador.
Trabalhadores com taxas de desconto altas são voltados para o presente e assim percebem os
benefícios da busca como baixos no futuro. Como ilustra a Figura 12-10a, os trabalhadores
com taxas de desconto altas têm curvas de receita marginal mais baixas (deslocando a curva
de receita marginal de MR0 para MR1), assim, terão salários pedidos mais baixos (de w 0 para
w 1). Como esses trabalhadores não têm paciência de esperar até receberem uma oferta me-
lhor, eles aceitam ofertas salariais mais baixas e têm períodos mais curtos de desemprego.
Um componente principal dos custos de busca é o custo de oportunidade que resulta da
rejeição de uma oferta de emprego e da continuação da busca. O sistema de seguro-desem-
prego (SD), que discutiremos com mais detalhes a seguir, compensa os trabalhadores que
estão desempregados e ativamente engajados nas atividades de busca. Suponha que certo
trabalhador tenha uma oferta salarial de US$ 10 a hora (ou US$ 400 por semana). Se ele se
qualificar para os benefícios do SD de US$ 200 por semana, o trabalhador está perdendo
apenas US$ 200 ao rejeitar a oferta de emprego. Assim, benefícios do seguro-desemprego
reduzem o custo marginal da busca.
Como está ilustrado na Figura 12-10b, uma redução no custo marginal da busca (de MC0
para MC1) aumenta o salário pedido de w 0 para w 1. Assim, o sistema de SD tem três efeitos
importantes no mercado de trabalho: (1) Resulta em períodos mais longos de desemprego,
(2) aumenta a taxa de desemprego e (3) resulta em salários pós-desemprego mais altos.
Capítulo 12 Desemprego 561
Dólares Dólares
MC0
MC
MC1
MR0
MR1 MR
~ ~ Salário ~ ~ Salário
w w w w
1 0 0 1
Resumindo, o modelo de busca por emprego tem duas previsões-chave sobre a duração
do desemprego: os períodos de desemprego serão maiores quando o custo da busca diminuir
e os benefícios da busca aumentarem.
Embora o salário pedido não seja observado diretamente, muitas pesquisas tentaram
determinar o salário pedido de um trabalhador fazendo perguntas como: “Que tipo de
trabalho você procura?” e “Com qual salário você estaria disposto a aceitar esse emprego?”.
Em 1980, jovens brancos desempregados nos Estados Unidos relataram que seu salário
pedido era de US$ 4,30 a hora, enquanto jovens negros desempregados relataram um sa-
lário pedido de US$ 4,22 a hora.14 Esse salário relatado pessoalmente pelo trabalhador foi
fortemente correlacionado com a sua experiência de desemprego. Aqueles que relataram
salários mais altos tinham períodos mais longos de desemprego. Além do mais, salários
pedidos mais altos resultam em salários pós-desemprego mais altos; um aumento de
10% no salário aumentou o salário pós-desemprego em 5% para jovens brancos e em 3%
para jovens negros. No Reino Unido, onde foram conduzidas pesquisas parecidas, um
aumento de 10% no salário pedido aumentou a duração do período de desemprego em
pelo menos 5%.15
14 Harry J. Holzer, “Reservation Wages and Their Labor Market Effects for Black and White Male Youth,” Journal of Human
Resources 21 (Spring 1986): 157-77; veja também Harry J. Holzer, “Job Search by Employed and Unemployed Youth,”
Industrial and Labor Relations Review 40 (July 1987): 601-11.
15 Stephen R. G. Jones, “The Relationship between Unemployment Spells and Reservation Wages as a Test of Search Theory,”
Quarterly Journal of Economics 103 (November 1988): 741-65; and Kristen Keith and Abagail McWilliams, “The Returns to
Mobility and Job Search by Gender,” Industrial and Labor Relations Review 52 (April 1999): 460-77.
562 Economia do trabalho
A revolução da informação pode reduzir enormemente os custos associados com a busca por
trabalho – tanto para os trabalhadores em busca de empregos quanto para as empresas que
querem preencher uma vaga. Por exemplo, já em 2000, 25% das pessoas desempregadas nos
Estados Unidos relataram terem usado a Internet na sua busca por trabalho (e 11% das pessoas
empregadas também conduziram atividades de busca por empregos pela Internet). Acredita-se
amplamente que uma mudança tecnológica desse porte poderia ter um impacto substancial
(e supostamente benéfico) na velocidade com a qual trabalhadores desempregados acham
trabalho e na qualidade dos empregos encontrados por meio desse tipo de busca.
Porém, um estudo empírico recente acha que essa esperança pode ser equivocada.16
Superficialmente, os dados parecem indicar que trabalhadores desempregados que usam a
Internet acham empregos com mais rapidez. Em 2000, uma pessoa em busca de emprego
que usava a Internet levou 3,4 meses para encontrar trabalho, comparado com 3,7 meses
para um trabalhador que evitou o uso da Internet. Entretanto, essa diferença pode ser
totalmente justificada por meio das diferenças nas características observadas, tais como
nível de escolaridade, sexo e idade. Quando as diferenças básicas entre os dois grupos são
controladas, a vantagem das atividades de busca pela Internet desaparecem por completo.
Esse achado é consistente com uma de duas hipóteses. Por exemplo, pode ser que a busca
por empregos na Internet seja totalmente ineficaz. Ou pode ser que as pessoas que fazem
essa busca sejam selecionadas negativamente em termos de características básicas não
observadas. Os desempregados que usam a Internet, por exemplo, podem ser o subcon-
junto de pessoas que não colocam nem tempo nem esforço necessários para bater perna
em busca de trabalho.
16Peter Kuhn and Mikal Skuterud, “Internet Job Search and Unemployment Durations,” American Economic Review 94
(March 2004): 218-32; veja também David Autor, “Wiring the Labor Market,” Journal of Economic Perspectives 15 (Winter
2001): 25-40.
Capítulo 12 Desemprego 563
Essa evidência preliminar provavelmente não será a última palavra nesse assunto. O
acesso em franca expansão à Internet e a crescente sofisticação das atividades de busca
por empregos na Web (por ambos os lados do mercado) podem facilmente levar a várias
correlações diferentes com o amadurecimento da revolução digital.
17 Para uma descrição completa dos parâmetros do sistema de SD, veja Committee on Ways and Means, U.S. House of
Representatives, 2004 Green Book: Overview of Entitlement Programs, Washington, DC: Government Printing Office, 2004,
section 4; disponível em http://waysandmeans.house.gov/Documents.asp?section=813.
18 Acontece também que aproximadamente um quarto dos trabalhadores que se qualificam para os benefícios de SD não
protocola seu formulário com a agência apropriada; veja Patricia M. Anderson and Bruce D. Meyer, “Unemployment Insurance
Takeup Rates and the After-Tax Value of Benefits,” Quarterly Journal of Economics 112 (August 1997): 913-37.
564 Economia do trabalho
Teoria em ação
Por causa dos efeitos desincentivadores do SD, existem muitos pedidos para a reforma do sistema, e
alguns Estados conduziram experiências para ver se certas mudanças de política reduzem a duração
dos períodos de desemprego. Nessas experiências, é oferecido ao trabalhador que se candidata
aos benefícios do SD um bônus em dinheiro se ele encontrar emprego com relativa rapidez. Essa
amostra aleatória de desempregados compõe o “grupo de tratamento”. O grupo remanescente
de trabalhadores desempregados (isto é, “o grupo de controle”) participa do programa de SD.
Por exemplo, em Illinois, trabalhadores no grupo de tratamento que acharam um emprego
em 11 semanas (e que ficaram nesse emprego ao menos quatro meses) receberam um bônus
em dinheiro de US$ 500, ou aproximadamente quatro vezes o benefício médio semanal. Na
Pensilvânia, os trabalhadores desempregados no grupo de tratamento que acharam um emprego
em seis semanas tiveram direito a um bônus de seis vezes o benefício semanal.
A evidência proporcionada pelas experiências é clara. As pessoas que recebem a oferta de bônus
em dinheiro têm períodos mais curtos de desemprego do que as pessoas no grupo de controle (a
diferença na duração do período médio de desemprego entre os dois grupos é de cerca de uma
semana). Surpreendentemente, os trabalhadores que participaram das experiências com os bônus
não terminaram os períodos de desemprego rapidamente ao aceitar trabalhos que pagavam menos.
Em outras palavras, os trabalhadores no grupo de tratamento tinham, essencialmente, o mesmo
salário pós-desemprego que os do grupo de controle. Assim, oferecer incentivo em dinheiro para
que trabalhadores encontrem emprego rapidamente parece agilizar a transição fora do desem-
prego sem um declínio correspondente no status econômico pós-desemprego dos trabalhadores.
Fontes: Stephen Woodbury and Robert Spiegelman, “Bonuses to Workers and Employers to Reduce Unem-
ployment: Randomized Trials in Illinois,” American Economic Review 77 (September 1987): 513-50; and Bruce
D. Meyer, “Lessons from the U.S. Unemployment Insurance Experiments,” Journal of Economic Literature 33
(March 1995): 91-131.
19 Bons estudos da literatura são dados por Gary Burtless, “Unemployment Insurance and Labor Supply: A Survey,” in W. Lee
Hansen and James F. Byers, editors, Unemployment Insurance: The Second Half-Century, Madison, WI: University of Wisconsin
Press, 1990, p. 69-107; and Anthony B. Atkinson and John Micklewright, “Unemployment Compensation and Labor Market
Transitions: A Critical Review,” Journal of Economic Literature 29 (December 1991): 1679-727.
Capítulo 12 Desemprego 565
aumento de 25% na razão de recomposição (por exemplo, de 0,4 para 0,5) aumenta a duração
média do desemprego por volta de 15 a 25%.20 Em 1996, o trabalhador ficava desempregado
nos Estados Unidos por 13,8 semanas. Assim, as evidências sugerem que reduzir a razão de
recomposição de 0,4 para 0,3 (ou um corte de 25% na razão de recomposição) reduziria a
duração média do desemprego de três a quatro semanas. Assim, o sistema de SD tem um
impacto numericamente importante na duração do desemprego.21
Vale lembrar que os trabalhadores com salários baixos têm altas razões de recomposição,
e trabalhadores com salários alto, baixas razões. Como o sistema de SD oferece um grande
subsídio para as atividades de busca de trabalhadores com salários baixos, esses terão os
períodos mais longos de desemprego.22 Assim, a observação de que trabalhadores com
menos habilidades têm períodos mais longos de desemprego não precisa sugerir que eles
têm muita dificuldade em achar um novo trabalho.
Após receber benefícios do SD por um período específico de tempo (26 semanas), um
trabalhador desempregado nos Estados Unidos não está elegível para benefícios adicio-
nais. Assim, o corte desse benefício na 26ª semana aumenta substancialmente o custo da
busca. O trabalhador provavelmente reduzirá o seu salário pedido neste ponto. Assim,
devemos esperar um aumento significativo na taxa de saída do desemprego. De fato, a
evidência mostra que a chance de o trabalhador encontrar trabalho melhora drasticamente
na semana em que os benefícios esgotam. A Figura 12-11 ilustra como a probabilidade
de desempregados encontrarem um novo trabalho depende do número de semanas que
falta antes de os benefícios se esgotarem. O trabalhador com cinco a dez semanas de be-
nefícios do SD tem uma probabilidade de aproximadamente 3% de encontrar emprego
(em qualquer dada semana). Na semana em que os benefícios se esgotam, a probabilidade
“salta” para quase 8%. É importante observar que os dados resumidos na Figura 12-11
referem-se à probabilidade de os trabalhadores desempregados encontrarem emprego.
Como veremos a seguir, o sistema de SD também motiva os empregadores a terminarem
as demissões temporárias e a chamarem de volta os seus funcionários quando os benefí-
cios do SD se esgotarem.
O sistema de SD não apenas aumenta a duração do desemprego, mas também resulta
em um salário pós-desemprego mais alto. Um aumento de 10% na razão de recomposi-
ção aumenta o salário subsequente de trabalhadores homens em 7% e de mulheres em
1,5%.23 As evidências, portanto, apoiam muito as implicações do modelo de busca do
20 Kathleen P. Classen, “The Effect of Unemployment Insurance on the Duration of Unemployment and Subsequent Earnings,”
Industrial and Labor Relations Review 30 (July 1977): 438-44; Daniel S. Hamermesh, Jobless Pay and the Economy, Baltimore:
John Hopkins University Press, 1977; Patricia M. Anderson and Bruce D. Meyer, “The Effects of the Unemployment Insurance
Payroll Tax on Wages, Employment, Claims and Denials,” Journal of Public Economics 78 (October 2000): 81-106.
21 Existem também evidências que sugerem que a elegibilidade para o SD encoraja os trabalhadores a reduzirem o emprego;
veja Stepan Jurajda, “Estimating the Effect of Unemployment Insurance Compensation on the Labor Market Histories of
Displaced Workers,” Journal of Econometrics 108 (July 2002): 227-52; Orley Ashenfelter, David Ashmore and Olivier Des-
chênes, “Do Unemployment Insurance Recipients Actively Seek Work? Evidence from Randomized Trials in Four U.S. States,”
Princeton University, June 2001; and Audrey Light and Yoshiaki Omori, “Unemployment Insurance and Job Quits,” Journal
of Labor Economics 22 (January 2004): 159-88.
22 Bruce D. Meyer, “Unemployment Insurance and Unemployment Spells,” Econometrica 58 (July 1990): 757-82; veja também
Olympia Bover, Manuel Arellano and Samuel Bentolila, “Unemployment Duration, Benefit Duration and the Business Cycle,”
Economic Journal 112 (April 2002): 223-65.
23 Ronald G. Ehrenberg and Ronald Oaxaca, “Unemployment Insurance, Duration of Unemployment, and Subsequent Wage
Gain,” American Economic Review 66 (December 1976): 754-66.
566 Economia do trabalho
0,08
0,07
0,06
Probabilidade
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0,00
25 20 15 10 5 0 -5 -10 -15
Figura 12-11
A relação entre a probabilidade de achar um novo trabalho e os benefícios do SD
Fonte: Lawrence F. Katz and Bruce D. Meyer, “Unemployment Insurance, Recall Expectations, and Unemployment
Outcomes,” Quarterly Journal of Economics 105 (November 1990): 973-1.002, Figure IV.
desemprego: custos mais baixos de busca aumentam a duração dos períodos e o salário
pós-desemprego.
Vários estudos recentes analisaram situações em que os parâmetros do sistema do SD
mudaram em uma experiência ou mediante mudanças legislativas idiossincráticas. O caso
do Estado de New Jersey é um exemplo interessante. Em uma negociação peculiar feita para
ganhar o apoio dos sindicatos, New Jersey prorrogou os benefícios do SD por 13 semanas
adicionais, especialmente para pessoas que esgotaram seus benefícios do SD normais entre
2 de junho e 24 de novembro de 1996. Essa mudança legislativa nos permite analisar se os
alvos dessa legislação específica tiveram períodos mais longos de desemprego do que aqueles
que esgotaram os benefícios antes de 2 de junho, ou aqueles que esgotaram os benefícios
depois de 24 de novembro. Apesar da curta natureza desse benefício do SD, e apesar de
que muitos daqueles afetados provavelmente começaram a procurar por trabalho antes
de 2 de junho, as pessoas nesse “nicho”, na realidade, tiveram uma probabilidade mais alta
de esgotarem os benefícios e se qualificaram para as 13 semanas adicionais. As evidências
sugerem que uma extensão permanente do limite de 26 semanas para um limite de 39
semanas provavelmente aumentaria o número de desempregados de longo prazo (aqueles
que esgotaram o limite de 26 semanas) em 7%.24
Existem fortes evidências de que uma maior rigidez nas regras de elegibilidade para o
sistema de SD tem um forte impacto na duração do desemprego em muitos países europeus.
Por exemplo, na Suíça, autoridades do governo precisam informar uma pessoa desempregada
24 David Card and Phillip B. Levine, “Extended Benefits and the Duration of UI Spells: Evidence from the New Jersey Extended
Benefit Program,” Journal of Public Economics 78 (October 2000): 107-38; veja também Peter Dolton and Donal O’Neill,
“The Long-Run Effects of Unemployment Monitoring and Work-Search Programs: Experimental Evidence from the United
Kingdom,” Journal of Labor Economics 20 (April 2002): 381-403.
Capítulo 12 Desemprego 567
que ela será investigada por não conformidade com os requisitos de elegibilidade. Não é
de surpreender que esse aviso tenha um significativo impacto na velocidade com a qual os
desempregados encontram trabalho.25
Quase 70% dos trabalhadores demitidos temporariamente voltam para seus empregadores
anteriores.26 Para compreender a natureza do desemprego, portanto, é fundamental saber
por que as demissões temporárias são tão prevalecentes. Ocorre que a maneira pela qual
o sistema de SD norte-americano é financiado motiva os empregadores a “usarem excessi-
vamente” as demissões temporárias.
O seguro-desemprego é financiado por um imposto sobre a folha de pagamento
dos empregadores. Normalmente, o Estado decide sobre uma base salarial tributável,
indicando o salário máximo do trabalhador sujeito ao imposto do SD. Há uma grande
variação nesse limite entre os Estados. Em 2003, a base salarial tributável na Califórnia
era de US$ 7 mil; em Massachusetts, US$ 10,8 mil e em Oregon, US$ 26 mil. Se o governo
impuser uma taxa de tributação de t sobre a folha de pagamento da empresa para finan-
ciar o sistema de SD, e se a base salarial tributável no Estado for de US$ 7 mil, a empresa
deve pagar um imposto igual a t multiplicado pelos primeiros US$ 7 mil de salário do
trabalhador a cada ano.
A taxa de tributação t depende de algumas variáveis, incluindo o estado geral da eco-
nomia, o histórico de demissões das empresas daquela indústria e o histórico de demissões
da própria empresa. Como mostra a Figura 12-12, as empresas que tiveram altos índices de
demissões no passado serão tributadas com taxas mais altas. No entanto, a taxa máxima
de tributação que pode ser incorrida por uma empresa está limitada em tMÁX. Se a empresa
raramente usa demissões temporárias, ela incorre em uma taxa de tributação baixa, mas
essa taxa não será inferior à taxa t MÍN (que em alguns Estados é zero). Por exemplo, na
Califórnia, a taxa mínima de tributação é de 0,1% e a máxima é de 5,4%. Em Michigan, as
taxas mínima e máxima de tributação são de 0 e 10%, respectivamente; e em Massachusetts
são de 0,6 e 9,3%.
Embora esse método para determinar a taxa de tributação de um empregador seja
guiado pela crença de que quem usa o sistema de SD deveria pagar por ele, o sistema não
impõe essa carga tributária aos empregadores que iniciam a maior parte das demissões.
Como a taxa de tributação tem um limite em tMÁX, os empregadores que demitem muitos
trabalhadores não pagam a sua “fatia justa” dos custos e assim são subsidiados por outras
empresas. A determinação da taxa de tributação do empregador, portanto, usa uma clas-
sificação imperfeita da experiência.
25 Rafael Lalive, Jan C. van Ours and Josef Zweimuller, “The Effect of Benefit Sanctions on the Duration of Unemployment,”
Journal of the European Economic Association 3 (December 2005): 1386-417. Para um estudo do caso da Eslovênia, veja Jan
C. van Ours and Milan Vodopivec, “How Shortening the Potential Duration of Unemployment Benefits Affects the Duration
of Unemployment: Evidence from a Natural Experiment,” Journal of Labor Economics 24 (April 2006): 351-78; para um
estudo sobre o caso da Noruega, veja Knut Roed and Tao Zhang, “Does Unemployment Compensation Affect Unemployment
Duration?,” Economic Journal 113 (January 2003): 190-206.
26 Martin Feldstein, “The Importance of Temporary Layoffs: An Empirical Analysis,” Brookings Papers on Economic Activity 3
(1975): 725-44; and Lawrence F. Katz and Bruce D. Meyer, “Unemployment Insurance, Recall Expectations, and Unemploy-
ment Outcomes,” Quarterly Journal of Economics 105 (November 1990): 973-1002.
568 Economia do trabalho
0 Taxa de demissões
0 1 temporárias no passado
Para ver como essa avaliação imperfeita da experiência encoraja alguns empregadores
a dependerem de demissões temporárias, considere um mercado de trabalho em que
os trabalhadores e as empresas estão engajados em contratos de longo prazo, talvez por
causa da existência de treinamento específico.27 Suponha que o cenário econômico piore
temporariamente. O financiamento do sistema de SD implica que empregadores que de-
mitem muitos trabalhadores não pagam os custos totais do salário do trabalhador durante
o período de desemprego (ou seja, os benefícios do seguro desemprego). Assim, a empresa
consegue demitir muitos trabalhadores e desloca parte da folha de pagamento para outros
contribuintes durante esse período de dificuldade econômica. A relação entre o trabalhador
e a empresa implica que as duas partes acham que vale a pena continuar a relação de em-
prego. Como resultado, os trabalhadores não querem procurar por um emprego alternativo
porque esperam ser chamados de volta para o antigo trabalho; e as empresas não querem
procurar por outros trabalhadores porque o grupo existente é valioso para ela. Portanto,
a classificação imperfeita da experiência permite que as empresas usem fundos dos contri-
buintes para “suportarem” alguns dos momentos ruins da economia.
As evidências indicam que a classificação imperfeita da experiência tem um impacto
substancial no comportamento de demissões das empresas. A probabilidade de que um
trabalhador desempregado seja chamado de volta para o seu trabalho aumenta substan-
cialmente na semana em que os benefícios se esgotam. No entanto, antes dos benefícios
se esgotarem, a probabilidade de ser chamado de volta é de apenas 1 a 2% por semana. Na
semana em que os benefícios acabam, a probabilidade de serem chamados de volta sobe para
mais de 5%.28 Em outras palavras, muitos empregadores usam o subsídio do contribuinte
pelo tempo máximo possível. Estima-se que a taxa de desemprego cairia em torno de 30%
27Martin Feldstein, “Temporary Layoffs in the Theory of Unemployment,” Journal of Political Economy 84 (October 1976):
937-58; and Robert H. Topel, “On Layoffs and Unemployment Insurance,” American Economic Review 73 (September
1983): 541-59.
28 Katz and Meyer, “Unemployment Insurance, Recall Expectations, and Unemployment Outcomes.”
Capítulo 12 Desemprego 569
Teoria em ação
Os benefícios do SD
Fonte: Jonathan Gruber, “The Consumption Smoothing Benefits of Unemployment Insurance,” American Eco-
nomic Review 87 (March 1997): 192-205; veja também Robert Shimer and Ivan Werning, “Reservation Wages
and Unemployment Insurance,” Quarterly Journal of Economics 122 (August 2007): 1.145-85.
29 Robert H. Topel, “Financing Unemployment Insurance: History, Incentives, and Reform,” in W. Lee Hansen and James F. Byers,
editors, Unemployment Insurance: The Second Half-Century, Madison, WI: University of Wisconsin Press, 1990, p. 108-35; veja
também Anderson and Meyer, “The Effects of the Unemployment Insurance Payroll Tax on Wages, Employment, Claims and Denials.”
570 Economia do trabalho
demite trabalhadores. Não é de surpreender que empresas localizadas em Estados com taxas
de impostos marginais baixas usam bastante as demissões temporárias durante a estação
mais fraca: 6% dos trabalhadores na construção civil em Estados com taxas de impostos
marginais baixas estão em demissão temporária na entressafra, comparado com apenas
3% dos trabalhadores naqueles com taxas de impostos marginais altas.30
Os modelos de busca por empregos oferecem uma explicação importante para a existên-
cia do desemprego friccional. Esse tipo de desemprego é voluntário no sentido de que
os trabalhadores investem em informação para obterem salários mais altos no período
pós-desemprego. Alguns estudos propuseram que até o grande aumento no desemprego
observado durante uma recessão econômica (que provavelmente tem pouco a ver com as
atividades de busca por trabalho) pode ter um componente voluntário.31
Em nossa discussão do ciclo de vida da oferta de trabalho no Capítulo 2, observamos que
os trabalhadores têm um incentivo de alocar o seu tempo para atividades de trabalho durante
aqueles períodos do ciclo de vida em que o salário é alto, e de terem lazer quando o salário
é baixo. A hipótese da substituição intertemporal também tem implicações importantes
em como os trabalhadores distribuem o seu tempo durante o ciclo de negócios. Suponha
que o salário real oscile durante o ciclo de negócios e que essa oscilação seja pró-cíclica;
em outras palavras, o salário real aumenta quando a economia se expande e cai quando
a economia se contrai. Como é barato consumir lazer quando o salário real está baixo, os
trabalhadores estão mais dispostos a reduzir a sua oferta de trabalho durante as recessões.
Eles podem ficar desempregados e coletar benefícios do SD, ou talvez deixar totalmente a
força de trabalho. Como resultado, parte do desemprego observado durante as recessões
econômicas pode ser voluntário, porque os trabalhadores estão aproveitando a queda no
salário real para consumirem lazer.
A hipótese da substituição intertemporal cria duas suposições-chave: (1) o salário real é
pró-cíclico e (2) a oferta de trabalho responde aos deslocamentos no salário real. A pergunta
se salários reais são fixos durante o ciclo de negócios é uma das mais antigas na macroeco-
nomia e ainda não foi resolvida. Embora haja um consenso crescente de que salários são,
de fato, pró-cíclicos, ainda não temos certeza sobre a força da correlação entre o salário
real e o ciclo de negócios.32
30 David Card and Phillip B. Levine, “Unemployment Insurance Taxes and the Cyclical and Seasonal Properties of Unem-
ployment,” Journal of Public Economics 53 (January 1994): 1-30. Há também uma relação entre o SD e o crescimento do
desemprego sazonal na indústria agrícola. Antes de 1975, os trabalhadores nesse setor foram excluídos do sistema do SD.
Quando o programa de SD foi expandido para cobrir os trabalhadores agrícolas, a taxa de desemprego subiu em dois pontos
percentuais durante os períodos de entressafra; veja Barry R. Chiswick, “The Effect of Unemployment Compensation on a
Seasonal Industry: Agriculture,” Journal of Political Economy 84 (June 1976): 591-602.
31 Esta hipótese influente foi primeiramente proposta por Robert E. Lucas and Leonard Rapping, “Real Wages, Employment,
and Inflation,” Journal of Political Economy 77 (September/October 1969): 721-54.
32 Mark J. Bils, “Real Wages over the Business Cycle: Evidence from Panel Data,” Journal of Political Economy 93 (August
1985): 666-89; Gary Solon, Robert Barsky and Jonathan A. Parker, “Measuring the Cyclicality of Real Wages: How Important
Is Composition Bias?,” Quarterly Journal of Economics 109 (February 1994): 1-25; Kenneth J. McLaughlin, “Rigid Wages,”
Capítulo 12 Desemprego 571
Embora as atividades de busca por emprego possam nos ajudar a entender a presença do
desemprego friccional, elas não explicam a existência nem a persistência do desemprego de
longo prazo.34 Como resultado, vários modelos alternativos foram propostos para explicar
por que o desemprego estrutural pode surgir em um mercado competitivo.
Uma explicação importante enfatiza a possibilidade de que os trabalhadores que estão
procurando emprego não têm as qualificações para preencherem as vagas disponíveis. É de
conhecimento comum que os deslocamentos na demanda não afetam todos os setores da
economia por igual. Em qualquer momento, alguns setores da economia estão crescendo
rapidamente e outros estão em declínio. Para ver como esses choques setoriais podem
Journal of Monetary Economics 34 (December 1994): 383-414; Paul J. Devereux, “The Cyclicality of Real Wages within
Employer-Employee Matches,” Industrial and Labor Relations Review 54 (July 2001): 835-50; and Donggyun Shin and Gary
Solon, “New Evidence on Real Wage Cyclicality within Employer-Employee Matches,” National Bureau of Economic Research
Working Paper nº 12262, May 2006.
33 A estimativa consensual da elasticidade da oferta de trabalho, que mede como os trabalhadores respondem a um aumento
de salário durante o ciclo de vida, está na ordem de 0,1. O movimento pró-cíclico observado do salário real requer uma
elasticidade da oferta de trabalho de pelo menos 1,0 para explicar os enormes deslocamentos na oferta de trabalho no ciclo
de negócios; veja Solon, Barsky and Parker, “Measuring the Cyclicality of Real Wages.”
34 Um estudo recente da ligação entre desemprego estrutural e ciclos de negócios é dado por Robert Shimer, “The Cyclical
Behavior of Equilibrium Unemployment and Vacancies,” American Economic Review 95 (March 2005): 25-49.
572 Economia do trabalho
35 David M. Lilien, “Sectoral Shifts and Cyclical Unemployment,” Journal of Political Economy 90 (August 1982): 777-93.
36Uma avaliação crítica dessa evidência é dada por Katharine G. Abraham and Lawrence F. Katz, “Cyclical Unemployment:
Sectoral Shifts or Aggregate Disturbances,” Journal of Political Economy 94 (June 1986): 507-22.
37S. Lael Brainard and David M. Cutler, “Sectoral Shifts and Cyclical Unemployment Reconsidered,” Quarterly Journal of
Economics 108 (February 1993): 219-43.
Capítulo 12 Desemprego 573
Como vimos no capítulo anterior, quando as empresas acham caro monitorar a produção
do trabalhador, elas podem usar salários eficiência para “comprarem” a cooperação do
mesmo. Como a empresa paga salários acima da média do mercado, os modelos de salá-
rios eficiência geram desemprego involuntário. Não há pressão na empresa para reduzir o
salário porque o salário eficiência é o salário que maximiza o lucro; se a empresa reduzir
o salário, a economia na folha de pagamento é mais do que compensada pelas perdas de
produtividade causadas pela negligência do trabalhador.
Podemos interpretar o desemprego causado pelo salário eficiência como a “cenoura” que
mantém na linha os trabalhadores de sorte, com empregos que pagam altos salários.38 Para
entender o porquê, considere primeiramente o resultado de salário-emprego em um mercado
de trabalho competitivo, onde não há problema de shirking (corpo mole) do trabalhador (talvez
porque eles podem ser monitorados a um custo muito baixo). Existem E trabalhadores nesse
mercado, e a curva de oferta de trabalho é inelástica. O ponto P na Figura 12-13 mostra o
equilíbrio competitivo tradicional, cuja curva de oferta vertical S intercepta a curva de demanda
D que se inclina negativamente. Assim, o salário competitivo de equilíbrio de mercado é w*.
Suponha agora que as empresas não conseguem monitorar a produção dos trabalhadores,
porque as atividades de monitoramento são caras. Para simplificar a discussão, vamos admi-
tir que os trabalhadores que são negligentes no trabalho passem todo o seu tempo lendo os
quadrinhos de jornais ou navegando inutilmente na Internet, tornando-os completamente
improdutivos. Para que isso não ocorra, a empresa oferece um pacote de salário-emprego
que motiva o trabalhador a não ser negligente.
Vamos derivar o salário que empresas precisam pagar para garantir que os trabalha-
dores não sejam negligentes no trabalho. Suponha que a taxa de desemprego seja muito
alta. A negligência no trabalho custa caro porque quando o trabalhador é surpreendido e
posteriormente demitido, ele fica um longo período desempregado. Como resultado, as
empresas poderão atrair trabalhadores que não serão negligentes no trabalho mesmo se
pagarem um salário relativamente baixo. Entretanto, se a taxa de desemprego for muito
baixa, esses mesmos trabalhadores acabarão enfrentando um curto período de desempre-
go. Para que a negligência no trabalho custe caro até no curto período de desemprego, as
empresas terão de oferecer um salário relativamente alto ao trabalhador.
A discussão gera uma curva de oferta sem “corpo mole (no-shirking) positivamente
inclinada (rotulada NS na Figura 12-13), a qual mostra o número de trabalhadores não
negligentes que as empresas podem empregar com qualquer salário. A curva de oferta
sem negligência afirma que se as empresas empregarem poucos trabalhadores do total de
E (ponto F), elas conseguiriam atrair trabalhadores não negligentes a um baixo salário,
porque uma demissão leva a um longo e custoso período de desemprego. Se as empresas
38Carl Shapiro and Joseph E. Stiglitz, “Equilibrium Unemployment as a Worker Discipline Device,” American Economic
Review 74 (June 1984): 433-44.
574 Economia do trabalho
contratarem um grande número de trabalhadores (ponto G), elas precisarão pagar altos
salários para motivar os trabalhadores a não serem negligentes. A curva de oferta sem
“corpo mole”, portanto, mostra o número de trabalhadores que o mercado pode atrair com
qualquer salário e que não serão negligentes.
Observe que a curva de oferta sem negligência NS nunca tocará a curva de oferta
perfeitamente inelástica a E trabalhadores e que a diferença entre as duas curvas mostra
o número de trabalhadores que estão desempregados. Se o mercado empregar todos os
trabalhadores a um salário específico, o trabalhador negligente que foi demitido poderá
atravessar a rua e conseguir outro emprego. Em outras palavras, não há nenhuma penali-
dade pela negligência. O principal insight que o modelo de salário eficiência proporciona é
claro: é necessário haver demissões para manter os trabalhadores na linha.
O salário de equilíbrio é dado pela intersecção da curva de oferta sem negligência e a curva
de demanda de trabalho (no ponto Q). O salário wNS é o salário eficiência e as empresas
contratarão ENS trabalhadores, de forma que (E – ENS) trabalhadores estarão desempregados.
Vale observar as várias propriedades desse equilíbrio.
1. Não há pressão de mercado forçando o salário eficiência wNS para baixo, em direção ao
salário competitivo w*. Se empresas fossem pagar menos do que wNS, haveria menos
trabalhadores dispostos a trabalhar e não negligenciariam o trabalho em vista do que
é pago pelas empresas na indústria, então o salário aumentaria. Se o salário fosse mais
alto que o salário eficiência wNS, haveria mais trabalhadores dispostos a trabalhar e
Capítulo 12 Desemprego 575
não seriam negligentes em vista do que é demandado, então o salário cairia. Assim,
o salário eficiência wNS fica acima do salário competitivo de equilíbrio do mercado.
2. Os trabalhadores não são negligentes nesse mercado de trabalho. O salário eficiência
wNS é o salário que motiva os ENS trabalhadores empregados a se comportarem.
3. Há o desemprego involuntário. Os trabalhadores desempregados (E – ENS) querem
trabalhar pelo salário em vigor, mas não conseguem encontrar trabalho. Entretanto,
as empresas nesse mercado não querem contratar esses trabalhadores porque o em-
prego motiva os trabalhadores a serem negligentes.
A curva salarial
Trabalhos empíricos recentes sugerem que os salários eficiência podem ter um papel im-
portante na geração de desemprego em muitos países. Mais especificamente, esse estudo
documentou a existência de uma curva que se inclina negativamente e resume a relação
entre níveis salariais e desemprego.39 Contudo, em cada país o salário tende a ser alto em
regiões onde a taxa de desemprego é baixa, e o salário tende a ser baixo em regiões onde o
desemprego é alto. Esta relação, a qual tem sido chamada de curva salarial, está ilustrada
na Figura 12-15.
O formato com inclinação negativa da curva salarial é difícil de explicar no contexto de
uma estrutura competitiva de oferta e demanda. A intuição da estrutura de oferta-demanda
nos diz que o desemprego aparece somente quando o salário é relativamente alto – acima
do salário competitivo. Esse excesso de oferta de trabalho empurraria o salário para baixo.
Contanto que o salário seja relativamente “fixo”, haverá desemprego. Observe que são os
39 David G. Blanchflower and Andrew J. Oswald, The Wage Curve, Cambridge, MA: MIT Press, 1994. Veja também Lutz
Bellmann and Uwe Blien, “Wage Curve Analyses of Establishment Data from Western Germany,” Industrial and Labor
Relations Review 54 (July 2001): 851-63; and David Card, “The Wage Curve: A Review,” Journal of Economic Literature 33
(June 1995): 285-99.
576 Economia do trabalho
salários altos que estão associados com o desemprego, exatamente o oposto do que sugere
a curva salarial que se inclina negativamente.
O modelo de salário eficiência oferece uma explicação possível para a curva salarial. As
empresas localizadas em mercados de trabalho regionais, onde há muito desemprego, não
precisam oferecer taxas salariais altas para prevenir a negligência dos trabalhadores. Altos
índices de desemprego mantêm os trabalhadores na linha. Em contrapartida, empresas lo-
calizadas em mercados de trabalho regionais, onde há pouco desemprego, precisam pagar
altos salários para motivar os trabalhadores a não serem negligentes.
A natureza dos contratos de trabalho de longo prazo (talvez resultado de treinamento es-
pecífico) apresenta oportunidades aos trabalhadores e empresas para negociarem salários
e probabilidades de demissões.40 A negociação leva a um contrato que especifica o salário
e o número de horas de trabalho para um conjunto de condições econômicas. Visto que
esses contratos existirão mesmo se os trabalhadores não forem representados por uma
instituição formal, como um sindicato, eles serão chamados de contratos implícitos. No
mercado de trabalho, esses contratos implícitos muitas vezes não são escritos nem falados,
porém os trabalhadores de uma empresa em particular entendem bem como as condições
econômicas terão variação com o tempo e durante o ciclo de negócios.
Existem muitos tipos de contratos implícitos viáveis entre trabalhadores e empresas.
Considere, em especial, dois tipos extremos de contrato. O primeiro é de “emprego fixo”,
no qual a pessoa trabalha o mesmo número de horas por ano (por exemplo, 2 mil horas),
independentemente das condições econômicas enfrentadas pela empresa. O segundo é
um contrato de “salário fixo”, em que o trabalhador recebe o mesmo salário por hora, não
importando as condições econômicas que a empresa esteja enfrentando.
Durante o ciclo de negócios, a empresa enfrenta condições de mercado muito diferentes
para o seu produto. Em uma expansão, a empresa vê uma demanda forte e crescente pelo
produto; durante uma contração, a demanda pela produção da empresa enfraquece. Se a
empresa e o trabalhador concordarem em um contrato de emprego fixo, ela responderia a
essas mudanças nas condições de mercado variando o salário do trabalhador. O empregado
seria pago com um salário alto durante a expansão econômica e teria de aceitar um corte
substancial no salário durante uma recessão. Como resultado desses cortes e aumentos de
salário, a renda do trabalhador provavelmente oscilaria muito durante o ciclo de negócios.
Em contrapartida, se a empresa e o trabalhador concordarem em fazer um contrato com
salário fixo, a empresa responderia às mudanças no mercado do produto alterando as horas
do trabalhador, assim, ele trabalharia menos horas durante uma recessão (quando ele tem
menos para contribuir aos lucros da empresa). Em um contrato de salário fixo, por exemplo,
ele poderia trabalhar 2 mil horas por ano durante a expansão, mas apenas mil horas durante
40 Esta literatura começa com o trabalho de Costas Azariadis, “Implicit Contracts and Underemployment Spells,” Journal
of Political Economy 83 (December 1975): 1.183-202 Martin N. Baily, “Wages and Employment under Uncertain Demand,”
Review of Economic Studies 41 (January 1974): 37-50. Um estudo excelente da literatura é dado por Sherwin Rosen, “Implicit
Contracts: A Survey,” Journal of Economic Literature 23 (September 1985): 1.144-75.
Capítulo 12 Desemprego 577
Taxa de
desemprego
uma recessão. Mesmo que a renda anual do trabalhador seja mais baixa durante uma reces-
são, sua perda poderia ser compensada pelo fato de que as horas adicionais de lazer que ele
teria durante uma recessão têm algum valor (afinal, trabalhadores gostam de lazer) e pela
possibilidade de o seguro-desemprego substituir parte dos ganhos perdidos. Como resultado,
a renda “real” do trabalhador pode ser relativamente constante durante o ciclo de negócios
em um contrato de salário fixo.
Muitos estudos argumentam que trabalhadores, em geral, preferem contratos de salá-
rio fixos e “aceitam” as demissões como parte da relação de emprego de longo prazo. Em
outras palavras, os trabalhadores voluntariamente entram em contratos implícitos, em que
suas rendas serão relativamente estáveis durante o ciclo de negócios, mesmo se as horas
de trabalho não forem estáveis.
578 Economia do trabalho
O motivo é que supomos que os trabalhadores sejam avessos ao risco. A função de utili-
dade de um trabalhador avesso ao risco tem uma utilidade marginal de renda decrescente.
Em outras palavras, o ganho de utilidade associado a US$ 1 mil iniciais de renda excede o
ganho de utilidade associado a outros US$ 1 mil e assim por diante. Como os trabalhadores
são assumidamente avessos ao risco, o aumento na utilidade, que resulta de rendas mais
altas pagas durante uma expansão não é o suficiente para compensar a perda na utilidade
resultante de rendas mais baixas pagas durante uma recessão. As empresas que oferecem
contratos de salários fixos, na verdade, oferecem um “seguro” contra quedas salariais durante
recessões e, assim, podem atrair trabalhadores avessos ao risco com salários médios mais
baixos. O contrato implícito no mercado de trabalho seria, então, um contrato de salário
fixo – o que implica que o salário será fixo durante o ciclo de negócios e que o desemprego
aumenta em uma recessão.
No entanto, observe que o desemprego gerado por esse tipo de contrato implícito é
“voluntário”. Os trabalhadores estão melhores com o contrato de salário fixo, portanto,
aceitam demissões em troca de uma trajetória de consumo mais estável. Vários estudos
empíricos examinaram os diversos aspectos da abordagem de contratos implícitos, como
a implicação de que contratos salariais não são renegociados à medida que as condições
econômicas agregadas mudam. Parte da evidência tende a sugerir que os contratos implí-
citos podem ter importância no mercado de trabalho.41
41 Paul Beaudry and John DiNardo, “The Effect of Implicit Contracts on the Movement of Wages over the Business Cycle:
Evidence from Micro Data,” Journal of Political Economy 99 (August 1991): 665-88; James N. Brown, “How Close to an
Auction Is the Labor Market?,” Research in Labor Economics 5 (1982): 189-235; Paul Beaudry and John DiNardo, “Is the
Behavior of Hours Worked Consistent with Implicit Contract Theory,” Quarterly Journal of Economics 110 (August 1995):
743-68; John C. Ham and Kevin T. Reilly, “Testing Intertemporal Substitution, Implicit Contracts and Hours Restriction Models
of the Labor Market Using Micro Data,” American Economic Review 92 (September 2002): 905-27; and Darren Grant, “The
Effect of Implicit Contracts on the Movement of Wages over the Business Cycle: Evidence from the National Longitudinal
Surveys,” Industrial and Labor Relations Review 56 (April 2003): 393-408.
42 A. W. H. Phillips, “The Relation between Unemployment and the Rate of Change of Money Wage Rates in the United
Kingdom, 1861-1957,” Economica 25 (November 1958): 283-99.
Capítulo 12 Desemprego 579
4 B
A
3
Taxa de
5 7 desemprego
A experiência da economia dos Estados Unidos durante os anos de 1960 parecia confirmar
a hipótese de que havia uma troca entre inflação e desemprego. A Figura 12-17 mostra os
vários resultados de inflação-desemprego observados entre 1961 e 2005. Vale a pena obser-
var que a experiência entre 1961 e 1969 sugeriu que os Estados Unidos estavam subindo ao
longo de uma curva de Phillips estável. No entanto, como a figura deixa claro, a confiança
dos formuladores de política econômica (policy-makers) nessa troca de inflação-desemprego
foi destruída nos anos de 1970. Os dados simplesmente se recusaram a cooperar e perma-
necer ao longo de uma curva de Phillips estável. Em vez disso, a relação entre inflação e
desemprego “entrou em parafuso”. Na realidade, parece haver várias curvas de Phillips
diferentes sendo geradas pelos pontos de dados. Por exemplo, os dados entre 1976 e 1979
ficam em uma curva de Phillips diferente do que aquela traçada pelos pontos de 1980-1983
e da outra traçada entre os pontos de 2000-2002.
43 Milton Friedman, “The Role of Monetary Policy,” American Economic Review 58 (March 1968): 1-17; and Edmund S. Phelps,
“Phillips Curves, Expectations of Inflation, and Optimal Unemployment over Time,” Economica 34 (August 1968): 254-81.
580 Economia do trabalho
14
80
12
79
74
81
10
75
Taxa de inflação
8
78
73 82
6 69 90 77
70 76
68 89 91 84
88 71
4 05 87 85
00
67 01 72 94 93
99 96 95 92 83
66 98 97 03
2
63 02 86
65 64 61
62
0
3 4 5 6 7 8 9 10
Taxa de desemprego
Figura 12-17
Inflação e o desemprego nos Estados Unidos, 1961-2005
Fontes: Os dados da taxa de desemprego foram extraídos do U.S. Bureau of Labor Statistcs, “Historical
Data for the ‘A’ Tables of the Employment Situation Release,” Table A-12, “Alternative Measures of Labor
Underutilization,” http://stats.bls.gov/cps/cpsatabs.htm. Os dados da taxa de inflação foram extraídos do
U.S. Bureau of Labor Statistics, “Table Containing History of CPI-U U.S. Todos os índices de itens e variações
percentuais anuais de 1913 até o presente,” http://stats.bls.gov/cpi/home.htm#tables.
Existem muitas maneiras de derivar a curva de Phillips de longo prazo, mas uma maneira
especialmente simples usa o modelo de busca de emprego que apresentamos anteriormente
nesse capítulo.44 Suponha que a economia esteja em um equilíbrio não inflacionário de
longo prazo com uma taxa de desemprego de 5% e zero de inflação, como no ponto A na
Figura 12-18. Os trabalhadores desempregados têm um salário pedido que os deixa indife-
rentes entre aceitar um emprego e continuar as suas atividades de busca. Como o ambiente
econômico não está mudando com o passar do tempo, o salário vigente é constante. Como
resultado, a taxa de desemprego também é constante a 5%, a taxa natural.
Suponha que o governo, inesperadamente, siga uma política monetária (talvez impri-
mindo dinheiro) a qual empurra a taxa de inflação para 7%. Leva tempo para trabalhadores
desempregados aprenderem que a inflação subiu, de forma que, mesmo que a distribuição
da oferta de salário tenha se deslocado 7% à direita, os trabalhadores ainda acreditam que
não há inflação. Em outras palavras, os trabalhadores não ajustam o salário pedido para
justificar a inflação inesperada. Como resultado, o salário pedido é muito baixo em relação
ao novo nível de ofertas de salários nominais. Agora eles encontrarão muitas ofertas de
44Dale T. Mortensen, “Job Search, the Duration of Unemployment and the Phillips Curve,” American Economic Review 60
(December 1970): 847-62.
Capítulo 12 Desemprego 581
emprego as quais satisfazem o salário vigente, fazendo que a taxa de desemprego caia. Uma
taxa alta de inflação não antecipada, portanto, reduz a taxa de desemprego.
A nossa discussão gerou uma curva de Phillips de curto prazo negativamente inclinada
enquanto a economia se desloca do ponto A para o ponto B na Figura 12-18.45 Mais espe-
cificamente, o comportamento de quem procura emprego desloca a economia para um
novo ponto na curva de Phillips, onde a inflação subiu para 7% e a taxa de desemprego
caiu para, digamos, 3%. No entanto, os trabalhadores não ficam no escuro para sempre.
Quando tentam gastar a sua recém-encontrada “riqueza”, rapidamente percebem que um
dólar não compra tanto quanto antes. Então os trabalhadores irão revisar o salário vigente
para justificar a inflação, agora percebida, de 7%. Assim, o salário sobe 7% e o desemprego
se desloca novamente para a taxa natural de 5%. Portanto, no final do processo, a economia
termina no ponto C da Figura 12-18. A taxa de desemprego está de volta à taxa natural, mas
a economia tem uma inflação mais alta.
A relação entre inflação e desemprego durante os anos de 1960 deu a falsa esperança de que
o governo pudesse fazer ajustes finos na economia permitindo que os formadores de política
econômica fizessem a escolha entre inflação-desemprego, sugeridas pela curva de Phillips
negativamente inclinada. A experiência de muitos países desenvolvidos ensinou a dura lição
de que não há nenhuma troca de longo prazo. Os aumentos na inflação não reduzem a taxa
natural de desemprego, ou seja, eles simplesmente levam a preços mais altos.
45 Em outras palavras, os trabalhadores sofrem com a “ilusão monetária” no curto prazo; eles aceitam muitas ofertas de
emprego porque percebem que o salário real aumentou, quando, na realidade, não aumentou.
582 Economia do trabalho
O deslocamento ascendente na taxa de desemprego entre 1960 e 1990 sugeriu que a taxa
natural de desemprego poderia mudar facilmente com o passar do tempo. Nos anos de
1960, não era incomum pensar na taxa de desemprego natural de 4%; na década de 1980,
acreditava-se que a taxa de desemprego natural fosse de aproximadamente 6 ou 7%.
A tendência de aumento na taxa de desemprego natural foi eliminada na década de 1990,
quando o desemprego na economia dos Estados Unidos caiu para níveis impossíveis, sem
um aumento paralelo na taxa de inflação. Por volta do ano 2000, a taxa anual de inflação
era de 3,4% e a taxa de desemprego era de 4%.
Como vimos anteriormente, a taxa natural de desemprego é parcialmente determinada
pelas probabilidades de transição indicando a taxa de perda de empregos entre trabalhadores,
a taxa de empregos encontrados pelos desempregados e a magnitude dos fluxos entre os
setores de mercado e não mercado. Por exemplo, é inevitável que os deslocamentos demo-
gráficos influenciem as taxas naturais de desemprego. Por exemplo, os cortes na época da
explosão demográfica nos anos de 1970 e 1980 provavelmente aumentaram a taxa natural.
Os trabalhadores jovens têm maior propensão de transitarem entre empregos e experi-
mentam oportunidades alternativas de trabalho. Em contrapartida, o envelhecimento da
geração que causou a explosão demográfica nos anos de 1990 deveria ter tido um impacto
moderador na taxa natural, porque agora eles estão confortáveis em empregos estáveis.
Também testemunhamos um aumento constante na taxa de participação de mulheres na
força de trabalho. Com mulheres entrando ou voltando ao mercado de trabalho, é inevitá-
vel que haja aumento de desemprego. Acredita-se que esses deslocamentos demográficos
aumentaram a taxa de desemprego natural em mais de um ponto percentual entre os anos
de 1950 e 1980.46
As mudanças econômicas estruturais também afetam a taxa natural de desemprego.
Por exemplo, os anos de 1980 viram uma deterioração substancial no status de trabalha-
dores menos qualificados no mercado de trabalho. As evidências sugerem que parte desse
aumento observado na taxa natural de desemprego durante esses anos pode ser atribuído
às experiências econômicas de trabalhadores menos qualificados.47 No entanto, ainda não
temos uma boa compreensão dos fatores que levaram a tamanha redução na taxa de de-
semprego natural durante os anos de 1990.
Até por volta de 1980, os Estados Unidos tinham índices substancialmente mais altos de
desemprego do que a maioria dos países da Europa Ocidental (veja Figura 12-19). Em 1970,
46 Michael Darby, John Haltinwanger and Mark Plant, “Unemployment Rate Dynamics and Persistent Unemployment under
Rational Expectations,” American Economic Review 75 (September 1985): 614-37.
47 Chinhui Juhn, Kevin M. Murphy, and Robert H. Topel, “Why Has the Natural Rate of Unemployment Increased over Time?,”
Brookings Papers on Economic Activity 2 (1991): 75-142.
Capítulo 12 Desemprego 583
15
12
Taxa de desemprego
EUA
9 França
Alemanha
Itália
Reino Unido
6
0
1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano
Figura 12-19
Desemprego na Europa Ocidental, 1960-2006
Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics, “Foreign Labor Statistics,” Table 2, “Civilian Labor Force, Employment and
Unemployment Approximating U.S. Concepts, 1960-2006,” http://stats.bls.gov/fls/home.htm.
a taxa de desemprego nos Estados Unidos era de 4,9%, em comparação a 2,5% na França
e 0,7% na Alemanha. Porém, por volta de 2001, a taxa de desemprego nos Estados Unidos
era de 4,7%, em comparação a 8,8% na França e 10,3% na Alemanha.
Além disso, o problema do desemprego europeu consiste amplamente de pessoas em
períodos muito longos sem trabalho. Como mostra a Tabela 12-3, uma proporção substan-
cial dos desempregados em muitos desses países está sem trabalho há mais de um ano! Em
2006, a proporção de desempregados que estavam sem emprego por pelo menos 12 meses
era de 57,2% na Alemanha, 44% na França e 52,9% na Itália. Em contrapartida, apenas
10% dos desempregados nos Estados Unidos estavam sem trabalho por um longo período.
Apesar do crescimento econômico dos anos de 1990, a proporção de desempregados que
estão sem trabalho por muito tempo aumentou, em alguns desses países, durante a década
(por exemplo, a proporção aumentou de 46,8% para 57,2% na Alemanha entre 1990 e 2006).
Muitos estudos foram conduzidos sobre essas tendências no desemprego europeu.48 Como
na discussão relacionada a respeito das causas do aumento das desigualdades salariais nos
Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990, não há nenhum consenso sobre qual fator era mais
48 Lars Ljungqvist and Thomas J. Sargent, “The European Unemployment Dilemma,” Journal of Political Economy 106 (June
1998): 514-50; Olivier Blanchard and Justin Wolfers, “The Role of Shocks and Institutions in the Rise of European Unem-
ployment: The Aggregate Evidence,” Economic Journal 110 (March 2000): C1-C33; and Ghazala Azmat, Maia Ghazala and
Alan Manning, “Gender Gaps in Unemployment Rates in OECD Countries,” Journal of Labor Economics 24 (January 2006):
1-37. Boas visões gerais do problema são dadas por Horst Siebert, “Labor Market Rigidities: At the Root of Unemployment
in Europe,” Journal of Economic Perspectives 11 (Summer 1997): 37-54; Stephen Nickell, “Unemployment and Labor Market
Rigidities,” Journal of Economic Perspectives 11 (Summer 1997): 55-74; and Christopher A. Pissarides, “Public Influences on
Unemployment: The European Experience,” Scottish Journal of Political Economy 46 (September 1999): 389-418.
584 Economia do trabalho
Tabela 13-3
Porcentagem de trabalhadores desempregados em períodos que duram
ao menos 12 meses
País 1990 2006
Bélgica 68,7 56,6
Dinamarca 29,9 20,4
Alemanha 46,8 57,2
França 38,0 44,0
Irlanda 66,0 34,3
Itália 69,8 52,9
Holanda 49,3 45,2
Espanha 54,0 29,5
Reino Unido 34,4 22,1
Estados Unidos 5,5 10,0
Fonte: OECD Employment Outlook, Statistical Annex, Paris: OCDE, 2007, Table G.
49 John P. Martin, “Measures of Replacement Rates for the Purpose of International Comparisons,” OECD Economic Studies
(1996): 99-115.
Capítulo 12 Desemprego 585
Além disso, os impostos sobre a folha de pagamento são muito altos em muitos países
europeus. Estima-se que a “carga fiscal” – a diferença entre o total dos custos de mão de obra
e o pagamento líquido – seja de 63,8% na França, 53% na Alemanha e 62,9% na Itália, em
comparação a 43,8% nos Estados Unidos.50 A carga fiscal relativamente alta nos mercados
de trabalho europeus reduz ainda mais o emprego.
Os salários nos Estados Unidos também são mais flexíveis que os salários na Europa. Em
resposta aos vários choques que ocorreram nas décadas de 1980 e 1990, como a revolução da
informática e a globalização, a economia americana se ajustou de maneira que a desigualdade
aumentou muito entre os trabalhadores com salários baixos e altos. Entretanto, devido às
restrições impostas nos ajustes do mercado de trabalho em alguns países europeus, o salário
em muitos desses mercados era relativamente fixo e isso teria levado a taxas de desemprego
mais altas. Este argumento levanta a possibilidade de que, pelo menos nos últimos anos,
pode ter havido uma troca “desigualdade-desemprego”. Nos Estados Unidos, os choques
levaram a um declínio substancial no salário relativo de trabalhadores menos qualificados.51
Em grande parte da Europa, esses mesmos choques levaram a perdas maiores de emprego.
A rigidez dos salários em alguns mercados de trabalho europeus pode estar relacionada
à alta taxa de sindicalização nessas economias. Os trabalhadores sindicalizados que mantêm
os empregos ganham substancialmente do sindicato, enquanto os “que estão de fora” – os
trabalhadores que são suficientemente azarados por terem perdido seus empregos – pouco
podem fazer para promover mais concorrência no mercado de trabalho. O salário sindi-
calizado acima do mercado, em combinação com as restrições adicionais na natureza do
contrato de emprego que o sindicato inevitavelmente introduz no local de trabalho, cria
mais desincentivos para os empregadores contratarem e expandirem, e níveis mais altos
de desemprego persistem.52
Resumo
• Embora a taxa de desemprego nos Estados Unidos tenha subido entre 1960 e 1990, a ex-
pansão econômica da década de 1990 reduziu substancialmente as taxas de desemprego.
• Mesmo que a economia competitiva esteja funcionando de forma ótima e experimente o
desemprego friccional, alguns trabalhadores inevitavelmente estarão “entre” empregos.
O desemprego estrutural aparece quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda
por trabalhadores.
• A taxa de desemprego do estado estacionário depende das probabilidades de transição
entre emprego, desemprego e o setor não mercado.