Você está na página 1de 16

ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL

REVISÃO DE LITERATURA
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

AMANDA DE CARVALHO SIQUEIRA *1


CC (Md) CAMILA DE ARAÚJO VAZZOLER *2
CC (S) LUCIANA LIMA DE MOURA *3

RESUMO
Introdução: com o envelhecimento populacional e aumento de casos de câncer e doenças crônicas degenerativas,
houve a necessidade da abordagem sobre cuidados paliativos (CP). É essencial o controle dos sintomas inerentes a essa
fase da vida e, muitas vezes, os medicamentos necessários não podem ser administrados por via oral, necessitando
de alternativa que é a subcutânea (SC). Objetivo: elaborar um protocolo institucional norteador da prescrição e
administração de medicamentos via SC. Metodologia: realizou-se revisão de literatura com a pergunta norteadora
“Como melhorar a segurança do paciente que necessita de medicamentos pela via SC em um serviço de assistência à
saúde onde não há um consenso sobre a forma de administração por esta via?”. Então, selecionados artigos de PubMed,
Scielo, Cochrane, Google Scholar; e busca direta em sites de CP, diretrizes de sociedades e referências recomendadas
em manuais com os descritores “infusões subcutâneas”, “hipodermóclise” e “cuidados paliativos” e suas traduções para
inglês e espanhol. Resultados/discussão: dos 25 artigos escolhidos, selecionaram-se informações sobre indicações e
contraindicações do método, vantagens e desvantagens em relação às outras vias, efeitos adversos e medicamentos mais
recomendados. Foi elaborada ainda uma tabela dos medicamentos que podem ser administrados via SC. Conclusão:
a Clínica Médica e o Serviço de Controle e Informação sobre Medicamentos do Departamento de Farmácia do HNMD
elaboraram um protocolo institucional que orienta os profissionais da instituição sobre correta prescrição e administração
de medicamentos pela via SC, que foi submetido e aprovado pela Comissão de Farmácia e Terapêutica do hospital e
disponibilizado na intranet.

Palavras-chave: Infusões subcutâneas; Hipodermóclise; Cuidados Paliativos; Uso de Medicamentos.

ABSTRACT
Introduction: With the population-ageing and the increase in cases of cancer and chronic degenerative diseases,
there was a need to address Palliative Care (PC). It is essential to control the symptoms inherent to this stage of
life and, often, medications cannot be administered orally, requiring an alternative, which is a subcutaneous (SC).
Objective: Elaboration of an institutional protocol that guides the prescription and administration of medications via
SC. Methodology: A literature review was carried out with the guiding question “How to improve the safety of patients
who need medication via the SC route in a health care service where there is no consensus on the form of administration
via this route?”. Then, we selected articles from PubMed, Scielo, Cochrane, Google Scholar, and direct search on CP
sites, Societies Guidelines and recommended references in manuals with the descriptors “subcutaneous infusions”,

Submetido em: 11/5/2021.


Aprovado em: 13/9/2021.
*1
Médica residente de Clínica Médica do Hospital Naval Marcílio Dias. E-mail: amandacsiq@gmail.com
*2
Médica geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Staff da Clínica Médica do Hospital Naval Marcílio Dias.
*3
Farmacêutica. Chefe do Serviço de Informação sobre Medicamentos do Hospital Naval Marcílio Dias.

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 30 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

“hypodermoclysis” and “palliative um termo definido pela Organização de artigos científicos nas bases de
care” and their translations to English Mundial da Saúde (OMS) em 2018, dados eletrônicas, cujo objetivo foi
and Spanish. Results / Discussion: como “cuidado ativo holístico de sintetizar informações a respeito do
Of the 25 selected articles, informa- indivíduos de todas as idades com tema hipodermóclise e elaborar um
tion about the indications and con- sofrimento grave relacionado à saú- protocolo institucional que norteas-
traindications of the method, advan- de devido a uma doença grave,* e se a prescrição e a administração de
tages and disadvantages in relation especialmente daqueles próximo ao medicamentos pela via subcutânea
to other routes, adverse effects and fim da vida”. 2 Para atingir essa meta, em pacientes idosos frágeis e/ou em
the most recommended drugs were é necessário que haja a detecção cuidados paliativos.
selected. A table of drugs that can be precoce e o correto controle dos Estabeleceu-se a seguinte per-
administered via SC was also drawn sintomas inerentes a essa fase da gunta norteadora do estudo: “Como
up. Conclusion: The Internal Medici- vida, principalmente dor, dispneia, melhorar a segurança do paciente
ne Clinic and the Medicines Informa- náusea e delirium. 3 que necessita de medicamentos pela
tion and Control Service of the De- A via oral (VO) é a mais indicada via subcutânea em um serviço de
partment of Pharmacy of the HNMD para a administração de medicamen- assistência à saúde onde não há um
developed an institutional protocol tos por ser mais fisiológica e menos consenso sobre a forma de adminis-
that guides the professionals of the invasiva. Contudo, cerca de 70% dos tração por esta via?”.
institution on the correct prescription pacientes em fim de vida precisarão A busca dos artigos foi reali-
and administration of medications de outra via para ter seus sintomas zada no período de dezembro de
via SC, which was submitted and ap- controlados, devido aos quadros de 2019 a janeiro de 2020, nas bases
proved by the Pharmacy Committee disfagia, delirium e rebaixamento do de dados PubMed, Scielo, Cochrane,
and Hospital Therapeutics and made nível de consciência. Neste cenário, o Google Scholar, além de busca dire-
available on the intranet. uso da hipodermóclise ganha muita ta em sites de cuidados paliativos,
importância.3 Os termos terapia sub- diretrizes de sociedades de Geria-
Keywords: Infusions, Subcutaneous; cutânea (SC) ou hipodermóclise são tria e de Cuidados Paliativos e refe-
Hypodermoclysis; Palliative Care; Drug utilizados para se referir à adminis- rências recomendadas em manuais
Utilization. tração de medicamentos e reposição dessas sociedades.
de fluidos e eletrólitos pela via subcu- Os descritores utilizados para a
INTRODUÇÃO tânea.1 Esta via possui inúmeras van- busca de referências sobre o tema fo-
Com o passar dos anos, a ex- tagens em relação à via intravenosa ram “infusões subcutâneas”, “hipoder-
pectativa de vida aumentou e, conse- (IV), por exemplo, sendo uma técnica móclise” e “cuidados paliativos” e suas
quentemente, com o envelhecimen- simples, segura e menos invasiva.3 traduções para inglês e espanhol.
to da população houve aumento da Deste modo, a Clínica Médica do Os critérios de inclusão foram
prevalência dos casos de câncer e das Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD) artigos publicados nos últimos 20
doenças crônicas degenerativas. Ape- em conjunto com o Departamento de anos, devido ao reduzido número
sar das conquistas que culminaram Farmácia, entende a importância de de publicações a respeito do tema
com o envelhecimento populacional, estabelecer um protocolo institucional em fontes mais recentes, escritas em
pelos avanços científicos de melhoria que oriente a correta prescrição e ad- português, inglês ou espanhol. Os
de tratamentos e qualidade de vida, ministração dos medicamentos, com critérios de exclusão foram publi-
a morte ainda precisa ser enfrentada, diluição e tempo de infusão adequa- cações que não discursavam sobre
porém, pode ser um processo com dos para evitar complicações e mais hipodermóclise, que estudavam me-
menos sofrimento.1 riscos ao paciente, sendo o principal dicamentos específicos já padroni-
Os cuidados paliativos são em- objetivo deste trabalho. zados de uso comum, como insulina,
pregados na rotina do paciente com o heparina e quimioterápicos, outros
objetivo principal de melhorar a quali- METODOLOGIA idiomas além dos citados anterior-
dade de vida tanto do paciente quan- Trata-se de uma revisão de lite- mente, e ainda artigos cujo texto
to de seus familiares e cuidadores. É ratura realizada por meio da busca completo não estava disponível.
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 31 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Como parte de sua implemen- clínicos controlados com cada DISCUSSÃO


tação no HNMD, o protocolo foi sub- medicamento especificamente de Hipodermóclise é o termo utiliza-
metido à apreciação da Comissão de forma a ter uma padronização da do para se referir a soluções de hidra-
Farmácia e Terapêutica. Além disso, dose de cada um. tação parenteral pela via subcutânea.
será realizada a divulgação para a Treze artigos discursam sobre os Quando a administração de medica-
chefia da equipe de cada posto de medicamentos usados pela via sub- mentos é realizada por esta via, utiliza-
enfermagem para orientação teórica cutânea, porém apenas sete os des- -se o termo terapia subcutânea.1
e prática da técnica de punção e ma- crevem com suas respectivas doses e Desde meados do século XIX,
nuseio do acesso subcutâneo. Cada diluições de forma padronizada para existem relatos de experiências de
chefe será responsável por aplicar o serviço de referência. A grande médicos a respeito da administração
esse treinamento em sua equipe de parte dos autores relata doses que de opioides pela via subcutânea. Esta
técnicos e enfermeiros. Pretende-se, são de experiência do seu serviço ou, via foi bastante utilizada para a hi-
ainda, disponibilizar o protocolo na então, doses já citadas em guias de dratação de pacientes na pandemia
intranet do hospital. sociedades, ainda assim havendo di- de cólera em 1865, mas, apenas em
vergências entre as instituições. 1903, foi apresentada com este pro-
RESULTADOS O protocolo foi elaborado com pósito em ambiente hospitalar na
Foram encontradas 600 publica- as principais informações a respeito Convenção da Sociedade de Supe-
ções incluindo todas as bases de da- do tema de via subcutânea – van- rintendentes nos EUA. Porém, perdeu
dos analisadas. Destas, 207 do Pub- tagens e desvantagens, indicações e lugar para a via intravenosa na déca-
Med, 30 do Cochrane, 363 do Google contraindicações, complicações do da de 1940, durante a Segunda Guer-
Scholar, sendo selecionadas 25 fontes método e os principais fármacos e ra Mundial, quando houve um avan-
a partir dos critérios apresentados soluções relatados na literatura atu- ço das técnicas nessa via associado às
anteriormente. Na figura 1, pode-se al, incluindo apenas medicamentos complicações decorrentes da técnica
observar as fontes selecionadas. e fluidos que foram padronizados inadequada da hipodermóclise. Mes-
mo em 1960, com a maior dissemina-
Figura 1 – Fontes selecionadas ção dos cuidados paliativos e o maior
uso da via subcutânea como um
Revisão de literatura: 13
procedimento seguro, acabou sendo
pouco explorada e poucos profissio-
Manuais de Sociedades/Livros: 5
nais de saúde e pacientes a conhe-
cem hoje em dia. 3-5
Estudo observacional: 1
As razões pelas quais médicos
não utilizam essa via com frequência
Total de fontes selecionadas Estudo experimental: 2
25 incluem a falta de experiência, a es-
cassez de material, a falta de recursos
Estudo prospectivo de um ensaio clínico randomizado: 1
humanos e, menos comum, a recusa
do paciente. Atualmente, a dificul-
Pesquisa de inquérito: 2 dade no uso da técnica ocorre pela
deficiência de documentos padroni-
Site de sociedade: 1 zados que orientem a administração
adequada de medicações com suas
respectivas diluições e compatibili-
A maioria é de ar tigos de pelo Departamento de Farmácia no dades. Mas, também, pela falta de
revisão de literatura, pois não há HNMD, com suas devidas indicações, conhecimento dos profissionais uma
um número expressivo de estudos diluições, velocidade de infusão e vez que não é um tema discutido
controlados a respeito do tema. volume máximo de tolerância de com frequência durante a gradua-
Não foram encontrados ensaios cada sítio de punção. ção na área da saúde. 5-8
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 32 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

No Brasil, ainda não há proto- desidratação leve a moderada e ad- substâncias com pH muito ácido ou
colos uniformes para essa técnica, ministração de antibiótico parenteral muito básico (< 2 ou > 11), como ele-
o que também contribui para o seu associada à dificuldade de acesso ve- trólitos em alta concentração (ex., gli-
pouco uso na prática assistencial. noso periférico.3,5,11 cose acima de 5% e potássio acima
São necessários mais estudos que A utilização da via subcutânea de 20 mmol/l), porque são irritantes
abordem esse tema para uma me- é contraindicada para a infusão de e têm risco de acumular e precipitar.
lhor divulgação e implementação fluidos em grande quantidade e de Também não podem ser aplicados
nos serviços de cuidados paliativos, forma rápida, em situações de desi- sangue e derivados, nutrição paren-
assim como sua implementação du- dratação grave ou acentuado distúr- teral total e soluções coloidais. 1, 3, 11, 12
rante a graduação de médicos e en- bio eletrolítico; se houver risco de so- Os locais de punção mais ade-
fermeiros. Além disso, que a equipe brecarga de volume como em casos quados incluem as regiões deltoide,
multidisciplinar esteja mais bem in- de anúria e insuficiência cardíaca; em anterior do tórax (subclavicular), in-
tegrada para assegurar a integração distúrbios de coagulação ou trombo- terescapular, do abdome e as faces
da técnica à assistência. 5, 6, 8 citopenia pelo risco de sangramento anterior e lateral da coxa, conforme
A VO é a mais indicada para e hematoma. Uma importante con- ilustrado na figura 2. A região inte-
administrar soluções uma vez que é traindicação à via SC é a recusa do rescapular é menos usada, porém,
a mais fisiológica. Porém, 70% dos paciente, uma vez que se deve garan- mais útil em casos de agitação pela
pacientes em fim de vida irão pre- tir seu direito à autonomia. Nos casos dificuldade de acesso para o paciente
cisar de outra via para controle dos de edema acentuado, por exemplo, remover. Para a punção adequada, o
sintomas. Comumente, os pacientes em anasarca, puncionar em área me- cateter deve apontar para o centro do
nessa fase da vida apresentam recu- nos acometida, pois há redução da corpo, pois é a direção da drenagem
sa de alimentos e líquidos VO, alte- velocidade de absorção, da mesma linfática e, com isso, reduz a chance
ração do nível de consciência, deli- forma em áreas afetadas por proces- de formar edema local. Ainda assim,
rium, náusea e/ou vômitos, o que a so inflamatório, que não devem ser é necessário respeitar o volume máxi-
torna não segura. Nesse momento, manipuladas. Os estados de desnutri- mo que cada área suporta, conforme
a alternativa mais apropriada é a ção, com subcutâneo reduzido, não descrito a seguir: abdome e interes-
via subcutânea, por apresentar uma configuram uma contraindicação ab- capular – até 1.000 ml/24 horas cada
técnica simples, segura e menos in- soluta, podendo-se optar pelo abdo- sítio; subclavicular e deltoide – até 250
vasiva, uma vez respeitadas as con- me ou coxas com redução da inclina- ml/24h cada sítio; anterolateral da
dições para seu uso. 3, 9 ção do cateter na punção. As regiões coxa – até 1.500 ml/24h. 3, 6, 7, 13
Mesmo a via IV, periférica ou submetidas à
central, sendo eficaz para a admi- cirurgia ou ra- Figura 2 – Sítios de punção para via subcutânea
nistração de fluidos de hidratação e dioterapia pre-
medicações, frequentemente tem seu cisam ser evi-
acesso dificultado, seja pela fragili- tadas uma vez
dade vascular no idoso, ausência de que a drenagem
cooperação por agitação/delirium, ou linfática estará
simplesmente por ser mais incômodo comprometida.
e doloroso para o paciente. 10 Com relação ao
A hipodermóclise é utilizada tipo de fluido a
quando a VO está comprometida, em ser infundido,
situações como alteração cognitiva, deve-se atentar
rebaixamento do nível de consciência, para não admi-
disfagia, náusea e vômitos, obstrução nistrar substân-
intestinal maligna, intolerância a doses cias lipofílicas,
elevadas de opioide VO, necessidade por exemplo,
de hidratação parenteral em casos de Diazepam, nem Fonte: Di Tommaso ABG, et al.³
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 33 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 34 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 35 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

A punção pode ser realizada com cuidados, incluindo domicílio, sem ne- O uso da terapia via subcutâ-
cateter agulhado (scalp) calibres 21G a cessidade de um profissional de saú- nea apresenta algumas desvanta-
25G ou cateter não agulhado (Jelco) de, reduzindo o número de hospitali- gens. Não pode ser usada em casos
calibres 20G a 24G. As vantagens do zações. Quando usada para a infusão de desidratação grave, pois o tempo
primeiro incluem menor custo e pun- de antibióticos, permite estender o de infusão máximo é de 1 ml/minuto,
ção menos dolorosa. Já o segundo tem tempo de administração em dias, com permitindo que apenas 3.000 ml se-
relato de ser mais confortável após a maiores chances de alta hospitalar jam administrados em 24 horas des-
punção e não exige a manipulação precoce por reduzir o número de in- de que divididos em sítios diferentes.
por um profissional de saúde (ex., cui- fecções e tromboflebites. Não há rela- Caso a taxa de infusão não seja res-
dador informal em domicílio). O cate- tos de ser uma fonte de sepse. 3, 5, 11, 13, 15 peitada, pode levar a edema local,
ter não agulhado também é ideal para Apesar da concentração máxi- dor e irritação. Há limitação de medi-
punções mais prolongadas, pois, em ma do medicamento ser alcançada camentos e soluções que podem ser
teoria, pode permanecer até 11 dias, de forma um pouco mais demorada feitas, não permitindo infusão de flui-
contra 5 dias do scalp. No intuito de para a SC em comparação com as dos mais hipertônicos com maiores
uniformizar condutas, a Agência Na- outras vias, ela permite níveis plas- concentrações de eletrólitos. 3, 5, 11, 13
cional de Vigilância Sanitária (Anvisa) máticos adequados e com maior bio- Apesar de pouco frequentes e
preconizou que seja feito rodízio do disponibilidade (figura 3), evitando com baixo potencial de gravidade,
sítio de punção a cada 3 dias como efeitos colaterais indesejáveis. Isso é são descritos alguns efeitos adversos.
forma de padronização. A nova loca- benéfico para alguns antibióticos, já O mais comum é o edema local, que
lização deve estar a pelo menos 5 cm tendo sido provado que, apesar da pode ser evitado quando respeitada a
da anterior. Sempre avaliar quanto à absorção mais lenta, não houve inter- velocidade de infusão das medicações
possibilidade de complicações locais ferência da biodisponibilidade, assim e resolvido com interrupção ou redu-
que exijam a substituição do sítio an- como no uso de opioides que, quan- ção da taxa de infusão, até massagem
tes do tempo estipulado. 3, 5, 9 do administrados de forma intermi- local. Podem ocorrer, também, hipere-
Um estudo experimental pros- tente intravenosa, resultam em mais mia e obstrução do cateter. Dor ou des-
pectivo randomizado com 100 pacien- sedação e risco de outros efeitos ad- conforto local são incomuns, devendo
tes com câncer, em 2011, a respeito do versos. A absorção pode ser variável, avaliar se o posicionamento do cateter
melhor posicionamento do scalp (bisel dependendo de alguns fatores como está correto, podendo estar abaixo do
para cima ou para baixo) em relação as características físico-químicas das músculo, principalmente em pacientes
à taxa de complicações, relatou que o substâncias, vascularização cutânea, mais magros, e se a taxa de infusão
bisel para baixo trouxe mais resistên- local de aplicação e condições car- está adequada, uma vez que grandes
cia ao longo do tempo e menor taxa diovasculares do paciente. 1, 3, 6, 7, 16, 17 volumes podem gerar tensão cutânea.
de complicações. Isso vai contra o que
Figura 3 – Variação da concentração do medicamento na corrente sanguínea com o tempo
é realizado na prática, em que a téc-
nica é com o bisel para cima. Porém,
não podem ampliar os resultados, por
Concentração da droga na corrente sanguínea (c)

se tratar de um estudo piloto com li-


mitações como número de adminis-
trações, tipos de drogas e estado nu- Intravenosa

tricional do paciente, necessitando de Intramuscular


estudos mais abrangentes.14
Subcutânea
As vantagens da utilização da
via subcutânea são que se trata de Oral

um método de baixo custo, mais con-


fortável que a via IV, com baixo risco
Tempo (t)
de complicações e que pode ser ma-
Fonte: Lüllmann, Color Atlas of Pharmacology (2000)
nuseado em diversos ambientes de
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 36 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Infecções, como celulite, são raras de As soluções utilizadas são as Outro aspecto digno de nota é
ocorrer, desde que realizadas as técni- isotônicas, ou seja, com pH mais pró- a associação de drogas nas infusões.
cas de assepsia local para a punção e ximo do fisiológico – soro fisiológico Apesar de também não existirem
mudança de sítio no tempo adequado. (SF) 0,45% e 0,9%, soro glicosado muitos dados a respeito, a orienta-
Na presença de sinais de flogísticos, (SG) 5%, ringer lactato (RL) e solução ção é não misturar mais de três me-
esse sítio estará contraindicado por no glicossalina ou glicofisiológica (2/3 SG dicamentos em uma mesma solução
mínimo 10 dias e é necessário avaliar a 5% + 1/3 SF 0,9%). Deve-se ter especial e não administrar mais de três medi-
necessidade de terapia antimicrobiana cuidado nas soluções com glicose, pois camentos em um mesmo sítio, ainda
tópica ou sistêmica. Também é rara a tendem a atrair líquido para o local da que em intervalos separados, pois
punção de vaso sanguíneo, que é per- infusão, podendo causar dor, sendo há risco de instabilidade e precipi-
cebida logo no teste do cateter inse- preferível a solução 2:1. A respeito dos tação, além de contribuir para lesão
rido, devendo ser repuncionado em eletrólitos, especificamente do KCl, ci- tecidual precoce. Os medicamentos
seguida. A chance de necrose tecidual tam que é seguro administrar de 20 a associados em uma mesma solução
existe quando administrados fluidos 40 mmol/l (equivalente a 20-40 mEq/l) e mais citados, juntando os estudos
mais hipo ou hipertônicos, como alta de solução, com um consenso de que analisados, foram midazolam, mor-
concentração de cloreto de potássio necessita de diluição em, no mínimo, fina, escopolamina (hioscina), halo-
(KCl); se ocorrer, deve-se retirar o aces- 100 ml de SF 0,9% ou SG 5%. 1, 3, 7, 11, 19 peridol e metoclopramida. 3, 7, 12, 18, 22, 23
so e avaliar necessidade de desbrida- Os medicamentos precisam ser A dor é um dos principais sinto-
mento químico. A sobrecarga de volu- diluídos, porém, ainda não há con- mas referidos pelos pacientes em cui-
me pode ocorrer, pois é um risco para senso na literatura a respeito de uma dados paliativos. A principal medicação
qualquer infusão de fluidos, porém, é padronização nos diluentes. Sabe-se para seu controle é a morfina. A sua
bem menor em relação à administra- que a solução precisa ter pH próximo administração subcutânea já foi de-
ção IV. No caso de hematomas e equi- ao neutro, e que a recomendação é a monstrada como benéfica por reduzir
moses, também é necessário retirar o diluição 1:1 (1 ml de diluente : 1 ml da efeitos colaterais de náusea e vômito
acesso, podendo aplicar polissulfato de droga). As opções são água destilada em comparação com a via oral. 24
mucopolissacarídeo até a resolução. e SF 0,9%. O primeiro diluente apre- Apesar de a morfina já ser bem
Nesse caso, em pacientes com risco senta mais dados a respeito de sua descrita na literatura, frequentemente,
de sangramento, usar cateter não- compatibilidade com medicamentos, a maioria dos medicamentos adminis-
-agulhado e puncionar mais próximo porém, se necessário maior volume, trados via SC são off label e, por isso,
dos flancos, por ser a região abdomi- a solução se torna hipotônica, favo- há uma escassez de dados a respeito.
nal menos vascularizada. 3, 7, 10, 11 recendo o surgimento de reações ad- A maioria dos estudos encontrados
Foi relatado que a maioria dos er- versas. O segundo apresenta menos têm baixo nível de evidência pois são
ros no manejo da hipodermóclise são dados relatados quanto a diluições, relatos de experiências em serviços
decorrentes de uma prescrição inade- é incompatível com concentrações de cuidados paliativos e estudos clí-
quada e de preparação e administra- de haloperidol maiores de 1 mg/ml, nicos não controlados. Desse modo,
ção das medicações incorretamente. porém, é isotônico, logo, não altera a as informações sobre dose e diluição
Essas complicações podem advir de tonicidade da solução e é mais comu- podem ser conflitantes. Para a cons-
incompatibilidade entre as drogas mis- mente utilizado – inclusive foi relatado trução desse protocolo, buscou-se
turadas numa solução, velocidade de em um estudo como preferência nos utilizar o máximo de informações dis-
infusão inadequada, desconhecimento serviços na Austrália. 3, 18 poníveis na literatura atualmente.
técnico na punção, entre outros.18 É recomendado restringir o pre- Nas tabelas 1 e 2, apresenta-
A seguir serão relatadas algumas paro de uma solução em infusão con- -se o conteúdo completo elaborado
especificações e detalhamento das tínua para o período de 24 horas, pois como parte do protocolo do HNMD,
medicações e soluções a serem infun- não há dados disponíveis suficientes que foi adaptado das fontes analisa-
didas por hipodermóclise que, quan- com relação à segurança microbioló- das. Nele estão as indicações de cada
do seguidas adequadamente, evitam gica e química de soluções que durem droga, com suas respectivas diluições
os efeitos descritos acima. um período superior a esse. 21 e velocidades de infusão, assim como
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 37 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

informações de incompatibilidade e Anvisa após resolução publicada no administração. Se, por exemplo, dois
necessidade de sítio exclusivo para a Diário Oficial da União, em 22 de medicamentos constarem na prescri-
administração. São necessárias, po- abril de 2020, pois os lotes do me- ção do paciente, porém, não forem
rém, algumas ponderações – o anti- dicamento continham nitrosaminas compatíveis entre si, não podem ser
biótico ceftazidima, apesar de relata- acima do limite especificado.31 Sen- misturados em uma mesma solução e
do em estudos, com dose e tempo de do assim, esses medicamentos não não devem ser administrados em um
infusão estabelecidos, não apresenta foram incluídos nesse protocolo. mesmo sítio de punção, pois há risco
relato de diluição padronizada; 7, 13; a No quadro 1, encontra-se a com- de reações adversas locais, precipita-
ranitidina que, apesar de ser utiliza- patibilidade entre os medicamentos ção, além de alteração da composição
da via subcutânea, foi recolhida pela que servirá como orientação para sua com perda de eficácia. 3, 7

Tabela 1 – Protocolo para o uso da via subcutânea

MEDICAMENTO CLASSE INDICAÇÃO13 DOSE DILUIÇÃO INFUSÃO OBSERVAÇÕES

Tempo de Seguir padrão


Ampicilina Antibiótico Infecção 1g/dia 3,7,12,13 SF 0,9% 50ml 3,7,12 infusão: 20 a de 1mL/min ou
60 minutos 3,7 62,5mL/h.7

Reconstituir Seguir padrão


1g em 10ml de Tempo de de 1mL/min ou
1g 12/12h ou
Cefepime Antibiótico Infecção água destilada infusão: 40 a 62,5mL/h. 7
8/8h 3,7
e diluir em SF 60 minutos 3,7,29 Não há estudos para
0,9% 100ml 3,7,29 doses maiores. 3

Reconstituir
1g em 10ml de Tempo de Seguir padrão
Ceftriaxone Antibiótico Infecção 1g 12/12h 3,7,12 água destilada infusão: 40 a de 1mL/min ou
e diluir em SF 60 minutos 3,7,29 62,5mL/h. 7
0,9% 100ml 3,7

100 a 150mg/
dia (infusão
contínua).
Aumento
Dor aguda e Diluir em Infusão Rotação de punção
Cetamina Anestésico gradativo da
crônica SF 0,9% 100ml 7 contínua para evitar necrose. 7
dose (100mg/
dia), podendo
chegar até
2,4g/dia. 7

Via exclusiva.7,13
Pode ser
administrado a
cada 12h em bolus.
Anti-
30 a 90mg/ Não usar infusão
Cetorolaco AINE inflamatório; SF 0,9% 7 -
dia 7,13 contínua por mais
Dor; Febre 28
de 3 semanas (risco
de sangramento
leve no local da
punção).

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 38 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Idosos – começar
Agitação, 12,5 a 50mg a
Clorpromazina Antipsicótico Sem diluição 3 - com menor dose
náusea cada 4 ou 6h
possível 3

Aplicar em sítio
Para bolus: exclusivo.3,7,13,29
Dor; Dispneia;
Diluir 1 ampola Incompatibilidade
Anorexia;
de 1ml em SF com outros
Astenia;
0,9% 1ml ou medicamentos e
Náusea Bolus em
Diluir 1 ampola risco de irritação
e vômito; 2 a 16 mg/dia infusão
Dexametasona Corticoide de 2,5ml em SF
Hipertensão 3,7,12
lenta por 15 local.3,12,13
0,9% 2,5ml 3
intracraniana; minutos.29 Administrar de
Para infusão
Redução preferência pela
contínua: Diluir
de edema manhã – evita
em SF 0,9%
peritumoral 12,13 insônia e supressão
60ml7
adrenal. 3,29

Náusea e 50 a 100 mg/


Dimenidrato Antiemético SF 0,9% 1ml 3,7 - -
vômito dia 3,7

Aplicação Aplicar em sítio


1 a 2g até SF 0,9% 2 a lenta em exclusivo. Não
Dipirona Analgésico Dor
6/6h 3,7 20ml 3,7 bolus3 a misturar com outros
1 ml/min 7 medicamentos. 3,13

Reconstituir em
10ml de água Tempo de Seguir padrão
Ertapenem Antibiótico Infecção 1g 1x/dia 3,7,12 destilada e infusão: 30 a de 1mL/min ou
diluir em 50ml 60 minutos 3,7 62,5mL/h. 7
de SF 0,9% 3,7

Úlcera
Inibidor de Tempo de
gástrica com
Esomeprazol bomba de 40 mg/dia 28 SF 0,9% 50ml 28 infusão: 60 -
sangramento
prótons minutos 28
recorrente 28

Seguir padrão
Reduzir de 1mL/min ou
secreções Para bolus: 62,5mL/h. 7
Infusão em O medicamento
respiratórias; 20mg 8/8h 3 SF 0,9% 1ml 3
bolus ou
Escopolamina Antiespasmódico obstrução Dose máxima: ou Para infusão composto
contínua (50
intestinal; 120mg/dia. 12,29 contínua: (escopolamina
minutos) 3,7,12,13
cólicas; SF 0,9% 50ml 7 + dipirona) é
sialorreia 12,13,29 contraindicado via
SC. 12,29

Tempo de
SF 0,9% 100ml
Fenitoína Anticonvulsivante Convulsões 100mg 8/8h 3,7 3,7 infusão: 40 -
minutos 3

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 39 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Aplicar em sítio
exclusivo. 3,7,13
Sempre diluir
Tempo de (risco de necrose
100 a 600mg/
Fenobarbital Anticonvulsivante Convulsões SF 0,9% 100ml 3 infusão: 40- tecidual).7
dia 3,7
60 minutos 3,7 Pode causar dor e
irritação local – se
necessário, infundir
mais lentamente. 3

A critério
médico 3 Segundo Chirivela12,
Diluir 4 ampolas dose de bolus
Usual: 10 a Infusão
de 50mcg/ml
Fentanil Analgésico Dor 1000 mcg/dia. contínua 25mcg/30 min;
em
Resgate: ACM 3,7 dose de infusão 100
SF 0,9% 210ml 3
10mcg a a 4800 mcg/dia.
cada 1h. 7,13

Para bolus:
SF 0,9% 2ml 3 Seguir padrão de 1
Insuficiências Infusão em mL/min ou infusão
20 a 140 mg/ ou Para infusão
Furosemida Diurético de alça cardíaca e bolus ou
dia 3,7,12,29 contínua: 20mg contínua para
renal; Edema contínua 3
em 10ml SF volumes maiores. 7
0,9% 7

Tempo de Não misturar


Náusea e 3 a 9 mg/ SF 0,9% 50 ml
Granisetrona Antiemético infusão: > 10 com outros
vômitos dia 7,13 7,13
minutos. 7,13 medicamentos.

Para idosos frágeis,


começar com
a menor dose
possível. 3
SF 0,9% 5ml 3 Se a solução tiver
Agitação;
Delirium; 0,5 a 30 mg/ concentração de
Haloperidol Antipsicótico Concentração -
Náusea e dia 3,7 haloperidol ≥ 1mg/
máxima para SF
vômito 12,13,29 ml, usar água
0,9%: 1mg/ml. 7
destilada como
diluente (risco de
precipitação com
SF 0,9%) 3,7,12,13

Até 25mg/ Fotossensível. 3,7


dia 3,7 ou Pode causar
Agitação; irritação local. 3,7,13,29
25 a 300mg/ Infusão em
Ansiedade;
Levomepromazina Antipsicótico dia 12 ou SF 0,9% 30ml 3,7 bolus ou Em altas doses,
Náusea e
5 a 200mg/ contínua 3 pode causar
vômito 12,13,29
dia (para hipotensão
sedação) 29 ortostática. 29

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 40 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Seguir padrão
de 1mL/min ou
62,5mL/h. 7
A solução é
Tempo de estável por 3h
500mg a 1g SF 0,9% 100ml
Meropenem Antibiótico Infecção infusão: 40-
8/8h 3,7 3,7
em temperatura
60 minutos 3
ambiente após
reconstituição
ou por 15h sob
refrigeração. 3

10 a 120mg/
dia,29 SF 0,9% 2ml 3 Infusão Pode causar
Náusea e irritação local. 3,7
10 a 20mg / ou em bolus 3
Metoclopramida Antiemético vômito; Estase
6 a 8h ou 30 SF 0,9% 50 ml ou em 30 Monitorar efeitos
gástrica 12,13
a 60mg / 4 a 7,29
minutos 7,29 extrapiramidais.
6h em bolus

Para bolus: Primeira escolha


Agitação e Para bolus: 1 como sedativo.
SF 0,9% 5ml
confusão em a 5mg Infusão em Titular dose de
ou
pacientes ou bolus 3 ou
Midazolam Benzodiazepínico Para infusão acordo com os
terminais; Para infusão contínua
contínua: sintomas. 29
Sedação; contínua: 10 a ACM3,7
SF 0,9% 100ml Pode causar
Convulsões 12,13 120 mg/dia 3,7 3,7
irritação local.3

Não existe dose


máxima.3,29 Iniciar
com a menor
Dose inicial: Para bolus: Infusão em dose possível em
Para bolus: 2 Não requer bolus ou idosos, frágeis ou
Dor; a 3 mg 4/4h diluição 3,7 contínua 3 com doença renal
Analgésico
Morfina Dispneia; ou ou
opioide crônica ou hepática.
Diarreia 12,13 Para infusão Para infusão Velocidade
contínua: 10 a contínua: de infusão: Pode aumentar o
20 mg/dia 3,7 SF 0,9%3,7 120ml 5ml/h intervalo entre as
aplicações em casos
de insuficiência
hepática ou renal. 3

Antissecretório Aplicar em sítio


– Redução exclusivo.
Para bolus:
da secreção Armazenamento
SF 0,9% 5ml
gástrica, Infusão em
Análogo de 300 a 900 ou em refrigerador
Octreotide motilidade, bolus ou
somatostatina mcg/dia 3,7,29 Para infusão – deve atingir
vômitos contínua 3,7
contínua: a temperatura
associados
SF 0,9% 100ml 3 ambiente antes da
a obstrução
intestinal 29 administração. 3,29

Usar o próprio Aplicar em


Infusão lenta sítio exclusivo.7
Inibidor de diluente para
Protetor 40mg 1x/ em 4 horas.7
Omeprazol bomba de reconstituição.3 Não combinar
gástrico dia 3,7 Dose única
prótons Diluir em SF com outros
diária. 3
0,9% 100ml. 7,30 medicamentos.3

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 41 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Seguir padrão
de 1mL/min ou
62,5mL/h. 7
Tempo de
Náusea e 8 a 24 mg/ SF 0,9% 30 a Risco de
Ondansetrona Antiemético infusão: 30 a
vômito 12,13 dia 13,29 50ml 7 prolongamento
60 minutos 3,7
do intervalo QT
em infusões
mais rápidas3

Para bolus: Infusão lenta.


100 a 600 Infusão em
SF 0,9% 20ml
Analgésico mg/dia 3,7,13 bolus (120 Seguir padrão
Tramadol Dor ou Para infusão
opioide ou 50 a 400 minutos)7 ou de 1mL/min ou
contínua:
mg/dia 12 contínua3 62,5mL/h. 7
SF 0,9% 100mL 3,7

Legenda: AINE – Anti-inflamatório não esteroidal; SF – Soro Fisiológico; ACM – À critério médico.

Tabela 2 – Soluções injetáveis de grande volume e eletrólitos

SOLUÇÃO DOSE DILUIÇÃO INFUSÃO OBSERVAÇÕES

Máximo de
Volume máximo de
Soro fisiológico 0,9% 1500 ml/24h -
infusão = 62,5 ml/h 3
por sítio 3 Volumes máximos por sítio3
- Subclavicular/peitoral: até 250 ml/dia
Soro glicofisiológico Máximo de
Volume máximo de - Abdominal: até 1000 ml/dia
(2/3 SG 5% + 1500 ml/24h -
infusão = 62,5 ml/h 3 - Interescapular: até 1000 ml/dia
1/3 SF 0,9%) por sítio 3
- Deltoidea: até 250 ml/dia
Máximo de - Anterolateral da coxa: até 1500 ml/dia
Volume máximo de
Soro glicosado 5% 1000 ml/24h -
infusão = 62,5 ml/h 3
por sítio 3

Sempre requer diluição.3


SF 0,9% ou Volume máximo de
NaCl 20% 10 a 20 ml/dia 3
Não pode ser administrado em diluição
SG 5% 1000 ml 3 infusão = 62,5 ml/h 7
com volume inferior a 100ml.¹

SF 0,9% ou Sempre requer diluição. 3


Volume máximo de
KCl 19,1% 10 a 15 ml/dia 3
SG 5% 1000 ml 3 Não pode ser administrado em diluição
infusão = 62,5 ml/h 7
(até 40 mEq/L) 7 com volume inferior a 100ml.¹

Legenda: SF – Soro Fisiológico; SG 5% – Soro Glicosado 5%.

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 42 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

CONCLUSÃO do hospital e encontra-se disponível -definition-of-palliative-care/definition/


Apesar de ter importância na na página da intranet do HNMD. 3. Di Tommaso ABG, Burlá C, Azevedo DL,
assistência aos pacientes em cuida- O intuito é que esse protocolo Santos G, Dias LM, Py L, et al. O uso da via
dos paliativos, com impacto favorá- possa guiar com segurança a admi- subcutânea em geriatria e cuidados palia-
vel na sua qualidade de vida, o uso nistração de medicamentos e solu- tivos: um guia da SBGG e da ANCP para
da via subcutânea e cuidados palia- ções pela via subcutânea, de forma a profissionais. 2. ed. Rio de Janeiro: SBGG;
tivos ainda parece ser pouco difun- atingir o grande objetivo dos cuidados 2017. 60 p. ISBN: 978-85-92674-00-7
dido e utilizado pelos profissionais paliativos, que é melhorar a qualidade 4. Vidal M, Hui D, Williams J, Bruera E.
de saúde. Para enfrentar a falta de de vida de seus pacientes. A prospective study of hypodermoclysis
conhecimento, visto que não é um performed by caregivers in the home
tema comumente discutido durante REFERÊNCIAS setting. J Pain Symptom Manage [Inter-
a formação médica, a Clínica Mé- 1. Academia Nacional de Cuidados Palia- net]. 2016 Out [acesso em: 20 dez 2019];
dica em colaboração com o Servi- tivos (Brasil). Manual de Cuidados Paliati- 56(4):570-4.e9. Disponível em: https://
ço de Controle e Informação sobre vos ANCP. 2. ed. atual. e aum. São Paulo: reader.elsevier.com/reader/sd/pii/S0885
Medicamentos do Departamento de ANCP; 2012. 590 p. 392416302949?token=3110828B43FA59
Farmácia do HNMD elaboraram um 2. Global Consensus based palliative care 478708E19A6D6741CC8386418D582F86
protocolo institucional que orienta a definition [Internet]. Houston, TX: Interna- 71795E2548EE6C1DBF5D93278DC1C370
correta prescrição e administração de tional Association for Hospice and Pallia- AF33173B824F159108&originRegion=us-
medicamentos pela via subcutânea, tive Care; 2018 [acesso em: 19 dez 2019]. -east-1&originCreation=20210830165511
que foi submetido e aprovado pela Disponível em: https://hospicecare.com/ 5. Oliveira RA. Cuidado paliativo: cader-
Comissão de Farmácia e Terapêutica what-we-do/projects/consensus-based- nos Cremesp [Internet]. São Paulo: Con-
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 43 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

selho Regional de Medicina do Estado subcutánea en cuidados paliativos. Farm YRm8w7WVQFKMHnjpnL4zL7R/abstract/


de São Paulo; 2008 [acesso em: 19 dez Hosp [Internet]. 2015 abr [acesso em: 19 dez ?lang=pt&stop=next&format=html
2019]. 689 p. Disponível em: https://www. 2019];39(2):71-9. Disponí­vel em: https://scie- 18. Queensland Health. Centre for Pallia-
cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes& lo.isciii.es/pdf/fh/v39n2/02original01.pdf tive Care Research and Education. Gui-
acao=detalhes&cod_publicacao=46 13. Bruno VG. Hipodermóclise: revisão delines for subcutaneous infusion device
6. Pontalti G, Rodrigues ES, Firmino F, Fa- de literatura para auxiliar a prática clínica. management in palliative care and other
bris M, Stein MR, Longaray VK. Via sub- Einstein (São Paulo) [Internet]. 2015 [acesso settings [Internet]. Brisbane: Queens-
cutânea: segunda opção em cuidados em: 20 dez 2019];13:122-8. Disponível em: land Health; 2010 [acesso em: 20 dez
paliativos. HCPA [Internet]. 2012 [acesso https://journal.einstein.br/wp-content/ 2019]. 2nd. ed. 68 p. Disponível em: ht-
em: 19 dez 2019];32(2):199-207. Disponí- uploads/articles_xml/1679-4508-eins- tps://www.yumpu.com/en/document/
vel em: https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/ S1679-45082015000100022/1679-4508- read/9819667/guidelines-for-subcuta-
view/26270/19181. eins-S1679-45082015000100022-pt. neous-infusion-device-management-in-
7. Vasconcellos CF, Milão D. Hipodermó- pdf?x56956 19. Avilés RG, Antiñolo FG. Uso de la
clise: alternativa para infusão de medica- 14. Mitrea N, Mosoiu D, Vosit-Steller J, vía subcutánea en cuidados paliativos.
mentos em pacientes idosos e pacientes Rogozea L. Evaluation of the optimal po- SECPAL [Internet]. 2013 oct [acesso
em cuidados paliativos. PAJAR [Internet]. sitioning of subcutaneous butterfly when em: 20 dez 2019];4:58 p. Disponível
2019 [acesso em: 19 dez 2019];7(1):e32559. administering injectable opioids in cancer em:http://www.cuidar ypaliar.es/wp-
Disponível em: http://revistaseletronicas. patients. Clujul Medical [Internet]. 2016 -content/uploads/2016/09/Uso-de-
pucrs.br/ojs/index.php/pajar/. [acesso em: 20 dez 2019];89(4):486-92. -la-v%C3%ADa-subcut%C3%A1nea-
8. Nunes PMSA, Souza RCS. Efeitos ad- Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih. -en-cuidados-paliativos.-
versos da hipodermóclise em pacien- gov/pmc/articles/PMC5111488/ -Monograf%C3%ADas-SECPAL.pdf
tes adultos: revisão integrativa. Rev Min 15. Parsons HA, Shukkoor A, Quan H, 20. Baker J, Dickman A, Mason S, Eller-
Enferm [Internet]. 2016 [acesso em: 20 Delgado-Guay MO, Palmer JL, Fainsin- shaw J. The current evidence base for
dez 2019];20:e951. Disponível em: http:// ger R, et al. Intermittent subcutaneous the feasibility of 48-hour continuous
reme.org.br/artigo/detalhes/1084. opioids for the management of cancer subcutaneous infusions (CSCIs): a sys-
9. Freitas EV, Py L. Tratado de Geriatria e pain. J Palliat Med [Internet]. 2008 Dez tematically-structured review. PLoS One
Gerontologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Gua- [acesso em: 20 dez 2019];11(10):1319-24. [Internet]. 2018 Mar 14 [acesso em: 20
nabara Koogan; 2017. 1696 p. ISBN: 978- Disponível em: https://www.ncbi.nlm. dez 2019];13(3):e0194236. Disponível
85-277-2949-9. nih.gov/pmc/articles/PMC2982713/pdf/ em: https://journals.plos.org/plosone/
10. Caccialanza R, Constans T, Co- jpm.2008.0155.pdf article?id=10.1371/journal.pone.0194236
togni P, Zaloga GP, Pontes-Arruda A. 16. Forestier E, Paccalin M, Roubaud- 21. Dickman A, Bickerstaff M, Jackson R,
Subcutaneous infusion of fluids for -Baudron C, Fraisse T, Gavazzi G, Gaillat J. Schneider J, Mason S, Ellershaw J. Identi-
hydration or nutrition: a review. J Pa- Subcutaneously administered antibiotics: fication of drug combinations administe-
renter Enteral Nutr [Internet]. 2018 Fev a national survey of current practice from red by continuous subcutaneous infusion
[acesso em: 20 dez 2019];42(2):296- the French Infectious Diseases (SPILF) that require analysis for compatibility and
307. Disponível em: https://aspen- and Geriatric Medicine (SFGG) society stability. BMC Palliat Care [Internet]. 2017
journals.onlinelibrar y.wiley.com/doi/ networks. Clin Microbiol Infect [Internet]. [acesso em: 20 dez 2019];16(1):1-7. Dispo-
epdf/10.1177/0148607116676593 2015 [acesso em: 19 dez 2019];21(4):370- nível em: https://link.springer.com/con-
11. Sasson M, Shvartzman P. Hypoder- e1-e3. Disponível em: https://www.clini- tent/pdf/10.1186/s12904-017-0195-y.pdf
moclysis: an alternate infusion technique. calmicrobiologyandinfection.com/arti- 22. López LP, Armiñana AP, Saéz AR.
Am Fam Physician [Internet]. 2001 Nov cle/S1198-743X(14)00103-7/fulltext. Utilización de la vía subcutánea para el
1 [acesso em: 19 dez 2019];64(9):1575. 17. Azevedo EF, Barbosa LA, Cassiani SHB. control de síntomas en un centro de sa-
Disponível em: https://www.aafp.org/ Administração de antibióticos por via sub- lud. ten Primaria [Internet]. 2001 [acesso
afp/2001/1101/afp20011101p1575.pdf cutânea: uma revisão integrativa da lite- em: 20 dez 2019];28(3):185-7. Disponí-
12. Chirivella CM, Lucena FJR, Tamargo GS, ratura. Acta Paul Enferm [Internet]. 2012 vel em: https://core.ac.uk/download/
López ACM, Hernández MM, Ruiz AN. [acesso em: 19 dez 2019];25:817-22. Dis- pdf/82270693.pdf
Administración de medicamentos por vía ponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/ 23. Stuart-Harris R, Joel SP, McDonald P,
Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 44 -
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
O uso da via subcutânea em cuidados paliativos:
elaboração de um protocolo institucional

Currow D, Slevin ML. The pharmacokine- vistahupe/article/view/8948/6841 Medicina (Ribeirão Preto) [Internet]. 2018
tics of morphine and morphine glucuro- 26. Instituto Nacional do Câncer (Brasil). [acesso em: 20 dez 2019];51(1):55-68. Dis-
nide metabolites after subcutaneous bo- Terapia subcutânea no câncer avançado ponível em: https://www.revistas.usp.br/
lus injection and subcutaneous infusion of [Internet]. Série Cuidados Paliativos. Rio rmrp/article/view/150079/147155
morphine. Br J Clin Pharmacol [Internet]. de Janeiro: INCA; 2009 [acesso em: 19 30. Broadhurst D, Cooke M, Sriram D,
2000 [acesso em: 20 dez 2019];49:207- dez 2019]. 32 p. Disponível em: https:// Gray B. Subcutaneous hydration and
14. Disponível em: https://www.ncbi.nlm. bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ medications infusions (effectiveness,
nih.gov/pmc/articles/PMC2014910/pdf/ inca/Terapia_subcutanea.pdf safety, acceptability): a systematic re-
bcp0049-0207.pdf 27. Lüllmann H, Mohr K, Ziegler A, view of systematic reviews. PloS One
24. Gomes NS, Silva AM, Zago LB, Silva Bieger D. Color atlas of pharmacology. [Internet]. 2020 Aug 24 [acesso em: 15
ÉC, Barichello E. Conhecimentos e práticas 2nd ed. Germany: Thieme, 2000. ISBN: nov 2020];15(8):e0237572. Disponível
da enfermagem na administração de flui- 0-86577-843-4. em: https://journals.plos.org/plosone/
dos por via subcutânea. Rev Bras Enferm. 28. Duems-Noriega O, Ariño-Blasco S. article?id=10.1371/journal.pone.0237572
2017 set [acesso em: 20 dez 2019];70:1096- Subcutaneous fluid and drug delivery: 31. Agência Nacional de Vigilância Sa-
105. Disponível em:https://www.scielo.br/j/ safe, efficient and inexpensive. Rev Clin nitária (Brasil). Resolução n. 1.188, de 20
reben/a/HVSWf4bxZMZHmpqY5T9LPVd/ Ger. Rev Clin Ger [Internet]. 2015 [acesso de abril de 2020 [Internet]. Adota medi-
abstract/?lang=pt. em: 20 dez 2019];25(2):117-46. Disponível das preventivas. Diário Oficial da União.
25. D’Aquino M, de Souza RM. Hipoder- em: http:/www.cambridge.org/core. Brasília (DF), 22 abr 2020 [acesso em:
móclise ou via subcutânea. Rev HUPE 29. de Cássia Quaglio R, Varallo FR, da 15 nov 2020]. Sec1:86. Disponível em:
(UERJ) [Internet]. 2012 [acesso em: 19 dez Costa Lima NK, Junqueira AF, Ianhez Jú- https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/
2019];11(2):89-93. Disponível em: https:// nior E, Matumoto S, et al. Medicamentos resolucao-re-n-1.188-de-20-de-abril-
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re- passíveis de infusão por hipodermóclise. -de-2020-253344081

Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, v. 82, n.1, p. 30-45, jan./dez. 2021
- 45 -

Você também pode gostar