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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROPSICOLOGIA

ADRIANE AIRES CRUVINEL MACHADO

DESEMPENHO DE LEITURA E ESCRITA EM ESCOLARES SEM QUEIXA E


COM CO-MORBIDADE DISLEXIA-TDA/H

GOIÂNIA

2011
ADRIANE AIRES CRUVINEL MACHADO

DESEMPENHO DE LEITURA E ESCRITA EM ESCOLARES SEM QUEIXA E


COM CO-MORBIDADE DISLEXIA-TDA/H

Artigo apresentado à coordenação de pós graduação


Lato Senso da Pontifícia Universidade Católica de
Goiás como requisito parcial para a obtenção do
título de Especialista em Neuropsicologia sob
orientação dos professores: Weber Martins, PhD e
Sandra Barboza, MS.

GOIÂNIA

2011
ADRIANE AIRES CRUVINEL MACHADO

DESEMPENHO DE LEITURA E ESCRITA EM ESCOLARES SEM QUEIXA E


COM CO-MORBIDADE DISLEXIA-TDA/H

Artigo apresentado ao Curso de Pós-graduação em Neuropsicologia da


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, como requisito parcial à obtenção do
título de especialista em neuropsicologia.

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________
Prof. PhD. Weber Martins
Orientador-Presidente
______________________________________
Prof. Sandra de Fátima Barboza Ferreira
Membro Convidado

Goiânia, ___ de _____________ de 2011.


Desempenho em leitura e escrita em escolares sem queixa e
com co-morbidade Dislexia-TDA/H1

Performance of reading and writing in school without complaint and


with co-morbidity dyslexia TDA/H

Adriane Aires Cruvinel Machado2

Resumo
Caracterizar o desempenho de escolares com co-morbidade dislexia-TDA/H em leitura
e escrita e compará-los com o desempenho de escolares sem queixa. Participaram
deste estudo 279 escolares na faixa etária de oito a doze anos de idade de escolas
públicas e particulares, divididos em dois grupos: Dislexia-TDA/H e um grupo de
crianças com bom desempenho escolar. Os resultados revelaram diferenças
estatisticamente significantes, evidenciando desempenho superior do grupo controle
em relação ao grupo com co-morbidade Dislexia-TDA/H. Os resultados corroboram
estudos anteriores e evidencia a necessidade de programas de atenção especial a
leitura e a escrita voltada para o grupo com co-morbidade.

Palavras-chave: Dislexia; TDA/H, Desempenho Escolar.

Abstract

Characterize the performance of students with dyslexia co-morbidity ADD/H in reading


and writing and compare them with the performance of children without complaint. The
study included 279 schoolchildren aged from eight to twelve years of public and private
schools, divided into two groups: Dyslexia, ADD/H and a group of children with good
school performance. The results revealed statistically significant differences,
evidencing superior performance from the control group to those with co-morbidity. The
results corroborate previous studies and evidence the need of programs of special
attention for reading and writing focused on the group with co-morbidity.

Key-words: Dyslexia, TDA/H, Academic Performance.

1
Este trabalho é parte do projeto de pesquisa “Avaliação Neuropsicológica de crianças e
Adolescentes com Transtorno de Déficit de Atenção e Dislexia”, conduzido pelos professores
Weber Martins, PhD e Sandra de Fátima Barboza Ferreira, Ms.
2
Pós-graduanda do curso de Neuropsicologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás –
Goiânia/Goiás.
1 INTRODUÇÃO

Leitura e escrita são formas mais elevadas de linguagem, e exigem um


processo lingüístico, anatômico e neuropsicológico altamente complexo.
Vygotsky e seus colaboradores realizaram diversos experimentos para estudar
funções psicológicos superiores ou processos mentais superiores. Inclusive a
apropriação da linguagem depende do desenvolvimento das funções
psicológicas superiores (VYGOTSKY, 1988).

Para Vygotsky o cérebro não é um sistema de funções fixas e imutáveis,


mas um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de
funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do
desenvolvimento individual. A linguagem é o sistema simbólico básico de todos
os grupos humanos (OLIVEIRA, 1991).

A questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o


pensamento é um dos temas centrais das suas investigações. Para Vygotsky
(1989) é por meio da relação com os outros que o sujeito estabelece relações
com objetos de conhecimento. Aponta para o signo como mediador social. A
linguagem assume ao mesmo tempo os papeis de integrar os processos
mentais e mediá-los com o mundo social (MASSI, 2007).

Gil (2005) em outras palavras reforça a conceituação de Vygotsky ao


dizer que a linguagem é um instrumento privilegiado dos seres humanos,
sendo um veículo privilegiado do pensamento. É concebida como instituições
sociais construídas por um sistema estruturado de signos que exprimem idéias,
das quais a fala é a manifestação.

A avaliação de Luria segue essa mesma linha de reflexão. Fala sobre a


compreensão das funções mentais enquanto sistemas funcionais, sem
localização específica no cérebro de grande plasticidade. Na avaliação da
interação entre o cérebro e os processos mentais humanos, Luria identificou
três sistemas funcionais, cuja participação se torna necessária para qualquer
tipo de atividade mental (VYGOTSKY, 1989).

A neuroplasticidade das funções nervosas está entre as principais


contribuições à neurociência. Luria trouxe essa nova perspectiva ao estudar o
trabalho cerebral nos processos mentais: fala, memória, percepção,
pensamento, organização do movimento e ação. Nasce a neuropsicologia cujo
objetivo é investigar o papel individual de sistemas cerebrais nas formas
complexas de atividade mental (LEFÈVRE, 1989).

Para Luria nenhuma área do cérebro pode assumir total responsabilidade


por qualquer comportamento humano voluntário ou superior, como por
exemplo, a aprendizagem da leitura. Esta se fundamenta em uma interação
dinâmica e sistêmica de muitas áreas do cérebro. É o produto final da interação
das áreas cerebrais coordenadas pelos sistemas funcionais (LURIA, 1990).

Segundo Fonseca (2001) a leitura é um processo complexo que envolve


inúmeros sistemas funcionais neuropsicologicamente integrados. Para ler e
escrever o sistema funcional complexo entra em ação através de seus
subsistemas: visuais, auditivos, tátil-cinestésicos e motores, subléxicos, léxicos,
cognitivos e metacognitivos, interagindo seqüencialmente. Assim é possível
verificar disfunções em um ou mais desses subsistemas, sinalizando uma
dislexia. Qualquer área do cérebro pode participar em vários sistemas
funcionais ao mesmo tempo, reforçando aqui a plasticidade do órgão da
aprendizagem.

A organização para a leitura e escrita varia muito, pois não depende


apenas de um fator. As principais áreas corticais de controle da linguagem (fala
e escrita) estão situadas no hemisfério esquerdo. Para realizar a leitura é
necessária a participação da conexão existente entre o córtex visual (lobo
occipital) onde são identificados os grafemas e a área de Wernicke (lobo
temporal) onde os símbolos gráficos da escrita são reconhecidos e
compreendidos. O início do movimento para a escrita parte do córtex da área
de Broca, organizando os atos motores no momento do ditado, cópia e geração
endógena. Esta área recebe informações visuais e auditivas, facilitando o
planejamento do controle da mão (ROCHA, 1999).

A leitura e a escrita envolvem habilidades cognitivas complexas, além da


capacidade de reflexão sobre a linguagem no que se refere aos aspectos
fonológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. O processamento lingüístico
da leitura através da via não lexical e por meio da via lexical acontece em áreas
associativas do cérebro. É necessária a conscientização da estrutura fonêmica
da linguagem e das unidades auditivas, que são representadas por diferentes
grafemas, além de envolver diversas áreas cerebrais (SANTOS, 1998).

Assim fica mais fácil entender que a leitura de um texto é feita pelo
cérebro como um todo e não somente pelo reconhecimento do significado de
cada grafema. É possível encontrar uma criança com o lobo occipital perfeito e
com capacidade em decodificar e reconhecer grafemas e ao mesmo tempo não
saber ler. É possível ter um aluno com o lobo temporal funcionando sendo
também capaz de reconhecer e decodificar cada fonema apresentado e não
saber escrever. O cérebro a partir de algumas informações visuais é capaz de
fornecer o contexto de um texto lido (ROCHA, 1999).

A produção da linguagem seria feita pela ativação da área de broca a


partir da idealização das frases na área de Wernicke, da seguinte forma: a
ativação da área de Wernicke leva a compreensão da linguagem a partir da
recepção dos fonemas na área auditiva localizada no lobo temporal, enquanto
que a compreensão da linguagem escrita dependeria da ativação da mesma
área de Wernicke, a partir de estímulos visuais decodificados no córtex do lobo
occipital (WEINER, GOETZ, 2003).

Na região occipital, o córtex visual primário é o responsável pelo


processamento dos símbolos gráficos, e as áreas do lobo parietal são
responsáveis pelas questões viso-espaciais da grafia e da leitura. As
informações processadas nessas áreas são reconhecidas e decodificadas na
área de wernicke, responsável pela compreensão da linguagem, e a expressão
da linguagem escrita envolve a ativação de áreas do córtex motor primário e da
área de Broca (WEINER, GOETZ, 2003).

A dislexia é neurobiológica que afeta a aquisição leitura e escrita. Os


disléxicos têm dificuldades na decodificação, ou seja, na conversão
fonema/grafema, ou ainda, compreender que aquela letra faz aquele som e que
para ser lida um som se une ao outro, formando sílabas, palavras, frases, e
assim por diante. Estes cometem trocas de letras, inversões, substituições,
equívocos, tanto na leitura como na escrita. Enquanto que crianças com TDA/H
lêem bem no quesito decodificação, mas se perdem nas questões atencionais,
não se atendo ao conteúdo da mensagem, perdendo o fio da meada e, muitas
vezes, sendo ineficientes. Muitos confundem essas duas patologias que
também podem se apresentar juntas, no mesmo indivíduo (CALLARI E
JARDINI, 2010).

A co-morbidade Dislexia-TDA/H é mais do que uma simples associação


de transtornos. A presença de ambos representa fatores de risco para o mau
rendimento escolar. Diagnosticar não é fácil, ambos estão associados a
múltiplos déficits neuropsicológicos, inclusive a um comprometimento das
funções executivas. Deve ser levado em consideração à superposição de
sintomas comportamentais que podem existir entre dislexia e o TDA/H, e
também, as influências que pode sofrer do ambiente levando a se modificar ao
longo do desenvolvimento (SOUZA, PINHEIRO, FORTES, PINNA, 2007).

A presença da co-morbidade Dislexia-TDA/H leva crianças a


apresentarem mais problemas comportamentais, emocionais, mais abandono
escolar e um pior prognóstico quando comparadas a um grupo com TDA/H ou
com dislexia isoladamente. A co-morbidade aumenta o comprometimento do
processamento de leitura que depende da atenção uma função
neuropsicológica que está diretamente ligada a outras funções, além de
selecionar informações relevantes e ignorar estímulos menos importantes
(SOUZA, PINHEIRO, FORTES, PINNA, 2007).

Dislexia e TDA/H são duas coisas diferentes, embora crianças possam tê-
las. Os aspectos mais comuns do TDA/H são distração, impulsividade e
hiperatividade. Causado por fatores neurobiológicos que influenciam a
atividade neurotransmissora em certas áreas do cérebro, como na dislexia
freqüentemente existe uma ligação genética. Pode-se lidar satisfatoriamente
com o TDA/H com uma combinação de terapia comportamental, cognitiva e
medicação. Crianças com TDA/H podem ser diagnosticadas mais cedo do que
as com dislexia pela excessiva desorganização. É necessária uma avaliação
completa, para o diagnóstico da co-morbidAde (FRANK, 2003).

Segundo a American Psyctric Association através do manual diagnóstico


e estatístico de transtornos mentais - DSM-IV-TRTM (2002) indivíduos disléxicos
apresentam leitura oral caracterizada por distorções, substituições ou
omissões, e isso ocorre tanto na leitura quanto na escrita, com erros inclusive
de compreensão.
A co-morbidade Dislexia-TDA/H são duas condições diferentes, embora
algumas crianças possam tê-las. Os aspectos mais comuns do TDA/H são
distração, impulsividade e hiperatividade. A criança com TDA/H apresenta
pouca atenção às tarefas, controle deficiente dos impulsos, atividade excessiva
e agitação psicomotora. Se uma criança tem Dislexia-TDA/H é mais provável
que o TDA/H seja diagnosticado primeiro (FRANK, 2003).

Inúmeros trabalhos relataram as dificuldades cognitivas e


comportamentais associadas ao TDA/H, mesmo que em alguns estudos seja
difícil distinguir se os déficits estão associados ao TDAH, exclusivamente, ou
com outras alterações comorbidas com o transtorno de aprendizagem. Ha
alterações das funções executivas na zona em que sobrepõem ou entrelaça
ambos os transtornos. A alteração das funções executivas afeta a capacidade
para atender de forma seletiva os estímulos, para manter a atenção e o esforço
na tarefa, para inibir as respostas, para selecionar e memorizar estímulos e
para organizar, controlar e planejar o comportamento (MESSINA, TICDEMAN,
2004).

A dislexia é o transtorno de aprendizagem mais comum, ocorrendo em


cerca de 8% das crianças em idade escolar. Estimativas utilizando critérios
mais elásticos apontam para a prevalência de transtorno de aprendizagem em
25% das crianças com TDA/H. Não são incomuns a co-morbidade com a
dislexia e a estes estão associados múltiplos déficits neuropsicológicos, e em
particular, um comprometimento das funções executivas (MESSINA,
TICDEMAN, 2004).

O objetivo do estudo foi comparar o desempenho de leitura e escrita em


escolares com co-morbidade Dislexia/TDAH e controles de uma amostra. Com
base nos achados da literatura, a hipótese foi de que o grupo experimental
apresentaria desempenho inferior ao grupo controle.

2 MÉTODO

2.1 Participantes

Esse estudo contou com 271 crianças (121 meninos e 150 meninas) do
Grupo Controle sem histórico de repetência ou queixas escolares. Os outros 8
participantes (4 meninos e 4 meninas) constituíram o Grupo Experimental,
possuíam diagnóstico de co-morbidade Dislexia/TDAH com laudo formalizado
por Médico ou psicólogo.
2.1.1 Critérios de inclusão do grupo controle (sem queixas escolares):
• Crianças com idade de 8 a 12 anos;
• Não possuírem: queixas escolares, histórico de repetência;
• Estarem regularmente matriculadas em escolas públicas e privadas do
Estado de Goiás e Mato Grosso que autorizasse formalmente a coleta
de dados figurando como instituições co-participantes;
• Aceitarem o convite para participar da pesquisa;
• Assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) por
pais ou responsáveis.
2.1.2 Critério de inclusão do grupo clínico (Dislexia/TDA/H):
• Crianças com idade de 8 a 12 anos;
• Estarem regularmente matriculadas em escolas públicas e privadas do
Estado de Goiás e Mato Grosso e ter vínculo com instituições de
atendimento especializado;
• Possuírem diagnóstico de Dislexia/TDA/H formalizado com laudo médico
ou psicológico;
• Aceitarem o convite para participar da pesquisa;
• Assinatura do TCLE por pais ou responsáveis.

2.2 Instrumentos

A pesquisa utilizou os seguintes instrumentos:


• Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contendo dados
de identificação do sujeito, bem como explicação dos objetivos da
pesquisa.
• Folha de registro contendo entrevista exploratória sócio-demográfica
com questões relativas à escolaridade, ocupação, uso de
medicamentos, condições gerais de saúde e lateralidade.
Protocolo (Manual / Crivo / Folha de Registro) do Teste de Desempenho
Escolar – TDE, subteste de escrita (Stein, 1994), O TDE “é um instrumento
psicométrico que busca oferecer de forma objetiva uma avaliação das
capacidades fundamentais para o desempenho escolar, mais especificamente
da escrita, aritmética e leitura”. Para esta amostra usou o subteste escrita e
leitura (STEIN, 1994).

Caneta, lápis, borracha e gravador.

2.3 Procedimento
A coleta de dados para a pesquisa seguiu a seguinte seqüência:

2.3.1 - A pesquisa foi iniciada após a autorização pelos pais, responsáveis


ou diretores das escolas, através do Termo e Consentimento Livre e
Esclarecido. Foi fornecida a informação prévia de que a aplicação do protocolo
teria duração aproximada de 20 minutos (cinco minutos de entrevista, a prova
de ditado com duração aproximada de dez minutos, a prova de leitura com
duração aproximada de cinco minutos);

2.3.2 - Utilizou-se folha de registro contendo entrevista exploratória sócio-


demográfica feita com os pais da criança para o levantamento de dados para a
pesquisa. Constando: á escolaridade, ocupação, uso de medicamentos,
condições gerais de saúde e lateralidade do nome do aluno, data de
nascimento, idade, escolaridade, tipo de escola, ocupação dos pais, renda
familiar, nº de pessoas que residem na mesma casa, algum acidente e cirurgia
já realizadas.

2.3.3 - Após o consentimento da escola e assinatura do TCLE pelos pais


ou responsáveis, a coordenação da escola selecionou as crianças obedecendo
aos critérios de inclusão (sem queixas escolares, sem repetência, de 8 a 12
anos);
2.3.4 - Após o experimentador estabelecer um contato com os sujeitos e
explicar os objetivos das atividades, solicitava ao sujeito que se posicionasse
nos lugares estabelecidos.

2.3.5 - foram submetidos à aplicação do subteste Desempenho Escolar


TDE utilizado para medir a leitura dos escolares, composto por 70 palavras
lidas pelos escolares e gravadas. Foi orientado que seria registrado o tempo
através de um cronômetro.
2.3.6 - realizou-se aplicação do subteste escrita de forma individual, em
sala apropriada indicada pela direção da escola. Segue a instrução dada às
crianças que sofreu pequena adaptação comparada à instrução original:
“vamos fazer agora uma tarefa de ditado. Primeiro você escreve o seu nome
completo aqui (indicava o local na folha de registro do teste), e depois eu vou
ler a palavra para você escrevê-la aqui (indicava o local na folha de registro do
teste). Compreendeu? Alguma dúvida?” Se não manifestava dúvida, iniciava o
ditado. Durante a aplicação quando a criança solicitava que a palavra fosse
repetida, isso lhe era concedido.
2.3.7 - Realizada a correção do subteste escrita que constitui de ditado de
34 palavras. Cada palavra escrita corretamente atribuía-se um ponto, inclusive,
para a grafia correta do nome do participante conforme orientação do manual
do TDE (STEIN, 1994). Assim, o sujeito poderia alcançar o número máximo de
35 pontos.
2.3.8 - Aplicação do Subteste de Leitura do TDE (STEIN, 1994) composto
por 70 palavras que foram lidas pelo aluno. A leitura do aluno foi gravada em
áudio.

2.3.9 - Análise estatística: Nesta etapa registrou-se no banco de dados a


pontuação obtida pelos sujeitos utilizando software Statistical Package for
Social Science – SPSS - versão 18.0, Os dados foram analisados de forma
descritiva (média, Desvio-padrão) e inferencial (teste de comparação entre
médias). E, posteriormente, realizada análise estatística dos dados optando-se
pelo Teste não-paramétrico Mann Whitney para comparação entre médias.

3 RESULTADOS

Os dados da amostra foram analisados estatisticamente pela aplicação do


programa computacional SPSS - versão 18,0, formada por grupo controle (271
participantes) e grupo experimental (8 participantes), crianças e adolescentes
de escola pública e particular. Realizou-se tratamento estatístico usando o
Teste de Desempenho Escolar - TDE (STEIN, 1994) nas comparações
envolvendo participantes de ambos os grupos.
Observa-se na figura 1, que no grupo controle há prevalência de
participantes de 10 anos e representação equilibrada dos participantes de 9 e
11 anos. Nota-se, ainda, índice menor de participantes de 8 e 12 anos. No
grupo experimental, há predomínio de Dislexia-TDA/H em participantes de 10
anos, apesar da pequena amostra, e menor predomínio em escolares de 12
anos.

80 4
freq. absoluta

freq. absoluta
60 3
2
40
2
20 1
1
0 0
8 9 10 11 12 8 9 10 11 12
idade (anos) idade (anos)

(a) (b)
Figura 1 – Distribuição de freqüência (a) grupo controle, (b) grupo experimental.

Para a avaliação dos dados, em consideração à ausência de normalidade


das variáveis estudadas, demonstrada pelo uso do teste de Kolmogovov–
Smirnov (p<0.001), utilizou-se de testes não-paramétricos. O teste escolhido foi
Mann-Whitney, indicando diferenças estatisticamente significativas (p<0.001) e
corroborando a hipótese considerada, ou seja, o desempenho dos participantes
do grupo clínico (Dislexia/TDA/H) na leitura e escrita como inferior quando
comparado ao grupo controle (sem queixas escolares).
A Tabela 1 destaca os resultados obtidos pelos participantes do grupo
controle (sem queixas escolares) e clínico (Dislexia-TDA/H) nos subtestes de
leitura e escrita do Teste de Desempenho Escolar - TDE (STEIN, 1994).
Tabela 1 – Estatísticas dos grupos controle e experimental.
Pontos do TDE Pontos do TDE Tempo do TDE
subteste de
subteste de escrita subteste de leitura
leitura
Estatística Cont. Exp. Cont. Exp. Cont. Exp.
Média 28.73 12.63 64.62 29.75 122.91 604.50
Intervalo de Limite Inferior 28.16 2.56 63.78 9.01 116.92 270.84
Confiança de
Limite Superior 29.30 22.69 65.46 50.49 128.90 938.16
95%
Desvio-padrão 4.80 12.03 7.02 24.81 50.09 399.10

Mínimo 14 1 25 3 54 130

Máximo 35 33 126 67 342 974

Significância (p_unicaudal) <0,001 <0,001 <0,001

Verifica-se que, na avaliação da escrita, os grupos apresentam diferença


significativa ao nível de 0,1%, confirmando a hipótese de inferioridade do grupo
experimental. A significância efetiva menor que 0,001 indica muito baixa
probabilidade das diferenças observadas serem apenas produto do acaso (erro
amostral).

Analisando os dados apresentados, constata-se que estatisticamente o


grupo experimental se mostra inferior ao grupo controle na variável tempo. O
grupo experimental apresenta alta discrepância em relação ao grupo controle.

A avaliação da leitura e escrita foi realizada por meio da pontuação da


idade das crianças segundo critérios propostos por (STEIN, 1994). Outro
aspecto a ser mencionado em relação ao grupo experimental além de
apresentarem dificuldade na escrita, inclusive demonstrou dificuldade em
relação à leitura. O desempenho dos participantes registrou abaixo do
esperado para a idade cronológica.

4. DISCUSSÃO

O objetivo do estudo foi comparar o desempenho de leitura e escrita em


escolares com co-morbidade Dislexia-TDAH e controles de uma amostra. Com
base nos achados da literatura, a hipótese foi de que o grupo experimental
apresentaria desempenho inferior ao grupo controle.
Os resultados encontrados neste estudo acataram a hipótese levantada,
ou seja, o rendimento do grupo experimental foi inferior ao grupo controle.

Conforme destacado não são incomuns a co-morbidade com a dislexia e


TDA/H observando-se alterações na leitura em particular e comprometimento
das funções executivas (MESSINA, TICDEMAN, 2004).

Conforme Frank (2003) crianças com co-morbidade Dislexia-TDA/H


experimentam dificuldades no processamento da linguagem escrita e leitura.
Acham difícil aprender a ler, escrever ou expressar os pensamentos no papel,
escrevem menos palavras. Dispensam menos atenção nas tarefas e no
domínio da caligrafia nos primeiros estágios da escrita.

As dificuldades apresentadas pelo grupo experimental mostraram-se


presentes tanto na pontuação da prova de leitura como no tempo de leitura e
pontuação escrita/ditado, evidenciando a necessidade de programas de
atenção especializada a crianças com TDA/H e Dislexia.
.

Como considerações finais sugere uma investigação detalhada do tipo de


erros cometidos pelas crianças, com vistas a oferecer subsídios ao programa
de intervenções pedagógicas.

A neuropsicologia se direciona para a busca de analisar questões que


continuam abertas a novas investigações. Este estudo foi relevante para
confirmar dados pré-existentes na literatura bem como ampliar o conhecimento
sobre o tema.
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