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FRoM THE SHAMAN's HuT TO THE PATENT ÜFFICE:

How LoNG AND WINDING IS THE RoAD?--; 11


'PoR NuNo PIRES DE CARVALHO

NOVAS TENDÊNCIAS DO DIREITO DE MARCAS NO


CIBERESPAÇO - LINKS, FRAMES E METATAGS
PoR DIRCEU PEREIRA DE SANTA RosA

ÀPRECIAÇÃO DO CONFLITO ENTRE


MARCAS E NOMES COMERCIAIS
PoR Luiz LEONARDOS ·

A ÜBRIGAÇÃO DO CONTRAFATOR DE MARCA


FAMOSA EM RESSARCIR O LEGÍTIMO TITULAR
DO REGISTRO POR PREJUÍZO À IMAGEM E
CONSEQÜENTE DANO MORAL
PoR MAURICIO LoPES DE OLIVEIRA

A TECNOLOGIA COMO FERRAMENTA


IMPRESCINDÍVEL PARA O DESENVOLVIMENTO
PoR ANA LúciA DE SousA BoRDA

ÀLIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS,


SUAS IMPLICAÇÕES E SUAS LEGISLAÇÕES
NOS DIVERSOS pAÍSES
PoR MARIA THEREZA WoLFF
LUIZ LEONARDOS
Sócio de Momsen, Leonardos e Cia. Ex-presidente e presidente de honra da ABPI e ex-presidente executivo da A/PPI

"Amparando as marcas com medidas excepcionais, a lei repressão da concorrência desleal comum a toda a maté-
não visa proteger à simples combinação de emblemas ou ria. É esse princípio que informa aquelas leis que são, no
palavras, mas proteger o direito, resultado do trabalho, fundo, leis contra a concorrência desleal, no campo do
da capacidade da inteligência e da probidadé do indus- comércio e da indústria, como, em; outra esfera, as leis
trial ou do comerciante." (Carvalho de Mendonça, Trata- do mesmo caráter que protegem a propriedade literária
do de Direito Comercial Brasileiro, 2ª edição, 1934, vol. V, e artística".
pg. 217) 2. Ainter-relação entre as relações jurídicas da proprieda-
1. Em seu excelente Tratado da Propriedade Industrial, mos- de industrial e da concorrência desleal é pacificamente
tra Gama Cerqueira que a unidade dos diversos institutos aceita na doutrina, salientando Yves Saint-Gal, em notável
jurídicos que constituem a propriedade industrial reside monografia, que "a noção da concorrência desleal consti-
no princípio geral de repressão à concorrência desleal, tui ao mesmo tempo a soma e o complemento de toda a
sendo as leis pàrticulares sobre patentes de invenção, regulamentação sobre os direitôs de propriedade indus- '
marcas, nomes comerciais e outros, apenas manifestações trial" (Y. Saint-Gal, "Concurrence Déloyale et Concurrence
específicas daquele princípio, propondo a definição da pro- Parasitaire", in Revue Jnternationale de la Propriété
priedade industrial como "o conjunto dos institutos jurí- Jndustriel/e et Artistique, 1956, nQj_ 25/26, pg. 20) e, partindo
dicos que têm por fim prevenir e reprimir a concorrência da conceituação fornecida pelo artigo 1Obis da Conven-
desleal no comércio e na indústria" (Cf. Tratado da Proprie- ção de Paris (em vigor no Brasil segundo o texto revisto
em Estocolmo em 1967, por força do Decreto nº 635, de
dade Industrial, 1ª edição, Forense, Rio, 1946, vol.l, pg. 79).
21/8/92), de acordo com o qual constitui ato de concor-
Acrescenta o saudoso mestre que:
rência desleal todo ato de concorrência contrária às práti-
"na base das leis particulares da propriedade industrial, cas honestas em matéria industrial e comercial, propõe a
a que acima aludimos, encontra-se o princípio ético da definição de concorrência desleal como abrangendo "to-

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AGENTE DE PROPRIEDADE lNTELECTUAL DESDE 1879

REVISTA DA ABPI- n' 41 - JuLIAco 1999


APRECIAÇÃO DO CONFLITO ENTRE MARCAS E NOMES COMERCIAIS

das as práticas que consistem em empregar meios falaciosos "b)- cette exploitation ou entreprise suppose en effet l'appel
para a venda de produtos, todos os atos de um comerciante au public, c'est-à-dire la création ou le développment d'une
ou de um fabricante que procure seja tirar partido, em seu
benefício, de uma situação conquistada por um terceiro, seja
a desacredita~ a mercadoria ou a empresa de outrem ou,
clientele, dont les achats permettront la rémunération de
l'activité de l'exploitant; l
I
"c}-le droit de propriété intellectuelle ou industrielle con-
ainda, a desorganizar esta última" (op. cit., pg. 21).
3. Aproteção que se pode obter contra atos desta espécie,
siste alors essentiellement en ceei qu'il constitue une
exclusivité au profit de son bénéficiaire, qui !ui assure- et à
l
portanto, situa-se quer no âmbito de repressão geral à con-
corrência desleal quer na repressão às violações dos direi-
tos específicos de propriedade industrial. Deste modo, tan-
to o fundamento de violação aos direitos reconhecidos de
!ui seu! - le droit de produire l'objet envisagé, ou tout au
moins le droit de placer sur cet objet certains signes qui
permettront à la cliente! e de reconnaitre sa production".
(Paul Roubier, "Unité et Synthese des Droits de Propriété
!
propriedade industrial quanto o de prática de atos de con- lndustrielle, in Mélanges Mareei Plaisant)
corrência desleal, quando aquele não for aplicável, podem 6. Assim, ao defrontarmo-nos com as violações no campo da
servir de suporte à ação para fazer cessar ou para alterar a propriedade industrial, /atu sensu, poderemos ou considerá-las
situação que cause prejuízos em decorrência de atos que como violações específicas aos direitos de propriedade in-
não se coadune(Il com as práticas honesta,s em matéria co- dustrial assegurados legalmente ~u, de modo mais amplo, nq
mercial e industrial. esfera da responsabilidade civil, como atos de concorrência
4. Adistinção entre as du_as situações é destacada por Roubier, desleal, tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios
ao assinalar que: alheios, a criar confusão entre estabelecimentos comerciais
"L'action en responsabilité se situe, en effet, dans le ou industriais ou entre produtos e artigos postos no comér-
domaine de la liberté générale; elle suppose la cio (artigo 209, da Lei 9.279/96, combinado com o artigo 159,
démonstration de cetaines conditions particulieres, dont do Código Civil).
!'une au moins, dans le cas de la responsabilité ordinaire 7. Em tais circunstãncias, o próprio registro da marca pode-
de l'article 1\382, se réfere à une appreciation de la conduite rta ceder passo à repressão· à concorrência desleal, caso,
du défendeur, à savoir la faute; le demandem, dans l'action por seu intermédio, se vislumbrasse a prática de alguns da-
em concurrence déloyale, devra établir que le préjudice queles atos desonestos tendentes a causar confusão no co-
qui !ui est causé provient d'une faute du défendeur. Mais mércio ou na indústria, já que a ninguém seria lícito apro-
si au contraíre il existe un droit privatif, la reconnaissance veitar-se da própria torpeza (Cf. Albert Chavanne, "Fraude
de ce droit aboutit à la constatation d'une prérogative qui et dépôt attributif de droit en matiere de marques en droit
doit être respectée par toute autre persone, et toute atteinte trançais", in Mélanges en /'Honneur de Daniel Bastien, vol. 2,
à ce droit constituera, ipso facto, une infraction qui Droit de la Propriété lndustrielle).
emportera une sanction juridique". (Paul Roubier, Le Droit
8. Distinguem-se, evidentemente, os diversos direitos que
de la Propriété lndustrielle, tomo I, pg. 13)
compõem a propriedade industrial. Mas, todos eles, como
5. Esta proteção, que tem, assim, como suporte básico a visto, participam de uma natureza comum. Podem eles ser
regra de repressão à concorrência desleal e que se pode reunidos em dois grupos conforme predomine em relação !
particularizar quando o bem jurídico violado seja objeto ao bem tutelado o aspecto relativo ao direito do autor so- I
de normas especiais, como no caso das patentes de inven- bre suas criações industriais como nas invenções, nos mo-
ção, das marcas e dos nomes comerciais, pressupõe a exis- delos de utilidade e nos desenhos industriais, ou o princí- r
tência dos três elementos salientados por Roubier como
aqueles que representam a síntese de todos os direitos de
pio da lealdade da concorrência como nas marcas, nos no- ~
mes comerciais, no título de estabelecimento e na insignía,
propriedade industrial: nas indicações de proveniência, nos segredos de fábrica e
"a) -11 faut supposer d'abord que l'on se trouve em presence na repressão à concorrência desleal, em geral (Cf. Gama
d'une exploitation ou entreprise au sens économique du mot, Cerqueira, op. cit., pg. 80).
c'est-à-dire, em face d'un effort tendant à l'obtention de profits 9. Tratando-se de sinais distintivos, porém, o direito de pro-
par la mise à la disposition d'un public de consommateurs priedade e uso exclusivo assegurados em decorrência do ar-
d'objets ou de produits; tigo 5º, nº XXIX, da Constituição Federal, abrange qualquer

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APRECIAÇÃO DO CONFLITO ENTRE MARCAS E NOMES COMERCIAIS

uso indevido que deles se faça, entendendo-se por indevido indaga, apenas, se o consumidor pode ser induzido a com-
todo uso não autorizado por seu titular. Assim, é evidente prar o produto A pensando que se trata do produto B, mas
que pode ocorrer violações aos sinais distintivos devidamen- principalmente de verificar se aquele consumidor pode ser
te protegidos quando terceiros se utilizem de sinais de outra levado a pensar que o produto A, devido à marca que o
categoria mas idênticos ou semelhantes aos anteriormente assinala, venha da mesma fonte que o produto B, assinala-
protegidos. É o que ocorre quando se reproduz, em nome do por marca igual ou parecida, mesmo que diversifiquem
comercial ou em título de estabelecimento, a marca alheia, ou os produtos.
quando esta reproduza ou imite elemento essencial daque- Além disso, derivada da primeira, exerce a marca uma
les. Em qualquer das hipóteses haverá risco de confusão en- função de garantia de qualidade, pois os consumidores
tre os negócios das partes. concluirão, do fato, que os produtos têm a mesma ori-
10. Quer sob a figura do desvio de clientela, quer sob a gem, que guardam eles uma qualidade constante. Neste
figura da concorrência desleal inespecífica, objeto dos caso, a proteção se exerce em vista de produtos de ori-
artigos 195, lll e V, e 209, da Lei 9.279/96, freqüentemente gem diversa, cuja qualidade alterada poderá afetar a re-
aparece a reprodução ou imitação de marca como ele- putação da marca original.
mento caracterizador de nome comercial ou de título de ~inalmente, a função de propaganda ou publicidade de~orre
estabelecimento. Éirrelevante que a: marca tenha por fim do fato de ser a marca um dos principais veículos de propagan-
assinalar mercadorias ou produtos, que o título de esta- da dos produtos por ela cobertos, servindo para recomendá-
belecimento distinga o próprio estabelecimento comer- los e para atrair a atenção dos consumidores. Comprando os
cial e que o nome comercial identifique o comerciante, produtos e satisfazendo-se com eles, é de se presumir que os
porquanto a utilização de elemento caracterizador co- consumidores voltem a comprar os produtos da marca já co-
mum trará inevitável confusão. nhecida quando deles novamente necessitem. Assim, por sua
11. Três funções principais são admitidas como preenchidas força atrativa, a marca serve para obter, manter e aumentar a
pelas marcas: uma função de indicação de origem dos produ- clientela, exercendo-se a proteção no sentido de se evitar o
tos, umà função de garantia de qualidade dos produtos e uma ' enfraquecimento do seu 'caráter distintivo. '
função de propaganda ou publicidade dos produtos. Sob qualquer dos três aspectos, deve a marca ser prote-
Pela primeira delas, predominante, e expressamente determi- gida, isto é, quer quando haja risco de confusão quanto
nada pela lei, a marca serve para permitir ao seu titular dis- às origens dos produtos, quer quando haja risco de se
tinguir suas mercadorias ou seus produtos de outros, idênti- enfraquecer a reputação da marca, vendendo-se produ-
cos ou semelhantes, de procedência diversa (artigo 123, I, da tos de qualquer qualidade e mesmo inferior, ou ainda,
Lei nº 9.279/96). quando se ponha em risco a própria capacidade da mar-
Trata-se, aqui, de proteção contra confusão caso os con- ca para atrair a clientela.
sumidores deparem com produtos idênticos ou semelhan- Outro não foi o entendimento do Justice Frankfurter em seu
tes revestidos de marca reproduzida ou imitada. Não se voto perante a Suprema Corte norte-americana, no caso

Mercúrio Marcas e Patentes Ltda


Propriedade Intelectual
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APRECIAÇÃO DO CONFLITO ENTRE MARCAS E NOMES COMERCIAIS

Mishawaka, Rubber & Woolen Manufacturing Co. vs. S.S. de conduta imoral, implícita nesta última". (Rudolf Callmann,
Kresge Co., quando salientou a importância dos sinais dis- "Unfair Competition Without Competition", in The Trademark
tintivos das mercadorias: Reporter, vol. 37, 1947, pg. 183) !
I
"A proteção das marcas é o reconhecimento legal da fun- 14. Assim, não há dúvida que o titular de marca pode im- I
ção psicológica dos símbolos. Se é verdade que vivemos pedir a sua reprodução ou imitação para ser usada como
por símbolos, não é menos verdadeiro que por eles compra- nome comercial ou como título de estabelecimento de ter-
mos mercadorias. Amarca é um atrativo de comercialização
que induz um comprador a escolher o que quer. O dono
da marca explora esta propensão humana fazendo todo
esforço para impregnar a atmosfera do mercado com o
poder atrativo de um símbolo congenial. Qualquer que seja
ceiros. Era o que dispunham expressamente os artigos 111,
nº 2, e 120, nº 5, do antigo Decreto-Lei nº 7.903/45, cujos
princípios foram mantidos nos artigos 94, inciso 1º, e 100,
nº 5, do Decreto-Lei nº 254/67, todos proibindo o registro
como nome comercial ou como título de estabelecimento
l
o meio usado, o fim é o mesmo- transmitir através da mar- às denominações suscetíveis de confusão com marcas de
ca, nas mentes dos consumidores potenciais, o desejo da terceiros. Ainda que estas normas estejam, hoje, revogadas,
mercadoria sobre a qual ela aparece. Uma vez isto atingido, como também o está o Decreto-Lei nº 1.005/69, que dispu-
o dono da marca tem alguma coisa de valor. Se alguém inva- nha de modo semelhante quanto aos títulos de estabeleci-
de o m~gnetismo comercial do síÓ!bolo que foi criado, seu : mento (artigo 91, nº 5) eabolia, pela primeira vez, os regis-
titular pode obter a proteção legal". (Cf. Albert Robin e tros de nomes comerciais, fazendo sua proteção decorrer
Howard B. Barnaby, Jr., "Comparative Advertising: A de sua simples adoção nos atos constitutivos da socieda-
Skeptical View", in The Trademark Reporter, vol. 69, nº 4, ju- de arquivados no Registro do Comércio (artigo 166), per-
lho/agosto de 1977, pg. 364) manecem em pleno vigor os princípios expostos, que de-
12. Como vimos, preside toda a matéria pertinente à pro- correm da proteção outorgada às marcas, garantindo sua
priedade industrial o princípio de repressão à concorrên- propriedade e exclusividade e pelo que dispõe o artigol24,
cia,desleal, que tem seu pon\O culminante nas regras q~e V, da atual Lei da Propriedade Industrial (Lei 9.279/96). Pelo
buscam evitar a confusão entre as atividades industriais e artigo 119 do Código da Propriedade lndusthal anterior
comerciais e a obstar o desvio de clientela. Os princípios (Lei nº 5. 772/71) o nome comercial e o título de estabeleci-
antes expostos, portanto, aplicam-se a todo o campo da mento continuariam a gozar de proteção através de legis-
propriedade industrial e, havendo violação às normas ga- lação própria, a qual se encontra na própria Constitutição,
rantidoras de um dos seus direitos, pouco importa que o no artigo 3º, § 2º, da Lei das Sociedades Anônimas, no arti-
infrator se queira prevalecer das regras pertinentes aos go 35, V, da Lei 8.934/94 (dispõe sobre o registro público
demais, já que todos se submetem à regra geral de repres- de empresas mercantis), mantendo o que se encontrava
são à concorrência desleal. no artigo 38, IX, da Lei do Registro do Comércio anterior
13. Como salientava um dos mais ilustres autores nesta matéria: (Lei nº 4.726/65) e no artigo 195, V, da Lei 9.279/96, além da
regra de proteção aos nomes comerciais independentemen-
"A proteção que pode ser concedida a uma marca com base
te de qualquer registro, contida no artigo 8º da Convenção
em um direito de propriedade é a mais extensa. Ela não é de-
terrrünada pela letra de uma lei nem depende de uma relação de Paris, aplicável internamente por força do artigo 4º, da
particular. A proteção pode ser outorgada contra qualquer Lei 9.279/96. Não têm razão, portanto, Rubens Requião e
ofensa que impeça o titular da marca de utilizá-la plenamen- aqueles que seguem sua opinião (cf. Curso de Direito Co-
te. Qualquer função legal de uma marca cria uma correspon- mercial, pg. 132) de que teria havido, a respeito, vacatio legis,
dente esfera de interesses, cuja proteção legal é determinada acarretando a falta de proteção aos nomes comerciais e tí-
pela possibilidade de dano para o titular da marca. Finalmen- tulos de estabelecimento pois, mesmo à falta de qualquer
te, esta forma de proteção é disponível quer alternativa quer outra legislação, encontrariam guarida no âmbito da re-
cumulativamente. O autor (da ação) tem, assim, uma opção pressão geral à concorrência desleal.
de várias causas para a ação. 15. Ora, o artigo 49 da Lei nº 4. 726/65 determinava que:
De fato, a lei deveria favorecer mais ao autor que processa o "Art. 49- Contendo o nome comercial de sociedade por ações
seu competidor por ofensa a sua propriedade do que por ou de outro tipo, expressão de fantasia e tendo a Junta Co-
concorrência desleal, a fim de poupar o réu de uma acusação mercial dúvida de que reproduza ou imite nome comercial ou

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APRECIAÇÃO DO CONFLITO ENTRE MARCAS E NOMES COMERCIAIS

de indústria ou comércio já depositada ou registrada, prudência a respeito. OTribunal Federal de Recursos, ao jul-
erá suscitá-la, ficando o arquivamento ou registro gar a Apelação Cível nº 10.344, fixou o entendimento de que:
susJoen!>O até que se junte certidão negativa do Departamen- "O titular de marca registrada pode impedir o seu uso por
Nacional da Propriedade Industrial ou até que se resolva terceiros, seja na atividade industrial, seja na composição do
UUll.lall"""""
a dúvida". nome de empresa". (Diário da Justiça de 26/11/53, pg. 445)
então, que a lei contemplava expressamente a Também o Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, ao jul-
u'""'U"" de conflito entre a marca e o nome comer- gar a Apelação Criminal nº 9.899, salientou:
regra esta que tem sua origem no artigo 11 Odo anti- "Crime contra a Propriedade Industrial - Violação de direito
Decreto-Lei nº 7.903/45, que mandava sustar o arqui- de marca de indústria. Firma que se utiliza de marca de ou-
":v2tmemu dos atos constitutivos de sociedades cujas de- trem, registrada no Departamento Nacional da Propriedade
contivessem expressão de fantasia até que Industrial -Emprego daquele no frontispício de seu estabele-
se comprovasse o respectivo registro, ou pedido de re- cimento -Delito configurado. Condenação decretada". (Revis-
camo marca. Outra coisa não se buscava, com esta ta dos Tribunais, vo!. 266, pg. 470)
senão impedir a confusão entre os negócios de
.• cutau''" que adotem nomes comerciais ou marcas
O mesmo acórdão acrescentava:
. lU'-'UUVUV ou semelhantes. Hoje, os artigos 124, V, e 195, "Verifica-se, também, o delito do artigo 175, 11, do Códigb da
da Lei 9.279/96 afastaram qualquer dúvida, garantindo Propriedade Industrial, se a marca contrafeita é usada em
. proteção da marca contra o seu uso não autorizado em anúncios pela imprensa, ou por meio de avulsos, em pros-
comerciais e a proteção destes face a seu uso pectos ou circulares, em faturas ou papéis de escritório, na
fachada ou nos mostruários do estabelecimento comercial do
Por outro lado, são as mesmas as razões que levaram à infrator. Não é essencial, portanto, à sua configuração, o em-
.Pr<Jibi•cão de usar título de estabelecimento que reproduza prego da marca no produto daquela". 0dem)
imite marca alheia. Éindubitável, por exemplo, que o pú- Por sua vez, a 3ª Câmara Cível do 1º Tribunal de Alçada do
consumidor espere encontrar 'os artigos revestidos da ' Estado do Rio de Janeiro,'julgando a Apelação Cível n~ 37.137,
A nos estabelecimentos comerciais em cuja fachada o decidiu que:
A apareça. Se o uso é feito sem a autorização do titular, "Nome comercial - Évedada sua composição com marca de ou-
de boa ou má fé, um locupletamento indevido pelo trem, anteriormente registrada, ou depositada para registro, se
que se estará beneficiando do renome e da fama gran- houver coincidência, ainda que parcial, de atividade econômica".
pelo trabalho e pelo esforço de outrem. Ubi eadem ratio (Acórdão de 2(8(79)
. eaden legis dispositio. Do mesmo modo entendeu o Egrégio Supremo Tribunal Fede-
. Daí o entendimento de que o direito ao nome comer- ral, 2ª Turma, no Recurso Extraordinário nº 54.685:
depende do registro da marca, ou seja, se a expres- "O nome comercial exclusivo não pode ser usado sem auto-
característica do nome comercial puder ser registra- rização. A marca comercial de responsabilidade da recor-
como marca, seu uso será lícito, em caso contrário, rente só pode ser usada com sua permissão. Ouso do nome
ser proibida, por se tratar de reprodução ou imi- comercial registrado representa uma busca de prestígio para
de marca (artigo 124, XXlll, da Lei nº 9.279(96). O os serviços e comodidades que o estabelecimento ou ofici-
Tribunal Federal de Recursos teve oportunidade na podem oferecer. Artigo 141, § 18, da Constituição, asse-
examinar a questão, determinando a cessação do uso gura a propriedade da marcas de indústria e comércio bem
nome comercial por não fazer jus a sociedade ao re- como a exclusividade do uso do nome comercial". (Diário
de sua parte característica como marca. Veja-se, a da Justiça de janeiro de 1964, apenso, pg. 37)
os acórdãos nos Embargos na Apelação Cível Mais recentemente o Superior Tribunal de Justça tem man-
7.360 (Pleno), in Diário da Justiça de 21/9/64, pg. 3.389, tido a mesma orientação, como se vê do acódão de sua 3'
Apelação Cível nº 18.159 (Iª Turma), in Diário da Jus- Turma, no Recurso Especial nº 77.549, de que foi relator o
de 14/8/64, pg. 649. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito e as inúmeras re-
Portanto, alei sempre admitiu a possibilidade de colidência ferências ali contidas. A ementa do acórdão citado é
sinais distintivos de espécies diversas. Pacífica é a juris- esclarecedora:

DAABPI-n'41-JuLIAGo 1999 j9
APRECIAÇÃO DO CONFLITO ENTRE MARCAS ENOMES COMERCIAIS

"Nome comercial. Marca. Registros na Junta Comercial e no INPI. por exemplo, usando a referida marca como insígnia".
1. Tanto o nome comercial quanto a marca, devidamente (Acórdão de 27/9/72, in Révue Internationale de la Propriété
registrados, nos termos da legislação aplicável, devem ser Industrielle et Artistique, nº 93, outubro de 1973, pg. 133)
protegidos. Se o pedido alcança, apenas, a vedação do uso da 19. Do mesmo modo, a Corte de Apelação de Paris:
marca, admitido nas instãncias ordinárias que o registro de "A propriedade de uma marca registrada sendo absoluta e
marca da autora está vigente e o da ré foi indeferido, e, ainda, conferindo ao seu titular uma ação contra todos que a vio-
que o nome comercial da ré é registrado com anterioridade, lem de qualquer maneira que seja, quer estejam de boa ou r
I
defere-se a vedação para o uso da marca, não afetando, pois, de má fé, a sociedade-ré não pode usar o nome comercial
o nome comercial da empresa-ré. ou a insígnia De Nobilis sem ofender aos direitos da socie-
2. Recurso especial conhecido, em parte, e nessa parte provido". dade Nobilis, mesmo se ela não utiliza esta denominação
em seus produtos".
Este é o entendimento que prevalece também na jurispru-
20. Desse modo, como ressalta o trecho de Carvalho de Men-
dência estrangeira. Assim, a Corte de Apelação de Poitiers
donça transcrito de início, não se trata, ao se proteger a mar-
decidiu que: ca, de uma proteção de símbolos ou sinais abstratos, mas,
"A propriedade de uma marca regularmente registrada é pro- sim, de se evitar prejuízos ao resultado do trabalho que tor-
tegida em todo o território francês e confere ao seu titular nou determinada marta conhecida e desejada p~los consu-
uma ação contra todos os que a violam, de boa ou de má fé, midores. Qualquer violação a este direito afeta diretamente a
sob qualquer modo ou de qualquer maneira que seja, como, empresa e deve ser prontamente coibida.

'

[
PRESTIGIE O AGENTE DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Profissão regulamentada pelo Decreto-Lei nº 8.933


de 26 de Janeiro de 1946

40 REVISTADAA8PI-n'41-JuúAGo 1999

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