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Assim, de acordo com a "Odisseia", também de Homero, Hermes se torna, não somente
mensageiro de Zeus aos mortais, mas também dispensador de bens divinos aos humanos. Em
fim, Hermes se torna Deus protetor dos viajantes, não somente no mundo natural, mas
também no mundo intelectual, espiritual. Para isso, Hermes precisava conhecer a verdade, em
sentido pleno, não somente nos caminhos da vida, mas também nos caminhos do espírito.
Assim, em uma de suas viagens, deparou-se com uma jovem bela e atraente, de quem
procurou se aproximar, mas ela mantinha distância.
Essa jovem era Alethéia, a verdade disfarçada em mulher. Hermes, movido pelo ímpeto
heróico-divino, quis possuí-la, mas ela afastou-se. Hermes resolveu seguí-la. Percebendo que
ela haveria de passar por um vale entre duas montanhas, resolveu preparar-lhe uma
armadilha, lançando mãos da "astéia", astúcia. Assim que Alethéia se aproxima da armadilha,
"Hélios", o Sol, acima das montanhas, projeta seus raios luminosos e protetores sobre a jovem
Alethéia, permitindo que somente sua sombra, caísse na armadilha de Hermes e esse
consegue prendê-la, pensando ter a verdade como propriedade sua, mas logo descobriu o
grande engano. A verdade não se deixa fazer presa de ninguém, nem dos deuses, pois estes
consentiram que a verdade fosse revelada aos homens.
Diante disso, o filósofo Aristóteles, em sua obra "O Órganon", seu tratado de Lógica, no qual,
expõe o método da ciência, vem a ressaltar a importância da "Tá Hermenéia", da
hermenêutica, enquanto ciência da interpretação, colocando Hermes na condição de Pai da
hermenêutica, ressaltando que a verdade existe para ser conhecida e não possuída. Somente
Deus tem a posse da verdade, mas em sua bondade e misericórdia permite aos mortais, o
conhecimento parcial da verdade, dentro dos limites do tempo, do espaço e da mente
humana. É lamentável que ainda hoje, não obstante, todo progresso da filosofia, da ciência e
da tecnologia, não faltem aqueles que se julgam donos da verdade.
Aos fariseus, que estavam presos à mediocridade, pela qual, pensavam que possuíam a
verdade, Jesus declara: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Aos seus discípulos,
Jesus afirma: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai, a não ser por mim".
Assim, devemos reconhecer que a verdade liberta, a verdade abre caminho, a verdade imprime
o sentido da vida. Diante disso, Raymundo Dantas, autor do livro "Alethéia" declara reconhecer
que, na verdade, tudo é provisório sobre o mundo e sobre nós mesmos e, por essa razão, não
devemos permitir que qualquer coisa, de bem ou de mal, se instale permanentemente em nós
e entre nós, pois a verdade é o elo que liga Deus a nós, ao mesmo tempo em que nos liga a nós
mesmo, ao outro, e à natureza e a Deus.
Assim, Hans George Gadamer, autor do livro "Verdade e Método," ao abordar o problema
da verdade, em perspectiva científica, reconhece que a busca da verdade, embora se baseie
unicamente, no método científico, a verdade pode ser descoberta também, a partir da
consciência histórica e da consciência estética, pela via da hermenêutica. No livro "A arte de
Compreender", Gadamer ressalta que o problema hermenêutico é colocado em relação à
teoria do conhecimento, que parte da consciência mítica, passando pela consciência religiosa,
pela consciência filosófica, pela consciência científica, para em fim, alcançar a consciência
tecnológica, sem perder de vista, a Revelação Divina, que fundamenta e nutre a consciência
teológica. Vale ressaltar que o termo consciência sugere o saber com os outros e não o saber
sobre os outros. Em fim, o mito é o ponto de partida a caminho da verdade e a verdade do
mito, a consciência do não saber, alinhada à necessidade de buscar o saber.
Um abraço fraterno!
Jucativa-0009 - 11-01-2022