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Universidade Eduardo Mondlane

Escola Superior de Negócios e Empreendedorismo de Chibuto (ESNEC)

1º Ciclo de Graduação em Finanças

Análise Financeira - 3° Ano - 2021

Unidade 2⁚ Uma nova abordagem de Análise Financeira – Analise Qualitativa

O que é Análise Qualitativa de uma Empresa

A análise qualitativa permite entender a fundo uma empresa e obter informações que vão
além dos números (Informações Quantitativas). A avaliação de uma empresa não é uma
ciência exacta. Por mais que exista uma série de indicadores e cálculos, a análise não se
resume somente a isso, a decisão de investir em ações na estratégia compra ou venda,
requer uma avaliação fundamentalista baseada em dados quantitativos e qualitativos.

A análise qualitativa tenta entender o que tem por trás dos números apresentados, como
sua posição no mercado, gestão, vantagem competitiva, prespectivas para o futuro, entre
outros. Cada indústria tem suas peculiaridades e saber como ela funciona permite uma
compreensão mais profunda da saúde financeira da empresa, portanto esta informação é
essencial para o sucesso do investidor no longo prazo.

Saber o que esta fazendo e quais os fundamentos que fizeram investir em determinada
acção é uma segurança e tranquilidade em tempos de crise. O investidor que não tem o
entendimento de suas acções tende a ficar aflito e sofrer com a volatilidade, afinal sua
decisão não teve nenhuma base no concreto. A análise qualitativa foi muito defendida por
Benjamim Graham e seu discípulo Warren Buffet.

“ Nunca Invista em um Negócio que você não entende” – Warren Buffet

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Com isso, envolve muitos factores e é comum agrupá-los em duas categorias:
Quantitativa e Qualitativa.

Portanto, análise de uma empresa leva em conta o lado quantitativo representado por seus
números e o lado qualitativo, relacionado a qualidade da marca, seus controladores, entre
outros. Por mais que os factores qualitativos sejam mais difíceis de avaliar, não se pode
ignora-los. Muitas vezes o lado qualitativo o motivo das empresas estarem com suas
acções barratas na Bolsa de valores. Por exemplo, uma empresa com dados financeiros
impecáveis pode estar subavaliada devido a problemas de governação ou simplesmente
por causa de eventos atípicos passageiros. Cabe ao bom investidor fundamentalista saber
diferenciar.

Principais Factores de Análise Qualitativa

Quando se inicia o estudo qualitativo de qualquer modelo de negócios, existem 4 áreas


importantes a se considerar:

 Modelo de Negócio
 Vantagem Competitiva
 Gestão
 Governação Corporativa

a) Modelo de Negócio

O primeiro Passo para uma análise qualitativa de uma empresa é entender o seu modelo
de negócio, isto é saber exactamente o que a empresa faz. Para isso o investidor precisa
saber responder a seguinte pergunta⁚

 Qual é a principal fonte de Receita desta empresa hoje

Para o“ Oráculo de Onaha” e“ Warren Buffet”, o mínimo que um investidor precisa saber
antes de investir em qualquer empresa é o seu modelo de Negócio. O mega investidor não
investe no que não entende, para ele é mais importante o valor do que a empresa produz,

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do que simplesmente o preço da acção em si. As vezes é fácil entender exactamente o que
a empresa faz.

Exemplo⁚ Mc Donalds (É uma rede que vende hamburguês, batatas Fritas, refrigerantes),
mas algumas empresas possuem fontes de caixa que não são muitos claras ou visíveis
para quem olha de fora. Esse é o caso da Empresa Americana“ Boston Chicken” apesar
do nome, a maior parte do seu facturamento não vem da venda do frango, mas sim dos
Royalties cobrados da franqueadora com uma gestão agressiva fraudava números.

No início dos anos 90, as suas acções eram queridinhas de Wall Street, porém o negócio
não passava de uma grande rede franqueadora com uma gestão agressiva que fraudava
números

b) Vantagem Competitiva

A segunda coisa a ser levada em conta pelos investidores em uma análise qualitativa são
as principais vantagens competitivas do negócio. O sucesso a longo prazo de uma
empresa depende da sua capacidade de manter sempre uma distância em relação a seus
concorrentes. Uma vantagem Competitiva significa que a empresa tem um desempenho
melhor do que os seus rivais. Dessa forma, os investidores sabem que poucas empresas
são capazes de competir com sucesso entre elas. Um exemplo de vantagem Competitiva é
a Coca-Cola e a Microsoft. De acordo com o prof Michael Porter, vantagens competitivas
sustentáveis são obtidos através dos seguintes factores⁚

 Posicionamento Competitivo Único


 Alto grau de Eficiência Operacional
 Actividades alinhadas a estratégia da empresa
 Alto grau de integração entre processos da empresa

Michael Porter, em seu livro Intitulado Estratégia Competitiva trouxe um conceito de


análise estrutural das indústrias como método para compreender as cinco Forças
determinantes da Concorrência. Uma empresa para fórmular a estratégia de Competição
precisa diagnosticar e analisar o meio ambiente em que ela esta inserida e este é formado

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por diversas forças como sociais, económicas, etc. Mas o principal que deve ser estudado
nesse ambiente é a Indústria ou Sector em que a empresa compete, Segundo Porter é a
Estrutura da Indústria que vai determinar as regras de competição entre as empresas
participantes. Portanto, a concorrência em uma Industria é o grau de concorrência vai
depender da intensidade das cinco forças competitivas básicas que formam essa estrutura.

Segundo Michael Porter, as cinco forças que dirigem a concorrência na Indústria são:

1. Entrantes Potências: Ameaça de Novos entrantes ou barreiras a entrantes

Caracteriza-se como possibilidade de entrada de novas empresas que trazem recursos


geralmente substanciais, como nova capacidade de produção e um grande desejo de
ganhar parcela do Mercado. A intensidade das ameaças que podem trazer estas novas
entradas depende das barreiras que tiver de enfrentar. São exemplos de Barreiras de
entrada para um novo jogador no segmento: As economias de escala, as patentes, a
identidade da Marca, a necessidade de capital, os canais de distribuição, o tamanho da
curva de aprendizado, o custo de desenho de produto, as políticas governamentais, uma
possível baixa de rentabilidade de negócio, entre outros. Diante disso é preciso incentivar
as barreiras de entrada para que novos entrantes não se estabeleçam no segmento onde a
empresa actua.

2. Compradores: Poder de Negociação com os Compradores

O objectivo do estudo desta força é ajudar a evitar que a empresa fique refém de algum
cliente. Um grupo de Compradores tem grande poder de negociação nas seguintes
circunstâncias: Se uma parcela grande das vendas é adquirida por um determinado
comprador, quanto mais significativos forem os custos do produto adquirido frente ao
custo total do cliente, maior será a pressão para comprarem os produtos ao preço mais
favorável possível, no entanto se o custo da mudança para outro fornecedor for baixo,
haverá redução dos preços do produto do comprador ele será obrigado a reduzir os custos
de insumos, quando o comprador for uma empresa do mesmo grupo.

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3. Fornecedores: Poder de Negociação com os Fornecedores

O objectivo do estudo desta força é evitar que a empresa fique refém de algum
fornecedor. Porter cita as seguintes circunstâncias que caracterizam um grupo de
fornecedores poderosos: Quando os fornecedores são formados por poucas companhias e
estas companhias são mais concentrados do que a indústria para qual vendem; quando há
inexistência de produtos substitutos para seus produtos; quando determinada indústria
não for significativa em relação ao volume total de vendas; quando a qualidade de seus
produtos é diferenciada.

4. Produtos substitutos: Ameaça de entrada de produtos ou Serviços Substitutos

São aqueles que não são produtos concorrentes, mas desempenham funções equivalentes
ou parecidas com o produto da empresa, ou seja trazem o mesmo benefício para o cliente.
Devem ser estudados, pois limitam o potencial de retorno de um mercado, estabelecem
um teto nos preços do Mercado. Se o produto ou serviço substituto consegue mostrar um
ganho na relação custo versos Benefícios quando comparado aos actuais produtos, a
ameaça que oferece é ainda maior.

5. Concorrentes da Industria: Nível de Rivalidade entre as empresas existentes.

Pode ser definida como a intensidade da disputa por posição entre as empresas que já
actuam em um mesmo mercado, e pelo volume de empresas que competem neste
segmento. O grau de intensidade desta rivalidade pode ser medido através de um leque de
sintomas, no entanto quanto mais dos sintomas abaixo existirem, maior será o grau de
rivalidade da indústria; Existência de muitos competidores iguais em tamanho; Existência
de líder em custo; lento crescimento da indústria; pouca diferenciação de produtos e
serviços.

Se estes sintomas confirmarem um alto grau de rivalidade entre os competidores de um


segmento, estratégias potenciais para actuar nesta indústria podem ser: Aumentar a
satisfação dos clientes; criar produtos e serviços diferenciados; oferecer produtos

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flexíveis; criar programas de relacionamento contínuo com os clientes; optimizar o uso
dos canais de distribuição e Vendas. A identificação das características estruturais de uma
indústria possibilita a determinação das cinco forças competitivas que afectam as
empresas. O foco de uma estratégia competitiva é posicionar a empresa em um ambiente
que ela possa defender das ameaças provenientes dessas cinco forças ou influênciar a seu
favor as oportunidades oriundas delas, então para obter uma estratégia de sucesso é
Necessário, além de outras factores, analisar cuidosamente as fontes de cada força.

A pressão exercida pelas fontes de cada força irá fazer com que a empresa mostre seus
pontos fortes e fracos para enfrentar as ameaças de cada força ou aproveitar eventuais
oportunidades. Portanto, a base fundamental para a formulação de estratégia, de acordo
com Porter é fazer uma análise estrutural da Indústria que serve também como método
para diagnosticar a concorrência Industrial.

Determinantes Estruturais que afectam a concorrência

Uma indústria é formada por um conjunto de empresas que fabricam produtos substitutos
bastante próximos entre si. A concorrência age no sentido de diminuir o retorno dessas
empresas diante do capital investido por elas, a uma taxa básica de retorno como se
estivessem no regime de concorrência perfeita, ou seja uma taxa igual ao rendimento
sobre títulos do governo a longo prazo, verificando essa situação, os investidores não vão
tolerar retornos abaixo dessa taxa e por isso investem em empresas com maior
rentabilidade.

Diante dessa situação, as empresas que tiverem um retorno inferior a essa taxa sairão do
negócio por falta de investimentos. Taxas altas de retorno servem para estimular o
influxo de capital em uma indústria, por exemplo, estimula novos entrantes,
investimentos dos concorrentes, etc. As cinco forças competitivas irão determinar até que
ponto irá esse influxo de capital garantira o retorno de altas taxas e consequente
investimento, fora de garantirem a determinação da intensidade da concorrência ou o seu

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nível de rivalidade, pois clientes, fornecedores, substitutos, entrantes potenciais são
concorrentes para uma indústria.

c) Gestão

Mesmo o melhor negócio, se não tiver uma boa gestão está condenado ao fracasso. Por
isso, a análise de gerência de um negócio é de extrema importância. Apesar dos
investidores individuais estarem em desvantagem em relação aos investidores
profissionais na hora de avaliar a administração de uma empresa ainda há algumas
formas de saber um pouco mais.

Toda sociedade anónima de capital aberto tem uma secção de informação corporativa em
seu endereço eletrónico, Porém a informação la disponível não e suficiente para avaliar a
gestão, pois nenhuma empresa irá divulgar algo negativo em seu próprio endereço,
portanto se recomenda mais buscas em conferências, nos resultados financeiros
apresentados e as respostas as perguntas feitas pelos analistas à administração.

Compare o que a administração disse nos últimos anos com o que ela esta dizendo agora,
verifique se efectivamente, as estratégias anteriormente anunciadas foram realmente
implementadas. Um sinal importante para o mercado é o que os membros da
administração sejam também acionista da empresa. Dessa forma, se os próprios
executivos colocam seu património nas acções da empresa, você terá a maior segurança
de que eles tomaram decisões correctas. Vale a pena também conferir junto a Bolsa de
valores Mobiliários, se a administração tem vendido acções. Uma outra boa maneira de
analisar a capacidade administrativa da empresa é verificar o histórico dos executivos em
outras companhias, sua educação e experiência no sector.

d) Governança Corporativa

A governança Corporativa são políticas em vigor dentro da empresa e que definem as


relações e responsabilidades entre administração, Direção e Accionistas. O objectivo
dessas políticas é assegurar as boas práticas empresariais, para que não ocorram

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actividades antiéticas e ilegais. Uma boa governação corporativa é aquela que está em
conformidade com todas as suas directrizes. Estas abragem

 Estrutura do conselho de administração


 Direitos das partes interessadas
 Transparência financeira e de informação

O conselho de administração é responsável por proteger os interesses dos accionistas e


garantir que a gerência busque isso também. A característica mais importante do
conselho de administração é a independência, ela deve ser composto por representantes
internos e externos a empresa a fim de representar os interesses dos accionistas.

Como donos de uma parte da empresa, os accionistas também devem ter algum acesso
ao conselho de administração, por isso, empresas com boa governação corporativa
oferecem certa quantidade de direitos de voto aos accionistas da Assembleia. Outro
aspecto de boa governação é a qualidade, rapidez de divulgação de informações e
resultados operacionais, possibilitando os accionistas acompanharem o que a
administração esta fazendo.

Factores Relacionados ao Ambiente de Actuação

Além da gestão, governação corporativa, vantagem competitiva e modelo de negócio, há


outros factores qualitativos relacionados ao ambiente em que a empresa actua que podem
ajudar na análise.

1. Consumidores - Pesquisar o que o consumidor que usa os produtos e serviços da


companhia diz, pode dar ao investidor uma ideia melhor sobre a posição da
companhia no mercado.

2. Marca - Marcas fortes, são identificados como sinónimo de qualidade, portanto tem
um valor de venda aumentado devido a percepção do consumidor aos seus produtos. Um
exemplo é a marca Coca- Cola, podem até existirem concorrentes, mas seus produtos são
difíceis de serem replicados.

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3. Participação de Mercado

A participação de Mercado pode dizer muito sobre o negócio de uma Empresa, isso pode
sugerir que a empresa possui algum tipo de “ Vantagem Económica” capaz de proteger os
seus actuais e futuros lucros.

4. Crescimento da Indústria

Uma forma de examinar o potêncial de crescimento de uma empresa é analisar a


quantidade de novos clientes que a empresa pode conquistar. Alguns possuem
crescimento zero ou negativo. Um exemplo destes itens, são empresas dedicadas
exclusivamente a criação de CDs, portanto com o avanço da tecnológia, o que era óptimo
no passado entrou em desuso.

5. Concorrentes

Um grande número de concorrentes no Mercado cria um ambiente difícil para as


empresas. Procure saber se a empresa é competitiva e se a mesma destaca no mercado
que actua.

Análise Qualitativa Versus Análise Quantitativa

As análises quantitativas e qualitativas são uma forma de separar e facilitar a análise de


dados referentes a saúde financeira e a gestão de uma empresa, e com base nisso fazer
uma eficiente análise fundamentalista. De forma geral, podemos dizer que a análise
quantitativa faz referência a todos os números possíveis em relação a uma empresa. As
informações a serem analisadas são⁚

 Receitas
 Margem Liquida, Margem Bruta, Margem Operacional
 Indicadores Financeiros
 Endividamento da Empresa

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 Rentabilidade do negócio

Já a análise qualitativa leva em conta tanto o cenário micro e Macroeconómico da


empresa. Mede a qualidade de gestão e de governação corporativa, entre os aspectos
analisados estão⁚

 Nível de Governança Corporativa


 Experiência dos Gestores da Empresa
 Membros do Conselho
 Posição e Reconhecimento
 Potêncial de Crescimento
 Riscos inerentes ao segmento

A análise qualitativa é mais subjectivo e leva em consideração factores importantes para


o futuro de uma organização, como a qualidade de sua gestão e governança corporativa.
A análise fundamentalista engloba um conjunto de Métodos quantitativos e qualitativos
na busca por definir o valor intrínseco de uma acção. Entretanto, não há entre analistas de
mercado, uma preferência por uma outra. O ideal é sempre juntar os dois tipos de
abordagens, pois só assim terá uma visão geral mais legítima da saúde financeira das
empresas.

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