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Escrita por: 

Flawlessoo

Sinopse: Taemin vive uma vida normal, mas segue tendo flashes do passado. Ele sonha com
um amante, alguém que ele perdeu e sente falta, porém, tenta não deixar ninguém perceber
isso.

Iniciado em 05/03/2014
Palavras 4.536

Essa história também está publicada no meu perfil no spirit fanfiction – Flawlessoo. Ela é bem
antiga, escrevi em 2014, não foi betada na época e nem agora. Acho que como foi algo feito
quando ainda era adolescente, quero respeitar meus pensamentos daquela época.
Originalmente ela teria duas partes, mas nunca cheguei a fazer a segunda, quem sabe um dia...

Capítulo 1 - Parte I

Quando o despertador começou a tocar Taemin se perguntou o porquê dele


não o ter jogado fora ainda. Ele sempre odiou acordar cedo, e esse barulho
infernal não era muito encorajador. Ser acordado com beijos e sussurros sempre
foi algo melhor, mas isso não fazia mais parte da sua vida. Taemin suspirou antes
de rolar na cama e olhar para o outro lado que agora estava vazio, ele afundou a
sua cabeça no outro travesseiro, mas não encontrou o cheiro que buscava. Se
negando a ficar tão triste logo pela manhã, ele levantou e foi tomar um banho.

Taemin teve que jogar a outra metade do café da manhã fora, já era um
hábito fazer tudo para dois.

Ele saiu para o trabalho com um cachecol tampando praticamente todo o seu
rosto. Taemin costumava amar o frio, mas era tão ruim voltar para a casa à noite e
não ter alguém para ajudá-lo a se aquecer. A caminhada até o café foi curta,
trabalhar perto de casa realmente era uma coisa boa. 

 
Taemin abrira o café há dois anos junto com o seu amigo Jinki. Ele entrou
com metade do dinheiro e trabalhava como barista enquanto Jinki administrava. O
trabalho era bom, ele gostava da distração que os vários fregueses lhe
proporcionavam, além de que os funcionários de lá se tornaram a sua segunda
família. 

''Bom dia.'' Ele gritou quando entrou no café. Jinki guinchou e Taemin fingiu
não perceber como ele e Kibum estavam muito próximos quando ele chegou. 

''Bom dia Taemin, eu... Bem, eu vou para o escritório, preciso falar com
alguns fornecedores... '' Ele deixou o assunto morrer e foi correndo para o
escritório que ficava nos fundos do estabelecimento. 

Logo depois de ouvir a porta bater ele se virou para Kibum. Enquanto tirava
o casaco e o cachecol ele lançou um sorriso para o amigo. O outro estava
segurando uma gargalhada enquanto lançava um olhar acusador para Taemin.
''Você ainda vai fazer ele ter um ataque do coração. ''

''Eu não tenho culpa que você dois não sabem respeitar o lugar de trabalho
de vocês. '' Taemin revidou, se abaixando quando o outro jogou um pano em sua
direção. 

''Cala a boca, você costumava fazer a mesma coisa com... '' Kibum parou no
meio da frase e lançou um olhar culpado para Taemin. O garoto estava olhando
para baixo, as mãos em punho ao redor do avental que ele estava se preparando
para colocar. ''Meu Deus, Taemin, me desculpe... '' 
 

''Tudo bem. '' Taemin o cortou. ''Você está certo, afinal.'' Ele então abriu o
maior sorriso que Kibum já viu, quase rasgando o próprio rosto. Mas o outro ainda
viu como ele piscou freneticamente quando se virou, tentando conter as lágrimas. 

Meia hora depois o café foi aberto. Kibum estava anotando os pedidos junto
de Jinri , e Taemin quase revirou os olhos quando ouviu as risadinhas do dois, as
vezes eles se comportavam como colegiais, ainda mais quando viam algum
homem bonito. Amber estava trabalhando no caixa e Taemin cuidando dos
pedidos sozinho, Sunyoung avisou de última hora que não poderia ir, então eles
não conseguiram alguém para cobri-la.

Ele não parou de trabalhar nem um segundo, pulando o seu horário de


almoço porque o movimento estava muito intenso. Quando foi por volta das duas
da tarde Jinki saiu do seu escritório e o mandou parar de trabalhar e comer. ''Está
tudo bem, sério. '' Ele disse enquanto fazia o pedido que Kibum havia
entregue para ele. 

''Taemin, eu sei fazer isso também, se lembra? Posso não ser tão bom
quanto você, mas consigo ficar por aqui enquanto você sai para comer. Pare um
pouco e descanse, o movimento nem está tão forte agora.'' Jinki deu aquele
sorriso enorme que o fazia parecer mais jovem do que realmente era e Taemin
desistiu com um suspiro.

''Tudo bem, só não quebre muitos copos. '' Ele disse brincando antes de tirar
o avental e se dirigir para os fundos. 
 

Havia uma pequena área feita para os funcionários, com uma mesa, uma
geladeira e um microondas. Taemin abriu a geladeira e pegou dois frascos de
banana milk antes de ir para fora, realmente não querendo ficar na mesa e correr o
risco de alguém vir e encontrá-lo. 

Ele se sentou no chão no pequeno beco que ficava localizado atrás do café.
Era um pouco sujo, mas realmente, ninguém se importava. Ele bebeu um dos
frascos de uma só vez, o doce sabor o deixando um pouco mais calmo. Taemin
fechou os olhos e suspirou descansando a cabeça contra a parede. Ele não queria
fazer uma pausa porque desde que Kibum falara aquilo, estava se esforçando ao
máximo para não lembrar, preenchendo a sua mente com o trabalho, se
permitindo pensar apenas nos pedidos, mas ali, sem ninguém por perto, ele não
podia parar a sua mente de vagar pelas memórias. 

Tirando o maço de cigarros do bolso ele acendeu um e pensou no que o


amigo disse mais cedo. ''Você costumava fazer a mesma coisa com...
'' Realmente, eles eram até mesmo piores do que Jinki e Kibum. Seus amigos
estavam em uma espécie de relacionamento não tão secreto e viviam se
esgueirando pelos cantos, enquanto ele e Taemin não tinham nenhum problema
em mostrar como eram felizes. Quantas vezes Kibum não os pegou se agarrando
no banheiro enquanto Taemin deveria estar trabalhando? 
 

Ele deu um meio sorriso que mais parecia uma careta enquanto olhava a
fumaça do cigarro. Ele precisava se acalmar um pouco, e estava ficando cada vez
mais difícil fingir que tudo estava bem. Era possível ver nos olhos de todos a pena,
a tristeza e as dúvidas. Ele limpou as lágrimas que teimavam em sair antes de
apagar o cigarro e tomar o outro frasco, era preciso algo para tirar o gosto amargo
da boca, ele não gostaria de saber que agora Taemin estava fumando. 
 

Pouco tempo depois Taemin voltou para dentro, as lembranças estavam se


tornando insuportáveis e ele tinha medo de desabar novamente. A última vez não
fora nem um pouco agradável, Jinri o encontrou chorando e soluçando na porta do
banheiro e o olhar que ela lhe deu o fez se sentir pior ainda. 

Taemin pegou o perfume que estava na bolsa de Kibum e borrifou nele


mesmo algumas vezes antes de voltar para a área de atendimento do café.
Nenhum cliente era obrigado a sentir o cheiro do cigarro, e ele não queria ouvir
mais uma palestra de Jinki sobre como isso estava o matando e que ele precisava
seguir em frente. 

Ele foi recebido por gritos de um Kibum muito exaltado e a visão de um Jinki
vermelho enquanto catava os cacos de uma xícara do chão. Ele suspirou antes de
ir ajudá-lo. Taemin deu um olhar duro para Kibum quando passou por ele, ''Volte
ao trabalho. '' Então se abaixou. 

''Sinto muito.'' Jinki sussurrou.

''Tudo bem hyung, essas coisas acontecem. '' Ele sorriu. ''Vá buscar a
vassoura, por favor, eu termino de limpar isso. '' 

 
Eles rapidamente limparam tudo, Kibum ficou lançando olhares para eles e
Jinki se encolhia cada vez mais por causa disso. 

''Você pode voltar para a sua sala agora. '' Taemin disse enquanto sorria.
''Eu posso tomar conta das coisas por aqui. '' Suas bochechas estavam doendo um
pouco por causa dos sorrisos que ele teve que se esforçar para fazer, mas tudo o
que ele fez foi sorrir ainda mais. 

Jinki estreitou os olhos antes de se aproximar dele. ''Você está com o cheiro
do perfume de Kibum. '' Ele sussurrou.

Taemin piscou algumas vezes, mas não vacilou. ''Eu não sei do que você
está falando, agora me deixe voltar ao trabalho, os pedidos não podem se
acumular. '' Ele deu as costas para Jinki e leu o pedido que Jinri havia deixado no
balcão. 

''Taemin, você precisa parar com isso. '' Ele colocou uma mão no ombro do
menino, fazendo ele se encolher sob o toque. Taemin fechou os olhos e suspirou,
forçando a sua mão a parar de apertar o papel. ''Hyung... Agora não.'' Ele quase
rosnou. Jinki deu um último aperto no ombro dele antes de sair. Demorou cerca de
cincos minutos para Taemin voltar a sorrir como se nada tivesse acontecido.

Seu turno já estava quase acabando, o café estava vazio e ele estava
debruçado sobre o balcão olhando para fora da janela enquanto enchia suas
bochechas com ar quando ele entrou. Taemin quase revirou os olhos, o dia estava
sendo mesmo muito bom para ser verdade, ele tinha que aparecer. 
 

Minho foi sorrindo na direção de Taemin, sem se preocupar em sentar e


esperar ser atendido por Kibum ou Jinri. ''Olá querido. '' 

Taemin se endireitou e lançou um olhar frio para o homem a sua frente. ''Já
disse para não me chamar assim. O que você quer?'' 

''Você. '' Ele tentou pegar a mão do menor, mas acabou levando um tapa,
seu sorriso só aumentou com isso.

''Eu não estou no cardápio, faça um pedido real ou vá embora. '' 

''Agora, isso não é o modo como você deve tratar o seu hyung. Como eu
estou de bom humor vou desculpar essa sua falta de educação se você aceitar
sair comigo. '' Esse homem não desiste? Pensou Taemin. 
 

Minho ia quase todos os dias ao café, no começo ele era apenas um cliente
regular normal, até que ele começou a dar em cima de Taemin. 

''Já falei, sou casado. '' Taemin respondeu.

''Porque você insiste nessa mentira? Você nem mesmo usa uma aliança, e
eu aposto que eu sou melhor, de qualquer maneira. Eu nunca vejo você com
alguém. '' Ele se aproximou do mais jovem, quase colando seus rostos. ''Você está
sozinho Taemin, eu posso ver isso em seus olhos, seja quem for que você esta
esperando, ele não te merece, eu posso te fazer feliz... '' Um tapa cortou o resto do
discurso de Minho, Taemin tinha lágrimas em seus olhos quando se dirigiu para o
banheiro, ignorando totalmente os chamados de Kibum.

Ele se ajoelhou no chão e puxou o colar que estava escondido por baixo da
sua blusa, nele, pendurada como um pingente,  estava uma aliança. Taemin a
apertou, deixando o seu contorno na palma da sua mão por conta da força que
estava fazendo, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto e os soluços
sacudiam o seu corpo. 

''Quer casar comigo?'' O homem sussurrou em seu ouvido. 


 

Taemin estava deitado de bruços na cama, seu corpo cansado e totalmente


relaxado. O outro mantinha os braços ao seu redor, sua mão traçando círculos
imaginários no quadril do mais novo. Apenas um lençol os cobria. Ele virou o rosto
para poder olhar o outro homem, ele estava com os olhos fechados e tinha um
pequeno sorriso no rosto. ''O que?'' Taemin perguntou. 
 

Ele abriu os olhos e sorriu ainda mais. ''Você quer casar comigo?'' Seus
braços puxaram o corpo de Taemin para ainda mais perto, suas pernas nuas se
entrelaçando.
 

''Hyung, você sabe que não podemos. ''


 
''Quem disse isso? A igreja? A constituição? Bem, eu não me importo. Eu te
amo e você me ama, qual o problema nisso?'' O modo como ele falava tornava
tudo tão simples, Taemin realmente queria que fosse assim. ''Só diga que sim. '' 
 

Taemin ficou olhando para o rosto do outro, ele tinha tantos defeitos, mas ao
mesmo tempo era o ser mais perfeito que ele já viu. ''Sim. '' Ele sussurrou. ''Eu
quero me casar com você, hyung. ''O outro deu um grito de felicidade e deu um
beijo forte na boca de Taemin, o garoto mais novo rolou na cama e começou a rir
enquanto via o outro se levantar e ir à cômoda no canto do quarto. ''O que você
está fazendo?'' Ele questionou enquanto observava o copo nu do seu amante.
Eles estavam juntos há tanto tempo, mas ele nunca se cansaria de olhar. Os
músculos bem constituídos, a pele bronzeada. Ele mordeu o lábio enquanto
observava a bunda do outro. 
 

Quando ele voltou para a cama parecia uma criança no dia do natal, uma
pequena caixa estava na sua mão. Ele abriu e tirou de lá duas alianças. Taemin
sentou enquanto o observava, ele realmente estava planejando isso há muito
tempo, não é?
 

''Lee Taemin, eu prometo sempre ser fiel a você, sempre amá-lo e respeitá-
lo. Prometo que nunca deixarei nada faltar a você, nem mesmo banana milk.
Prometo sempre apoia-lo, mesmo quando você tiver a péssima ideia de cozinhar,
desculpe amor, mas você sabe que a sua comida é péssima, e é por isso que eu
sempre vou cozinhar para você. Prometo cantar para você todas as noites, e peço
que você tenha paciência comigo, que não fique muito bravo quando eu tiver uma
crise de ciúmes porque afinal, você é a criatura mais doce e sexy que já andou por
esse planeta. Você aceita se casar comigo, mesmo sabendo que eu sou cheio de
defeitos, mas que acima de tudo, te amo mais do que a mim mesmo?'' Taemin
estava chorando no final do discurso, ele não conseguia falar nada, só olhar pro
sorriso idiota do homem a sua frente.
 

''Sim. '' Ele sussurrou, sua voz quase se quebrando. Ele se jogou nos braços
de Jonghyun e o beijou até perder o fôlego. Com suas testas encostadas ele
respirou fundo e falou novamente, seus lábios se movendo contra os do outro.
''Sim.''
 

Taemin mordeu a mão tentando abafar o grito que queria sair. Aquele havia
sido o casamento dos dois, sem ninguém para ver, apenas eles se declarando e
prometendo nunca se separar. 

''Você mentiu. '' Taemin sussurrou. ''Você me deixou. '' 

Meia hora depois ele saiu do banheiro. Minho estava sentado em uma mesa
no canto do café, sozinho. Lá fora o tempo já começava a escurecer, era à hora do
Taemin ir se não ele acabaria se atrasando. 

Ele foi até a porta e pegou o casaco e o cachecol que ele havia deixado
pendurados lá, os colocou e com um pequeno adeus saiu do café, ignorando
totalmente os chamados de Minho as suas costas. Ele foi até o seu apartamento
para pegar o carro, não havia motivo para usá-lo para ir ao trabalho quando o lugar
era tão perto, mas agora ele precisaria dele.
 

Quarenta minutos dirigindo com as mãos tremendo foram o suficiente para


Taemin chegar na grande casa que funcionava como uma clínica. Ele ia lá todos
os dias, mesmo que apenas para ficar observando. 

A atendente que ficava no balcão já conhecia Taemin, há mais de um ano


que ele ia todos os dias ali. ''Boa noite Taemin. '' Ela lhe deu um sorriso gentil.
''Boa noite noona, como ele está hoje?'' Ele falou enquanto assinava o papel que
confirmava a sua presença. 

''Bem... Ele teve uma crise hoje. Parece que foi um pesadelo, não sei ao
certo com o que, passou o dia inteiro falando com o psicólogo. '' Taemin suspirou,
hoje não seria um dia fácil então, geralmente quando essas coisas aconteciam o
médico não o deixava falar com ele. ''Agora ele está no quarto, o doutor pediu para
você ir falar com ele assim que chegasse. '' Ela deu o recado. Taemin sorriu para
ela, ''Obrigado, noona.'' Então foi falar com o médico. 

Alec era americano e acompanhava o caso de Jonghyun desde o acidente,


ele sabia qual era o envolvimento de Taemin com o outro homem, e diferente de
algumas pessoas não os julgava por isso, além de que Taemin era o único que
realmente se preocupava com o outro. Quando os pais de Jonghyun descobriram
que ele era gay ele foi expulso de casa pelo seu pai, sua mãe estava chocada,
mas ainda amava o filho, depois do acidente ela e a irmã de Jonghyun o visitavam
sem que o pai dele soubesse, para ele o filho havia morrido a partir do momento
que saiu de casa. 

 
Ele explicou para Taemin o que havia acontecido no dia. Jonghyun tivera um
pesadelo, que na verdade eram memórias, ele acordou confuso e não conseguia
parar de chorar, foi preciso seda-lo para que ele se acalmasse e depois disso ele
passou o dia inteiro na sala do psicólogo. ''Nós explicamos de novo o que
aconteceu, sobre o acidente e em como isso o afetou, nós apenas não falamos
sobre 'o que' exatamente ele esqueceu. Taemin, Jonghyun decidiu hoje que ele
quer lembrar, nós falamos que isso não seria possível, que amanhã ele já
esqueceria todos os eventos que aconteceram hoje, então ele teve uma ideia. Ele
pediu um caderno, e nele ele escreveu tudo o que aconteceu hoje, eu não sei
como ele ira reagir amanhã, mas acho que você precisa conversar com ele hoje, é
a sua chance. '' O médico explicou.

Taemin agradeceu e foi até o quarto de Jonghyun. Ele ficou parado na frente
da porta, pensando. Eram raras as vezes que eles deixavam que Taemin
explicasse para ele o que aconteceu, geralmente ele só vinha e o via de longe, às
vezes conversava com ele, como se fossem estranhos. Ele tinha medo do que
poderia acontecer depois dessa conversa, medo de se decepcionar, de fracassar
mais uma vez. Engolindo em seco, ele piscou afastando as lágrimas que
ameaçavam cair, sua mão foi até a aliança que ele mantinha escondida, ele a
segurou um pouco antes de bater na porta. 

A visão que Taemin teve quando a porta foi aberta fez o seu coração apertar.
Jonghyun tinha os olhos inchados e vermelhos, como se ele tivesse passado o dia
inteiro chorando. ''Olá Jonghyun. '' Ele se forçou a dizer. O outro coçou o olho
antes de responder. ''Eu te conheço? Desculpe-me, mas... '' Seus olhos encheram
de lágrimas e Taemin foi rápido em responder. ''Sim, você me conhece, não há
porque se desculpar. Eu, hm, posso entrar?'' Ele se segurou para não abraçar o
homem a sua frente, ele parecia tão frágil. ''Claro, me desculpe, eu estou um
pouco confuso. '' Ele então deu passagem para Taemin. 
 

Taemin se sentou na cadeira que ficava em frente a pequena mesa do


quarto enquanto Jonghyun se sentou na cama, a tensão no quarto era grande.
''Então, quando a gente se conheceu? Eu só lembro das coisas até os meus 18
anos... Eu não. '' Ele parou de falar e ficou olhando para as mãos. Taemin sabia
disso, ele sabia de tudo. As memórias de Jonghyun iam até um pouco antes de ele
ter se assumido para a sua família e ter sido expulso de casa. Mecanismos de
proteção. Amnésia retrograda. 
 

Taemin suspirou antes de começar a falar, ele já tinha feito isso uma vez, as
conseqüências foram um Jonghyun chorando a noite toda e um Taemin tão
deprimido que não conseguia sair da cama por uma semana. Foi a única vez que
ele ficou sem visitá-lo. 

''Eu tinha 19, você estava com vinte e dois. Você tocou em uma festa da
minha faculdade... '' Ele foi interrompido.

''Eu virei cantor?'' O brilho nos olhos dele fez Taemin dar um pequeno
sorriso.

''Você virou muitas coisas, você cantava com uma banda nos finais de
semana e trabalhava em um café durante a semana. Seu melhor amigo Kim Kibum
nos apresentou. '' Taemin deu um pequeno sorriso enquanto lembrava. 

''Nós viramos amigos?'' Jonghyun tinha a testa franzida, como se tentasse se


lembrar. 
 

''Sim, você me ensinou a fazer café. '' Taemin riu. ''Sabe, hoje eu sou dono
de um café, você me ensinou tudo o que eu sei, obrigado. '' 

Jonghyun sorriu, mas logo depois sua expressão se fechou. ''De nada, eu
queria poder me lembrar.'' Taemin também queria que ele se lembrasse de como
eles ficaram até tarde no trabalho de Jonghyun, de como ele usou a desculpa de
querer aprender a fazer café só para ficar mais próximo dele, de como pouco a
pouco eles foram se aproximando.

Taemin pigarreou antes de continuar a falar. ''Eu também queria, você foi
muito importante para mim.'' Um silêncio se instalou no quarto depois disso. 

''Então, você disse que nós nos conhecemos em uma festa da faculdade e
que toquei nela. Legal. O que eu estudava? Eu sempre quis estudar música, mas
meus pais nunca gostaram da ideia.'' 

Taemin se sentiu triste por ter que contar essas coisas, mas era necessário.
''Nada. Você, hm, você nunca fez faculdade. '' 

Jonghyun lhe deu um olhar ferido. ''Por que não? Esse sempre foi o sonho
da minha mãe... '' 

 
''Jonghyun, quando você terminou o colegial você se assumiu para os seus
pais. A sua família ficou chocada e seu pai te expulsou de casa...''

''Mentira. '' Jonghyun não estava olhando para ele quando falou. '' Você não
me conhecia nessa época, como você sabe disso?'' 

''Você me contou. '' Taemin sussurrou. 

''Por que eu contaria isso para você? O que você é para mim?'' Suas
palavras feriram Taemin mais do que ele poderia imaginar. Os olhos do menino
mais novo queimaram com as lágrimas não derramadas que ele segurou, mas
antes que pudesse dizer alguma coisa uma enfermeira bateu na porta. 

''Desculpe, o horário de visitas acabou, você precisa ir Taemin.'' 

Ele sorriu para ela. ''Obrigado, eu já estou indo. ''

Quando ela saiu, ele se levantou e se curvou na frente do Jonghyun.


''Desculpe por isso, mas tudo o que eu disse era verdade, sinto muito se isso te
magoou. '' 

Ele já tinha aberto a porta quando Jonghyun o chamou novamente. ''Taemin.


''
 

''Sim?''

''Você irá voltar?'' Sua voz estava embargada e Taemin se segurou para não
voltar e abraçá-lo.

''Todos os dias, hyung. ''

Então ele saiu pronto para ir para casa e chorar até o dia amanhecer. No dia
seguinte ele precisaria sorrir novamente e fingir que tudo estava bem, ele não
sabia o que o encontraria quando viesse visitar Jonghyun novamente, mas todo
dia era assim. 

***

Taemin foi acordado de madrugada pelo som do seu celular, ele tateou o
criado mudo a procura dele e quase o deixou cair na própria cara antes de olhar
quem estava ligando. Era da clínica. Imediatamente ele se sentou na cama e
atendeu o telefone. ''Aconteceu alguma coisa com o Jonghyun? Eu estou indo aí
agora mesmo... '' Ele já tinha começado a sair da cama antes da outra pessoa
responder.

''Taemin?'' Ele congelou ao som daquela voz.

 
''Sim?'' Ele sussurrou.

''Sou eu, Jonghyun... ''

''Eu sei. '' Ele se sentou e tentou acalmar o seu coração. ''Aconteceu alguma
coisa?'' Por que ele estava ligando para ele em plena madrugada? Ele deveria
estar dormindo, esquecendo novamente.

''Eu... Eu não consigo dormir, na verdade, eu não quero. '' Ele sussurrou
como se estivesse contando um segredo. Taemin tentou imaginar onde ele estava,
certamente esse telefonema não foi autorizado.

''Por que não?''

''Eu não quero esquecer. '' A voz dele estava embargada.

Taemin se deitou novamente na cama, já sentindo as lágrimas correrem por


seu rosto. O outro continuou falando. ''Eu sinto essa coisa, esse sentimento,
parece que me falta algo. Eu não sei exatamente do que eu sinto falta, é algo que
vai além das minhas lembranças... Eu acho que sinto falta de alguém. ''

''Jonghyun. '' Taemin não conseguia falar, apenas chorar enquanto ouvia a
voz frágil do seu companheiro falando do outro lado. 
 

''E eu sei que quando eu acordar amanhã eu não vou mais lembrar disso,
porém, eu tenho certeza de que esse sentimento, essa falta, vai permanecer. Eu
só quero... Eu só preciso entender de quem eu sinto falta e por quê. Você pode me
ajudar?'' Ele conseguia perceber pela voz do outro que ele também estava
chorando. Jonghyun sempre fora muito sensível, por esse motivo que suas
músicas eram tão boas, elas transmitiam emoções fortes e verdadeiras. 

''Eu sinto muito, mas não posso falar. '' Doía para ele dizer essas palavras,
mas era preciso.

''Por favor, Taemin, você é o único que pode me ajudar agora. A minha
família não veio me visitar, e se o que você disse é verdade, eu estou sozinho.''
Jonghyun estava soluçando e Taemin sentia como se facas estivessem sendo
enfiadas em seu coração. Quanto mais disso ele poderia aguentar? 

''Eu não posso, eu não posso, por favor, me perdoe... '' 

''É você. '' Taemin congelou, o outro havia falado tão baixo que ele não tinha
certeza se tinha escutado certo.

''O que?'' Ele sussurrou.

 
''É você. '' Jonghyun repetiu, o som não mais alto do que a própria voz de
Taemin. ''Eu sinto falta de você, não é? Eu já pensei que isso talvez fosse por
causa da minha familia, ou até mesmo meus amigos, mas é mais profundo, é uma
coisa mais forte. Eu fiquei com essa sensação o dia inteiro, enquanto tentava
lembrar das coisas que esqueci. É como se eu estivesse doente, e só tivesse uma
coisa capaz de me curar. '' Ele soluçou antes de continuar, Taemin conseguia
imaginar ele sentado, chorando escondido enquanto ligava para ele. Doía tanto. ''
Eu só me senti bem, ou o quanto você pode estar próximo de bem em uma
situação dessas, quando você veio aqui, e quando você foi embora, doeu mais do
que antes. Ainda está doendo Taemin. ''

Eles ficaram por um tempo sem se falar, apenas chorando no telefone


tentando processar o que estava acontecendo. Taemin não queria ter esperanças,
será que isso o que Jonghyun estava sentindo era a sua memória tentando voltar?
Pelos céus, ele não poderia nem mesmo cogitar isso porque ele sabia que criar
expectativas agora seria a pior coisa a se fazer.

''Eu te amo. '' Ele sussurrou. ''Eu te amo tanto Jonghyun, e eu sinto tanto a
sua falta. '' Taemin respirou fundo antes de continuar, ele não tinha ideia do que
estava fazendo. ''Agora me escute, eu preciso que você volte ao seu quarto e
durma, eu sei que você não pode fazer essa ligação, só de pensar no que você
pode ter feito para conseguir me ligar eu já tenho uma dor de cabeça. ''

''Mas. ''

''Hyung, por favor. Amanhã eu estarei aí. ''


 

''Eu não vou me lembrar disso, não é?''

''Não. Mas eu vou me lembrar, eu lembro de tudo sobre nós, e se você ainda
estiver se sentindo assim, eu contarei para você. Se você quiser, eu falarei sobre
nós para você todos os dias. ''

Mais alguns minutos sem ninguém dizer nada, Taemin chegou a pensar que
o outro havia dormido, até mesmo os soluços pararam. A ideia de ele estar
dormindo deixou Taemin apavorado, esse Jonghyun não estaria mais ali quando
acordasse de manhã.

''Boa noite. '' Jonghyun interrompeu os seus pensamentos. 

''Boa noite hyung. '' Taemin se aconchegou na cama e por um segundo e se


permitiu fingir que Jonghyun ainda estava ali, que ele não havia se metido em um
acidente de carro, que sua vida não havia mudado completamente. ''Eu te amo. '' 

''Taemin, eu acho que te amo também. '' Então ele desligou. 

Taemin fechou os olhos e segurou a vontade de gritar. Ele imaginou os


braços de Jonghyun ao redor do seu corpo, sua respiração em seu pescoço, sua
voz falando em seu ouvido que o amava. Tirou todas as memórias que costumava
reprimir no canto da sua mente e dormiu, com a imagem de Jonghyun gravada em
seus olhos.

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