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Trompete: Trompete: Verdades & Mentiras

Postado porwebmaster em Segunda, outubro 10 @ 15:11:45 BRT


Enviado por webmaster

Num texto gentilemnte cedido pela Weril Instrumentos Musicais e escrito pelo Maestro Beto Barros,
descobrimos que determinados professores costumam insistir num específico aspecto, como se ele fosse o
único componente responsável para a obtenção de uma boa sonoridade. Porém, freqüentemente, não está
muito claro se isso realmente irá afetar o som.

Este artigo complementa o artigo Curso para instrumentos de bocal - PARTE V. Seu conteúdo não
modifica a essência do que foi publicado, mas agrega valor ao que lá está escrito.

A embocadura é um dos aspectos que mais sofre de um exagerado escrutínio por parte dos professores,
porque muitos a consideram a raiz de todos os problemas na produção do som. O trompetista solista Maurice
André diz que os músicos de sopro sempre estão mais preocupados acerca da embocadura e não muito
preocupados com a sonoridade. No canto e nos instrumentos de sopro, é o subconsciente no cérebro que
manipula os músculos que iram produzir o som. Isso ocorre na mente e na imaginação das pessoas, portanto,
se o músico se concentrar exageradamente na embocadura, ele deixará de focar a sonoridade, fazendo
conseqüentemente com que o som venha a sofrer.

Professores de sopro sempre denotam preocupação quando observam seus pupilos tocando com as bochechas
salientes, ainda que a maioria dos profissionais mantenha a musculatura adequadamente tensa para cada nota
da tessitura e os cantos da boca apropriadamente firmes, muitos outros excelentes músicos tocam com a
bochecha estufada. O mais famoso exemplo de distorção facial era o do Dizzy Gillespie que tinha uma
expansão facial parecida com um “sapo”. Ele era reconhecidamente um excelente instrumentista.

O conceito de som na mente do músico tem um grande efeito na sonoridade, mais do que qualquer aspecto
físico. O legendário professor e tubista Arnold Jacob dizia que o som reflete o pensamento (a concepção de
sonoridade) do músico. Há muitos anos, o famoso trompista da sinfônica de Chicago e professor da
universidade de Indiana Philip Farkas fotografou mais de 40 profissionais tocando com o anel de embocadura,
que é um equipamento que possibilita a observação dos lábios durante a execução. Surpreendentemente,
poucas embocaduras eram parecidas ou mesmo similares. Todos os participantes deste estudo eram excelentes
músicos, indicando assim que muitos outros fatores além da embocadura afetam o som. Muitas embocaduras
deficientes não são resultado de mau posicionamento do bocal ou distorções faciais, mas sim sintomas de
outros problemas. O aparelho nos dentes, feridas nos lábios, anormalidades na arcada dentária e a excessiva
pressão do bocal são elementos que podem esconder o som. Esses são problemas específicos que afetam mais
os músicos que tocam com bocais pequenos, por concentrar muita pressão numa pequena área dos lábios.

Estudantes iniciantes, que usam aparelho dental ou possuem anormalidades na arcada dental, devem optar por
tocar trombone, euphonium ou tuba, porque nos bocais maiores, a pressão é menor e o apoio é distribuído
numa área maior, dispersando assim a pressão.

Arnold Jacob realizou uma experiência, medindo a pressão de ar dentro da boca dos principais trompetistas,
trombonistas, trompistas e tubistas da orquestra Sinfônica de Chicago. A experiência consistia em colocar um
tubinho no canto da boca dos participantes e medir a pressão em quanto eles tocavam. Ele descobriu que a
pressão de ar e a coluna de ar para cada participante eram aproximadamente a mesma, mas no registro grave a
pressão de ar era freqüentemente menor.

Estudantes com problemas na arcada dentária, principalmente dentes tortos ou salientes, encontram muito
desconforto em tocar com a embocadura centralizada por imposição dos seus professores. Muitos
instrumentistas de renome, tocam com o bocal ligeiramente deslocado do centro da embocadura. Roger Rocco
tubista da Orquestra Sinfônica de Seattle, conta que Adolph Herseth, logo após ter se tornado o primeiro
trompete da Sinfônica de Chicago, sofreu um acidente de automóvel que lhe causou um enorme prejuízo em
sua boca e dentes. Contrariamente ao conselho de seus médicos, ele começou a praticar durante o período de
convalescença. Seis meses apos o acidente, ele percebeu que posicionava o bocal ligeiramente fora do centro
da embocadura, sem ter se dado conta que, subconscientemente, ele tinha encontrado uma melhor e mais
confortável posição para tocar.

Lembremos também de Chet Baker, que, no auge de sua carreira, foi espancado violentamente por vários
traficantes, perdeu vários dentes frontais e sofreu enormes prejuízos na boca. Pois bem, ele passou alguns
anos tentando reaprender a tocar, e reaprendeu e voltou a tocar como antes, ou seja, a sua sonoridade, técnica
e concepção estavam firmemente estabelecida em sua mente e alma, o que possibilitou o retorno.

Estudantes iniciantes instintivamente posicionam o bocal mais confortavelmente, mas determinados


dogmáticos professores freqüentemente os forçam a tocar numa posição desconfortável, argüindo que a
embocadura deve ser centralizada, causando assim uma enorme frustração no aluno, ou até mesmo fazendo-os
a desistirem da música. Alguns professores insistem que os estudantes toquem com uma pressão mínima,
outros advogam praticar com o instrumento suspenso num fio de nylon. Todavia, a pressão no bocal mantém
a embocadura no lugar e evita o vazamento de ar pelos cantos da boca; porém, excessiva pressão é sintoma de
uma embocadura fraca ou insuficiência de ar.

Os bons instrumentistas de sopro posicionam o bocal de maneira a fazer com que a pressão seja distribuída
uniformemente ao longo de todo o anel. Existem inúmeras controvérsias com relação do apoio do bocal; se
ele deve ser mais apoiado no lábio superior ou no inferior? É mais eficaz o formato “boca de palhaço” ou o
“formato do beijo” ? Tudo isso é muito relativo, pois existe uma infinidade de tipos de lábios, bocais, arcadas
dentárias e muitos outros elementos envolvidos, fazendo com que este assunto deva ser exaustivamente
pesquisado, experimentado e conseqüentemente particularizado.

As fotografias de Philip Farkas sobre a embocadura mostram que muitos músicos que participaram do estudo
usaram uma quantidade significante de pressão, que pode ser observada no bojo de seus lábios, tanto na parte
interna, com na parte externa do anel. Porém, uma coisa é certa: Não se usa força bruta para se tocar o
trompete!

Variações na estrutura facial e dental dos estudantes podem causar vazamentos de ar pelos cantos da boca,
mas isso não é um problema sério, porque ainda existe quantidade suficiente de ar para a produção de um som
razoável. Alguns professores chegam a colocar uma mecha de algodão nos cantos da boca dos estudantes,
para evitar o vazamento, atitude que não resolve o problema. Vazamentos excessivos usualmente indicam
uma embocadura fraca, a qual pode ser remediada, por meio do estudo de notas longas (Arban Book), os
cantos da boca devem estar ligeiramente tensos para que não escape o ar. No entanto, o centro do lábio
(conhecido como aperture) deve estar solto para vibrar livremente e, ao mesmo tempo, evitar muita pressão
do bocal, para não estrangular a circulação do sangue, pois quando isto acontece a resistência cai
vertiginosamente.

Alunos com o maxilar superior proeminente tem a tendência de inclinar o instrumento para baixo, enquanto
os com maxilar inferior proeminente tendem a incliná-lo para cima, na tentativa de conseguir uma pressão
equilibradamente distribuída entre o lábio superior e o inferior.

Observe a capa da caixa de CDs de Miles Davis produzida pela Ouver e vocês poderão notar na foto do
trompete do músico um bocal inclinado “entortado” (talvez pela sua mania de tocar com o trompete
apontando para o chão). Observe os alunos praticando abelhinha com o bocal. Eles geralmente usam o ângulo
mais confortável e eficiente. Use esta postura como um guia e adicione o instrumento,mantendo o mesmo
ângulo. Alguns maestros insistem que todos os trompetistas e trombonistas mantenham seus instrumentos no
mesmo ângulo. O efeito visual é importante, principalmente nas bandas e fanfarras durante a marcha, mas
para corrigir os problemas daí resultantes, deve-se ou empinar a cabeça, ou usar os bocais entortados.

Bons músicos devem se concentrar em todos os aspectos do som, incluindo a qualidade da sonoridade, as
articulações, dinâmica, afinação e, mais do que tudo, criar uma imagem mental do som que se quer produzir,
ou seja, desenvolver uma concepção de sonoridade própria, que fica memorizada na alma (uma maneira de se
desenvolver esta concepção, além dos estudos normais rotineiros, é escutar muita música de qualidade o
tempo todo e específica para sopro). O estudante que fica focado somente nos aspectos da embocadura não
está concentrado em procurar um amálgama entre a embocadura e a concepção de sonoridade. Arnold Jacob
expressa isso vivamente: “Cada músico tem dois instrumentos, um na sua mente, e um nas mãos. O
instrumento na mão é somente um reflexo do instrumento da mente”. O instrumento é somente um
amplificador e um gerenciador de notas do que acontece na mente e no bocal.

Para finalizar, Claude Gordon diz “que é mais fácil desenvolver maus hábitos do que os bons, e não adianta
nada ficar assoprando sem ter um alvo objetivo para ser alcançado”. Tocar trompete é uma ciência. A maioria
dos problemas de ansiedade dos alunos tem origem no fato de que eles não desenvolvem uma rotina diária de
estudos inteligentemente focada em alvos específicos a serem atingidos. Afinal, você toca com a barriga para
fora ou para dentro, apóia-se o bocal no lábio inferior, superior ou nos dois? Executa os ataques com o dorso
da língua ou com a ponta da língua? Apóia o dedinho no gancho de apoio ou não? Executa o dedilhado com a
segunda falange dos dedos ou usa a ponta dos dedos? Toca apoiado na coluna de ar, respira pela boca ou pelo
nariz? Toca pensando nas articulações, estuda harmonia funcional e improvisação para improvisar dentro da
harmonia? Estuda o piano como instrumento complementar?

Lembre-se, estudar o instrumento somente não é suficiente. É necessário estudar música e segundo, o
trompetista Arturo Sandoval, o piano é o melhor professor que um estudante de música pode ter!

* O maestro Beto Barros é regente da big band do CEU Vila Curuçá, e apresenta-se todas as segundas-feiras
com a sua big band no Opus 2004. É diretor da Beto Barros Produções. Contato para aulas cursos e
workshops: (11) 3257 7385, email robertobarros1@terra.com.br

Fonte: Revista eletrônica Weril


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