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9º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia

3ª Feira da Industria de Fundações e Geotecnia


SEFE 9 – 4 a 6 de junho de 2019, São Paulo, Brasil
ABEF

Análise de Ensaios Bidirecionais com Medida de Encurtamento


Elástico em Estacas Hélice Contínua
Thaís Lucouvicz Dada
Engenheira Civil, Programa de Pós Graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo, Brasil, thaisldada@gmail.com

Alysson Santos Resende


Engenheiro Civil, Arcos-Arquitetura Construções Ltda, ABMS-Núcleo MG, Belo Horizonte, Brasil,
alysson@arcos.eng.br

Faiçal Massad
Professor Titular, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, faical.massad@usp.br

RESUMO: Seis estacas do tipo hélice contínua, com 0,40 a 0,60 m de diâmetro e 19 a 25 m de comprimento,
de uma obra de edifício na cidade de São Paulo, foram submetidas a ensaios bidirecionais. O subsolo
consistia de aterros, depósitos aluvionares e solos residuais. Os deslocamentos foram medidos em três níveis:
a) no prato inferior da célula expansiva; b) em seu prato superior; e c) no topo da estaca. A leitura (a) indica
o recalque da ponta fictícia. As leituras (b) e (c) indicam os deslocamentos do fuste e permitem a obtenção
direta de seu encurtamento elástico. Este pode ser correlacionado com a carga aplicada pela célula expansiva
através do coeficiente c' de Massad (2015), correlato do coeficiente c de Leonards e Lovell (1979), que é
para carregamento no topo da estaca. É importante medir o encurtamento elástico diretamente para aumentar
a precisão na estimativa da curva carga-recalque equivalente. O artigo apresenta a obtenção das curvas
equivalentes das estacas hélice contínua ensaiadas, através de quatro métodos e utilizando-se os valores de
encurtamento elástico lidos. Para comparação, as curvas também foram obtidas utilizando-se c e c' estimados
com base no SPT. Todas as curvas resultantes apresentaram boa convergência quando comparadas entre si.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio Bidirecional, O-cell, Célula Expansiva, Prova de Carga em Estaca, Curva
Carga-Recalque Equivalente, Encurtamento Elástico.

ABSTRACT: Six continuous flight auger piles, with 0.40 to 0.60 m in diameter and 19 to 25 m in length, of
a building construction in São Paulo City, were submitted to bidirectional tests. The subsoil consisted of
landfills, alluvial deposits and residual soils. The displacements were measured in three levels: a) at the
expansive cell bottom plate; b) at its top plate; and c) at the pile top. The measurement (a) indicates the
fictitious toe displacement. The measurements (b) and (c) indicate the shaft displacements and enable to
obtain its elastic shortening directly. This shortening can be correlated with the upward loading through the
Massad's (2015) coefficient c', correlate of the Leonards & Lovell's (1979) coefficient c, which is for pile top
downward loading. It is important to measure the elastic shortening directly to increase the accuracy in the
estimated equivalent top-down load-settlement curve. The paper presents the equivalent curves for the tested
CFA piles, applying four methods and using the elastic shortening measurements. For comparison, the
curves were also obtained using c and c' based on SPT. All the resulting curves showed good convergence
when compared to each other.

KEYWORDS: Bidirectional Test, O-cell, Expansive Cell, Pile Load Test, Equivalent Load-Settlement
Curve, Elastic Shortening.

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1 Introdução

A prova de carga estática bidirecional, ou ensaio bidirecional, consiste basicamente na instalação de


uma ou mais células expansivas hidrodinâmicas, previamente aferidas, dentro do fuste da estaca, engastadas
na armação, para a aplicação de carga em profundidade, empurrando para cima o trecho do fuste superior às
células e, para baixo, o trecho inferior do fuste mais a ponta da estaca. Para o esquema de montagem, busca-
se o equilíbrio entre a resistência ao atrito lateral do trecho acima da célula mais o peso próprio submerso do
mesmo, contra o atrito lateral do trecho abaixo mais a resistência de ponta, acrescentando-se a pressão da
água aplicada na célula.
O trecho da estaca superior à célula expansiva reage contra o trecho inferior, não sendo necessário
prever um sistema de reação, sendo a execução do ensaio bidirecional mais rápida e segura que a prova de
carga convencional, além de poder ser mais econômica. Fellenius (2019) destaca a vantagem da
possibilidade de obter, separadamente, o atrito lateral e a resistência de ponta, principalmente quando a
célula expansiva está instalada próxima à ponta.
A leitura de deslocamentos comumente é feita no topo da estaca, com deflectômetros, e no prato
inferior da célula expansiva com telltale, sendo obtidas duas curvas carga-deslocamento: uma do fuste e
outra do trecho da estaca abaixo da célula, que pode ser tomado como uma “ponta fictícia”. Nesse caso, não
se tem informação sobre o encurtamento elástico, e, ocorrido no fuste da estaca. Massad (2015) mostra que
o e pode ser estimado através do coeficiente c', correlato de c de Leonards e Lovell (1979), os quais podem
ser aproximadamente determinados por estimativas de atrito lateral unitário último ao longo do fuste, fult,
feitas através de métodos semiempíricos com uso de sondagens SPT.
O artigo apresenta o estudo de caso de uma obra em São Paulo, onde oito estacas do tipo hélice
contínua, com 0,40 a 0,60 m de diâmetro e 19 a 25 m de comprimento, foram submetidas a ensaios
bidirecionais com medida do encurtamento elástico. Os resultados de dois ensaios foram descartados, devido
a interferências nas leituras dos deslocamentos.
Para cada estaca, além das leituras citadas acima, também foi feita a leitura do deslocamento no prato
superior da célula expansiva, através da instalação de um telltale neste nível, podendo-se obter o
encurtamento elástico do fuste diretamente. Foi possível obter o valor equivalente do c' de Massad (2015),
sendo comparado ao valor de c' estimado com base nas estimativas de fult pelos métodos semiempíricos
adequados a estacas do tipo hélice contínua.
A partir das curvas resultantes dos ensaios, foram obtidas as curvas carga-recalque equivalentes no
topo de cada estaca através de quatro métodos: o Método de Elísio-Osterberg (Silva, 1983; Osterberg, 1995),
precursores do ensaio, o Método de Massad (2015), a aplicação das formulações de Fleming (1992) e o
método baseado no modelo de Coyle e Reese (1966), apresentados em Dada e Massad (2018a) e Dada e
Massad (2018b). O primeiro método adota a hipótese de estaca infinitamente rígida e os demais, consideram
a compressibilidade da estaca. Para comparação, foi aplicado o Método de Massad (2015) para obtenção da
curva equivalente utilizando-se os valores de c’ estimados pelos métodos semiempíricos.
A seguir, apresenta-se o estudo de caso da obra estudada, incluindo uma caracterização geológico-
geotécnica do local, os dados das estacas ensaiadas, a descrição da metodologia dos ensaios executados e a
análise dos resultados.

2 Caracterização Geológico-Geotécnica do Local

A obra estudada localiza-se na cidade de São Paulo, próxima ao rio Jurubatuba. Segundo o mapa
geológico da Região Metropolitana de São Paulo, disponibilizado pela EMPLASA (1980), no local da obra
ocorre um depósito quaternário, sobre solos residuais de micaxisto.
Foram executadas treze sondagens à percussão no local, indicadas na planta da Figura 1. As sondagens
identificaram uma camada de aterro com até 3,5 m de espessura, sobre os depósitos aluvionares, constituídos
por uma camada de argilas orgânicas siltosas com turfas, cinza escuras a pretas, com espessuras de 1 até 4m
e índices SPT de 0/80 a 2/ 30 cm, sobre areias siltosas ou argilosas, com a presença de pedregulhos, tendo
até 4 m de espessura. A partir das profundidades de 6,5 a 8m, observaram-se solos residuais, constituídos por

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camadas intercaladas de siltes arenosos e argilosos, micáceos, de cores predominantemente cinza, branco,
amarelo, marrom e verde. O nível d'água foi detectado nas profundidades de 1 a 3m.
Na Figura 1 estão apresentadas a localização das sondagens e das 6 estacas ensaiadas, em planta, e nas
Figuras 2 a 4, os perfis geológico-geotécnicos A-A e B-B, inferidos a partir das sondagens.

Figura 1. Planta de localização das sondagens e das seis estacas do tipo hélice contínua estudadas,
submetidas ao ensaio bidirecional. Indicação dos Perfis A-A e B-B.

Figura 2. Perfil aproximado geológico-geotécnico A-A, inferido a partir das sondagens, com indicação das
estacas PCE05 e PCE08.

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Figura 3. Perfil geológico-geotécnico A-A, inferido a partir das sondagens, com indicação das estacas
PCE03 e PCE04.

Figura 4. Perfil geológico-geotécnico B-B, inferido a partir das sondagens, com indicação das estacas PCE06
e PCE07.

A localização em planta e perfil das estacas estudadas, PCE03 a PCE08, está indicada nas Figuras 1 a
4. Observa-se que as células expansivas foram instaladas nas profundidades de 14 a 16m, ou seja, embutidas
na camada de solos residuais.

3 Dados das Estacas Ensaiadas

O empreendimento em que as estacas foram executadas faz parte de um complexo residencial


localizado na Zona Sul de São Paulo, próximo à Marginal Pinheiros.
As estacas ensaiadas foram do tipo hélice contínua monitorada que, segundo a NBR 6122 (ABNT,
2010), são caracterizadas por execução no local mediante introdução no terreno, por rotação, de um trado
helicoidal contínuo. A injeção de concreto é feita pela haste central do trado simultaneamente à sua retirada.

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A armadura é sempre colocada após a concretagem da estaca. Os diâmetros das estacas ensaiadas foram de
0,40, 0,50 e 0,60 m, com profundidades de execução variando de 19 a 25 m.
De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), quando o número de estacas hélice de um
empreendimento for superior a 100, deve ser executado um número mínimo de provas de carga igual a 1%
da quantidade total de estacas, arredondando-se sempre para mais. Para atendimento dessa recomendação,
oito estacas da obra foram submetidas à prova de carga bidirecional.
As estacas foram executadas segundo as características especificadas pelo projeto estrutural, sendo:
concreto com fck ≥ 30 MPa, consumo mínimo de cimento igual a 400 kg/m³ e abatimento teórico de 220 +/-
30 mm. A execução das mesmas foi no período de 04 de julho de 2018 a 01 de agosto de 2018 e os ensaios
foram executados após 13 a 15 dias de cura do concreto utilizado.
A Tabela 1 apresenta as características geométricas das estacas ensaiadas PCE03 a PCE08. Além
destas, também foram ensaiadas as estacas PCE01 e PCE02; entretanto, as curvas dos deslocamentos lidos,
apesar de não terem ultrapassado 3 mm, apresentaram comportamentos anômalos, provavelmente devido a
trânsito de maquinários da obra nas proximidades, durante a execução dos ensaios, sendo os resultados
desconsiderados no estudo realizado.

Tabela 1. Características geométricas das estacas submetidas ao ensaio bidirecional.


Estaca: PCE03 PCE04 PCE05 PCE06 PCE07 PCE08
Diâmetro (m): 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40
Comprimento da estaca (m): 21,0 21,0 22,0 23,0 23,0 19,0
Comprimento do trecho acima
14,0 14,0 14,70 14,50 16,0 14,0
da célula (m):
Comprimento do trecho abaixo
7,0 7,0 7,30 8,50 7,0 5,0
da célula (m):

4 Descrição dos Ensaios Bidirecionais com Medida Direta de e

Para a realização dos ensaios bidirecionais, aguarda-se o tempo de cura do concreto até se atingir a
resistência mínima suficiente para a realização dos mesmos. No caso desses ensaios foi, em média, 14 dias.
Os deslocamentos da ponta foram medidos através de um telltale previamente instalado no fuste da estaca
engastado no prato inferior da célula expansiva. Os deslocamentos do fuste foram medidos através da leitura
do movimento ascendente do topo da estaca e através de um telltale posicionado no prato superior da célula,
fornecendo a medida direta do encurtamento elástico, e, pela diferença entre essas duas leituras. Os
deflectômetros utilizados para medição dos deslocamentos apresentavam leitura direta com precisão de
0,01mm.
Os ensaios foram do tipo com carregamento rápido, conforme o item 3.5.3 da norma NBR 12131:
Estacas – Prova de carga estática – Método de ensaio (ABNT, 2006), aplicando-se estágios iguais e
sucessivos de aproximadamente 108,50 kN para as PCE03, PCE04, PCE06 e PCE07, 117,50 kN para a
PCE05 e 76,20 kN para a PCE08. As cargas foram transmitidas utilizando-se Células Expansivas
Hidrodinâmicas, com área interna de 452 cm², para as estacas de 0,50 m de diâmetro, e 254 cm² para a estaca
de 0,40 m de diâmetro, situadas no interior das estacas da obra, conforme indicado nas Figuras 2 a 4.
Antes do início do ensaio, foi aplicada uma carga para promover a ruptura do concreto à tração na
posição da célula, dividindo a estaca em duas partes. Em seguida, fez-se o descarregamento total e o registro
da leitura inicial dos deflectômetros. Neste instante, o ensaio com carregamento rápido foi iniciado. A
metodologia para preparação e execução do ensaio, de maneira geral, foi descrita por Resende (2015). Os
resultados dos ensaios, bem como a interpretação, estão apresentados no item seguinte.

5 Obtenção das Curvas Carga-Recalque Equivalentes por Quatro Métodos


Os resultados dos ensaios bidirecionais das estacas PCE03 a PCE08 estão apresentados,
respectivamente, nas Figuras 5a a 10a. Também são indicadas as curvas de aproximação matemática

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utilizadas na obtenção das curvas carga-recalque equivalentes. Para o trecho do fuste, curva ascendente, foi
feito um ajuste com função hiperbólica do tipo Al=f(yo); sendo Al o atrito lateral e yo, o deslocamento medido
no topo da estaca.
Para o trecho de ponta, observou-se um comportamento rígido-elástico para deslocamentos de 1 a 3
mm para as estacas PCE03, PCE05 e PCE07, conforme a 2ª Lei de Cambefort (1964), possivelmente
associado à ocorrência de material mais competente sob a ponta. Para maiores deslocamentos, as curvas
apresentaram comportamento hiperbólico. Para as estacas PCE04, PCE06 e PCE08, o trecho de ponta
apresentou comportamento hiperbólico.
A partir do método de Chin (1970; 1971), fez-se a extrapolação das curvas hiperbólicas para a
obtenção das cargas últimas, que foram de 10 a 25% maiores que as cargas máximas atingidas durante os
ensaios realizados. Os valores também foram comparados com os resultados médios estimados por quatro
métodos semiempíricos de capacidade de carga, que utilizam o SPT: o método de Aoki e Velloso (1975), de
Décourt e Quaresma (1978), atualizado por Décourt (2016), o de Alonso (1996a; 1996b) e o método de
Antunes e Cabral (1996).
Observou-se que o atrito lateral último estimado com base nos ensaios foi, em média, da ordem de 1,9
vezes o atrito último calculado através dos métodos semiempíricos. Associa-se essa diferença à natureza dos
métodos, que são conservadores, e à possível ocorrência de aumento de seção transversal da estaca na
camada de argila mole e de solo residual de baixos índices SPT, de 3 a 6 golpes/ 30 cm. O atrito unitário
último, fult, estimado pela curva do ensaio bidirecional, através do método de Chin (1970; 1971) foi de 50 a
61 kPa, com média de 55 kPa, para todas as estacas. Pelos métodos semi-empíricos, chegou-se a fult = 21 a 34
kPa, com média de 29 kPa.
Ao considerar a carga última total da estaca, somando-se os trechos de fuste e ponta, no caso “ponta
fictícia”, a média das cargas estimadas pelas extrapolações das curvas dos ensaios bidirecionais foi da ordem
de 1,3 vezes a média das estimadas pelos métodos semiempíricos, os quais, portanto, apresentaram melhores
resultados para estimativas em termos de cargas totais.
A partir dos resultados dos ensaios bidirecionais, foram obtidas as curvas carga-recalque equivalentes,
simulando carregamento no topo, sendo as medidas de encurtamento elástico obtidas diretamente pela
diferença entre os deslocamentos lidos no topo da estaca e no topo da célula expansiva. Foram utilizados
quatro métodos:
a) Método de Elísio-Orterberg (Silva, 1983; Osterberg, 1995): Elísio Silva e Osterberg são os
precursores do ensaio bidirecional. Propuseram um método que considera a hipótese de estaca
infinitamente rígida, consistindo da soma das parcelas de carga de atrito lateral e ponta, no caso
“ponta fictícia”, para um mesmo deslocamento;
b) Método de Massad (2015): para um deslocamento yp definido do topo, foram somadas as cargas de
atrito lateral e de resistência de ponta, considerando a "ponta fictícia". O deslocamento yp foi
corrigido pela relação entre c e c' e acrescentando-se a parcela referente à carga de ponta. Os
coeficientes c' e c=1-c' foram definidos por duas maneiras:
a.i) c' variável: foi calculado o valor de c' para cada incremento de carga do ensaio, a partir
do encurtamento elástico respectivo lido;
a.ii) c' eq.: foi definido um valor equivalente de c', a partir do valor médio dos encurtamentos
elásticos ocorridos em cada incremento;
c) Aplicação das formulações de Fleming (1992), descrito em Dada e Massad (2018a): Com as curvas
relativas ao fuste e à ponta, considerando a "ponta fictícia", foram determinados os parâmetros
definidos por Fleming (1992), obtendo-se a curva equivalente no topo, para estaca infinitamente
rígida. Para a condição real, estaca compressível, foi adicionado o encurtamento elástico estimado
através do c=1-c' equivalente.
d) Método baseado no modelo de Coyle e Reese (1966), apresentado em Dada e Massad (2018b): As
funções hiperbólicas ou de Cambefort (1964), ajustadas ao trecho de ponta (descendente) dos
ensaios bidirecionais, foram utilizadas como funções de transferência de carga da "ponta fictícia".
Para o trecho do fuste (ascendente), tomou-se a hipérbole transladada para a meia altura, levando
em conta os encurtamentos elásticos ocorridos para cada incremento de carga. Dessa maneira,
obtêm-se uma curva de atrito unitário médio que representa uma camada equivalente de subsolo
homogêneo.

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As curvas equivalentes das estacas PCE03 a PCE08 estão apresentadas, respectivamente, nas Figuras
5b a 10b. Também foi indicada, para comparação, a curva equivalente obtida pelo Método de Massad (2015)
através da determinação aproximada de c'=1-c, por estimativas pelo SPT de fult, tomando-se as médias
obtidas através dos quatro métodos semiempíricos citados, com uso da sondagem mais próxima. Os
coeficientes c estimados foram de 7 a 19% menores que os c equivalentes de medidas diretas.

a) b) Po (kN)
Carga (kN) 0 500 1000 1500 2000 2500
0 300 600 900 1200 0
6
i) Atrito PCE-03 2
4 4

yo (mm)
(expancell)
Deslocamento (mm)

14,0m
2 6
(topo estaca)
10000 ∙ 𝑦𝑜 8
0 𝐴𝑙 =
Pmáx do
8,202 + 7,470 ∙ 𝑦𝑜 7,0m 10 PCE03
ii) Ponta fictícia ensaio
-2
350 + 270 ∙ 𝑦𝑝 ; 𝑦𝑝 ≤ 1𝑚𝑚 12
-4 𝑄𝑝 = 10000 ∙ 𝑦𝑝 Elísio-Osterberg Massad (c' variável)
; 𝑦𝑝 > 1𝑚𝑚
11,012 + 5,942 ∙ 𝑦𝑝 Massad (c' eq) Fleming
-6 Coyle-Reese Massad (estimativa por SPT)
Trecho I topo (Ensaio) Trecho II (Ensaio) Hipérbole I (topo)
Hipérbole II (ponta)
FiguraTrecho
5. IEstaca
cell (Ensaio)
PCE03: a) Resultados do ensaio bidirecional; b) Curvas equivalentes.

Po (kN)
a) b)
Carga (kN) 0 500 1000 1500 2000 2500
0 300 600 900 1200 0
10 6 Pmáx do
i) Atrito PCE-04 (expancell) 14,0m
ensaio
yo (mm)

12
Deslocamento (mm)

0 (topo estaca)
10000 ∙ 𝑦𝑜
18
ii) Ponta 𝐴𝑙 = 7,0m
fictícia 8,912 + 8,163 ∙ 𝑦𝑜 24
-10
30 PCE04
10000 ∙ 𝑦𝑝
𝑄𝑝 =
53,776 + 6,704 ∙ 𝑦𝑝
36
-20 Elísio-Osterberg Massad (c' eq)
Massad (c' variável) Fleming
-30 Coyle-Reese Massad (estimativa por SPT)
Trecho I topo (Ensaio) Trecho II (Ensaio)
Hipérbole I (topo) Hipérbole II (ponta)
Figura 6. Estaca PCE04: a) Resultados do ensaio bidirecional; b) Curvas equivalentes.
Trecho I cell (Ensaio)

Po (kN)
a) b) 0 1000 2000 3000
Carga (kN)
0 300 600 900 1200 1500 0
Pmáx do
8 2 ensaio
i) Atrito PCE-05
4
yo (mm)
Deslocamento (mm)

4 (expancell) 6
14,7m
8
(topo estaca) 10
0 10000 ∙ 𝑦𝑜 PCE05
𝐴𝑙 = 12
ii) Ponta fictícia 5,379 + 7,401 ∙ 𝑦𝑜 7,3m
14
-4 500 + 160 ∙ 𝑦𝑝 ; 𝑦𝑝 ≤ 3𝑚𝑚
Elísio-Osterberg Massad (c' eq)
𝑄𝑝 = 10000 ∙ 𝑦𝑝 Massad (c' variável) Fleming
; 𝑦𝑝 > 3𝑚𝑚
12,843 + 6,056 ∙ 𝑦𝑝 Coyle-Reese Massad (estimativa por SPT)
-8
Trecho I topo (Ensaio) Trecho II (Ensaio) Hipérbole I (topo)

Figura 7. Estaca PCE05: a) Resultados do ensaio bidirecional; b) Curvas equivalentes.

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a) b) Po (kN)
Carga (kN) 0 500 1000 1500 2000 2500
0 300 600 900 1200 0
Pmáx do
12 2 ensaio
i) Atrito PCE-06

yo (mm)
4
Deslocamento (mm)

8
(expancell) 6
4 14,5m
8
(topo estaca) 10
10000 ∙ 𝑦𝑜
0 𝐴𝑙 =
10,713 + 7,981 ∙ 𝑦𝑜 12 PCE06
ii) Ponta fictícia 8,5m 14
-4 Elísio-Osterberg Massad (c' eq)
10000 ∙ 𝑦𝑝
𝑄𝑝 = Massad (c' variável) Fleming
7,978 + 6,874 ∙ 𝑦𝑝
-8 Coyle-Reese Massad (estimativa por SPT)
Trecho I topo (Ensaio) Trecho II (Ensaio) Hipérbole I (topo)
Hipérbole II (ponta)
FiguraTrecho
8.I Estaca
cell (Ensaio)
PCE06: a) Resultados do ensaio bidirecional; b) Curvas equivalentes.

Po (kN)
a) b) 0 500 1000 1500 2000 2500
Carga (kN)
0 300 600 900 1200 0
8 2
i) Atrito PCE-07
yo (mm)

4
Deslocamento (mm)

6
6
4 (expancell)
8
16,0m 10
2 PCE07 Pmáx do
(topo estaca) 12
10000 ∙ 𝑦𝑜 ensaio
0 𝐴𝑙 =
14
7,428 + 7,806 ∙ 𝑦𝑜
ii) Ponta fictícia 7,0m Elísio-Osterberg Massad (c' eq)
-2 Massad (c' variável) Fleming
350 + 300 ∙ 𝑦𝑝 ; 𝑦𝑝 ≤ 1𝑚𝑚
𝑄𝑝 = 10000 ∙ 𝑦𝑝 Coyle-Reese Massad (estimativa por SPT)
-4 10,294 + 5,619 ∙ 𝑦𝑝
; 𝑦𝑝 > 1𝑚𝑚

Figura 9. Estaca PCE07: a) Resultados do ensaio bidirecional; b) Curvas equivalentes.

Po (kN)
a) b)
0 500 1000 1500 2000
Carga (kN)
0
0 200 400 600 800 1000
14,0m Pmáx do
5
i) Atrito (expancell) 6 ensaio
yo (mm)
Deslocamento (mm)

0
(topo estaca) 12
10000 ∙ 𝑦𝑜 5,0m
-5 𝐴𝑙 =
7,257 + 11,482 ∙ 𝑦𝑜
PCE-08 18
-10 PCE08
24
-15 ii) Ponta 10000 ∙ 𝑦𝑝 Elísio-Osterberg Massad (c' eq)
𝑄𝑝 =
fictícia 35,860 + 10,786 ∙ 𝑦𝑝 Massad (c' variável) Fleming
-20 Coyle-Reese Massad (estimativa por SPT)

Figura 10. Estaca PCE08: a) Resultados do ensaio bidirecional; b) Curvas equivalentes.

Observa-se que as curvas equivalentes (Figuras 5b a 10b) obtidas através dos métodos que consideram
a compressibilidade da estaca resultaram próximas ou mesmo aderentes entre si, especialmente as curvas
estimadas pelos Métodos de Massad (2015) e pela aplicação das formulações de Fleming (1992), por serem
métodos mais rigorosos matematicamente.
Para a hipótese de estaca infinitamente rígida, considerada no Método de Elísio-Osterberg (Silva,
1993; Osterberg, 1995), os deslocamentos equivalentes no topo resultaram até 6 mm menores, em relação à
hipótese de estaca compressível.
As curvas equivalentes obtidas utilizando-se c’=1-c estimado com base em valores de fult dados por
métodos semiempíricos, portanto com base no SPT, foram semelhantes às curvas que utilizaram os valores

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de encurtamento elástico medido diretamente no ensaio, apesar da diferença dos valores entre c estimado e c
equivalente, apresentada anteriormente.

6 Conclusões

Foi apresentado o estudo de seis estacas do tipo hélice contínua, executadas em um complexo
residencial em São Paulo, submetidas ao ensaio bidirecional. A investigação do subsolo foi feita através de
sondagens SPT. Observou-se que os métodos semiempíricos de estimativa de capacidade de carga utilizados
forneceram resultados conservadores em termos de atrito lateral, porém coerentes quando consideradas as
cargas totais últimas das estacas.
As curvas equivalentes foram mais precisas quando se consideraram as medições do encurtamento
elástico do fuste ocorrido no ensaio, sendo obtidas através de três métodos, em relação às curvas obtidas para
a hipótese de estaca infinitamente rígida. Verificou-se que a consideração do encurtamento elástico através
de c’ de Massad (2015), estimado pela distribuição do atrito unitário último dada por métodos
semiempíricos, resultou em curvas equivalentes semelhantes às primeiras, apesar das diferenças de 7 a 19%
entre c estimado e c obtido através dos encurtamentos medidos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e a CAPES, por viabilizarem
a pesquisa realizada. Também agradecem à equipe de campo da ARCOS pela execução dos ensaios
bidirecionais.

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