Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
8: 83-96, 1977
FONTES DA ESTÂNCIA DE ÃGUAS DA PRATA,
ESTADO DE SÂO PAULO
por
MÁRlA SZIKSZAY
Departamento de Geologia Geral
e
JEAN-MARlE TEISSEDRE
Instituto de Pesquisas Tecnológicas - Divisão de Minas e Geologia Aplicada
São Paulo
RÉSUMÉ
Faisant suite aux études antérieures sur l'inventaire géologique et géochimique des sources de
l'Etat de São Paulo le présent travail se réfêre au relevé des sources de l'Estância de Águas da Prata.
L'étude géologique de la région a permis de séparer les sources en 2 types distincts: l'un appar-
tenant aux roches clastiques représentées par des grés indurés et l'autre à des roches alcalines.
Du point de vue physico-chimique, on note une três nette différence: les eaux des grés sont
froides, avec un pH acide et peu minéralisées, par contres celles des roches alcalines sont hypother-
males avec un pH neutre et três minéralisées.
Toutes ces eaux sont bicarbonatées-sodiques et sont considérées rninérales d'aprês les concen-
trations en seIs dissouts, dans les roches alcalines et d'aprês la radioactivité, dans les grés.
RESUMO
Em continuação aos nossos estudos sobre a geologia e geoquímica das fontes do Estado de
São Paulo, o presente trabalho refere-se às fontes da Estância de Águas da Prata.
O estudo geológico da região permitiu separar as fontes em dois tipos distintos: um perten-
cente às rochas clásticas representadas pelos arenitos e outro às rochas alcalinas.
Do ponto de vista físico-químico, nota-se uma diferença marcada: as águas dos arenitos são
frias, com pH ácido e pouco rnineralizadas, ao contrário das rochas alcalinas que são hipotermais,
com pH neutro e muito rnineralizadas.
Todas essas águas são bicarbonatadas-sódicas e são consideradas minerais segundo as concen-
trações de sais dissolvidos nas rochas alcalinas e segundo radioatividade nos arenitos.
-83 -
as águas das fontes na borda da bacia de São (1959), ocorrem fragmentos de gnaisse prove-
Paulo (SZIKSZAY & TEISSEDRE. 1976. niente do embasamento, diabásio e sedimentos,
Queremos expressar nossos agradecimen- enquanto na matriz nota-se a presença de quart-
tos aos responsáveis (gerentes e administrado- zo arredondado.
res) das fontes pela gentileza com que fomos
As principais fontes dos arredores da ci-
recebidos e ainda a Fundação ao Amparo de
dade de Águas da Prata pertencem a este con-
Pesquisa do Estado de São Paulo (F APESP)
junto de rochas ígneas e de rochas elásticas. A
pela ajuda financeira.
fonte, mais distante do próprio sítio, conheci-
da como Fonte Platina, surge de uma lente de
QUADRO GEOLÓGICO fonolitos sendo a única fonte encontrada nesta
litologia aflorante. O fonolito aparece no fun-
Situada na borda ocidental do Planal- do do vale de um pequeno córrego e apresen-
to de Poços de Caldas, a cidade de Águas da ta uma extensão restrita com contatos bem de-
Prata é circundada pelo dique anelar de tín- finidos. A nascente sobre a qual foi construida
guaito a oeste e pela escarpa acentuada de o prédio para engarrafamento, atualmente aban-
rochas elásticas a leste. O próprio sítio cor- donado, está localizada na beira do córrego, e é
responde a uma fossa tectônica evidenciada bem provável que a água emerja através de
pelos rebaixamentos de blocos através de fa- fraturas verticais dentro do corpo de fonolito.
lhamentos no dique anelar. Estes deslocamen- As fontes Paiol, no parque do mesmo no-
tos aparecem nítidamente na saída para Poços me, distantes cerca de 3 km de Águas da Prata
de Caldas ao longo do Vale do Quartel. Neste em direção a Poços de Caldas, nascem, segundo
eixo aproveitado pela rodovia e ferrovia encon- FELICISSIMO (1965), em rochas alcalinas qo
tram-se afloramentos de rochas de origem vul- tipo tufos vulcânicos, foiaitos e fonolitos.
cânica, brechas e tufos, geralmente associados Nove perfurações foram executadas no parque
a arenitos. O maior afloramento dessa rocha da Fonte Paiol, onde existia uma fonte natural
elástica ocorre logo na saída do perímetro antes do início dos serviços de perfuração e
urbano no Vale do Quartel, constituindo um captação, realizados pelo Serviço de Geologia
pacote de mais de 100 m de espessura. Na Econômica do Instituto de Geografia e Geolo-
base desses arenitos foi identificado um folhe- gia, em 1956. Essas obras foram efetuadas na
lho de cor roxa, com numerosas intercalações proximidade da fonte com a finalidade de
de leitos arenosos e siltosos concordantes com aumentar a vazão inicial (1000 l/dia) da nas-
a estratificação. No topo, os arenitos apresen- cente. Segundo FELICISSIMO (1965), os
tam uma estratificação cruzada semelhante minerais constituintes das rochas atravessa-
a dos da Formação Botucatu. BJOERNBERG das nas perfurações do parque e nos seus arre-
e LANDIM (1966) os correlacionaram à For- dores que poderiam ser responsáveis pela mine-
mação Botucatu, atribuindo-lhes idade Triás- ralização das águas aflorantes, são: ortoelá-
sica, enquanto os folhelhos sotopostos foram sio, anortoelásio, sanidina, nefelina, aigerina,
considerados da Formação Tubarão. Além anflbolio sódico, apatita, biotita, sodalita,
disso, nas camadas observa-se brechas vul- hauyna, cancrinita, catapreüta, gianetita, eu dia-
cânicas, enquanto mais a leste, todo o con- lita, zeolita e zircão. Essas rochas apresentam
junto apresenta brechas vulcânicas da S~rra a composição química seguinte (Tabela I):
do Paiol. Certamente, após a fase eruptiva
houve um afundamento dentro do maciço vul- A outra fonte analisada nesse mesma
cânico provocando um mergulho das camadas parque emerge junto ao paredão que domina
arenosas a 20<:> para dentro do complexo vul- o pátio reservado ao público. A nascente en-
camco. No contato, bem visível na beira da contra-se nas brechas vulcânicas constituindo
estrada que vai para Poços de Caldas, foram o paredão, nas quais foi observada a presença
encontrado indícios de mineralizações de arse- de xenólitos de arenito. Devida a sua posição,
nopirita. Nas brechas perto do contato, de cor a água dessa fonte provem da percolação das
castanho arroxeado, descritas por ELLERT águas de inflltração nas brechas e sua saída é
-84-
o
\\ \
<r ,
f-
<r
Q:
\ \
\
o.. ',"
<r
o
m
~
'.'.
Cf)
~
=; 3t
<r ~
:J
l')
'<r
w
o
o
~
o
u
o
l') ,
'o
-l m
o -
w
l') ,
o
~
...
o
~
-85 -
TABELA I. - Composição química das rochas da Fonte Paiol
(seg. FELICISSIMO 1965) em %
"7 .
-86 -
das Fonte do Boi e a Fonte Prata-Radioativa tes hipo-termais, e as correpondentes aos areni-
de propriedade da Empresa Águas Prata S.A. tos como fontes frias. As temperaturas das fon-
A fonte do Boi nasce diretamente do paredão tes da Empresa Águas Prata S.A. não foram
de arenito por intermédio de fraturas. Uma medidas na nascente, portanto não são válidas
falha de direção SW-NE é responsável pelo para efeito de comparação.
deslocamento do bloco dominante de areni- A variação da temperatura da água com
to bastante silicificado. A Fonte Prata-Radio- as estações (maior no verão - janeiro), é
ativa mais ao sul em relação à anterior locali- equivalente a variação da temperatura do ar
za-se num lugar bastante elevado do mesmo com as diferentes estações. Como as águas da
tipo que o da Fonte Vilela. A água surge das chuva, portanto da infJJ.tração, variam suas
fraturas do arenito silicificado e recristalizado. temperatura com as estações, essa relação da
Segundo as análises de BJOERNBERG (1956) variação da temperatura da água com a tempe-
esse arenito possui a seguinte composição mine- ratura do ar indicaria que as águas tem origens
ralógica: quartzo e feldspato essencialmente , superficiais.
com presença de minerais acessórios tais como
zircão, turmalina, rutilo granada, anatásio,
pH - Observa-se na Tabela III a existên-
cia de dois grupos de água com pH distintos.
monazita, hornblenda apatita e corindon_
As águas com pH mais baixo, ao redor de 5
Perto da Fonte do Boi, na baixada, são provenientes de fontes que surgem de
numa pequena planície aluvionar dominada arenitos e aquelas com pH ao redor de 7 são
ao nordeste por uma elevação de diabásio, provenientes de rochas alcalinas ou diabásios.
nascem as fontes Vitoria, Prata-Antiga e Pra-
ta-Nova. Sua parte leste, resultante de um con- Observou-se uma variação de pH com as
junto de falhas, coloca em contato o diabásio estações (mais elevados no inverno - junho/ju-
com os arenitos, e mais à frente com os sil- lho) nas águas das fontes de rochas alcalinas e
titos. Esses mesmo arenitos foram encontra- diabásio. O pH da água varia com a tempera-
dos no outro lado da estrada perto da Empresa tura, ou seja aumentando a temperatura o pH
Águas Prata S.A. e no vale do rio do Quartel diminui, o que se observou no caso das águas
que atravessa a cidade. das rochas alcalinas. O pH não variou com as
estações nas águas das fontes de arenitos.
A Fonte Vitoria emerge ao pé de maciço
de diabásio, enquanto a Fonte Prata-Nova Condutividade - Com relação à condu-
consiste de um conjunto de poços pouco tividade também se observou a separação das
profundos escavados nessa baixada. Sobre águas em dois grupos principais. Um grupo
a Fonte Prata-Antiga situada a uns 10 m do com condutividade baixa, refletindo portanto
"bebedouro" público, não se sabe exatamente baixa salinização, corresponde às águas de are-
sua situação geológica, devido as construções nitos silicificados. O outro grupo, com condu-
da empresa. Segundo as observações antigas, tividade elevada, corresponde às águas pro-
ela nasce na continuação desta planície, por- venientes de rochas alcalinas e diabásios,
tanto nas formações de diabásio. composta de minerais com poder de solubili-
zação importante. Um grupo intermediário,
As águas dessas 3 fontes descritas acima incluiria águas das fontes provenientes de infJ1-
e situadas nessa baixada, parecem ter uma ori- tração através de brechas alteradas.
gem profunda, com circulação ascendente
A variação da condutividade também tem
responsável por sua mineralização.
dois comportamentos. Nas águas das fontes
Na Tabela 11 apresentamos os tipos de Platina e Vitoria, a condutividade é maior
surgência e a litologia. quando a temperatura é mais baixa. Nas fontes
Paiol N<? 2, Vilela, do Boi, Prata-Radioativa e
Temperatura - As temperaturas das águru. Prata-Antiga a condutividade é mais elevada
das fontes Platina, Paiol N<? 1 e Vitoria estão com temperatura mais alta. Na fonte Paiol
um pouco acima da temperatura média anual N<? 1, não existe variação de condutividade,
da região, portanto podem ser consideradas fon- sendo uma perfuração, portanto não sofrendo
-87 -
TABELA 11. - Tipos de surgência e litologia
- 88 -
TABELA m. - Resultados das medidas físicas
doBO! 05/06/74 21 5 53
10/07/74 21 5 55
17/01/76 22 5 78 0,033
até certo ponto, a influência da rocha armaze· mentes um grupo intennediário (Fontes Platina
nadora. Um grupo com sólidos totais dissolvi· e Paiol N? 2) provenientes de fonolitos e
dos muito elevado (Fontes Paiol N? 1, Vitoria, brechas vulcânicas com xenolitos de arenito
Prata·Antiga e Prata·Nova), provenientes das (Fig.l).
rochas alcalinas e de diabásios. Somente este Verificou-se concentração baixa em oxi·
grupo poderia ser considerado como águas gênio nas águas das fontes Platina, Paiol N? 1 e
minerais baseado no criterio de salinidade. Vitoria, indicando origem de surgência mais
Outro grupo com valores de sólidos totais dis· profunda ou seja fissuras ou perfuração (Paiol
solvidos baixos (Fontes Vilela, do Boi e Prata· N? 1) e mais alta nas restantes fontes de sur·
Radioativa) pertencentes aos arenitos e fmal Bência superficial.
-89-
TABELA IV. - Resultados das análises - Elementos maiores (mg/l)
NOME DA FONTE Data das Sólidos °2 C02 Ca Mg Na K AI Fe Si02 HC03 Cl S04 P04 NH4 N0 2 N03
análises Totais
Dissolv.
PLATINA 15/01/76 680 8 68 4,0 3,5 154,8 3,0 ° 0,05 5,0 400 20 12 0,15 0,9 0,03 11,0
PAIOLN~ 1 15/01/76 2.300 6 180 10,0 15,0 572,1 3,0 0,018 4,0 1.340 25 180 0,08 0,4 0,03 8,3
°
PAIOLN~ 2 15/01/76 210 20 32 5,7 5,0 54,4 0,03 6,0 120 10 2 0,2 0,23 0,05 13,2
°
VILELA 16/01/76 28 24 40 0,31 0,17 5,0 0,01 0,02 2,3 10 2 1,5 0,12 0,03 6,2
\O °
o
I VITORIA 17/01/76 1.100 6 112 30,0 10,0 260,8 0,01 0,04 2,0 660 30 20 0,17 0,03 6,1
°
do BOI 17/01/76 68 16 52 2,8 2,5 9,7 0,012 ° 5,5 30 5 ° 0,2 0,23 0,05 8,8
PRATA-RADIOATIVA 17/01/76 74 21 28 5,0 3,5 14,3 0,002 0,02 13,0 40 10 3 0,26 0,1 0,06 7,6
PRATA-ANTIGA 18/01/76 2.250 13 200 6,9 6,5 586,0 0,018 0,01 5,0 1.190 20 260 0,5 0,58 0,04 8,8
PRATA-NOVA 18/01/76 2.100 17 300 7,8 15,0 457,9 4,6 0,031 0,02 5,5 1.160 35 70,2 4,7 0,2 0,03 8,8
PLATINA 15/01/76 1,3 O 1,0 1,0 0,02 0,04 0,018 0,01 0,1 0,024
PAIOLN? 1 15/01/76 1,2 O 1,0 0,4 0,02 0,03 0,012 0,01 0,15 0,005
PAlOLN? 2 16/01/76 0,1 0,012 1,0 O 0,01 0,02 0,018 0,01 0,11 0,015
VILELA 16/01/76 0,2 0,02 1,05 0,5 0,03 0,03 0,06 0,01 0,14 0,02
VITORIA 16/01/76 1,2 O 1,0 1,6 0,02 0,01 0,08 0,01 0,09 0,005
PRATA 17/01/76 0,12 O 0,9 0,6 0,01 0,01 0,04 0,01 0,18 0,02
F. RADIOATIVA
PRATA 18/01/76 1,5 O 1,0 1,0 0,02 0,03 0,016 0,01 0,08 0.0058
F. ANTIGA
PRATA 18/01/76 1,8 O 1,08 0,6 0,01 0,03 O,Ol 0,08 0,018
F.NOVA
-91-
cancrinita e com concentrações menores nas covitas e biotitas onde pode substituir o OH-
águas de areni tos onde sua origem é devido ao
mineral homblenda. O potássio geralmente O boro encontra-se em. teores mais ele-
encontra-se com concentrações muito baixas vados nas águas provenientes de diabásios e
nas águas porque fica retido por absorção nas fonolitos onde pode originar-se de minerais
argilas durante a circulação da água, apesar tais como biotita e/ou anfibólio, por substi-
de se encontrar com teores elevados nos mine- tuição do OH- e nos arenitos da turmalina.
rais das rochas. O niquel também encontra-se com teo-
Em todas as águas o alumúúo encontra-se res semelhantes em todas as águas. O niquel
com teores baixos ou está abaixo dos limites de é um elemento traço que acompanha os mine-
identificação, o que era de esperar tratando-se rais tais como homblenda e biotita, este último
de águas com pH entre 5 - 7. O alumúúo está bastante comum em todas as rochas.
práticamente ausente nas águas das fontes emer- O cobre é um elemento que acompanha
gentes de rochas alcalinas. Encontra-se com os minerais homblenda, biotita e ortoc1ásio
teores baixos nas águas das fontes de arenitos identificados nas rochas alcalinas e o primeiro
e da planície aluvionar e mais elevada nas águas nos arenitos também.
das fontes dos diabásios. O cromo encontra-se nos minerais como
O ferro sempre presente nas águas, encon- granada presentes nos arenitos. As ~oncentra
tra-se nas nossas amostras com teores baixos, ções em cromo de fato são mais elevados nas
variando de O - 0,05 mgll. . águas provenientes de arenitos, salvo a fonte
Vitoria onde pode ser de contaminação pelas
A quantidade de sílica dissolvida nas
águas de arenitos (Fontes do Boi e Prata-Ra-
águas com pH baixo, geralmente não é elevada,
dioativa) localizadas as 3 na mesma baixada.
com excessa'o da água da fonte Prata-Radioati-
va, onde a sílica provém da solubilização da O cobalto geralmente associa-se aos
sílica amorfa encontrada nas fissuras do arenito. minerais homblenda, biotita e magnetita,
identificados, o primeiro, nos arenitos das
Os teores de nitrogênio sob as formas
fontes do Boi e Prata-Radioativa, e a biotita
amonia-nitrito-nitrato não são elevados. Sua
nos fonolitos e tufos vulcânicos da fonte
variação é controlada pela maior ou menor
densidade de vegetação. Paiol N<? 1 e magnetita nos arenitos do Vaiol
N<? 2.
Quanto aos elementos traços observa-se O zinco encontra-se nos minerais hom-
que o iodeto é baixo ou ausente nas águas dos blenda e biotita, identificados em todas as
arenitos e Paiol N<? 2 que também tem xeno- rochas. Está com teores mais paixos nas
litos de arenito, e é mais elevado nas águas: águas das fontes de diabásios.
dos diabásios. Nas águas das fontes de rochas
alcalinas sua origem pode provir da atividade O chumbo acompanha os minerais apa-
final do vulcanismo e nos diabásios como con- tita ou pode ter sua origem devido a desinte-
taminação à partir das águas de rochas alcalinas. gração de minerais radioativos em chumbo.
O brometo encontra-se somente em águas Encontra-se em teores mais elevados nas águas
de duas fontes Paiol N<? 2 e Vilela, de onde po- das fontes de arenitos e fonolitos e mais baixos
deriamos supor que os xenolitos de arenito nas de diabásios.
encontrados nos tufos vulcânicos da fonte Resumindo, pode-se dizer que os teores
Paiol N<? 2 são semelhantes ou da mesma ori· altos em iodeto e boro encontram-se nos diabá-
gem que os da fonte Vilela. sios, em boro e chumbo nas rochas alcalinas
O fluoreto encontra-se com concentra- e em brometo, cromo, zinco e chumbo nos
ções semelhantes em todas as águas. O fluore- arenitos.
to pode provir de apatita identificada nos
fonolitos, tufos e foiaitos, como também nos
arenitos. Ainda, pode ter sua origem nas mus·
-92-
INFLUÊNCIA DA LITOWGIA NA Oassificação das ágiJas - Para melhor vi-
COMPOSIÇÃO QUIMICA sualização da comparação das águas e para sua
DAS ÁGUAS classificação, utilizou-se o diagrama de Piper.
Observa-se a separação das águas em dois
Troca de bases - Para estudar o compor- grupos principais. O grupo I representando as
tamento duma parte de elementos e compos- águas das fontes n? 1, 2, 5, 8 e 9 (Fontes
tos nas águas das fontes e relacioná-las à lito- Platina, Paiol N? 1, Vitoria, Prata-Antiga e
logia dos arredores, como também a dinâmica Prata-Nova), águas provenientes de rochas alca-
da água em contato com o terreno, utiliza-se linas e diabásio. O grupo 11 representando as
inicialmente o cálculo de índice de troca de águas das fontes n? 6 e 7 (Fontes do Boi e
bases, segundo a formula: Prata-Radioativa) provenientes de arenitos
cujas emergências encontram-se próximas. As
L e. b. = rCI - r (Na + K) águas da fonte n? 3 (paiol N? 2), intermediária
rCI entre grupo I e 11 representando águas de bre-
chas vulcânicas com xenolitos de arenito. O
r = "reacting value" (miliequivalentes por litro) n? 4 (Fonte Vilela) é proveniente de arenito
também, porém afastado dos dois anteriores
Na Tabela VI estão relacionados os valo- (Fig. 1). A fonte n? 3 assemelha-se, quanto
res de índice de troca de bases e as relações ca- aos elementos traços iodeto, brometo e chum-
racterísticas. bo, às águas dos arenitos, refletindo assim a in-
Observa-se 3 grupos distintos nos resulta- fluência da presença de xenolitos de arenito;
dos dos cálculos de troca de bases, porém todos e a fonte n? 4, quanto ao iodeto, brometo e
são negativos como era de esperàr para águas boro às águas provenientes dos arenitos, e
que circulam em rochas cristalinas e ·sedimentos ao cobre às águas dos diabásios e rochas al-
quartzosos (SCHOELLER, 1962). O primeiro calinas, confirmando a influência dos dia-
grupo com L e. b. baixo é proveniente de águas básios e rochas alcalinas mais profundas
de rochas arenosas (Fontes Vilela, do Boi e (FRAYA,1957).
Prata-Radioativa) . O segundo grupo com Le.b.
elevado provem de águas de rochas alcalinas e As águas podem ser classificadas como
diabásio (Fontes Paiol N? 1, Prata-Antiga e bicarbonatadas sódicas , salvo a do n? 4 que é
Prata-Nova). O terceiro grupo intermediário cloro-bicarbonatada sódica.
pertence também as rochas alcalinas e diabásio
(Fontes Platina, Paiol N? 2 e Vitoria). De
todos estes valores pode-se concluir que as CONCLUSÃO
águas tem circulação rápida nos aquíferos, que
a maior parte dos alcalinos é fornecida pelo Dos estudos realizados observa-se que:
terreno e que a quantidade absoluta é tanto - a variação da temperatura da água está
maior quanto maior é a quantidade trocável relacionada com a variação da temperatura do
na água. ar (sazonal) de onde conclue-se que as águas
Relações características, - Para compara- tem origens superficiais ou pouco profundas;
ção entre várias águas as relações características - há ligeira variação de pH com a tempe-
são sgnificativas. Seus valores apresentados na ratura, sendo esse maior no invefHo (excessão
Tabela VI mostram que as águas das fontes Pla- das águas dos arenitos) ;
tina, Paiol N? 2, do Boi e Prata-Antiga; de Paiol
N? 1 e Prata-Nova; Vilela e Prata-Radioativa - a condutividade das águas de arenitos é
são semelhantes. Todos os valores são maiores menor do que aquelas das rochas alcalinas e
que 1, salvo nas águas da fonte Vitoria. Se- diabásios;
gundo HEM (1959) quando isso se verifica é - o urânio encontrado nas fendas dos are-
uma indicação de que o magnésio foi fornecido nitos, associado ao ZÍrcônio é responsável pela
pela troca de bases ou pelo terreno. radioatividade da água.
-93 -
TABELA VI. - Valores de índice de troca Existem dois tipos principais de águas,
de bases e relaçÕes características_ distinguidas pelas características físicas e quí-
micas diferentes. Águas de rochas alcalinas
com pH ao redor de 7, condutividade alta
NOME Troca de· e águas de arenitos com pH ao redor de 5,
bases rMg/rCa condutividade baixa. Porém as águas pro7ie-
i. e. b_ nientes de arenitos mostram uma diferen-
ciação. As águas das duas fontes (do Boi e
PLATINA - 11,10 1,45 p'rata-Radioativa) são semelhantes; encontram-
-se próximas e as da fonte Vilela refletem
PAIOL N!> 1 - 34,60 2,50 a influência dos diabásios mais profundos.
Quanto a Fonte Paiol N? 2, também reflete
PAIOLN!> 2 7,42 1,46 a influência de xenolitos de arenito .
1.- F. Platina
2 .- Paiol n~ I
F.
3. - EPaiol nÇ: 2
4. - Vilela
F.
5. - F.
VitóriQ
\ ' ....
(> 6 .- 'do Boi
F.
0.l( 7. -F. Prata-Radioativa
't 8 - F. Prato-AntIga
" ""
-94-
BIBLIOGRAFIA
BJOERNBERG, A. J. S. - 1956 - Arenitos do bordo do planalto de Poços de Caldas - Anais Acad. Bras. Ciênc.,
v. 28 - Rio de Janeiro.
BtOERNBERG, A. J. S. - 1959 - Rochas clásticas do planalto de Poços de Caldas - Fac. Fil. Ciên. e Letr. - USP
- Boi. N? 237: Geologia N? 18.
BJOERNBERG, A. J. S. e LANDIM, P. M. V. - 1966 - Sobre os arenitos da Serra de Mantiqueira e os arenitos
da Formação Botucatu (Co-Cretáceo) - Boi. Paranaense de Geologia - 18/20 - Curitiba.
ELLERT, R. - 1959 - Contribuição à geologia do maciço alcalino de Poços de Caldas - Boi. Fac. Fil. Ciên. e
Letr. - USP - Boi. N? 237 - Geologia N? 18.
FELICISSIMO, J. - 1965 - Notas sobre a "Fonte Paiol", Águas da Prata, São Paulo - Eng. Min. e Met. - Voi.
XLI, N9 246.
FRAYA, R. - 1957 - Ocorrências uraníferas no arenito de Águas da Prata, São Paulo - Eng. Min. e Met. - Voi.
XXVI, N? 154
HEM, J. D. - 1959 - Study and Interpretation of the Chemical Characteristics of Natural Water - Geoi. Survey
Water Supply Paper - 1473 - Unit. States Govern. Printing Office, Washington.
LONGO, O.W. - 1967 - Águas radioativas do Estado de São Paulo - Revista do Inst. Geogr. e Geoi. - N? 19
- São Paulo.
SCHOELLER, H. - 1962 - Les eaux souterraines - Masson &Cie Éditeurs, Paris.
SOUZA LOPES, R. - 1956 - Águas Minerais do Brasil - DNPM - Rio de Janeiro.
SZIKSZAY, M. et TEISSEDRE, J. - M. - 1976 - Aspects hydrogéochirniques des sources lirnitrophes du bassin
de São Paulo, Brésil - Conferência Internacional de Hidrogeologia, Budapest, Hungria.
-95 -