Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

I

I . Al<-ISTú TE LE ~ > (v \ et,,9\.-t ~~...L '--'-"- )

~' Liv.A? 980a- -J83a.~


,!I r
.14 ("
r.. r):, ~""'" .., ~,
,,\) ,,,,.~,.t ".1 ",.
9B6a29- 988a.
,'" ~ \~,/" ';,..j- ~
i' '"
i ,~"'\S,,,,,:: '

,
;,. I
I '.] 4' , !' . "
~

.
.oA ' 1 .....
' -.

s~
("
.;
.
"-""" ~'<',
t-4,-~ \O/)~
ii .

Jevvlg,ep Apór4
J

r "--- @ /!J!!f:;!

i
!
i
\!
1. [A sapiência é conhecimento de causas]1 ot/{() 8(()C
Todosos homens, por natureza, tendem ao saberl.Sinaldisso 980"
é o amor pe1as sensações. De fato, e1esamam as sensações por si
mesmas, independentemente da sua utilidade e amam, acima de
todas, a-sensação da visão. Com efeito, não só em ,vista da ação,
mas mesmo sem ter nenhuma intenção de agir, nós preferimos o
ver-;-em certo sentido, a todas as outras sensações3. E o motivo:
está no fato de que a visão nos proporciona mais conhecimentos
do que todas as outras sensações e nos toma manifestas numero- 25
sas diferenças entre as coisas".
Os animais são naturalmente dotados de sensação; mas em ,t:>
alguns da sensação.não nasce a memória, ao passo que em outros
nasce. Por isso estes últimos são mais inteligentes e mais aptos
a aprender do que os que não têm capacidade de recordar.São 98()b

inteligentes, mas incapazes'de aprender, todos os animais incapa- :.


citados de ouvir os sons (por exemplo a abelha e qualquer outro :
gênero de animais desse tipo); ao contrário, aprendem todos os
que, além da merpória, possuem também o sentido da audição5. 2S ;

Ora, enquanto os outros animais vivem com imagens sensí-


veis e com recordações, e pouco participam da experiênda, o
gênero humano vive também da arte e de raciocínios. Nos ho-
mens, a experiência deriva da memória. De fato, muitas recorda-
ções do mesmo objeto chegam a constituir uma experiência úni-
ca. A experiênciapareceum pouco seme1hanteà ciênciae à arte. 981'
Com efeito, os homens adquirem ciência e arte por meio da expe-
riência'S'À.experiência, como diz Pala, produz a arte, enquanto a
inexperiência produz o puro acaso. A arte se produz quando, de 5
muitas observações da experiência, forma-se um juízo geral e
único passível de ser referido a todos os casos seme1hantes6.

. '------ .
-..
5
METAFIsIcA.
A 1,981 08. b5
(~
Por exemplo, o ato de julgar que determinado remédio'
fez bem a Cálias, que sofria de certa enfermidade, e que tam-
bém fez bem a Sócratese a muitos outros indivíduos, é próprio
da experiência; ao contrário, o ato de julgar que a todos esses 10
indivíduos, reduzidos à unidade segundo a espécie,que pade-
ciam de certa enfermidade, determinado remédio fez bem (por
exemplo, aos fleumáticos, aos biliosos e aos febris) é próprio
da arte'.
Ora, em vista da atividade prática, a experiênciaem nada
parecediferir da arte; antes, os empíricos têm mais sucessodo
que os que possuema teoria sem a prática. E a razãodissoé a 15
seguinte:a experiênciaé conhecimentodosparticulares,enquan-
to a arte é conhecimento dos universais;ora, todas asaçõese as
produçõesreferem-seao particular.De fato, o médico não cura o
homem a não seracidentalmente,mascuraCáliasou Sócratesou
qualquer outro indivíduo que leva um nome como eles,ao qual 20
ocorra ser homem8. Portanto, se alguém possui a teoria sem a
experiênciae conheceo universalmas não conheceo particular.
que nele estácontido, muitas vezeserraráo tratamento, porque
o tratamentosedirige,justamente,aoindivíduoparticular. -;{}
Todavia, consideramos que o saber e o entender sejam mais"
próprios da arte do que da experiência, e julgamosos que pos- 25
suem a arte mais sábios do que os que só possuem a experiên-
cia, na medida em que estamos convencidos de que a sapiência,
em cada um dos homens, corresponda à sua capacidade de co-
nhecer. E isso porque os primeiros conhecem a causa, enquanto
os outros não a conhecem. Os empíricos conhecem o puro dado
de fato, mas não seu porquê; ao contrário, os outros conhecem
o porquê e a causa9. . 30
Por isso consideramos os que têm a direção nas diferentes
artes mais dignos de honra e possuidores de maior conhecimen-
to e mais sábios do que os trabalhadores manuais, na medida 9gl~
em que aqueles conhecem as causas das coisas que são feitas; ao
contrário, os trabalhadores manuais agem, mas sem saber o que
fazem, assim como agem alguns dos seres inanimados, por exem-
plo, como o fogo queima: cada um desses seres inanimados age
por certo impulso natural, enquanto os trabalhadores manuais
agem por hábito. Por isso considera~os os primeiros mais sábios, S

~.~
I N,\fTAFíSICA, AI, 981 b 6 -982 a 3 I 7

não> porque capazes de fazer, mas porque possuidores de um


sabl,~rconceptual e por conhecerem as causas.
Em geral, o que distingue quem sabe de quem não sabe é
a c;apacidade de ensinar: por isso consideramos que a arte seja
soblretudo a ciência e não a experiência; de fato, os que possuem
a arte são capazes de ensinar, enquanto os que possuem a expe-
riên cia não o sãolo.
Ademais, consideramos que nenhuma das sensações seja 10
sapiência. De fato, se as sensações são, por excelência, os instru-
mentos de conhecimento dos particulares, entretanto não nos
dizem o porquê de nada: não dizem, por exemplo, por que o
fogo é quente, apenas assinalam o fato de ele ser quentell.
Portanto, é lógico que quem por primeiro descobriu alguma
arte" superando os conhecimentos sensíveis comuns, tenha sido
objeto de admiração dos homens, justamente enquanto sábio e IS
superior aos outros, e não só pela utilidade de alguma de suas
descobertas. E também é lógico que, tendo sido descobertas nume-
rosas artes, umas voltadas para as necessidades da vida e outras
para o bem-estar, sempre tenham sido julgados mais sábios os
descobridores destas do que os daquelas, porque seus conhe- G
cimentos não eram dirigidos ao útil. Daí resulta que, quando já se .20
tinham constituído todas as artes desse tipo, passou-se à descober-
ta das ciências que visam nem ao prazer-nem às necessidades da
vida, e issô ocorreu primeiramente nos lugares em que primeiro
os homens se libertaram de ocupações práticas. Por isso as artes
matemáticas se constituíram pela primeira vez no Egito. De fato,
lá era concedida essa liberdade à casta dos sacerdotesI2. 2S
Diz-se na Ética qual é a diferença entre a arte e a ciência e as
outras disciplinas do mesmo gênerol3. E a finalidade do raciocínio
que ora fazemos é demonstrar que pelo nome de sapiência todos
entendem a pesquisa das causas primeirasl4 e dos princípios. E é
por isso que, como dissemos acima, quem tem experiência é consi-
derado mais sábio do que quem possui apenas algum conhecimen-
to sensível: quem tem a arte mais do que quem tem experiência, 982'
quem dirige mais do que o trabalhador manual e as ciências teoré-
ticas mais do que as práticas.
É evidente, portanto, que a sapiência é uma ciência acerca
de certos princípios e certas causasI5.
1- - METAFiSlCA,A 2, 982 a 4 . 28 G) 9

2. [Quais são as causas buscadas pela saPiência e as


características gerais da sapiência] I
Ora, dado que buscamos justamente essa ciência, deveremos
examinarde que causase de que princípiosé ciênciaa sapiên- 5
cia. E talvez isso se torne claro se considerarmos as concepções
que temos do sábi02. (1) Consideramos, em primeiro lugar, que
o sábio conheça todas as coisas, enquanto isso é possível, mas
não que ele tenha ciência de cada coisa individualmente consi-
derada. (2)Ademais,reputamos sábioquem é capaz de conhecer 10
as coisas difíceis ou não facilmente compreensíveis para o ho-
mem (de fato, o conhecimento sensível é comum a todos e, por
ser fácil, não é sapiência). (3) Mais ainda, reputamos que, em
cada ciência, seja mais sábio quem possui maior conhecimento.
das causas (4) e quem é mais capaz de ensiná-Ias aos outros. (5)"
Consideramosainda,entre as ciências,que sejaem maiorgrau 15
sapiência a que é escolhida por si e unicamente em vista do
saber, em contraste com a que é escolhida em vista do que dela
deriva. (6) E consideramos que seja em maior grau sapiência a
ciência que é hierarquicamente superior com relação à que é "
subordinada. De fato, o sábio não deve ser comandado mas
comandar, nem deve obedecer a outros, mas a ele deve obede-
cer quem é menos sábio.
Tantas e tais são, portanto, as concepções geralmente par- 20
tilhadas sobre a sapiência e sobre os sábios. Ora, (I) a primei-
ra dessas características - a de conhecer todas as coisas - deve
necessariamente pertencer sobretudo a quem possui a ciência
do universal. De fato, sob certo aspecto, este sabe todas as coisas
<particulares, enquanto estão> sujeitas <ao universal> J. (2)
E as coisas mais universais são, para os homens, exatamente as
mais difíceis de conhecer por serem as mais distantes das apre- 25
ensões sensíveis4. (3) E as mais exatas entre as ciências são sobre-
tudo as que tratam dos primeiros princípios. De fato, as ciências
que pressupõem um menor número de princípios são mais exa-
tas do que as que pressupõem o acréscimo de <ulteriores prin-
cípios> como, por exemplo, a aritmética em comparação com
a geometria'. (4) Mas a ciência que mais indaga as causas é
METAFislCA, A 2, 982 o 29 : b 22 11

também a mais cap~z de ensinar, pois os que dizem quais são


as causas de cada;coisa são os que ensinam6. (5) Ademais, o 30
saber e o conhecer, cujo fim é o próprio saber e o próprio conhe-
cer encontram-se sobretudo na ciência do que é maximamente
cognoscí~eI. De fato,!quem deseja a ciência por si mesma deseja
acima de tudo a que é ciência em máximo grau, e esta é a ciência 982b
do que é maximamente cognoscível. Ora, maximamente cognos-
cíveis são os primeirÓs princípios e as causas; de fato, por eles e
a partir deles se conhecem todas as outras coisas, enquanto, ao
contrário; eles não se conhecem por meio das coisas que lhes
estão sujeitas7. (6) E a mais elevada das ciências, a que mais
autoridade tem sobre,as dependentes é a que conhece o fim para
o qual é feita cada coisa; e o fim em todas as coisas é o bem e, 5
de modo: geral, em t~da a natureza o fim é o sumo bem8.
, Do que foi ditb resulta que o nome do objeto de nossa inves-
tigação refere-se a ;UI~aúnica ciência; esta deve especular sobre
os princípios primeiros e as causas, pois o bem e o fim das coisas 10
é uma causa. I

. Que, depois, ela:não tenda a realizarcoisa alguma, fica ela- ~


ro a partir das afirmações dos que por primeiro cultivaram a ,.,
filosofia9.;De fato, OS~omens çomeçaram a filosofar, agora como
na origem, por causa da admiração, na medida em que, inicial.
mente, ficavam perplexos diante das dificuldades mais simples;
em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a enfrentar
problemas sempre:maiores,por exemplo,os problemas relativos 15
aos fenômenos da-luaI e aos do sol e dos astros, ou os problemas
relativos à geração: d~ todo o universo. Ora, quem experimenta
uma sensação de dúv~da e de admiração reconhece que não sabe;
e é por isso que também aquele que ama o mito é, de certo mo-
do,'filósofo: o mito, ~om efeito, é constituído por um conjunto
de coisasadmiráveisl!o. De modo que, se os homens filosofaram
para libertar-seda ig~orância,é evidente que buscavam o conhe- 20
cimento unicamente em vista do saber e não por alguma utili-
dade prática. E o m~do como ascoisassedesenvolveram o de-
monstra: quando já se possuía praticamente tudo o de que se
necessitava para a ~ida e também para o conforto e para o bem-
I METAFíSICA,
A 2, 982 b 23 .983 o 18 I 13

estar, então se começou a buscar essa forma de conhecimento.


É evidente, portanto, que não a buscamos por nenhuma vanta~
gem que lhe seja estranha; e, mais ainda, é evidente que, como 25
chamamos livre o homem que é fim para si mesmo e não está. .
submetido a outros, assim só esta ciência, dentre todas as outras,
é chamada livre, pois só ela é fim para si mesma 11.
Por isso, também, com razão poder-se-ia pensar que a posse
dela não seja própria do homem; de fato, por muitos aspectos
a natureza dos homens é escrava, e por isso Simônides diz que
"Só Deus pode ter esse privilégio"12,e que é conveniente que o 30
homem busque uma ciência a si adequada. E se os poetas dis-
sessem a verdade, e se a divindade fosse verdadeiramente inve-
josa, é lógico que veríamos os efeitos disso sobretudo nesse 983'
caso, de modo que seriam desgraçados todos os que se distin-
guem no saber. Na realidade, não é possível que a divindade
seja invejosa, mas, como afirma o provérbio, os poetas dizem
muitas mentirasl3; nem se deve pensar que exista outra ciência
mais digna de honra. Esta, de fato, entre todas, é a mais divina e 5
a mais digna de honra. Mas uma ciência só pode ser divina nos
dois sentidos seguintes: (a) ou porque ela é ciência quc..Deus I)
"" possui em grau supremo, (b) ou porque ela tem por objeto as
coisas divinas. Ora, só a sapiência possui essas duas caracterís-
ticas. De fato, é convicção comum a todos que Deus seja uma
causa e um princípio, e, também, que Deus, exclusivamente
ou em sumo grau, tenha esse tipo de ciência14. Todas as outras io
ciências serão mais necessárias do que esta, mas nenhuma lhc
será superiorls.
Por outro lado, a posse dessa ciência deve nos levar ao esta-
do oposto àquele em que nos encontrávamos no início das pes-
quisas. Como dissemos, todos começam por admirar-se de que
as coisas sejam tais como são, como, por exemplo, diante das
marionetes que se movem pÇ>rsi nas representações, ou diante
das revoluções do sol e da incomensurabilidade da diagonal com 15
o lado de um quadradQ. Com efeito, a todós os que ainda não
conheceram a razão disso, causa admiração que entre uma e
outro não exista uma unidade mínima de medida comum. Toda-
via é preciso chegar ao estado oposto e também melhor, confor-

~
ml~ afirma o provérbiol6. E assim acontece, efetivamente, para
fic ar nos exemplos dad~~, uma vez que se tenha conhecido a
,
~~il;i
;,;
"1
" cat lsa:nada provocariamais admiração num geômetra do que 20
t!!,1 se '::}diagonal fosse comensurável com o ladol7.
:'1
"! Fica estabelecido, portanto, qual é a natureza da ciência
buscada, e qual o fim que a nossa pesquisa e toda nossa inv~s-
iH
tiga ção devem alcançarl8. '

ili'I ~-'-'---[TV Rb OL )'SY93~3o'::-995~20


"

,:iii
1"" 1
, 1. I'Afilosofiaé conhecimentoda verdade e o.conhecimento
G?averdadeé conhecimentodas'causasJI
11 :1
1
;:
F" ' 1 !

'i I]
~1 1
",;1,'
' , 1
;~) 1:"'
,Sob certo aspecto, a pesquisa da verdade é difícil,sob outro 30
'.fi;:i fi I
, .,
,
1

!j
I
,,

,'i!";';
,
li! é fác:il. Prova di~so é que é impossível a um homem apreender
;'~:;:1 fi j
"'''' i! l
'
I ' adeq\ 'ladamente a ~erdade e igualmente impossível não apreen-
!"i i
"'
',.,,-
, , ,
',1
"
,
'I 1:1
H dê-Ia de modo nenhum2: de fato, se cada um pode dizer algo a 993"
respei to da realidade3, e se, tomada individualmente, essa contri-
,

'\~i~ i I/ I'
buiçã() pouco ou nada acrescenta ao conhecimento da \'erdade,
todavia; da união de todas as contribuições individuais decorre
li!il'
'ti:.1 ,,111 , um res;ultado considerável.Assim,se a respeito da verdadeocorre
;,' ,,'li o qlle <:~=1fim1ado
!IOprovérbio"Quem poderiaerraruma porta?"i,
, ! li1l!
; ;ii í então, sob esse aspecto ela será fácil; ao contrário, poder alcançar 5
;'! li!! ':
' "!
,,, a verda :de em geral e não nos particulares mostra a dificuldade
'.,," j,'"
'.,:

I '; ;I 'I da que stã05. E dado que existem dois tipos de dificuldades, é
" li'!;
d i'U! possíve I que a causa da dificuldade da pesquisa da verdade não
\';j Ji'1:
l
esteja n as coisas, mas em nós6. Com efeito, assim como os olhos
'~;j 111 1
:
",
'
11:' 1
dos morcegos reagem diante da luz do dia, assim também a in-
11
',
J :11
11 t~ligência que está em. nossa alma se comporta diante das coisas 10
j 1

!!;Ih l
,

que, po r sua natureza, são as mais evidentes7.


1

:1
;,
~ I li!
I
Om, é justo ser gratos não só àqueles com os quais dividi-
1
' qH' mos as olpiniões, mas também àqueles que expressaram opiniões
111
Ilj
1 1 até mesmo superficiais; também eles, com efeito, deram algu-
,
I I'ii!
ma contribuição à verdade, enqÜanto ajudaram a formar nosso
; [HI
",..
I
hábito especulativ08. Se Timóte09 não tivesse existido, não tería- 15
I!!!! mos gran,de número de melodias; mas se FriniJOnão tivesse existi-
:!;!i do, tampouco teria existido Timóteo. O mesmo vale para os que
i!Pi
i\\il

:JI!!
I:';:
' I .
'3
I
METAfís!CA. a ]/2.993 b 18-994 a9 I! i

. falaram da vcrdade: de alguns recebemos ccrtas doutrinas, màs


outros foram a causa de seu surgimentolJ. . .
E também é justo chama~a filosofia de ciência da verdadei2,
. .porquc o fim da ciência teorttica é a verdade, cnquanto o fin~.'v
;::"~"âa:':pdticaé a ação. (Com efeito, os que visam à ação, mcsmo'::-"
--qu-C6bscrvcm coi11oestão as coisas, não teridem ao conhccim::-n-
to po que é eterno, mas só do :gucé relativo a determinada cir-
cunstância e.num determinado n~omento)B. Ora, não conhecc-
mos a verdade sem conhecer aicdusaH. Mas qualquer coisa que
possua em grau eminente a natureza que lhe é própria constitui
a causa pela qual aquela natureb será atribuída a outras coisas;': 2~
por exemplo,o fogo é o quente em grau máximo, porque ele é
causa do calor nas outras coisas. Portanto o que é causa do ser
verdadeiro das coisas que dele derivam deve ser verdadeiro mais
que todos os outros. Assim é necessário que as causas dos seres
eternosJ6 sejam mais verdadeiras ao que todas as outras: com:
efeito, elas não são verdadeiras apenas algumas vezes, e não existe'
uma causa ulterior do seu ser, mas elas são as causas do ser das:
outras coisas. Por conseguinte, c~da coisa possui tanto de verda- :-;
de quanto possui de ser!7. . !I '

! :
..
2. [As causas são necessariam~nte limitadas tanto em
espécie como em número] I ! :
i
Ademais,é evidente que existe'um princípioprimeiroe que 9a."
as causas dos seres não sã/) (A) nem uma série infinita <no âm-
bito de uma mesma espécie>2, (B) nem um número infinito de
espécies3. . . , .

(A) Com efeito, (1) quanto ~ causa material, não é possÍ\-eI


derivar uma coisa de outra procedendo ao infinito: por exemplo,
a carne da terra, a terra do.ar, o ar do fogo, sem parar. (2) E isso
também não é possível quanto à causa motora: por exemplo,
que o homem seja movidQ pelo a,r,este pelo sol, o sol pela dis- :

córdia4, sem que haja um termo desse processo. (3) E, de modo! !


semelhante, não é possível proceder ao infinito quanto à causa: II
final: não é possí...eldizer, por exemplo, que a caminhada é feita'
em vista da saúde, esta em vista da felicidade.e a felicidade em IJ
L-\ ~I
li
--.._--

MEíAFiS'ICA.
a 2. 994 a 10 - 31

vista de O1~tracoisa, e assim, que algo é sempre em vista de outro.


:. (4) E o ITlesmo vale para a causa formaP. 10
. De f:llto,qualldo se trata de termos intermediários e que se
r.-,:.;-,__~_:~lcontr~l'n ent!~c:'~ljjpl!itnoe um primeiro, é necessárioque o
, . -'o ' t,enno qu<~f. prinleiro sé,a a causa dos que se lhe seguem. Se
dc\'êsscm(JSresponder à pergunta sobre qual é a causa de trés .
termos cm, série, respop-deríamos que é o primeiro, porque a cau-
sa certam(~nte não é o último termo, já que o último não é causa
de nada; 'e: tampouco o é o termo intermediário, porque ele é
causa só dl~ um dos três termos: e é indiferente que o termo in- 15
termediári,o seja um só ou, ao contrário, sej~m muitos, em núme-
ro infinito ou finito. Dos termos que' são infinitos desse modoh,
e do infinito em geral, todos os termos são igualmente interme-
..
diários até o termo present~. Portanto, se nada é primeiro, não
existe causa'.
Mas Sl~existe um princípio no topo da série das causas,
também niio é possível proceder ao infinito descendo na série 20
elas causas, como se a água devesse derivar do fogo e a terra da
:igua, e des~;emodo sempre algum elemento de gênero diferente
devesse der'ivar de um gênero precedente. Diz-se que uma ~oisa
deriva de outra em dois sentidos (exceto no caso em que "isso
deriva disso" signifique "isso vem depois disso", corno, por exem-
plo, quando:) se diz que dos jogos fstmicos se passa aos jogos
oIímpicos)8: (a) ou no sentido de que o homem deriva da mu-
dança da criança, (b) ou no sentido de que o ar deriva da água9.
(a) Dizemolsque o homemprovémda criançacornoalgoque já 25
adveio prov.ém de algo que está em devir, oU comO algo que já es-
tá realizado, provém de algo que está em vias de realização. (De
fato, nesse ;~aso há sempre um termo intermediário: entre o ser
e o não-ser existe sempre no meio o processo do devi r, assim
entre o que: é e o que não é há sempre no nieio o que advém.
Toma-se sábio quem aprende, e é justamente isso que queremos
dizer quando afirmamos que do aprendiz deriva o sábio). (b) O
outro sentido em que se entende que uma coisa provémde outra, 30
como a água do ar, implica o desaparecimento de um dos dois
termos. (a) No primeiro sentido, os termos do processo não são
reversíveis: de fato, do homem não pode derivar uma criança.
--.---------

': . METAfíSICA.a 2. 994 a 32 -b 23 77

! :
(Com efeito, o que deriva do processo do devir não é o CJueestá
cm devi r, mas é <o que> existe depois do processo do devir) 1°. 994b
Assim o di,l deriva da aurora, porque ve1~1depois dela e, por isso,
:1aurora não pode pro~!.r.~I?dia_jb) ~o' segundo, sentido, ao
contdr-io: os termos sãoié~ler~I\7eis:-0ra, ~ffi ainbos os casos é
impossível um processo ao infinito. (a)!N6 primeiro caso, deve
ncccssarial~1cntehaver um fim dos termos intermediários. (b) 5
No segundo caso, os elementos se transformam reciprocamente
um no outro: a corrupção de um é geração de outro. Ademais,
se o primeiro tenno da série fosse eterbo seria impossível que"
perecesse. E porque o processo de geração não é infinito na série
das causas, necessariamente não é etemo!o primeiro termo de
cuja corrupção gerou-se o outroll. ; i. i

Ademais, o objetivo é um fim, e o fiiu é o que não existe em


vista de outra coisa, mas aquilo em vistá de que todas as outras ~o
coisas existem; de modo que, se existe uni termo último desse
tipo, não pode existir um processo ao ÍIlfinito. Se, ao contrário,
não existe um termo último desse tipo, não pode existir a causa
final. Iv1asos que defendem o processoi ao infinito não se dão
conta de suprimir a realidade do bem. Enttetanto, ninguém come-
çaria nada se não fosse para chegar a um térmo. E tampouco have-
ria inteligência nas açõe~que não têm um:fim: quem é inteligente 15...
opera efetivamente e~ função de úm fim; e este é, um termo,
porqueo fimé, justanlente,um tennol2;. : ,
Mas tampouco a definição da essência pode ser reduzida
<ao infinito> a outra"definição sempre mais ampla em seu enun-
ciado. De fato, a definição próxima é sempre mais definição do
. que a última. E qu~ndo, numa série dI':definições,a primeira
não define a essência, tampouco o fará a posterior13.Além disso,
os que falam desse modo destroem o saber:com efeito, não se 20
pode possuir o saber antes de ter alcançado o que não é mais
divisível. E também não será possível o conhecer: de fato, como
é possível pensar coisas que são infinitas .desse modo?H Aqui
não ocorre o mesmo que no casoda linha: é verdade, que o pro-
cesso de divisão da linha não se detém, mas o pensamento não
plJde pensar a iinha se não chegar ao fim 'no proce..;sode divisão.
Portanto,-quem vai ao infinito no proces~ode divisão jamais
,. ,-_o - .. .-

I

:,;1 / METAFiSICA.C12/3,994b24.995013!
':,i
j"
'a "
J
. _.
,j . " poderá contar os segmentos da linha. E a linha em seu conjunto
:; V I: deve ser pensada por algo em nós que não se mova de uma parte
:.1 ;~' 1,:
.

I a outra". - E também não pode exi~tir algo que seja essencial-


:1
I mente infinito; e mc..smo que existisse, ,a .çssênçia do infini.to
; "" li ~, ,:;j,
. nãéi::'ieriainfinita~;!6~, ' '~:,;i':':;:'':':-:; "

I"'!' (B)POrOufrô'lãC1o,saossem' infinitas em nún;ero-~~espécies


j , , dc causas, também nesse caso o conhecimento seria impossível.
De fato, só julgamos conhecer quando conhecemos as causas.
IvIas não é possível, num tempo finito, ir ao infinito por sucessi-
vos aeréscimos'7. 30
!ijiL
'
,:,'/'
",ii l
I,!

"'"I, / II
' '

' ,
!
1\11
,!I'
I
'i 3. [Algumas observações metodológicas: é necessário adaptar
I
Ii;!i!
li
'lI!
o método ao objeto que é próprio da ciência]l
l
1(,1':
ii!!ii A eficácia das liçães2 depende dos hábitos dos ouvintes. Nós
",
, "'0 995'
;" ,;> exigim6s, com efeito, que se fale do modo como estamos fami-
,;.;" liarizadbs; as coisas que não nos são ditas desse modo não nos
.,
parccem as mesmas, mas, por falta de hábito, parecem-nos mais
':Ti
idi; difíceis Ide compreender e mais estranhas. O que é habitual é
'. , '1
:;
,,;li
'] / mais facilmente cognoscível.
:111 A força do hábito é demonstrada pelas leis, nas quais até o
'li! que é rnítico e pueril, em virtude do hábito, tem mais força do
""
,,'
que o p~óprio conhecimento. ;;.
,:li
I" Oral' alguns não estão dispostos a ouvir se não se fala com
:/1
i'
'

H
,
;01
rigor ma~emático; outros só ouvem quem recorre a exemplos, en-
quanto outros ainda exigem que se acrescente o testemunhõde
:!j poetas. Álguns exig~m que se diga tudo com rigor; para outros,
:1,
:Ii ao contr'ário, o rigor incomoda, seja por sua incapacidade de
:j
':1 compreeinder os nexos do raciocínio, seja pela aversão às sutile-
zas. De fato, algo do rigor pode parecer sutileza; e por isso alguns 10
o consideram um tanto mesquiriho, tanto nos discursos como
nos negócios.
Por isso, é necessário ter sido instruído sobre o método que
é próprio de cadaciência, pois é absurdo buscar ao mesmo tem-
po uma ciência e seu método. Com efeito, não é fácil conseguir
nenhuma dessas duas coisas.
~~;:i:i~j~"jjBf;i;;~~'::; 'o,,~,o,,~o,,::;';'~,;'o;~\:~~;'f.t~~;~!~*~t

MHAfiSICA,Q 3, 995 o 14 .20 e'o


, .

Não se deve exigir em todos os casos o rigdr matemáticõ,--l~f o


l11assó nas coisas desprovidas de matéria', Por isso o método da
1I1a!em<Íticanão se adapta. à física:.~ indubitáv~l qy.~ toda a
lia! u!J;j'41.ct~Qssui
matéri<!.~<?risso é:precisoi~i:B:.pFiÚl~jIOlugar.
examinar o que é a natureza; e desse rJlOdoficará claro qual é ()
ohjdo da física4. E também ficará claro se o exame das causas e
dos princípios pertence a uma só o~ a'muitasciências;. 20,
o . ! I "
i o
I .
II :'
i
!

I
II

Você também pode gostar