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Esforço de Resistir

O que são paixões?


Geralmente associamos paixão àquele sentimento romântico
descontrolado de alguém que está encantado por outra pessoa. Nesse
estudo, paixão é algo mais geral. Paixão é todo sentimento ou
necessidade que passou do limite. O medo é um sentimento, mas quando
o medo passa do limite, se torna pânico, se torna uma paixão. O apetite é
uma necessidade, mas quando passa do limite, se torna gula, se torna
uma paixão.

Os sentimentos e necessidades não são ruins, ruim é quando se tornam


paixões, quando saem do controle, quando passam do limite. Quando
saem do controle, precisam do nosso esforço para que voltem a se
equilibrar. Os sentimentos e necessidades são como as forças da
natureza: se estão fora de controle, são destrutivos. A água é uma força
da natureza que pode devastar cidades inteiras nas enchentes, mas sob o
controle das usinas hidrelétricas, são capazes de gerar energia para
sustentar as cidades. O fogo é uma força da natureza que pode devastar o
meio ambiente pelo incêndio, mas sob controle, tem o poder de mover as
indústrias do progresso. O vento é uma força da natureza que pode
destruir muitas cidades pelos furacões, mas sob controle pode gerar
energia eólica. Os nossos sentimentos e necessidades precisam de
controle para que não passem do limite e se tornem paixões.

O que é tentação?
Tentação é o que a paixão causa em nós.

A tentação é algo bom ou ruim? Jesus pede na oração dominical para


não cairmos em tentação, o que nos leva a pensar que a tentação é algo
ruim. Mas o apóstolo Tiago nos diz que é feliz o homem que passa pela
tentação, o que nos leva a pensar que a tentação é algo bom. Quem está
com a razão? Jesus ou Tiago?
Os dois estão com a razão. Cair em tentação é algo ruim, mas passar pela
tentação é algo bom pois assim estaremos fazendo esforço para resistir,
exercitando as forças da nossa alma, fazendo uma musculação da alma e
evoluindo.
O que é virtude?
Virtude é força espiritual. Coragem, paciência, humildade, resignação,
misericórdia, desapego, amor... Virtude é força espiritual.

Como nasce a virtude?


Se virtude é força espiritual, a virtude nasce com o esforço. Evoluímos
quando chegamos ao nosso limite e continuamos a nos esforçar. Esforço,
essa é a palavra mais importante para a evolução espiritual. Não é à toa
que Kardec disse que se reconhece o verdadeiro espírita pelos seus
esforços em domar suas más tendências. Esforço, essa é a palavra-chave.
Quanto maior o esforço, mais rápida é a evolução espiritual.

O esforço de resistir às paixões e tentações gera virtude, gera força


espiritual pois estaremos fazendo uma musculação da alma. Toda vez que
me esforço para resistir a uma paixão ou tentação, ganho força espiritual,
ganho virtude. Quando resisto a gula, estou ganhando força espiritual.
Quando resisto ao desespero, estou ganhando força espiritual. Quando
resisto a vaidade, estou ganhando força espiritual. Resistir às paixões e
tentações é a musculação da alma que dá origem às virtudes.

Tiago nos diz que é feliz o homem que passa pela tentação, pois depois
de ser aprovado, receberá a coroa da vida. O que é a coroa da vida?
A coroa da vida é o autocontrole, pois só recebe uma coroa aquele que é
rei, e rei não é aquele que domina os outros, mas aquele que domina a si
mesmo. Jesus era rei porque tinha total controle de si. Essa é a coroa da
vida: autocontrole.

Se virtude é um bom hábito, como se adquire um hábito?


Adquirimos um hábito pela repetição, pelo esforço repetido. Essa
musculação da alma se chama disciplina. Foi por isso que Emmanuel nos
diz que a disciplina antecede a espontaneidade. Antes de ser espontâneo
e natural, precisa ser repetido e praticado pela disciplina. É assim que
nascem os hábitos. Na definição de Kardec, educação é o conjunto de
bons hábitos adquiridos.

Todas as virtudes têm uma dose de autocontrole.

Será que coragem é ausência de medo?


Não, coragem não é ausência de medo, coragem é medo sob controle. O
corajoso sente medo, mas o que ele não deixa ocorrer é o medo crescer,
sair do controle, passar do limite e se tornar pânico. O medo é um
sentimento bom, que nos deixa alertas e vigilantes. A pessoa que não
sente medo é aquela que ainda não percebeu a gravidade da situação em
que está. O medo é bom, mas sob o controle da coragem.

Será que a humildade é a ausência do amor próprio?


Não, humildade não é a ausência do amor próprio, humildade é amor
próprio sob controle. O humilde se ama, se valoriza, tem autoestima, mas
o que ele não deixa ocorrer é o amor próprio crescer, sair do controle,
passar do limite e se tornar vaidade e orgulho.

Será que a resignação é a ausência da aflição?


Não, resignação não é a ausência da aflição, resignação é aflição sob
controle. O resignado sente aflições, sente dores e tribulações, mas o que
ele não deixa acontecer é essa aflição crescer, passar do limite e se tornar
desespero.

Será que a paciência é a ausência da irritação?


Não, paciência não é a ausência da irritação, paciência é irritação sob
controle. O paciente sente irritações e se incomoda com contrariedades,
mas o que ele não deixa é essa irritação crescer, sair do limite, e se tornar
raiva e fúria.

Será que a paciência é a ausência da inquietação?


Não, paciência não é a ausência da inquietação, paciência é inquietação
sob controle. O paciente sente inquietações e se incomoda com o que irá
acontecer no futuro, mas o que ele não deixa é essa inquietação crescer,
sair do limite, e se tornar ansiedade.

Será que misericórdia é ausência de firmeza?


Não, misericórdia não é ausência de firmeza, misericórdia é firmeza sob
controle. O misericordioso é firme, mas na dose certa, sem deixar que essa
firmeza cresça e saia do limite, se tornando dureza. O misericordioso não
julga, não condena, ele tem compaixão e perdoa, mas é firme na dose
certa quando precisa. A justiça sem misericórdia é punição e só revolta e
piora as coisas. A justiça com misericórdia é educação, é reabilitação, que
é firme na dose certa para corrigir os rebeldes.
Será que o desapego é ausência do desejo de possuir?
Não, desapego não é a ausência do desejo de possuir, desapego é o desejo
de possuir sob controle. O desapegado sente o desejo de possuir, tem
ambição, mas o que ele não deixa acontecer é esse desejo se tornar
ganância, até porque sabe que não somos proprietários, somos
administradores.

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