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Águas
Lombardas
e Outros Poemas
(ANTOLOGIA POÉTICA)
1ª Edição
Bahia / 2021
Nenhum trabalho pode ser medido pelo tamanho da empresa
que o executa, mas pela coragem e confiança no que faz. É
assim que, inspirados pela máxima pessoana, “põe quanto
és no mínimo que fazes”, trabalhamos cotidianamente
oferecendo ao leitor livros de qualidade e respeitando o autor
naquilo que ele tem de mais sagrado: os seus sonhos.
www.editoramondrongo.com.br
CDU: 850-1
CDD: 851
MONDRONGO
Travessa Manoel Fogueira, 177 / 102 | Edif. Inah
Centro | Itabuna - Bahia | CEP: 45.600-148
Dolcezze (1904):
Il mio cuore ........................................... 26
O meu coração....................................... 27
Acque lombarde .................................... 28
Águas lombardas................................... 29
Cremona ................................................ 30
Cremona................................................. 31
Ballata della primavera ...................... 32
Badala da primavera.............................. 33
Dolore I, II e III .................................... 34
Dor I, II e III........................................... 35
Chiesa abandonatta ............................ 40
A igreja abandonada............................. 41
Follie ....................................................... 42
Loucuras................................................. 43
Scritto sopra una lama ........................ 46
Escrito numa espada............................. 47
Immagine .............................................. 48
Imagem................................................... 49
Per musica ............................................. 50
Letra para música.................................. 51
Asfodeli .................................................. 52
Asfódelos................................................ 53
Le aurore (1905):
L’anima ................................................... 82
Alma........................................................ 83
Spleen ..................................................... 84
Spleen...................................................... 85
Sonetto della neve ................................ 88
Soneto da neve....................................... 89
La finestra aperta sul mare ................ 90
A janela aberta sobre o mar.................. 91
Sonetto ................................................... 96
Soneto...................................................... 97
Sonetto all’autunno .............................. 98
Soneto ao outono................................... 99
Il sentiero:
Il sentiero .............................................130
O caminho............................................131
La morte di Tantalo:
La morte di Tantalo............................132
A morte de Tântalo..............................133
Poesie sparse:
L’agnello ...............................................136
O cordeiro.............................................137
Il canto del cieco .................................138
O cântico do cego................................139
Tu... .....................................................140
Tu... ......................................................141
Vinto .....................................................142
Ganho ...................................................143
Trittico .................................................144
Tríptico .................................................145
La chiesa ..............................................148
A igreja..................................................149
Il cuore languiva ................................152
O coração lânguido ............................153
Leone XIII ...........................................154
Leão XIII ..............................................155
L’anello .................................................156
O anel ...................................................157
Il cimitero ............................................158
O cemitério ..........................................159
Il ritorno ..............................................160
O retorno..............................................161
I suoi occhi ...........................................162
Os seus olhos .......................................163
L’incanto ..............................................164
O encanto .............................................165
Algumas edições
da obra de Corazzini...........................167
Notas das traduções............................169
Bibliografia consultada.......................177
Dados sobre o tradutor.......................179
SERGIO CORAZZINI
E OS CREPUSCOLARI
11
O nome Crepuscolari foi apresentado pela
primeira vez em 1910, através do crítico literário e
poeta Giuseppe Borgese (1882-1952), reconhecendo
nesse grupo características reativas principalmente ao
conteúdo retórico do Simbolismo, e introduzindo no-
vas soluções formais e estilísticas. A metáfora escolhida
para intitular o grupo indica a integralização desse movi-
mento a uma parábola idealizada da poesia italiana, que
sugere o período compreendido de um dia. Assim no es-
plendor de cada movimento autores de relevada impor-
tância cultural se distinguem primeiramente pela Manhã
— Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Bocaccio —; o
Meio dia — Matteo Maria Boiardo, Ludovico Ariosto e
Torquato Tasso—; a Tarde — Carlo Goldoni, Giuseppe
Parini, Vittorio Alfieri —, e Fim de tarde — Ugo Foscolo,
Alessandro Malzoni, e Giácomo Leopardi.
A publicação de obras que pertencem ao
ideário dos Crepuscolari iniciou-se em 1901, durando
cerca de uma década e meia. Além de Sérgio Corazzi-
ni, destacaram-se outros poetas, iniciantes também na
atividade literária: Guido Gozzano (1883-1916), Cor-
rado Govoni (1884-1965), Tito Marrone (1882-1967),
Aldo Palazzeschi (1885-1974), Fausto Maria Martini
(1886-1931). Com exceção de Gozzano e Corazzini —
autores nos quais as características dos Crepuscolari
estão mais evidenciadas — os demais autores a poste-
riori aderiram ao Futurismo.
12
próximo dos 15 anos de idade. A partir de 1902 come-
çou a colaborar no jornal satírico-humorístico Pasquino
de Roma, onde publicou, até 1905, numerosos poemas.
A partir do ano seguinte, passou a colaborar nas revistas
mais prestigiosas de sua época, como Gran Mondo e Vita
Letteraria. Em 1904, portanto, com 18 anos de idade, co-
meça a recolha em livros, na verdade, plaquetes: Dolcez-
ze (1904), L´Amaro Cálice (1905) e Le Aurore (1905). Por
essa época, Sergio se encontrava doente e desenganado
pelos médicos. Em meio a essa intensa atividade literária,
há uma história de infortúnios pessoais. Com a tuberculo-
se avançada, como vários familiares seus que padeceram
do mesmo mal, Corazzini veio a falecer em 17 de junho
de 1907 com apenas 21 anos de idade.
Mesmo com uma morte tão precoce, Coraz-
zini é considerado um dos corifeus do movimento.
Depois de Guido Gozzano, encontra-se no jovem poe-
ta, tão precocemente desaparecido, o encadeamento
estilístico que dá delineamento às principais prerro-
gativas dos Crepuscolari: como no epíteto do grupo,
desenvolve-se uma poesia em descrição crepuscular,
quase noturna, na qual a nostalgia do horizonte e a
desilusão são vazadas em estilo simples e linguagem
direta, evitando o discurso empolado dos seus ante-
cessores. Ampliam-se a análise do eu-interior exter-
nado no real, em que se revelam conflitos existenciais,
ressaltado pela inadaptação ao cotidiano presente.
Os Crepuscolari apropriam-se de imagens bu-
cólicas, descrevem cenários antes pouco utilizados, as-
sim como repudiam a imagem do poeta como sacerdote,
um profeta. Finalmente, contribuem com duas conquis-
tas caras à modernidade: o uso do verso livre, sem antes
13
passar como uma espécie de polimetria (uso de vários
metros poéticos no mesmo poema) e a incorporação da
ironia como recurso poético, processo este fundamental
para a definição dos novos poetas naquele momento.
14
como solução final dos tormentos consolidados, como
na primeira estância do poema Dolore/Dor:
I.
Vou dizer-te em segredo
Minha doce agonia
que me faz triste e quedo.
alma, e se o devaneio
na alma um pouco se sente,
sofre também o peito,
infante, quietamente.
15
ÁGUAS LOMBARDAS
O CORDEIRO
16
Oh, doçura do passado!...
E agora, quando choras,
ninguém acode o enfado!...
17
tão mais presentes a predileção por sonetos e poemas com
versos polimétricos, em caminho para os versos livres.
Na sequência de sonetos de A capela no campo,
o poeta mostra o sujeito lírico em busca de comunhão
de afeto com a paisagem evocada, envolto em mistério e
imerso em matizes religiosos de matriz católica; por sua
vez, em Spleen, a observação se transmite com um apro-
fundamento interior do eu poético. Em A morte de Tân-
talo, figura-se em representar-se num retrato do artista,
claroescuro, e na tensão de uma existência ao mesmo
tempo coloquial e com bastante limpidez.
Já em Desolações ao pobre poeta sentimental, prova-
velmente o poema mais conhecido de Sergio Corazzini, a voz
enunciadora conclama a impossibilidade de ser um poeta, e
oferece a própria lágrima ao silêncio, afirmando que a própria
vida é cheia de pobres tristezas comuns a todos, assim como
também de alegrias, que o enternecem. E ele pensa na morte:
I.
Por que você me diz: poeta?
Eu não sou um poeta.
Não sou mais que um jovem triste que chora.
Veja: só tenho lágrimas ao Silêncio, por ora.
Por que você me diz: poeta?
[...]
Veja: não sou um poeta; estou a ser
um jovem triste com vontade de morrer.
18
homem. Corazzini, neste poema, deseja uma vida simples,
na presença de Deus e a imitar Cristo. Porém, é tomado pela
tristeza e inutilidade do ser, e deseja morrer lentamente,
pois, neste estado, poderá atingir o apaziguamento da alma:
VII.
Eu amo as coisas simples da vida.
Quantas paixões desfazendo, pouco a pouco,
por todas as coisas que não se afastavam!
Mas você não sorri e me compreende.
E pensa que eu estou doente.
VIII.
Oh! mas estou muito doente!
Todos os dias morro docemente.
Veja: iguais as coisas.
Não sou, portanto, um poeta:
sou porque dizem: poeta, convém
viver bem outra vida!
Não sei, meu Deus, do que morrer.
Amém.
OS CREPUSCOLARI E
OS POETAS BRASILEIROS
19
Sergio Corazzini como uma das fontes de formação do seu
labor poético. A partir do próprio relato pessoal no Itine-
rário, reporta-se às estâncias com que tivera contato desses
autores: teve contato com a poesia de Palazzeschi, do qual
um poema conhecia de cor, como também foi com Soffi-
ci, Govoni, Ungaretti e Corazzini, a partir, provavelmente,
através de antologia coletiva. Assim, Bandeira nos reporta:
20
Carpeaux “o adolescente desesperado, morto aos vin-
te anos”, como o define, Massaud Moisés e Alfredo Bosi
(embora estes dois últimos citem episodicamente e super-
ficialmente sobre), e de Manuel Bandeira, não há menção
sequer em nenhum manual didático ou algum outro en-
saio interpretativo sobre a influência do grupo italiano na
poesia brasileira daquele período. Porém, é revisitado em
algumas citações nominais nas entrevistas de Marco Luc-
chesi, poeta, ensaísta e profundo conhecedor da literatura
italiana, e por citação no livro “O Simbolismo” de Álvaro
Cardoso Gomes “Herdeiros de Gabriele D’Annunzio, mas
já dentro do século XX, os “Crepuscolari” (Sergio Corazzi-
ni, Guido Gozzano, etc.) expressam, em tons verlainianos, a
dor de viver e a melancolia frente à existência”. E o autor o
cita na lista de autores Simbolistas.
Ao associar a contiguidade temática e a pre-
sença do ideário dos Crepuscolari com algum de nossos
poetas, de certo modo há de reconhecer que os influxos
estéticos vindos da Itália — mesmo que originalmente
viessem dos poetas do Decadentismo francês — foram
importantes (e até decisivos) para a constituição fisionô-
mica de algumas coletâneas e obras poéticas publicadas
no Brasil entre 1916 e 1924.
Por analogia geracional, no Brasil, verifica-se
procedimentos parecidos em Mário Pederneiras (1867-
1915) e Felipe D’Oliveira (1891-1933), autores de gera-
ções diferentes. Citemos, pois, os poetas que transpa-
recem certa presença dos Crepuscolari em suas obras:
Manuel Bandeira (1886-1968) nos seus primeiros três
livros: A cinza das horas (1917), Carnaval (1919) e O
Ritmo Dissoluto (1924); Rui Ribeiro Couto (1898-1963),
nos volumes iniciais da carreira do poeta e romancista
21
que foram O Jardim das confidências (1921) e Poemetos
de Ternura e Melancolia (1924). Outros poetas: Eduardo
Guimaraens (1892-1928) com A Divina Quimera (1916)
e Raul de Leoni (1895-1926) na sua principal obra, Luz
Mediterrânea (1922).
Assim sendo, há a oportunidade de publicação
de uma poesia que é praticamente desconhecida. Ressal-
to, portanto, que, provavelmente alguns textos de poetas
do movimento Crepuscolari aproximam de certas com-
posições de poetas brasileiros, sobretudo dos volumes de
poesia dos poetas supracitados, que tiveram de alguma
forma uma aproximação perene e afetiva com determi-
nadas obras do referido movimento.
OS POEMAS TRADUZIDOS
22
estar o mais próximo da homologia semântico-formal
na recriação, mantendo quando possível a métrica, as-
sonâncias, ritmos, disposição e apresentação visual do
poema, assim como as sonoridades e esquemas de rimas
no texto na língua-cultura de chegada. Portanto, concor-
dando perfeitamente com o tradutor paulista que, tra-
duzir é, antes do mais, compreender, porém não há de
se garantir que a compreensão do texto seja a exata ou
a única exata. Nos poemas com versificação polimétri-
ca, sem descuidar do contexto fabulatório dos poemas,
inicialmente visou-se a tradução mais aparentada aos
originais, mantendo a polimetria versificatória original
sempre quando a prosódia no português correspondia,
adequadamente, ao cotejo dos versos em italiano, com
atenção à preservação do ritmo e à fluência mais apro-
priada dos versos na língua-cultura de chegada.
Entretanto, com o tempo precisou-se de nova
meditação nos processos tradutórios e no resultado de
nova intervenção em direção quanto ao andamento me-
lopaico dos poemas, dando-se mais ênfase a este aspecto,
visto que se trata de um autor com forte traço de musica-
lidade, fator da maior importância, presentificada inclu-
sive nos poemas não claramente rimados. Lembremos
que, com muita justeza, Corazzini é considerado um dos
poetas que dialogam bastante com poéticas que possuem
bastante musicalidade, tais como, por exemplo, Paul Ver-
laine e Jules Laforgue, poetas franceses nitidamente mar-
cados pela melopeia. Quando não foi possível, primou-
se por uma forma de solução observada na prescrição de
Sérgio Milliet, poeta e crítico literário, ou seja, em ideia
precisa de equivalência, consistindo da não tradução
exata das palavras, mas da expressão do mesmo senti-
23
mento e até das mesmas imagens sob forma diferente.
Cabe salientar que, dentre as inúmeras teorias
na área da tradução, esta, em poesia, quase sempre se afi-
gura uma forma de recriação, transposição e reexpressão
dos textos poéticos. Apesar de algumas similitudes entre
as línguas advindas da mesma família linguística, foram
necessárias algumas modificações frasais na sua versão
em português, fator natural ao contexto de traduções,
estritamente quando são em versos, uma vez que suas
especialidades, ritmo e permanência do que se considera
o poético são fatores a ser considerados como essenciais
à natureza do trabalho.
24
25
IL MIO CUORE
eternamente mossa.
E la penna si muove
e la carta s’arrossa
sempre a passioni nuove.
Giorno verrà: lo so
che questo sangue ardente
a un tratto mancherà,
26
O MEU PEITO1
eternamente movida.
E a pena agora descubro
na folha tingida em rubro
sempre na paixão seguida.
27
ACQUE LOMBARDE
28
ÁGUAS LOMBARDAS
29
CREMONA
30
CREMONA
31
BALLATA DELLA PRIMAVERA
32
BALADA DA PRIMAVERA
33
DOLORE
I.
anima, e se il dolore
l’anima un poco sente,
soffre un poco anche il cuore,
bimbo, quietamente.
34
DOR10
I.
alma, e se o devaneio
na alma um pouco se sente,
sofre também o peito,
infante, quietamente.
35
II.
il mio vaneggiamento
continuo, senza tregua,
senza un breve momento
di pace, e se dilegua
poi non so come, pare
che l’anima lo segua
36
II.
o meu desvairamento
contínuo, então sem trégua,
sem um breve momento
37
III.
È un tenue lavoro,
non è un ricordo, no,
come l’ebbi, l’ignoro.
Io l’amo perché so
che croce fu dolore,
e assai ne spasimò
38
III.
De um trabalho afinado,
mas não como o ardil
como eu tive, ignorado.
39
CHIESA ABANDONATTA
40
A IGREJA ABANDONADA
41
FOLLIE
(Estratti)
...............................
42
LOUCURAS13
(Excertos)
.............................
43
e come suo bagliore
i cieli azzurri infiamma,
s’agita la gran fiamma
del mio inutile amore!
44
E através do fulgor
o céu azul inflama,
se agita a grande chama
do meu inútil amor!
45
SCRITTO SOPRA UNA LAMA
46
ESCRITO NUMA ESPADA14
47
IMMAGINE
48
IMAGEM16
49
PER MUSICA
50
LETRA PARA MÚSICA17
51
ASFODELI
capricci assiduamente,
perché ieri lo faceste
sanguinare, lo faceste
lagrimare dolorosamente?
52
ASFÓDELOS18
caprichos assiduamente,
por que, ontem, justo fizeste
sangrar, justo o fizeste,
lágrimas dolorosamente?
53
INVITO
54
CONVITE
55
RIME DEL CUORE MORTO
56
RIMAS DO CORAÇÃO MORTO
57
ostia le cui piccole parti infrante
non trovarono un cuore ove giacere.
58
hóstia, em que as mínimas partes do Ser20
unirão sempre a um gesto verdadeiro.
59
CAPPELLA IN CAMPAGNA
I.
60
A CAPELA NO CAMPO21
I.
61
II.
62
II.
63
III.
64
III.
65
IV.
66
IV.
67
BALATTA DEL FIUME E DELLE STELLE
68
BALADA DO RIO E DAS ESTRELAS
69
A CARLO SIMONESCHI
Carlo, malinconia
m’ha preso forte, sono
perduto; cosí sia
70
A CARLO SIMONESCHI23
Carlo, a melancolia
aprisiona-me, estou
perdido; e assim seja,
71
TOBLACK24
I.
72
TOBLACK
I.
73
II.
74
II.
75
III.
76
III.
77
IV.
78
IV.
79
ISOLA DEI MORTI
80
ILHA DOS MORTOS
81
L’ANIMA
A Guido W. Sbordoni
82
ALMA
A Guido W. Sbordoni
83
SPLEEN
84
SPLEEN29
85
Perché non suoni? Langue
di desiderio
quel tuo piccolo pianoforte esangue,
nell’ombra; o non cosí,
amica,
l’anima ci sospira nell’attesa
di chi
sappia farla vibrare?
86
Por que não cantas? Langue
de desejo
que o teu pequeno piano exangue
na sombra; oh, não igual,
amiga,
que a alma suspira na espera
de quem
sabe fazer vibrar?
87
SONETTO DELLA NEVE
88
SONETO DA NEVE
89
LA FINESTRA APERTA SUL MARE
A Francesco Serafini
90
A JANELA ABERTA SOBRE O MAR31
A Francesco Serafini
Não me lembro. Eu a vi
aberta sobre o mar,
feito um olho a guardar
coroada de ninhos.
Mas não sei onde, nem quando,
me aparecia; tenebrosa
feito o coração de um usurário,
cantante feito a alma
de um jovem. Foi
a janela de uma torre no meio do mar, desolada
e terrível no crepúsculo,
tão assustadora na noite,
triste anulação
na claridade da aurora.
91
Sotto la polvere ancora
un odore appassito, indefinito,
esalavano le cose,
come se le ultime rose
dell’ultima lontana primavera
fossero tutte morte
in quella torre triste, in una sera triste.
92
Sobre a poeira ainda
um ligeiro odor indefinido
exalavam as coisas
como se as últimas rosas
da última longínqua primavera
fossem toda a morte
naquela torre triste, uma noite triste.
93
pieno di tremore
le ultime rondini e a poco
a poco nel mare
caddero i nidi: un giorno
non vi fu più nulla intorno
alla finestra. Allora
qualche cosa tremò
si spezzò
nella torre e, quasi
in un inginocchiarsi lento
di rassegnazione
davanti al grigio altare
dell’aurora,
la torre
si donò al mare.
94
cheio de tremor
as últimas andorinhas, e pouco
a pouco no mar
desabaram os ninhos: o dia
não vi mais findar, ao entorno
da janela. Foi então
que qualquer coisa tremeu,
se rompeu
na torre e, quase
num dobrar-se lento
de resignificação
frente ao acinzentado altar
da aurora,
a torre
entregou-se ao mar.
95
SONETTO
A suor Maria di Gesù
96
SONETO32
À irmã de Maria de Jesus
97
SONETTO ALL’AUTUNNO
98
SONETO AO OUTONO
99
DESOLAZIONE DEI POVERO POETA
SENTIMENTALE
I.
II.
III.
100
DESOLAÇÃO DO POBRE POETA
SENTIMENTAL34
I.
II.
III.
101
IV.
V.
VI.
102
IV.
V.
VI.
103
disperatamente triste,
in un angolo oscuro.
VII.
VIII.
104
desesperadamente inseguro
num recanto escuro.
VII.
VIII.
105
CANZONETTA ALL’AMATA
Forse mi allontanai
troppo, ché, certo, mai
tanto mi piacque andare
solo, con la mia bella
rete nuova e una stella
per guida fra rosai.
106
CANÇONETA A AMADA36
107
Conviene che tu muoia,
dolcezza, oggi, per me.
Felicità mi spiace,
felicità è loquace
come un bimbo; l’ho a noia!
La mia rete ha ceduto,
la mia stella ha perduto
il fedele seguace.
108
É justo que hoje, por mim,
doçura, fiques até o fim.
Me perdoe, felicidade,
falei muito, felicidade,
como um jovem; um idiota!
Sucumbiu a minha rede,
se perdeu a estrela adrede,
e és alguém que se nota.
109
LA LIBERAZIONE
A Carlo Scialoia
Cantarellando, senza
tremare, la prigioniera
dalle mani logore
raccolse tutte le vecchie cose
polverose, i suoi denari
di un’altra epoca,
riguardò nelli angoli ove la sera
già tesseva le sue tele d’ombra
e tentò la porta vigilata
dai ragni centenari.
110
A LIBERTAÇÃO
A Carlo Scialoia
Cantarolando, sem
tremer, a prisioneira
das mãos esgotadas,
pegou todas as coisas antigas
poeirentas, as suas moedas
de outra época,
resguardou nos cantos, onde a noite
já reservava sua teia de bruma
e invadia a porta vigiada
de aranhas centenárias.
Seguiram com o ar
na dança
de giros monótonos das folhas
à frente da casa
da Melancolia,
onde a Esperança faminta
fugia indistinta.
111
LE ILLUSIONI
Per Antonello Caprino
112
ILUSÕES
Para Antonello Caprino
113
DIALOGO DI MARIONETTE
Per André Noufflard
114
DIÁLOGO DE MARIONETE37
Para André Noufflard
115
— Oh, non avete rimpianti
per l’ultimo nostro convegno
nella foresta di cartone?
— Io non ricordo, mio
dolce amore... Ve ne andate...
Per sempre? Oh, come
vorrei piangere! Ma che posso farci
se il mio piccolo cuore
è di legno?
116
— Oh, não se arrepende
pela nosso último consenso
nesta floresta de papel?
— Eu não recordo, meu
doce amor... Vai embora...
Para sempre? Oh, como
ia choramingar! Mas que posso fazer
se o meu pequenino coração
é de madeiro?
117
L’ULTIMO SOGNO
Per Alfredo Tusti
Io mi allontano
e la mia veste bianca
se la dividono i rovi,
118
ÚLTIMO SONHO
Para Alfredo Tusti
E eu vou seguindo,
minha veste branca;
se eu divido as amoras
119
e la mia ghirlanda s’è mutata
in una corona di spine,
le mie piccole mani sanguinano
senza fine
e l’anima è triste come
li occhi
di un agnello che sia per morire.
E le fontane cantano
dietro le bianche porte.
120
e transponho a minha guirlanda
numa coroa de espinhos,
as minhas mãos sangram
infinitamente
e a alma está triste,
igual aos olhos em riste
de um anjo que deseja morrer.
121
CASTELLO IN ARIA
A G. W. Sbordoni
Ma se tu non piangerai,
come allora, per una
improvvisa tristezza,
per una melanconia
senza causa, mia
piccola tenerezza,
come potrò questa sera,
mentre tu dormi e sogni
la mia bocca, fuggire?
Andarmene a morire nel castello
della Nostalgia?
122
O CASTELO NO AR
A G. W. Sbordoni
tristeza imprevista,
por uma melancolia
sem causa, minha
pequena ternura!38
Como posso ir à noite,
enquanto tu dormes e sonhas,
se a minha boca quer fugir?
Então vais morrer no Castelo
da Nostalgia?
123
SCENA COMICA FINALE
A Guglielmo Genua
L’ultimo Desiderio
con la logora
chitarra a bandoleira
124
A CENA CÔMICA FINAL
A Guglielmo Genua
O último Desejo
com a desgastada
guitarra bandoleira
125
cerca per ore e ore
la Disperazione.
126
é procurar por horas e horas
a Desesperança.
Mas não volta... nem voltará,
porque a Bela está acima da noite,
está no coração.
127
BANDO
A Giorgio Lais
128
INTIMAÇÃO39
A Giorgio Lais
129
IL SENTIERO
130
O CAMINHO40
131
LA MORTE DI TANTALO
132
A MORTE DE TÂNTALO
133
sull’orlo della fontana
nella vigna non più d’oro.
134
na beira da fonte
da vinha desdourada.
135
L’AGNELLO
136
O CORDEIRO
137
IL CANTO DEL CIECO
138
O CÂNTICO DO CEGO
139
TU...
140
TU...
141
VINTO
142
GANHO
143
TRITTICO
(Dal francese)
I.
II.
144
TRÍPTICO42
(Do francês)
I.
II.
145
III.
Nei cimiteri
spesse zolle di terra, fra le croci
sassi e nicchie; dei nomi antichi assai
che sopra i freddi marmi bianchi e austeri
la lebbra de le pietre cancellò...
Monumenti, davanti alle cui porte,
ove un lume di morti stride ed arde,
i ragni più feroci
hanno filato le sottili tele...
O vegliardi, o vegliarde
sono morti, son morte!...
146
III.
Nos cemitérios
o campo santo imenso entre as cruzes,
os nichos e epitáfios muito antigos
vemos sobre os frios mármores e austeros,
o cancro das letras apagadas...
Monumentos em frente, em cujos pórticos
se entrevêem os lumes dentre os mortos,
os aracnídeos mais ferozes
giravam sobre as teias tão sutis...
Ó arcaicos! Ó rançosos!
Estão findos! Estão mortos!
147
LA CHIESA
I.
148
A IGREJA
I.
149
II.
150
II.
151
IL CUORE LANGUIVA
152
O CORAÇÃO LÂNGUIDO43
153
LEONE XIII
154
LEÃO XIII44
155
L’ANELLO
156
O ANEL
157
IL CIMITERO
o morti, a dipartenza
vostra non pianse occhio,
non si piegò ginocchio,
non bocca ebbe preghiere!
158
O CEMITÉRIO46
Ó mortos, só eu tenho
flores nas tuas campas
agora em rubras rosas
que tu, ó sol, abres!
159
IL RITORNO47
160
O RETORNO
161
I SUOI OCCHI
162
OS SEUS OLHOS49
163
L’INCANTO
164
O ENCANTO50
165
ALGUMAS EDIÇÕES
DA OBRA DE CORAZZINI
167
1. Poesie Edite e Inedite. Edição de Stefano Jacomuzzi. Einaudi Editore,
1973.
2. Poesie. A cura di Idolina Landolfi. BUR. Univ. Risolli, 1992.
3. Poesie. A cura di Idolina Landolfi. BUR . Univ. Risolli, 1992.
4. El Caliz Amargo (antologia poética) tradução de Carlos Vitale. Ma-
drid, 2002.
168
NOTAS DAS TRADUÇÕES
169
co Panetti. Pouco se sabe sobre sua vida.
6 Sulamita, (ou Sunamita), é uma personagem bíblica do Antigo tes-
tamento e significa que possui a perfeição, ou que possui uma sen-
sualidade que não passa despercebida por ninguém, e aprendeu a se
valer desta arma. Segundo a Bíblia, Sulamita foi a preferida do Rei
Salomão.
7 Sandro Botticelli (1445-1510) foi um pintor renascentista italiano,
nascido e falecido em Florença. Mundialmente conhecido como um
dos corifeus do Renascimento.
8 A partir de uma solução estilística encontrada em Alberto de Oli-
veira (1857-1937), buscou-se usar esta expressão para a passagem da
adolescência do poeta.
9 Prevaleceu a manutenção, ao verter, do aspecto logopaico da chave-
de-ouro utilizada por Corazzini, deixando de se utilizar o expediente
de assonância no texto traduzido. Igual solução é verificada na tradu-
ção em espanhol por Carlos Vitale, do poema em questão.
10 Da mesma forma como Onestaldo de Pennafort (1902-1987) se
expressou ao comentar a tradução do poema Colombina, de Paul Ver-
laine, o tradutor pede tolerância com que deve olhar a versão metrifi-
cada e rimada desta versão de Dolore, de Corazzini. O metro curto e
em Terza Rima desse poema nos forçou utilizar, ainda que respeitan-
do escrupulosamente o metro hexassilábico original, o uso de rimas
toantes, rimas consoantes imperfeitas e/ou de vogal temática igual,
quando não foi possível preservar, na versão, da rima consoante. Po-
rém, não precisou haver quebra do esquema rímico das três estâncias
do poema.
11 Preferi utilizar este termo ardor perfeito como solução que me-
lhor traduz, ao meu modo de ver, a apropriação afetiva do crucifixo
portado.
12 Santa Maria della Concezione dei Cappuccini ou Igreja de Nossa
Senhora da Conceição dos Capuchinhos é uma igreja de Roma, Itália,
encomendada em 1626 pelo papa Urbano VIII. A famosa cripta desta
igreja está localizada no subsolo dela. Em 1631, o cardeal Antonio
Barberiniordenou que os restos de milhares de frades fossem exuma-
dos e transferidos do convento na Via dei Lucchesi para a cripta. Os
ossos foram arrumados nas paredes e os frades passaram, a partir daí,
a enterrar seus próprios mortos no local, juntamente com os corpos
de romanos indigentes. Os frades da ordem passaram a frequentar
o local para rezar todas as noites antes de se retirarem para dormir.
170
Atualmente, a cripta (ou ossário) abriga os restos de mais
de 4.000 frades sepultados no local entre 1500 e 1870, quando a Igreja
Católica proibiu o enterro sob igrejas.
13 Excerto de um poema maior dividido em duas estâncias. Devido a
uma repetição temática observada no tema, foi preferível manter al-
guns trechos. Foi mantido o mesmo metro do original italiano (hep-
tassílabo) assim como os esquemas de rima correspondente, por ter
uma disposição de cântico.
14 O termo lama em italiano designa-se a vários significados. Contu-
do, em relação ao poema, refere-se a um conjunto La parte principale
di un utensile destinato a tagliare e avente quindi un bordo, o tutti e due,
molto affilato. Desta forma, preferi utilizar lâmina. Nos valemos do uso
do metro dodecassílabo moderno ternário e quartenário, em conjunto
com o alexandrino clássico francês, ou seja, com cesura mediana entre
os hemistíquios, liberdade versificatória que Corazzini se permitia.
15 Na região de Toledo, Espanha, há uma tradição estabelecida e
igualmente afamada de produção de lâminas, lanças e espadas, mun-
dialmente conhecidas.
16 Igualmente neste poema em dísticos, Corazzini se vale do uso do
metro dodecassílabo moderno ternário e quartenário, em conjunto
com o alexandrino clássico francês e espanhol. Desta forma, mante-
ve-se esse metro homólogo ao original, em silva de uso do dodecassí-
labo moderno (ternário e quartenário) e do alexandrino francês (com
cesura mediana entre os hemistíquios).
17 Duplice interpretação: brincadeira/provocação ou ironia circun-
dante? No aspecto formal: uma reflexão se consolida na tradução des-
te poema, onde, na versão literal em português acaba por escorregar
numa fatura sem música.
18 Designação dada a várias plantas do gênero Asphodelus, da família
das liliáceas, de raiz tuberosa. Decidiu-se utilizar o termo ornamen-
tos, como título do poema. Enquanto ao aspecto formal, foi possível
preservar os valores métricos do original.
19 Celebrante da Missa católica.
20 O termo escolhido Ser, usado como solução tradutória, é usado de
acordo com o que é designado no Compêndio de Catecismo da Igreja
Católica, ou seja, a mínima parte da hóstia consagrada na missa e ofe-
recida em comunhão não apenas representa como é a própria pessoa
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
171
21 Neste conjunto de quatro sonetos, foi preferido traduzir o título
para um termo mais “neutro”, se bem que, no corpo do texto deu-se
uma liberdade semântica mais próxima ao original.
22 Variante: erva tenrazinha.
23 Carlo Simoneschi (1878-1943) foi um ator de teatro e de cinema
italiano, nascido em Roma e falecido em Milão. Neste poema, ob-
serva-se que a versão em português literal tende a tranpor para uma
fatura sem música, o que inviabilizaria a versão, transformando-a
num mero bilhete lírico. Com apenas uma alteração na disposição das
rimas, foi possível manter o padrão rímico. Contudo, excepcionalmen-
te, precisou-se alterar o hexassílabo italiano original para o padrão de
redondilha maior, verso mais afeito a índole do nosso idioma.
24 De grande interesse, nesta coleção, são os quatro sonetos de Tobla-
ck, nome que parece aludir a Dobbiaco, na época um local de conva-
lescença e de cuidados a pacientes com tuberculose, porém entendido
mais como uma sugestão som, alusão a “um lugar abstrato, uma an-
tecâmara luminosa da morte”, como escreve Sergio Solmi na introdu-
ção ao Liriche de 1959.
25 Trata-se de um soneto monostrófico e em versos brancos, ainda
que em versos decassílabos, algo completamente incomum e inespe-
rado à época e na poesia moderna ocidental. Esta disposição formal
seria experimentada no Brasil cerca de quatro décadas depois em re-
lação a este soneto, escrito em 1905.
26 Pequena estrada na região da Bolonha, que margeia o Cimitero
Monumentale della Certosa.
27 San Bartolomeo al Mare é uma comuna italiana da região da Ligúria.
28 Ofélia (em inglês Ophelia) é uma personagem da obra Hamlet de
William Shakespeare.
29 Jogo de mistura de ironia e melancolia neste poema, de um desejo
de algo que nunca se teve.
30 “Pela Láctea Via” foi uma solução de liberdade formal do tradutor,
no intiuito de evitar um termo que caísse num lugar-comum.
31 Reorganizou-se a descrição, de modo a tentar aproveitar o máxi-
mo possível do original, em silva de uso de versos polimétricos, na
fronteira com o verso livre.
32 Nesse soneto funcionaria não rimar tudo, na tradução, excepcio-
nalmente. Conseguiu-se mantendo maior proximidade de andamen-
to logopaico em relação ao original.
172
Abaixo uma variante em versos brancos:
“Irmã, o doce resguardo com o claustro
que os veste com imensa humildade,
no dia de hoje em abril ilude
todo o nosso martírio docemente”.
33 Santo Stefano Rotondo al Monte Celio ou Basílica de Santo Estêvão
Redondo no Monte Célio é uma antiga basílica menor e igreja titular
em Roma, Itália. A igreja original, consagrada pelo Papa Simplício
entre 468 e 483, foi dedicada ao protomártir Santo Estêvão, cujo cor-
po havia sido descoberto umas poucas décadas antes na Terra Santa
e levado a Roma. Foi a primeira em Roma a ter uma planta circular,
inspirada na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
34 A diferença significativa entre as prosódias simplesmente mata o
poema na mera transposição original/tradução. Observado isso, foi
preciso achar uma linguagem em português para resgatar a música
implícita do texto.
35 A problematização de se sentir uma persona poética, como um
fato que traz um fardo e não tem valor, fica evidente neste poema.
36 Rara canção lírico-amorosa, disposta em heptassílabos de Coraz-
zini, de disposição rímica variável no original. Devido a questão pro-
sódica e o andamento dos versos, a disposição das rimas por estrofe
na tradução seguiu em dois parâmetros básicos: predominantemente
o esquema (aabccb/dd) ou (aabbcc/dd). Preferiu-se fazer rima empa-
relhada nos dísticos-estribilho.
37 Neste poema vemos um flagrante quadro de ironia perpassada
pela desconfiança do sujeito lírico.
38 Trecho que reproduz o itinerário Crepuscolari, envolvendo o clima
paisagístico com o estado mental e de alma do poeta, quase sempre
melancólico e cindido entre a tristeza e a inanição diante da realidade.
39 Giuseppe Alonzo, num excelente ensaio intitulado “As Ideias não ven-
didas duma humanidade leiloada”, apresenta uma leitura do poema Ban-
do de Sergio Corazzini. Segundo Alonzo, ao contrário de algumas críti-
cas, Bando inscreve-se na representação de um ideal coroamento dela, le-
vando em consideração a sua presença na conclusão do Libro per la dela
domenica – última coletânea de poemas publicada pelo autor em vida.
A partir da propensão para a animalidade e o abandono em si, Alonzo
propõe ainda um diálogo com as direções crepusculares do modernismo
brasileiro, expressas em modo particular por Manuel Bandeira.
173
40 Poema em dísticos no original, em que varia o padrão métrico
entre o octossílabo e o eneassílabo. Preferimos utilizar o octossílabo,
com predominância de pés iniciais em iambo ou anapéstico.
41 Liberdade tradutória do termo italiano bimba, na referenciação
da interlocutora do sujeito lírico que demonstra estar angustiado e
envergonhado de sua condição evocada no poema.
42 Este poema nas suas três estâncias sugerem as três fases do enig-
ma da esfinge. No que tange ao aspecto formal – assim como vários
neste livro – aparenta ser, mas não é livre, sendo heterométrico, como
pode-se contar no italiano. Pode-se encontrar a utilização de me-
tros desde o pentassílabo ao decassílabo. Sergio Corazzini, em seus
poemas, sempre se aproximou do verso livre, praticando, porém, em
poucos casos.
43 O belo e — ao mesmo tempo — triste poema no original não pre-
serva totalmente o padrão octossilábico, tendo a sua irregularidade
estendida ao eneassílabo em alguns versos, talvez por deliberalidade
do poeta ou imprecisão localizada. Entretanto, buscou-se na tradução
a utilização do metro octossílabo isométrico em todo o poema verti-
do ao português.
44 Papa Leão XIII, nascido Vincenzo Gioacchino Prosperi Buzzi;
(1810-1903), nascido em Carpineto Romano e falecido em Roma, foi
Papa entre 1878 até à data de sua morte.
Foi ordenado sacerdote da Igreja Católica em 31 de dezem-
bro de 1837. Em 18 de janeiro de 1843 foi indicado Núncio Apostó-
lico para a Bélgica e depois ordenado bispo de Tamiathis em 1843.
Em 1853 foi criado cardeal com o título de Cardeal-presbítero de São
Crisógono. Foi eleito papa em 20 de fevereiro de 1878 e coroado em 3
de março do mesmo ano.
45 Difícil acomodação do trecho no espaço devido à prosódia mais
enxuta do verso do original.
46 Poema em silva de uso polimétrico, em trissílabo (4º verso) pen-
tassílabo (parte da 1ª estrofe e verso final) e hexassílabo. Buscou-se
manter a métrica apresentada do texto em italiano. O poema realça
fortemente o desejo do sujeito lírico de desintegrar-se da realidade
concreta depressiva e se transpor para outra realidade que a julga
como redentora e isenta de sofrimento, tal como enxerga os interlo-
cutores finados naquele espaço.
47 Trata-se de outro poema heterométrico, que se pode passar de-
174
sapercebidamente como verso livre, verso este que Corazzini apenas
experimentou, mas sem uso sistemático. A tradução literal poderia
ser uma hipótese, porém o poema traduzido seguiu a heterometria
do original.
48 Há, em Corazzini, uma musicalidade implícita e muitas vezes pro-
nunciada de certas assonâncias internas e externas ao poema, do qual
buscou-se manter na tradução.
49 Contudo, nos tercetos deste poema manteve esquema igual em
questão.
50 Houve algum sacrifício de termos logopaicos nos dois primeiros
versos em favor de uma melopeia mais constante, presentificada no
original.
175
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
177
LARANJEIRA, Mário. Poética da Tradução. São Paulo:
Edusp, 2003.
MARRONE, Gaetana (org). Encyclopedia of italian
studies. EUA: Taylor & Francis, 2007.
PAES, José Paulo. Tradução: a ponte necessária. São
Paulo: Ática, 1990.
PETERLE, Patrícia. No limite da palavra: percursos pela
poesia italiana. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Introdução. In:
Sonetos de Shakespeare. São Paulo: Hedra, 2018.
RÓNAI, Paulo. A tradução vivida. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2020.
SALDANHA, Wladimir. Modos de Romper a Névoa
(Crítica Literária). Itabuna-BA: Mondrongo, 2020.
VEIGA, Claudio. Problemas da Tradução. In: Antologia
da Poesia Francesa. Rio de Janeiro: Record, 1999.
178
DADOS SOBRE O TRADUTOR
179
Impresso originalmente para a Editora Mondrongo em
outubro de 2021. 2ª reimpressão feita em setembro de 2022
no formato 13 x 20, em papel Pólen Bold 70 gr no miolo e Cartão
Supremo na capa. As fontes tipográficas usadas foram a Arial,
Minion Pro e Times New Roman nos títulos e conteúdo.