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Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Campus Avançado de Pau dos Ferros

Estruturalismo
Americano
Disciplina: Fundamentos de Linguística Geral
Prof.ª Dr.ª Geise Teixeira
Contextualização

● 1920-1950 - Leonard Bloomfield (Language, 1933);


● Contraste com o Gerativismo Chomskiano;
● Principais interesses:
○ Descrição exaustiva das línguas indígenas do continente;
○ Objeto de preocupação desde a década de 1920 (Franz Boas e Edward Sapir);
● Realizavam uma tarefa eminentemente descritiva (Linguística descritiva):
○ Evitar a interferência dos conhecimentos prévios do linguísta e da sua intuição
pessoal;
○ As categorias gramaticais deveriam ser extraídas “dos dados”, e não da tradição;
○ Acreditava-se que cada língua tem uma gramática própria;
● Bloomfield chegou à conclusão de que o sentido — que é mental, e portanto faz parte da
psicologia individual — não poderia ser estudado cientificamente;
● A linguística estrutural americana foi avessa ao estudo do sentido;
● Preconizaram a constituição de um corpus de sentenças e de textos, a partir do qual
imaginaram aplicaram um processo indutivo de generalizações a fim de reduzi-lo a uma
“representação compacta”;
○ Línguas que nunca foram escritas;
○ “Procedimento de descoberta” - aplicação de uma série de operações a uma língua
desconhecida a fim de compreender sua estrutura;
○ “Distribuição” - técnica usada para analisar como uma unidade linguística se
combina com as demais na cadeia falada.
“Afirmando sua confiança nos dados do corpus, representando o trabalho do linguísta como
uma construção indutiva que se faz por etapas, colocando sob suspeita o recurso ao
sentido e às hipóteses gerais sobre a natureza da linguagem, dando atenção prioritária à
distribuição, a linguística descritiva americana criou um tipo de ciência que valorizava a
singularidade das línguas e, à sua maneira, era profundamente imanentista (= as
explicações sobre a linguagem devem ser procuradas nos objetos linguísticos, não em objetos
de outra natureza” (ILARI, 2007, p. 80)
Limitações do
Estruturalismo
Contextualização

● 1960 - o paradigma estruturalista já estava dando, no hemisfério norte, claros sinais de


esgotamento;
● No Brasil - criação de uma disciplina linguística autônoma;
● Na Europa - o estruturalismo passa a receber revisões e ataques abertos;
○ Essas críticas e ataques apontavam para um fato crucial:

“O estruturalimo havia levado a desconsiderar aspectos dos fenômenos linguísticos


que são essenciais para sua compreensão”.
Principais críticas

● Émile Beveniste
● Sua grande crítica é que o estruturalismo teria negligenciado o papel essencial que
o sujeito desempenha na língua;
○ Publicou Problemas de Linguística Geral (1966);
○ Sua obra mostra que algumas estruturas centrais em qualquer língua deixam de
fazer sentido se a língua for descrita sem referência à fala e aos diferentes
papeis que os falantes assumem na interlocução;
○ Para ele, a fala está representada e prevista no sistema linguístico.
● Eugenio Coseriu
● Critica a distinção entre Sincronia e Diacronia
“A possibilidade de delimitar a sincronia é, até certo ponto, uma ficção, pois a todo
momento, em qualquer língua, convivem mecanismos gramaticais e recursos lexicais
que são frutos dos diferentes momentos da história. O velho convive com o novo, e é
essa convivência de fragmentos de velhos sistemas com fragmentos de novos sistemas
que caracteriza um estado de língua dado” (ILARI, 2007, p. 81).
● Sugere o termo pancronia;
● Oposição língua (sistema) x fala
○ Sugere uma instância intermediária mais operacional e real que a própria
língua: a norma.
● Michel Pêcheux
● Fundador da “Análise do discurso” (década de 1970)

“A linguística saussuriana, retirando-se do campo da parole, teria transformado todos os


fenômenos textuais e semânticos numa espécie de terra de ninguém. Aos descartar a
fala como objeto de estudo científico, Saussure teria destruído simultaneamente a) a
possibilidade de uma linguística textual e b) a possibilidade de uma análise científica do
sentido dos textos” (ILARI, 2007, p. 82).
Resumindo…

Foram criticados 3 problemas do estruturalismo:

● seu caráter anti-historicista: tende a focar nas estruturas e padrões atemporais da


linguagem, negligenciando a evolução e mudança histórica das línguas.
● seu caráter anti-idealista: ao enfatizar a estrutura e as regras gerais da língua, em
detrimento das escolhas e variações individuais dos falantes;
● seu caráter anti-humanista: tende a tratar a linguagem como um sistema autônomo e
abstrato, desconsiderando o contexto humano, social e cultural em que a linguagem é
usada.
Linguística brasileira

● Adoção de uma atitude descritiva;


● Variedade não-padrão consideradas como objetos legítimos de estudo;
○ Não tem uma estrutura pobre e ineficiente, têm apenas uma estrutura diferente;

“O estruturalismo fez com que ganhassem dignidade plena, enquanto objetos de


estudo, muitos aspectos da realidade linguística brasileira que até então haviam
recebido uma importância menor por parte dos estudiosos da linguagem: aí se
incluem as línguas indígenas, as línguas e dialetos trazidos pelos africanos e pelos
europeus e as inúmeras variedades regionais do português” (ILARI, 2007, p. 87).
Mattoso Câmara Jr.

● Filão estruturalista;
● Sistematização da fonologia;
● Morfologia da variedade padrão;
● Interesse pelo português falado;
● “erros escolares” - manifestações da língua real;
● línguas indígenas.
“[...] numa fase em que a escola passou a receber um número cada vez maior de alunos cujo
vernáculo não é a variedade prestigiada do português brasileiro, o estruturalismo criou
condições para que se possa aceitar como um fato que esses alunos falam outra língua (que
tem sua estrutura, sua história e suas condições de uso), e que isso não tem nada a ver com
limitações ou déficits intelectuais (falar português não-padrão é uma questão de história social
do aluno, não uma questão de burrice)” (ILARI, 2007, p. 89-90).
Advento da linguística
chomskiana (1960)

Gerativismo
● Noam Chomsky
● 1957 - publicação do seu livro Estruturas sintáticas - nascimento da linguística gerativa;
● Inicialmente formulada como uma espécie de resposta e rejeição ao modelo behaviorista
de descrição dos fatos de linguagem;
● Ataca os princípios fundamentais do estruturalismo americano, opondo-se à linguística
descritiva;
○ Para um behaviorista, a linguagem humana é exatamente o que descreveu
Bloomfield: um fenômeno externo ao indivíduo, um sistema de hábitos gerado
como resposta a estímulos e fixado pela repetição;
● Em 1959, Chomsky apresentou uma crítica à visão comportamentalista da linguagem,
chamando a atenção para o fato de um indivíduo humano sempre agir criativamente
no uso da linguagem;
● Criatividade como principal característica da linguagem humana:
○ todos os falantes são criativos, desde os analfabetos até os autores dos
clássicos da literatura;
○ a todo momento os seres humanos estão construindo frases novas e inéditas, ou
seja, jamais ditas antes pelo próprio falante que as produziu ou por qualquer outro
indivíduo;
● A criatividade é o principal aspecto caracterizador do comportamento linguístico humano,
aquilo que mais fundamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de
comunicação animal;
“Para Chomsky, a capacidade humana de falar e entender uma língua (pelo menos), isto é, o
comportamento linguístico dos indivíduos, deve ser compreendida como resultado de um
dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao organismo humano (e
não completamente determinada pelo mundo exterior, como diziam os behavioristas), a qual
deve estar fincada na biologia do cérebro/mente da espécie e é destinada a constituir a
competência linguística de um falante. Essa disposição inata para a competência
linguística é o que ficou conhecida como faculdade da linguagem” (KENEDY, 2008, p. 129).
● Papel do gerativismo - constituir um modelo teórico capaz de escrever e explicar a
natureza e o funcionamento dessa faculdade;
● Procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente humana;
● As línguas deixam de ser interpretadas como um comportamento socialmente
condicionado e passam a ser analisadas como uma faculdade mental natural;
● A morada da linguagem passa a ser a mente humana.
Modelo teórico

● Afasta-se da gramática tradicional, da linguística estrutural e da sociolinguística;


● Aproxima-se, por sua vez, das ciências cognitivas;
● Gramática transformacional
○ desenvolvida e reformulada diversas vezes durante as décadas de 1960 e 1970;
○ tinha como objetivo descrever como os constituintes das sentenças eram formadas
e como tais constituintes transformavam-se em outros por meio de aplicação de
regras:
Exemplo:

“O estudante leu o livro”

Possui 5 itens lexicais, que são organizados através de marcadores sintagmáticos. Tais
marcadores poderiam sofrer transformações de modo a formar outras sentenças:

“O livro foi lido pelo estudante”


“O que o estudante leu?”
“Quem leu o livro?”
“Os gerativistas perceberam que as infinitas sentenças de uma língua eram formadas a partir
da aplicação de um finito sistema de regras (a gramática) que transformava uma estrutura
em outra (sentença ativa em sentença passiva, declarativa em interrogativa, afirmativa em
negativa, etc.) – e é precisamente esse sistema de regras que, então, se assumia como o
conhecimento linguístico existente na mente do falante de uma língua, o qual deveria ser
descrito e explicado pelo linguista gerativista” (KENEDY, 2008, p. 131).
Diagrama arbóreo
Mas como uma outra estrutura relacionada seria formada a partir da estrutura de base? Para
dar conta da relação entre estruturas diferentes, mas relacionadas, os gerativistas formularam
as regras transformacionais:

● 1.ª estrutura – estrutura profunda - voz ativa


● 2.ª estrutura – estrutura superficial - voz passiva
● Década de 1990 – a ideia de transformação de uma estrutura em outra é abandonada
em favor de uma visão que não mais representava estruturas, e sim as derivava.
○ Como uma estrutura é formada (derivada) sem ser comparada com outra estrutura
independente;
○ Como os falantes de uma língua têm intuições sobre as estruturas sintáticas que
produzem e ouvem?
○ Como uma pessoa sabe, por exemplo, que “quantos livros você já escreveu?” é
perfeitamente normal e não causa estranhamento, enquanto a frase “*que livro
você conhece uma pessoa que escreveu?” não é normal e é estranha, ou seja, é
agramatical?
Estamos falando da “Competência linguística”

● Conhecimento implícito, inconsciente e natural acerca da língua que todos os


falantes nativos possuem, e não das regras da gramática normativa que aprendemos na
escola;
● Diferente de “desempenho linguístico” = uso concreto da língua (performance);
● Para o gerativismo, é somente através do estudo da competência que será possível
elaborar uma teoria formal que explique o funcionamento abstrato da linguagem na
mente dos indivíduos;
● O que interessa ao gerativista é o funcionamento da mente que permite a geração de
estruturas linguísticas observadas nos dados de qualquer corpus de fala.
Gramática universal

● Evolução da linguística gerativa no início dos anos 1980;


● A ideia de competência linguística cedeu lugar à hipótese da gramática universal;
● Gramática universal:
○ conjunto de propriedades gramaticais comuns compartilhadas por todas as línguas
naturais, bem como as diferenças entre elas.
○ refinamento da noção de faculdade da linguagem (dispositivo inato) sustentada
pelo gerativismo;
Teoria dos princípios e parâmetros

● As pesquisas dessa teoria são desenvolvidas sobretudo na área da sintaxe, pois é


exatamente nas estruturas sintáticas que mais evidentemente se percebem as grandes
semelhanças entre todas as línguas do mundo.

Por exemplo: todas as línguas do mundo possuem orações adjetivas, orações


interrogativas e funções sintáticas como sujeito, predicado, complementos.
Princípio

Propriedades gramaticais válidas para todas as línguas naturais;

Exemplo de princípio:

a) João disse que ele vai se casar (“ele” pode ser tanto o João quanto outro homem)
b) Ele disse que João vai se casar (“ele” não pode ser o João)

É um princípio da GU que uma anáfora deve suceder o seu referente, e nunca o contrário.
Se traduzíssemos para qualquer língua do mundo, o resultado seria sempre o mesmo, pois é
um princípio da GU exatamente igual em todas as línguas naturais.
Parâmetro

Possibilidades de variação Podemos dizer que a língua portuguesa se caracteriza


entre as línguas; por suportar a ocorrência de sujeitos nulos. Já no
Inglês, o sujeito nulo é agramatical.
Exemplo de parâmetro:

a) Ø saí ontem A existência de sujeitos nas sentenças é um princípio


b) Ø fomos ao cinema da GU, mas a possibilidade de deixá-los nulos das
c) Ø fez o trabalho frases é um parâmetro da GU, pois línguas como o
d) Ø choveu ontem
português se caracterizam como [+sujeito nulo],
enquanto línguas como o inglês são [- sujeito nulo].
“O projeto da linguística gerativa é observar comparativamente as línguas humanas – com
os seus milhares de fenômenos morfofonológicos, sintáticos, semânticos e sua suntuosa
complexidade – com o objetivo de descrever os princípios e os parâmetros da GU que
subjazem a competência linguística dos falantes, para, assim, poder explicar como é a
faculdade da linguagem, essa parte notável da capacidade mental humana” (KENEDY, 2008,
p. 138).
O FOXP2 e a genética da linguagem

● Outubro de 2001 – Anthony Monaco anuncia a descoberta do primeiro gene (FOXP2)


que aparentemente está destinado a controlar a capacidade linguística humana;
● O FOXP2 é um gene existente também em outros primatas, mas em quantidade muito
reduzida;
● Apesar de ser, ainda hoje, refutada por muitos geneticistas, serviu para abrir ou
aprofundar a discussão sobre as bases genéticas da linguagem humana;
● Se o mapeamento dos genes humanos confirmar a existência de genes que controlam a
capacidade linguística humana, então a faculdade da linguagem e sua disposição na
GU podem passar a ser consideradas não mais hipóteses abstratas, mas sim fatos
do mundo natural.
Bibliografia

ILARI, R. Estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna
Christina (orgs). Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos, vol. 3, 3. ed. - São Paulo:
Cortez, 2007, p. 53-92.

KENEDY, E. Gerativismo. In: MARTELOTTA, M. E. Manual de linguística. São Paulo: Contexto,


2008.

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