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Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder a questão.


O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase
nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um
dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é
dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito.
Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não
utilizo, porque não sei para que servem.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas.
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me
deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.
Acham que andei mal?
A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas
ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a
obtê-las.
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram- -me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se
comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automaticamente. Automaticamente. Difícil? Nada! Se eles entram nos trilhos,
rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que praticarem viram
sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião
chega, desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano
Padilha. Houve reclamações.
– Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça.
Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama,
que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o
mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem.
Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota
na Gazeta , elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis.

(S. Bernardo, 1996.)


“Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem.” (7o parágrafo)
Considerada no atual contexto histórico, essa fala do narrador pode ser vista como uma crítica à ideia de

a) trabalho.

b) meritocracia.

c) burocracia.

d) preguiça.

e) pobreza.

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O conhecido preceito “os fins justificam os meios” pode ser aplicado ao trecho:

a) “E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que
me levaram a obtê-las.” (6o parágrafo)

b) “Comprei móveis e diversos objetos que entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não utilizo,
porque não sei para que servem.” (4o parágrafo)

Kamila Aiane Alves Silva - kamilaaiane@gmail.com - CPF: 038.372.351-57


c) “Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros
matam-se.” (1o parágrafo)

d) “Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e
a mulher enforcou-se.” (2o parágrafo)

e) “Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as
taxas desceram.” (7o parágrafo)

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O narrador emprega expressão própria da modalidade oral da linguagem em:

a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza.” (7o parágrafo)

b) “Naturalmente deixei de dormir em rede.” (4o parágrafo)

c) “A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus.” (6o
parágrafo)

d) “E os negócios desdobraram-se automaticamente.” (7o parágrafo)

e) “Julgo que não preciso descrevê-la.” (4o parágrafo)

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“Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos
miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a
mulher enforcou-se.” (2o parágrafo)

Os pronomes sublinhados referem-se, respectivamente, a

a) “alavanca”, “um”, “viúva e órfãos”.

b) “pedra”, “um”, “meninos”.

c) “pedra”, “alavanca”, “viúva e órfãos”.

d) “alavanca”, “pedra”, “viúva e órfãos”.

e) “alavanca”, “pedra”, “meninos”.

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No trecho, o narrador revela-se uma pessoa

a) empreendedora e solidária.

b) invejosa e hesitante.

c) obstinada e compassiva.

d) egoísta e violenta.

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e) preguiçosa e traiçoeira.

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Examine a tira do cartunista Fernando Gonsales.

Na tira, Arlindo Gouveia é caracterizado como

a) dissimulado.

b) agressivo.

c) pedante.

d) volúvel.

e) orgulhoso.

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Indo às consequências finais da posição de José de Alencar no Romantismo, esse autor adotou como base da
sua obra o esforço de escrever numa língua inspirada pela fala corrente e os modismos populares, não hesitando
em usar formas consideradas incorretas, desde que legitimadas pelo uso brasileiro. Com isso, foi o maior
demolidor da “pureza vernácula” e do “culto da forma”.

(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

O texto refere-se a

a) Olavo Bilac.

b) Machado de Assis.

c) Mário de Andrade.

d) Aluísio Azevedo.

e) Euclides da Cunha.

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‘Ferrugem’: um ótimo nacional encara o cyberbullying

Um celular perdido, um vídeo viralizado, e Tati, de 16 anos, se vê no meio de um furacão que abalaria qualquer um – e muito mais uma
menina a quem ainda falta o equipamento emocional para lidar com uma situação tão drástica de exposição da intimidade e de ostracismo
social. Os amigos e amigas vão caindo fora; com os pais, ela não consegue falar. Renet, o garoto com quem ela começava a engatar um
flerte quando tudo começou, dá as costas a ela. E Tati, interpretada pela ótima novata Tiffanny Dopke, de fisionomia suave e jeitinho
cativante, sucumbe à pressão.
‘Ferrugem’, do diretor Aly Muritiba, é um dos pontos altos de uma safra surpreendentemente boa do cinema nacional nos últimos meses
(completada ainda por ‘Aos Teus Olhos’, ‘As Boas Maneiras’, ‘O Animal Cordial’ e ‘Benzinho’). Da agitação e cacofonia dessa primeira parte do
filme, Muritiba vai, na segunda metade, para um estilo oposto: com atenção e reflexão, acompanha o sofrimento de Renet (o também muito
bom Giovanni de Lorenzi) com as consequências do episódio que afetou Tati. Aqui, duas visões morais muito distintas se opõem: a do pai
(Enrique Diaz), que quer poupar Renet, e a da mãe (a calorosa Clarissa Kiste), que quer obrigá-lo a enfrentar os fatos.
Maduro, lúcido, muito bem escrito e filmado, ‘Ferrugem’ está na comissão de frente dos possíveis indicados do Brasil ao Oscar do ano
que vem.
(Disponível em: <https://veja.abril.com.br/tveja/em-cartaz/ferrugem-um-otimo-nacional-encara-o-cyberbullying/> . Acesso em
31/08/2018.)

Com base no texto, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas:

( ) O filme “Ferrugem”, segundo a reportagem apura, concorrerá ao Oscar de melhor filme


estrangeiro no ano que vem.
( ) O filme “Ferrugem” narra a história de uma menina, Tati, que tem sua intimidade exposta
publicamente depois de perder o celular.
( ) O filme apresenta duas linhas narrativas: uma agitada e dissonante, e outra, psicológica e
reflexiva.
( ) O filme “Ferrugem” critica a exposição descuidada dos adolescentes em redes sociais.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.

a) F – F – V – V.

b) F – V – V – F.

c) V – F – F – V.

d) V – V – F – F.

e) V – F – V – V.

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As expressões ‘equipamento emocional’ e ‘ostracismo social’, no segundo parágrafo, podem ser


interpretadas, segundo o contexto de ocorrência, respectivamente, como:

a) objeto que regula emoções – exílio.

b) capacidade de sentir emoções – exclusão.

c) experiência – falta de exposição.

d) maturidade – isolamento.

e) malícia – incapacidade de se expressar.

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Era uma vez um lobo vegano que não engolia a vovozinha, três porquinhos que se dedicavam _____ especulação imobiliária e uma
estilista chamada Gretel que trabalhava de garçonete em Berlim. Não deveria nos surpreender que os contos tradicionais se adaptem aos
tempos. Eles foram submetidos _____ alterações no processo de transmissão, oral ou escrita, ao longo dos séculos para adaptá-los aos
gostos de cada momento. Vejamos, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697 – quando a história foi colocada no papel –, Charles
Perrault acrescentou _____ ela uma moral, com o objetivo de alertar as meninas quanto _____ intenções perversas dos desconhecidos.
Pouco mais de um século depois, os irmãos Grimm abrandaram o enredo do conto e o coroaram com um final feliz. Se a Chapeuzinho
Vermelho do século XVII era devorada pelo lobo, não seria de surpreender que a atual repreendesse a fera por sua atitude sexista quando a
abordasse no bosque. A força do conto, no entanto, está no fato de que ele fala por meio de uma linguagem simbólica e nos convida a
explorar a escuridão do mundo, a cartografia dos medos, tanto ancestrais como íntimos. Por isso ele desafia todos nós, incluindo os adultos.
[...]
A poetisa Wislawa Szymborska falou sobre um amigo escritor que propôs a algumas editoras uma peça infantil protagonizada por uma
bruxa. As editoras rejeitaram a ideia. Motivo? É proibido assustar as crianças. A ganhadora do prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja
coragem se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a importância de se assustar, porque as crianças sentem uma necessidade
natural de viver grandes emoções: “A figura que aparece [em seus contos] com mais frequência é a morte, um personagem implacável que
penetra no âmago da felicidade e arranca o melhor, o mais amado. Andersen tratava as crianças com seriedade. Não lhes falava apenas da
alegre aventura que é a vida, mas também dos infortúnios, das tristezas e de suas nem sempre merecidas calamidades”. C. S. Lewis dizia
que fazer as crianças acreditar que vivem em um mundo sem violência, morte ou covardia só daria asas ao escapismo, no sentido negativo
da palavra.
Depois de passar dois anos mergulhado em relatos compilados durante dois séculos, Italo Calvino selecionou e editou os 200 melhores
contos da tradição popular italiana. Após essa investigação literária, sentenciou: “Le fiabe sono vere [os contos de fadas são verdadeiros]”. O
autor de O Barão nas Árvores tinha confirmado sua intuição de que os contos, em sua “infinita variedade e infinita repetição”, não só
encapsulam os mitos duradouros de uma cultura, como também “contêm uma explicação geral do mundo, onde cabe todo o mal e todo o
bem, e onde sempre se encontra o caminho para romper os mais terríveis feitiços”. Com sua extrema concisão, os contos de fadas nos falam
do medo, da pobreza, da desigualdade, da inveja, da crueldade, da avareza... Por isso são verdadeiros. Os animais falantes e as fadas
madrinhas não procuram confortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para viver, em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e
estimular seu raciocínio moral. Se eliminarmos as partes escuras e incômodas, os contos de fadas deixarão de ser essas surpreendentes
árvores sonoras que crescem na memória humana, como definiu o poeta Robert Bly.
(Marta Rebón. Disponível em:<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/18/ eps/ 1537265048_460929.html> .)

Considere as seguintes afirmativas sobre os termos em negrito e sublinhados no texto:

1. Na 3ª linha do segundo parágrafo, “a” refere-se a “fera”.


2. Na 3ª linha do terceiro parágrafo, “cuja” refere-se a “Wislawa Szymborska”.
3. Na 4ª linha do terceiro parágrafo, “seus” refere-se a “Andersen”.
4. Na 7ª linha do quarto parágrafo, “las” refere-se a “crianças”.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira.

b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

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De acordo com o texto, o autor de O Barão nas Árvores é:


a) Andersen.

b) Italo Calvino.

c) Wislawa Szymborska.

d) C. S. Lewis.

e) Robert Bly.

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Com relação aos contos tradicionais, a autora:

a) defende a ideia de que eles precisam ser reelaborados, para se adequarem aos valores de cada
época.

b) concorda que deve ser proibido assustar as crianças por meio dos contos, para que isso não as afaste
da leitura.

c) vê com bons olhos as versões dos irmãos Grimm, que abrandaram o enredo e passaram a apresentar
finais felizes.

d) considera a infinita repetição como um aspecto negativo dos contos, mas que é compensado pela
infinita variedade.

e) é favorável a que tenham finais tristes e abordem situações de desigualdade, crueldade e infortúnios.

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Escritores de uma nova geração, Milton Hatoum (nascido em 1952) e Bernardo Carvalho (nascido
em 1960) já garantiram seu lugar no panorama multifacetado da literatura brasileira
contemporânea. Relato de um certo oriente, publicado em 1989, marcou a estreia de Milton Hatoum
na literatura. Nove noites, publicado em 2002, é o sétimo livro lançado por Bernardo Carvalho, que
Aberração
estreou na literatura em 1993 com o livro de contos .

A respeito das comparações entre Relato de um certo oriente e Nove noites, considere as seguintes
afirmativas:

1. Milton Hatoum consegue trazer para a sua ficção o espaço amazonense sem cair no exagero do
exotismo; Bernardo Carvalho, por sua vez, tensiona o realismo pela inclusão, na ficção, de fatos e
personagens históricos, autobiografia e experiências pessoais.
2. Através de estratégias diferentes, os dois romances buscam compreender o passado, conscientes
da obrigação histórica de recuperá-lo tal como aconteceu: Relato de um certo oriente
resgata a
memória trágica de uma família que viveu em Manaus; Nove noites investiga a morte de um
antropólogo no sul do Maranhão, para entregar ao leitor a solução de um mistério até então não
resolvido.
3. A epígrafe de W.H. Auden – “Que a memória refaça/A praia e os passos/O rosto e o ponto do
encontro” (em tradução de Sandra Stroparo e Caetano Galindo) – anuncia o elemento central da
narrativa de Milton Hatoum. O título do romance de Bernardo Carvalho se refere às nove noites que
o antropólogo Buell Quain passou na companhia de Manoel Perna, durante a sua estada entre os
índios Krahô.
4. O tratamento dado aos nativos em Relato de um certo oriente
pode ser verificado na humilhação
e nos abusos sofridos pelas caboclas e índias que trabalhavam na casa de Emilie, principalmente por
parte dos dois “inomináveis”. Em Nove noites
, a narração do jornalista volta a momentos centrais da
história do Brasil no século XX – Estado Novo, Ditadura Militar e Período Democrático –, marcando a
situação de vulnerabilidade permanente dos índios num mundo de brancos.
5. Na Manaus multicultural da primeira metade do século XX, Emilie e seus filhos, com a curiosidade
natural do imigrante, atravessam constantemente o rio que separa a cidade da floresta. Da mesma
forma, o narrador-jornalista de Nove noites
visita inúmeras vezes os índios Krahô, em busca de
informações sobre o suicídio de Buell Quain.

Assinale a alternativa correta

a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras

b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras

c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras

d) Somente as afirmativas 2, 3 e 5 são verdadeiras

e) As afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.

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O Uraguai foi publicado pela primeira vez antes da independência do Brasil, em 1769, e narra as
disputas entre espanhóis e portugueses pelos territórios do sul do continente, envolvendo os índios
e os jesuítas. No fragmento abaixo, podemos conferir um trecho da fala do comandante português:

O nosso último rei e o rei de Espanha


Determinaram por cortar de um golpe,
Como sabeis, neste ângulo da terra,
As desordens de povos confinantes,
Que mais certos sinais nos dividissem.
(GAMA, Basílio da. “Canto Primeiro”. O Uraguai . Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 47.)

O talento de Basílio da Gama, que transforma o árido assunto em matéria literária, recebe, cem anos
depois, o elogio de Machado de Assis. Ao compará-lo com seu contemporâneo, Tomás Antônio
Gonzaga, o escritor afirma: “Não lhe falta, também a ele, nem sensibilidade, nem estilo, que em alto
grau possui; a imaginação é grandemente superior à de Gonzaga, e quanto à versificação nenhum
outro, em nossa língua, a possui mais harmoniosa e pura” (MACHADO DE ASSIS. A nova geração. In.
Obras completas. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1973. p.815).

Sobre o poema de Basílio da Gama, considere as seguintes afirmativas:

1. O contexto histórico trabalhado no poema de Basílio da Gama é fundamental para o seu


entendimento: a descentralização do poder colonial, protagonizada pelo Marquês de Pombal, e a
disputa de territórios coloniais entre Espanha e Portugal, mediada e pacificada pelos jesuítas, na
segunda metade do século XVIII.
2. Ao longo dos cinco cantos de O Uraguai
, compostos em decassílabos sem rima, podemos perceber
a marca da epopeia, na narração da guerra e dos feitos dos heroicos portugueses, e a presença da
sátira, na caricatura dos jesuítas, particularmente na figura do Padre Balda.
3. O grande destaque dado aos índios e à defesa da sua terra, a exaltação lírica da natureza e a
centralidade do par amor/morte, presente na relação de Lindoia e Cacambo, deram ao poema de
Basílio da Gama o lugar de inaugurador do romantismo em todos os manuais de história da
literatura brasileira.
4. Para narrar acontecimentos reais da ação de portugueses e espanhóis na disputa dos territórios
delimitados pelo rio Uruguai, que hoje correspondem ao noroeste do Rio Grande do Sul e ao norte da
Argentina, Basílio da Gama toma o cuidado de inserir apenas personagens ficcionais no seu poema,
para não se comprometer.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.

b) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.

c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

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Segundo Antonio Candido:

Gonçalves Dias é um grande poeta, em parte por encontrar na poesia o veículo natural para a sensação de
deslumbramento ante o Novo Mundo [...]. O seu verso, incorporando o detalhe pitoresco da vida americana ao
ângulo romântico e europeu de visão, criou (verdadeiramente criou) uma convenção poética nova. Esse cocktail
de medievismo, idealismo e etnografia fantasiada nos aparece como construção lírica e heroica, de que resulta
uma composição nova para sentirmos os velhos temas da poesia ocidental.

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(Formação da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Itatiaia (8. ed.) vol. 2, 1975, p. 73.)
Considerando o trecho citado e a leitura integral do livro Últimos Cantos, de Gonçalves Dias, assinale
a alternativa correta.

a) A representação dos povos indígenas descreve as tradições coletivas dessas comunidades, mas pode,
por vezes, apresentar os sentimentos individuais e particulares de alguns de seus membros.

b) Gonçalves Dias demonstra em sua poesia americana o interesse de se distanciar da tradição


indianista, apresentando temas universais, nos quais o gosto pelo exótico e pela tematização do
nacional não deveria predominar.

c) A tematização da miscigenação entre índios e brancos é considerada prejudicial, uma vez que
apagaria os traços próprios da cultura indígena que deveriam ser preservados.

d) O emprego exclusivo de poemas narrativos longos demonstra que o livro pretende ser uma epopeia
que cultua os valores heroicos e descarta a expressão lírica amorosa.

e) A diversidade de temas e de modelos formais se contrapõe ao emprego da mesma medida métrica


em todos os poemas.

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Anatol Rosenfeld, um importante estudioso da cena teatral brasileira, faz no trecho abaixo uma
síntese que explica as motivações para o emprego de recursos narrativos na dramaturgia que,
segundo ele, começa a ser realizada no Brasil ao fim da década de 50 do século XX.

O uso de recursos épicos por parte de dramaturgos e diretores teatrais não é arbitrário, correspondendo, ao
contrário, a transformações históricas que suscitam o surgir de novas temáticas, novos problemas, novas
valorações e novas concepções de mundo.
(ROSENFELD, Anatol: O teatro épico
. São Paulo: Perspectiva, 1985, p. 12.)

Considerando o trecho citado e a leitura integral de Morte e Vida Severina, Auto de Natal
Pernambucano , de João Cabral de Melo Neto, e Eles não usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri,
assinale a alternativa correta.

a) O auto de João Cabral de Melo Neto utiliza o verso e recursos da tradição oral popular do Nordeste
para reforçar o caráter religioso da peça, excluindo indícios de crítica social aos problemas regionais.

b) O conflito entre pai e filho em Eles não usam Black-tie transpõe para o ambiente cotidiano de uma
família os conflitos e impasses da classe operária diante dos desmandos dos patrões.

c) A peça de Guarnieri faz referências à cultura e ao ambiente da favela, incluindo até letras de sambas
antigos, o que reforça a imagem idealizada do morro e da figura do malandro.

d) Morte e vida Severina utiliza versos de metrificação idêntica em todo o texto, o que prejudica o ritmo
musical e melódico, ao contrário do que se observa na peça de Guarnieri.

e) Os personagens da peça de Guarnieri são considerados alegóricos, porque não apresentam conflitos
psicológicos, enquanto os de João Cabral são personagens individualizados e diversos entre si.

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Leitor e admirador de Basílio da Gama, e escritor já consagrado pela publicação de Memórias


póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba , Machado de Assis lança Várias histórias
(1895). O livro
reúne 16 contos, publicados anteriormente no jornal Gazeta de Notícias entre 1884 e 1891. Sobre
Machado de Assis, leia o seguinte texto:

Um século depois de sua morte, Milton Hatoum afirma que os leitores atuais “nas narrativas breves do Bruxo vão
encontrar os temas dos grandes romances: a loucura, o adultério, o jogo de sedução e poder, os carreiristas e
alpinistas sociais, e a combinação de falta de escrúpulos e crueldade nas atitudes de determinada elite brasileira
do século XIX. Um século depois da morte de Machado, alguns desses temas perduram, porque fazem parte

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constitutiva da natureza humana. Quanto à crueldade de uma elite que cultiva privilégios... até nisso Machado
acertou em cheio, e com um pessimismo e uma ironia que nos deixam sem fôlego”.
( Terra magazine
. Publicado em 22/09/2008. Disponível em:
<http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,OI3198423-EI6619,00-
Machado+de+Assis+um+seculo+depois.html>.)

Com base na leitura integral dos contos de Várias histórias


e no trecho citado de Milton Hatoum,
assinale a alternativa que propõe a associação correta entre tema central e conto.

a) O conto “Trio em lá menor” tem como tema central “a combinação de falta de escrúpulos e crueldade
nas atitudes de determinada elite brasileira do século XIX”

b) O conto “A causa secreta” tem como tema central a descrição de personagens “carreiristas e alpinistas
sociais”.

c) O conto “Mariana” tem como tema central “a loucura”.

d) O conto “Adão e Eva” tem como tema central a suposição ou concretização do “adultério”.

e) O conto “O diplomático” tem como tema central “o jogo de sedução”.

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Considere o seguinte trecho do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto:


Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja
existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e
suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro. (Clara dos Anjos , p. 38.)

Com base no trecho selecionado e na leitura integral do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto,
assinale a alternativa correta.

a) O narrador é imparcial ao descrever os cenários do subúrbio e de outros pontos da cidade,


demonstrando neutralidade na constatação das diferenças entre as regiões.

b) O subúrbio é descrito ora de modo realista, ora de modo idealizado, contribuindo para a construção
de uma visão, por vezes, romantizada da pobreza.

c) O narrador disseca com rigor quase sociológico os problemas políticos da época, citando fatos e
personagens históricos reais que se misturam à narrativa.

d) O romance apresenta o ambiente do subúrbio aliando a descrição pormenorizada do espaço físico à


caracterização dos personagens que o habitam.

e) Os vários bairros e personagens que estão nos arredores da linha férrea do trem urbano são descritos
como um conjunto indiferenciado, como se cada bairro não tivesse sua característica própria.

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Leia atentamente os textos a seguir.

Texto 1
Baralho cigano - A carta 30 “Os Lírios” rege o período.
Uma semana que lágrimas poderão rolar de nossos olhos. Os lírios simbolizam tristeza, perdas e sofrimentos na
vida amorosa e familiar. Tudo causado por situações que irão se revelar neste período. Mas, com calma, amor e
inteligência, tudo irá se resolver para seu bem. Só que a carta avisa: haverá perdas necessárias, para que uma
nova fase comece já. (www.terra.com.br)

Texto 2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade... (Constituição Federal, 1988, art. 5º).

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Texto 3
A excelente coluna “Auxílio é para quem precisa?”, de Fernanda Mena (Opinião, 21/7), aborda de maneira
oportuna e objetiva a imoralidade da concessão de auxílio-moradia de R$4,378 mensais para juízes. Abdias
Ferreira Filho (São Paulo, SP)

Texto 4

Tomando por base esses textos, pode-se afirmar, a respeito de “gêneros textuais”, que:

a) nem todos podem ser considerados gêneros textuais, porque não preenchem os parâmetros de
finalidade comunicativa dessas categorias.

b) são exemplos de gêneros produzidos em diferentes domínios discursivos, onde também circulam; são
manifestações do funcionamento social.

c) diferente dos demais, o texto 4 permite a identificação do suporte textual, ou seja, do meio que
serve de base para a materialização do texto.

d) os textos 1, 2, 3 não permitem a identificação dos domínios discursivos nos quais foram criados. O 4
revela claramente a esfera da atividade humana em que foi produzido.

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O adiado avô.

Mia Couto.
Nossa irmã Glória pariu e foi motivo de contentamentos familiares. Todos festejaram, exceto o nosso velho, Zedmundo Constantino
Constante, que recusou ir ao hospital ver a criança. No isolamento de seu quarto hospitalar, Glória chorou babas e aranhas. Todo o dia seus
olhos patrulharam a porta do quarto. A presença de nosso pai seria a bênção, tão esperada quanto o seu próprio recém-nascido. - Ele há-de
vir, há-de vir. Não veio. Foi preciso trazerem o miúdo a nossa casa para que o avô lhe passasse os olhos. Mas foi como um olhar para nada.
Ali no berço não estava ninguém. Glória reincidiu no choro. (...). Suplicou a sua mãe Dona Amadalena. Ela que falasse com o pai para que
este não mais a castigasse. Falasse era fraqueza de expressão: a mãe era muda, a sua voz esquecera de nascer. O menino disse as
primeiras palavras e, logo, o nosso pai Zedmundo desvalorizou: - Bahh! Contrariava a alegria geral. À mana Glória já não restava sombra de
glória. (...) O homem sempre acinzentava a nuvem. Mas Zedmundo, no capítulo das falas, tinha a sua razão: nós, pobres, devíamos alargar
a garganta não para falar, mas para melhor engolir sapos. - E é o que repito: falar é fácil. Custa é aprender a calar. E repetia a infinita e
inacabada lembrança, esse episódio que já conhecíamos de salteado. Mas escutamos, em nosso respeitoso dever. Que uma certa vez, o
patrão português, perante os restantes operários, lhe intimou: - Você, fulano, o que é que pensa? Ainda lhe veio à cabeça responder: preto
não pensa, patrão. Mas preferiu ficar calado. - Não fala? Tem que falar, meu cabrão. Curioso: um regime inteiro para não deixar nunca o
povo falar e a ele o ameaçavam para que não ficasse calado. E aquilo lhe dava um tal sabor de poder que ele se amarrou no silêncio. E
foram insultos. Foram pancadas. E foi prisão. Ele entre os muitos cativos por falarem de mais: o único que pagava por não abrir a boca. - Eu
tão calado que parecia a vossa mãe, Dona Amadalena, com o devido respeito... Meu velho acabou a história e só minha mãe arfou a mostrar
saturação. Dona Amadalena sempre falara suspiros. Porém, em tons tão precisos que aquilo se convertera em língua. Amadalena
suspirava direito por silêncios tortos. (...) A mulher puxou-o para o quarto. Ali, no côncavo de suas intimidades, o velho Zedmundo se
explicou. (...). Eu não sou avô, eu sou eu, Zedmundo Constante. Agora, ele queria gozar o merecido direito: ser velho. A gente morre
ainda com tanta vida! - Você não entende, mulher, mas os netos foram inventados para, mais uma vez, nos roubarem a regalia de

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sermos nós. E ainda mais se explicou: primeiro, não fomos nós porque éramos filhos. Depois, adiámos o ser porque fomos pais. Agora,
querem-nos substituir pelo sermos avós. (...)

Assinale a alternativa que melhor caracteriza o texto em relação aos gêneros literários.

a) O texto é poético, fortemente marcado por metáforas e construções simbólicas, características que o
enquadram no gênero lírico.

b) O texto pertence ao gênero dramático, pois é evidente o apelo aos dramas humanos: rejeição,
tirania, incompreensão entre outros.

c) Não é possível definir a que gênero pertence, pois o texto apresenta características de mais de um
gênero.

d) A presença do narrador é suficiente para caracterizar o texto como pertencente ao gênero narrativo.

Respostas 61: 62: 63: 64: 65: 66: 67: 68: 69: 70: 71: 72: 73: 74:
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