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LEMBRANÇAS
Memórias afetivas direto da cozinha de chefs refugiados
Realização
Sumário
1
4 Introdução
5 Um novo começo na cozinha
6 Sobre o Adus
Evodie Mwepu
2
7
Bacalhau com banana-da-terra 14
Rocher de coco 16
Gema Soto
3
19
25 Hallaca
28 Buñuelos de yuca
Mohamad Alghuorani
4
32
Sheikh de coalhada 38
Knéf com queijo 40
44 Sorab Kohkan
50 Kabuli pulai
52 Firnee
Introdução
Sobre o Adus
O Adus atua desde 2010 na integração de refugiados e outros estrangeiros
vítimas de migrações forçadas em São Paulo, oferecendo todo suporte
para obtenção de documentação, aulas de português, capacitação pro-
fissional e inclusão no mercado de trabalho. Desde 2013, trabalhamos
a culinária como forma de inclusão e sustento das famílias por meio da
promoção de feiras étnicas e workshops de gastronomia.
É muito gratificante acompanhar o caminho trilhado por muitos refu-
giados que têm na gastronomia uma forma de empreender e gerar ren-
da, ou mesmo de matar as saudades de suas famílias, de suas histórias. A
gastronomia reúne pessoas, agrega famílias, suaviza os traumas vividos,
estreita vínculos, explora trocas e gera novas oportunidades.
A
cozinha profissional chegou de forma inesperada à vida de
Evodie Kanyeba Mwepu. Nascida em Kinshasa, capital e maior
cidade da República Democrática do Congo, ela é a oitava filha
de dez irmãos e aprendeu a lidar com ingredientes e sabores com a
mãe. Falante de francês, suaíli, lingala, tshiluba e português e formada
em Literatura, Evodie veio ao Brasil em 2015 para encontrar seu marido
e aqui fincou raízes.
Naquela época, a culinária ainda era uma obrigação doméstica,
não um prazer – e muito menos uma profissão. Com o tempo, ela foi
aprimorando suas habilidades cozinhando para amigos e a família, até
que foi convidada a participar de um evento gastronômico promovido
por uma ONG. Apesar do medo, ela aceitou preparar uma iguaria da
cozinha congolesa e foi surpreendida pelo sucesso que o prato fez.
Bacalhau com
banana-da-terra
RENDE 5 A 6 PORÇÕES
1 kg de bacalhau
Óleo
1/2 kg de berinjela em cubos grandes
2 cebolas grandes picadas
3 dentes de alho picados
3 pimentões (1 verde, 1 vermelho e 1 amarelo) picados
1/2 maço de coentro
1 pedaço pequeno de gengibre ralado (cerca de 10 g)
1 maço de cebolinha
3 folhas de louro
1/2 colher (sopa) de sal
1 kg de banana-da-terra cozida
Modo de preparo
Em uma tigela com tampa, deixe o bacalhau de molho em água na
noite anterior ao preparo para dessalgar. No dia seguinte, reserve 1 e
½ xícara da água do dessalgue e escorra o restante. Passe o bacalhau
em água fria e enxugue-o com papel absorvente. Leve uma frigideira
grande ao fogo médio-baixo e regue com um fio de óleo. Doure o
bacalhau dos dois lados e reserve. Na mesma frigideira, refogue a
cebola e o alho. Acrescente a berinjela e os pimentões aos poucos
para que dourem por igual. No liquidificador, bata o coentro, o
gengibre e a cebolinha até formar uma pasta e adicione ao refogado.
Deixe cozinhar por 5 minutos. Acrescente 1 e 1/2 xícara da água
reservada, as folhas de louro e o bacalhau e cozinhe por 10 a 15
minutos. Antes de servir, finalize com as bananas em rodelas.
Rocher de coco
RENDE 5 A 6 PORÇÕES
6 claras de ovo
1/2 colher (café) de sal
1 ½ xíc. de açúcar (300 g)
2 xíc. de coco ralado (380 g)
Manteiga para untar
Modo de preparo
Preaqueça o forno a 180 ºC. Na batedeira, bata as claras em neve
até dobrarem de volume, adicione o sal e bata para incorporar.
Aos poucos, acrescente o açúcar. Por fim, com uma espátula,
incorpore o coco ralado. Faça bolinhas com a massa e disponha-as
em uma assadeira untada com manteiga, deixando uma distância
entre elas. Asse por cerca de 20 minutos ou até que estejam
douradas. Tire as bolinhas ainda quentes da assadeira e sirva.
G
ema de Los Angeles Soto transborda força e alegria. Seus três
filhos – Eliezka, Eliane e o caçula, Leinner – foram sua motivação
para lutar contra as adversidades e encontrar na gastronomia a
expressão de sua cultura, suas raízes e sua própria história. Sua relação com
o Brasil começou em 2017, quando passou a fazer viagens intermitentes ao
país. Vinha de Puerto Ordaz, uma cidade no estado de Bolívar, no nordeste
da Venezuela, para vender seu artesanato. Sem condições de manter os filhos,
estabeleceu-se aqui, definitivamente, depois de seis meses de vindas e idas.
Desde sua saída do país de origem, Gema teve inúmeras ocupações.
Trabalhou como supervisora em uma rede de supermercados, como artesã
e com turismo. Também já foi vendedora e faxineira. Em um momento
que define como “mágico”, alguém lhe falou sobre cozinha e, um tempo
depois, surgiu um curso de empreendedorismo gastronômico. O caminho
Hallaca
RENDE 7 PORÇÕES
Para a massa
1 kg de folha de bananeira
1 kg de farinha de milho branco
Sal a gosto
3 colheres (sopa) de colorau
100 ml de óleo
Barbante culinário
Para o recheio
Óleo
2 cebolas médias picadas (250 g)
15 dentes de alho picados (60 g)
1/2 xíc. de alho-poró (100 g)
em rodelas finas
1,5 kg de banana em rodelas
Sal, pimenta-do-reino e cominho
a gosto
2 xíc. de cogumelos sortidos
picados (400 g)
1 pimentão vermelho em tiras
100 g de azeitonas
100 g de alcaparras
100 g de uvas-passas
Modo de preparo
Limpe as folhas de bananeira e passe-as na chama do fogão para
queimar um pouco. Prepare a massa: em uma tigela, misture a farinha,
o sal, o colorau e o óleo até ficar homogêneo. Reserve. Em uma panela
grande, aqueça um fio de óleo e refogue a cebola até ficar transparente.
Acrescente o alho e o alho-poró. Depois, as rodelas de banana. Tempere
com sal, pimenta-do-reino e cominho. Em outra frigideira, aqueça um
fio de óleo e grelhe os cogumelos. Junte-os à panela do refogado e
misture. Para a montagem, corte as folhas de bananeira em quadrados
de aproximadamente 15 cm e espalhe uma camada da massa. Coloque
uma porção de recheio por cima e distribua azeitonas, alcaparras, uvas-
passas e uma tira de pimentão em cada. Dobre a massa sobre o recheio,
com a ajuda da folha de bananeira, e amarre com uma tira da folha
ou com um pedaço de barbante culinário. Cozinhe em água fervente,
no fogo médio, por uma hora. Sirva ainda quente.
Buñuelos de yuca
RENDE 20 UNIDADES
Para a massa
1 kg de mandioca
250 g de queijo minas do tipo firme
1 kg de beiju de mandioca
1 litro de óleo
Modo de preparo
Em uma panela grande, adicione a
mandioca, cubra com água e deixe ferver.
Escorra a água e adicione novamente
água suficiente para cobrir a mandioca.
Cozinhe até que esteja macia e escorra
em uma peneira. A mandioca deve ficar
sem nenhum vestígio de líquido, caso
contrário, ao fritar o bolinho, o óleo pode
saltar da frigideira. Prepare um purê com
a mandioca: amasse com um garfo ou
com um espremedor de batatas. Esfarele
o queijo e incorpore-o ao purê. Misture
até ficar homogêneo. Com as mãos, faça
bolinhas com a massa. Para facilitar,
umedeça um pouco as mãos. Empane os
bolinhos de mandioca no beiju. Em uma
panela ou frigideira alta, aqueça o óleo.
Quando o óleo estiver quente, mas sem
soltar fumaça, adicione os bolinhos de
mandioca aos poucos, entre 4 e 6
unidades por vez. Frite os bolinhos por 2
a 4 minutos, virando na metade do tempo
para dourar o outro lado. Deixe que
escorram em um prato forrado com papel
absorvente. Prepare a calda: em uma
panela no fogo médio, derreta a
rapadura. Acrescente a canela e o cravo
para aromatizar e desligue o fogo.
Sirva os bolinhos em uma travessa
com a calda por cima.
A
dedicação com que Mohamad Alghuorani trata a gastronomia
emociona. Sua história de persistência e amor à culinária começou
em seu país de origem, a Síria, quando ele tinha 13 anos. Na
época, foi ajudante de cozinha, e tomou tanto gosto pelas panelas que,
aos 22, abriu seu próprio restaurante no centro de Damasco, cidade
conhecida como a mais antiga do mundo.
Em 2012, foi obrigado a sair da Síria e chegou ao Brasil dois anos
mais tarde. Aqui, Mohamad trabalhou por conta própria em inúmeras
feiras, preparando lanches e pratos sírios, e seguiu passando por outras
cozinhas. Foi sócio de um restaurante em Osasco e montou uma fábrica
de doces sírios em São Paulo, mas a pandemia de Covid-19 prejudicou os
negócios e a fábrica foi fechada. Em um momento de clareza, Mohamad
soube que esse era mais um exercício de resiliência e construção que a
vida lhe impunha. Uma vida dedicada à culinária.
Sheikh de coalhada
RENDE 20 UNIDADES
Modo de preparo
Corte as abobrinhas ao meio no sentido do comprimento e retire
os miolos. Leve uma panela ao fogo médio, adicione metade da
manteiga e refogue a carne por 15 minutos ou até ficar ao ponto.
Acrescente a castanha e tempere com sal e pimenta-do-reino.
Reserve. Em uma panela grande, cubra as abobrinhas com água
e cozinhe por 20 minutos. Retire e deixe que repousem em um
escorredor para retirar o excesso de água. Reserve 1 xícara da água
do cozimento para usar na coalhada. Recheie as abobrinhas com a
carne. Em uma frigideira no fogo alto, derreta o restante da manteiga
e frite a base das abobrinhas recheadas até dourar. Reserve. No
liquidificador, bata a coalhada, a água reservada, o ovo, o amido de
milho e uma pitada de sal. Coloque o creme em uma panela e cozinhe
em fogo baixo até engrossar, mexendo sempre com um fouet para
não empelotar. Para servir, faça uma cama de coalhada e disponha
as abobrinhas recheadas por cima. Finalize com as folhas de hortelã.
Para a massa
1/2 xícara + 1 colher (sopa) de manteiga (150 g)
500 g massa knafi
500 g de muçarela ralada
300 g de quejo branco ralado
100 g de pistache
Para a calda
2 xícaras de açúcar (500 g)
1 colher (chá) de água de rosa
5 gotas de limão
Modo de preparo
Prepare a calda. Em uma panela, adicione 300 ml de água, o açúcar
e a água de rosa. Deixe ferver em fogo alto, desligue e acrescente
as gotas de limão. Reserve. Em uma frigideira grande, distribua a
manteiga e espalhe a massa knafi até a borda atingir 1 cm de altura.
Em um bowl, misture os queijos e coloque por cima da massa. Leve a
frigideira ao fogo baixo e mexa sempre, com movimentos de vai e vém
ou rotacionais para não queimar. Quando a base estiver dourada, vire
levemente a frigideira sobre um bowl para retirar o excesso de gordura.
Depois, vire o knafi em um prato de servir, para que o queijo fique
embaixo. Finalize com o pistache e a calda.
O
pequeno restaurante no centro de São Paulo, chamado
Koh-i-Baba, reflete a saudade e o orgulho que Sorab Kohkan
tem de sua terra natal. A começar pela escolha do nome, cuja
tradução do persa seria “montanhas do pai”, em referência aos montes
Baba, uma extensão da cordilheira Indocuche onde habita o povo hazara
– minoria étnica à qual pertencem Sorab e sua família.
O ambiente do Koh-i-Baba reúne, ainda, pinturas e fotos do Afeganistão,
tornando o restaurante um oásis para Sorab e a esposa, Raihana Ebrahemi,
que vivem no Brasil desde 2012. O casal tem cinco filhos que permaneceram
no país de origem até 2021, quando Sorab conseguiu voltar para resgatá-los
do regime fundamentalista afegão. Lá, Sorab era professor universitário, mas
em seu refúgio – tendo passado também pela Alemanha e pela Espanha –
chegou a trabalhar como tradutor, pintor e, só depois, como cozinheiro.
Ele conta que aprendeu a cozinhar com uma tia aos 14 anos – a mesma
que bordou a camisa e o pano de copa usados por Sorab (acima). A proposta
da tia para as aulas foi convincente: “Assim, comerás sempre bem”. No Brasil, os
segredos da cozinha saíram do ambiente caseiro e ganharam novos contornos.
Num primeiro momento, com o intuito de ganhar dinheiro e sobreviver no
país, Sorab vendia todo tipo de comida – pastéis, pizzas e lanches diversos.
Depois de um tempo, percebeu que se dedicar à culinária de seu país de
origem o destacaria no ramo. Foi assim que fez do Koh-i-Baba o primeiro – e,
por enquanto, único – restaurante afegão do Brasil.
Embora a cozinha afegã seja uma fusão de diferentes culturas,
principalmente da Ásia Central e da Índia, um elemento bastante comum
aos brasileiros aparece em diversos pratos: o arroz. É ingrediente de
diversos preparos salgados, mas também pode ser a base de muitas
sobremesas. O kabuli pulai (também conhecido como qabili palau ou
simplesmente palau), compartilhado por Sorab neste livro, é considerado
Kabuli pulai
RENDE 6 PORÇÕES
Para o arroz
500 g de arroz basmati
500 ml de óleo de gergelim
2 cebolas grandes cortadas em tiras finas
1,2 kg de costela de boi sem muita gordura
Sal
3 cenouras cortadas em tiras (180 g)
100 g de uvas-passas pretas
100 g de pistaches descascados
100 g de amêndoas laminadas
Para o vinagrete
1 cebola roxa picada
3 tomates picados
1 pepino picado
2 maços pequenos de hortelã
Modo de preparo
Deixe o arroz hidratando em água quente por duas horas. Em
uma panela grande, aqueça o óleo de gergelim e frite as cebolas.
Acrescente a carne, selando dos dois lados, e deixe cozinhar até que
esteja bem macia, adicionando um pouco de água se necessário.
Tempere com sal. Junte o arroz e cozinhe até secar o caldo. Misture os
ingredientes do vinagrete e reserve. Em uma frigideira antiaderente,
toste as uvas-passas, as cenouras, os pistaches e as amêndoas e sirva
por cima do arroz. O vinagrete acompanha.
Firnee
RENDE 10 PORÇÕES
1 litro de leite
1 colher (sopa) de cardamomo em pó
1 xíc. de açúcar (200 g)
1 xíc. de amido de milho (200 g)
3 colheres (chá) de pistaches picados
1 colher (sopa) de nozes picadas
Modo de preparo
Em uma panela no fogo médio, ferva o leite com o cardamomo e o
açúcar. Em uma tigela, misture o amido de milho com um pouco de
água, suficiente para dissolvê-lo por completo. Adicione a pasta à
panela com leite, mexendo sempre para não formar grumos. Abaixe
o fogo e continue cozinhando por mais 5 minutos. Despeje o creme
em uma travessa e deixe esfriar. Quando a superfície estiver fria, leve a
travessa para a geladeira por no mínimo 1 hora. Sirva com os pistaches
e as nozes por cima.