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Nome do Aluno: Alexsander Antonio Ferreira – RA: 802214

Matéria: Lógica I – Professor: Bento Prado Neto

UFSCAR – Graduação em Filosofia

Resposta às Questões da Primeira “Provinha” de Lógica I

1) Apresente o paradoxo do falso, explorando a insuficiência das


alternativas que encontram um (ou mais objetos) para o discurso falso.

R: O Sofista de Platão posiciona em liça a figura do Estrangeiro de Eléia, esse


móbil do que será o dito Paradoxo do Falso. A argumentar contra a sofística
praticada na Ágora grega, na livre praça do pensamento helênico, ele atribui
aos sofistas um papel embusteiro que não faz, senão, ímpia semostração de
uma razão parca em rédeas e que a nenhum princípio de verdade, de constrita
genuinidade, respeita o exercício. A todos concede simulacros de
fidedignidade, e, pelo argucio astucioso de sua retórica, aparenta como
genuíno o que no núcleo é falacioso: essa posição bambeia entre extremos: ela
atém, num mesmo assalto, tanto o relativismo da vanguarda – cuja a inclinação
é heraclitiana – quanto o eleatismo, monismo categórico – de sabor
parmenidiano.

Dito o que fora anteriormente expresso no último parágrafo, prorrompe a


necessidade de conceituar, distintamente, o que condiz à veracidade ou à
falsidade do discurso. Qual princípio pode ser chamado à atenção a fim de
essa querela acoimar-nos? Ora, houve-se dito que o discurso verdadeiro diz o
que “é”, mas, como o sapientíssimo Parmênides há tempos já houvera deixado
em relevo, de que modo posso fazer o justo contrário disso: de que modo
posso proferir letra sequer que se dirija ao não-ser? A condição de
significatividade que o discurso instaura frente à realidade já solapa, à primeira
vista, a possibilidade de que ele próprio seja falso.
Essa dificuldade paroxística engendra-se em clássicas objeções e afirmações
“questionáveis”: “eu estou mentindo”; “toda asserção é mentirosa”, etc. Em
todas essas proposições, a circularidade viciosa bota as próprias asserções a
perder frente à nulidade da veracidade que, no entanto, se não for levada em
conta, impossibilita esta mesma negação proposicional. Um discurso que nega
a si mesmo, como é óbvio, rebenta as pilastras de sua própria negação. Ainda
– e por último -, tem-se algumas outras dificuldades que o Paradoxo do Falso
interpõe em campo. Exibamos uma delas: a questão de uma definição falsa
que, no entanto, detém parcelas de verdade; exemplo: “o elefante é rosa”. É
manifesto a existência de ambos o sujeito – elefante – e o seu predicado – rosa
– na realidade sensível; no entanto, nesse enunciado, não fiz mais do que
aquinhoar elementos que, não obstante existirem, nunca podem ser,
conjuntamente, observados na realidade: ora, o todo do enunciado é um
símbolo que se resolve além do que os seus elementos comportam, a princípio.
Afinal, não existe elefante rosa: e o enunciado descobre-se falso.

2) Apresente o paradoxo do verdadeiro, explorando a insuficiência das


alternativas que procuram a sua solução pela eliminação ou substituição
do verbo “é”.

R: Ora, instancia-se que, às lentes do Paradoxo do Verdadeiro, o Ser deve


fazer-se verificável – isto é, dentro de um discurso que distenda a significação
de seu conceito num discurso que não seja puramente tautológico (daquele
grau zero: “o Ser é”: mas, ora, isso é uma tautologia! Em nada ela desenvolve
nosso saber sobre o objeto) – por meio de algo que seja, como é aparente,
extrínseco a si mesmo; como pode ser – e o Estrangeiro há de alumiar-nos –
que A seja B, sem incorrer no não-ser, sem incorrer – e incorrê-lo seria
desbaratar à esterilidade signalética do discurso – no imediato antinômico
daquele termo (A) pré assumido. É que aquela concepção de ser – e nós o
sabemos: Platão aduziu-a de Parmênides – tem de ser remodelada: a resposta
ao Paradoxo do Verdadeiro encontrará, aí, o gérmen de seu alicerce.
Quanto à questão da cópula: do “é”. É tácito que na Grécia clássica ele não era
categoria indispensável à conjunção de sentido, no que remonta associar, num
enunciado, sujeito e predicado. Sócrates Branco: o sentido mantém-se paralelo
àquele de “Sócrates é branco”. Dirimir ou substituir o verbo, enquanto cópula,
não sabota o que o adjetivo – branco, no caso – doa-lhe à significação
ontológica, de modo que o problema primeiramente exposto ainda se comporta
à vista. Em sentido estrito, a cópula – “é”, “tem”, etc. – remonta ao verbo “Ser”
e, enquanto categoria discursiva, não respeita senão a indústria da formatação
lógica dos enunciados dentro do silogismo categórico ou da proposição
normativa. Ou seja: retirar a cópula da proposição não a anui garantir resolver
a dificuldade que dita uma relação de correspondência entre A e B. Como no
caso de “Sócrates Branco”, ou em “Sócrates, o branco” (ao qual a cópula é
comutada a um artigo), ou, ainda, em Sócrates=branco (signo de igualdade;
literalmente a, ousamos o dizer, inequívoca correspondência ontológica entre
“coisas distintas” – se bem que, tendo-se isso em conta, elas não são, de fato,
distintas), o vínculo que ajunta A e B se sustém alteado e, como é claro,
sofregamente irresolvido.

3) Descreva a solução do paradoxo do verdadeiro, tal como proposta pelo


Estrangeiro

R: O que deslinda o embaraço motivado pelo Paradoxo do Verdadeiro é a


noção de participação. Um exemplo pode exemplificar-nos essa condição:
quanto ao conceito de cachorro: posso disjungi-lo em tantos outros como
mamífero, canino, animal, etc. É aparente que, neste exercício de significação
– do tipo: “um cachorro é um canino, um mamífero, etc.”, – tenho de fazer
apelo a “seres” que não são, propriamente, “o cachorro” outrora chamado a
palanque. E daí a gema de nossa resposta: o cachorro é, em certo nível,
idêntico – mas também distinto (do ponto de vista ontológico) – dos conceitos
de animal, canino, mamífero, etc. Entre esses conceitos, esses “seres”, há uma
paridade verificável, mas, no máximo, parcial: o cachorro faz parte, mesmo que
parcialmente, do ser daquelas outras categorias predicativas.
Aquele “grau zero” – “O Ser é” –, ele retém-se a tudo: em sentido
generalíssimo, as coisas são. Mas, ora, teremos de admitir, então, que o Ser
comporta um sentido relativo, que não aquela inextrincável, sempre-idêntica
figuração parmenidiana. Neste sentido, o “cachorro” não pode ser resumido,
unicamente, pelo seu conceito: expressamo-lo, em sua inteireza, a partir da
cumplicidade ontológica na qual ele se vê, indelevelmente, cingido com outros
seres. Faz-se, por covalência, admitir que também o não-ser, aqui, reforma
papel salutar: afinal, admitir o ser-relativo dá no mesmo que admitir um não-
ser-relativo. Quebranta-se, assim, o monólito que Parmênides houvera
conceituado como “Ser”, e, junto disso, ergue-se tenda para que A seja B: que
ele seja, em certa medida, não-A, e que B seja, em certa medida, A.

Este é o parricídio de Platão: instanciar, frente o paradigma parmenidiano,


uma noção relativa de ser e não-ser: de algo que possa se portar no interstício
entre eles.

4) Descreva a solução do paradoxo do falso, tal como proposta pelo


Estrangeiro

R: O grande Parmênides o disse: não há de se profetizar nenhum discurso, que


seja, sobre o não-ser. Desta afirmativa, o sofista resguarda os meios de imbuir
a “falsidade” do seu discurso com a abscôndita armadura da “verdade retórica”.
Mas, até aí, seria injusto, filistinismo mesmo, abster a empresa do sofista,
conquanto não tenhamos atestado, com diligência e deferência, o que altiva à
verdade o discurso que laboramos. Quanto a isso, vejamos o itinerário
argumentativo que o Estrangeiro lucubra em fins de intencionar o que é um
enunciado verdadeiro, e no que constitui, no imo mesmo, a veracidade que ele
acusa.

Os alicerces de uma resolução entendem-se sobre a simbolização que o


discurso se presta a representar, face ao que a realidade lhe atribui à
sapiência. Dito disso, estabeleçamos que, num enunciado, articulam-se
relações ora afirmativas, ora negativas entre sujeito e predicado: ato de
simbolização ao qual me presto à adjunção de dois séquitos gramaticais
mutuamente coligados na ordem do discurso (de modo que Sócrates – sujeito
– possa, no enunciado formulado, ser ou não-ser branco – predicativo do
sujeito: “Sócrates é branco”; “Sócrates não é branco”).

Feita essa exposição, neste intermédio, gostaríamos de asseverar: todo


enunciado, como é claro, constitui-se tendo em base um ato de vontade, de
uma volição assertiva que se arqueie a expressar o que à escolha aferiu-se
dentro de uma tecitura simbólica – o enunciado torna-se significativo na exata
medida em que se resolve exteriorizar uma dentre duas possibilidades
contiguamente excludentes entre si. Nesse sentido, a volição enunciativa fá-la
significativa; em outra medida, é a correspondência entre enunciado e
realidade, porém, quem o torna, o enunciado, verdadeiro: porquanto a
proposição “Sócrates é branco” de fato atém-se a ostentar aquilo que é mo
dado: isto é, dado na realidade para-discursiva (de modo que tanto S – sujeito
– e P – predicado – existam na realidade, o seu resultado – R – também será
verdadeiro).

Neste ponto termo da argumentação, pode-se dizer que a inteligibilidade da


realidade é quem, em última instancia, permitir-nos-á sobrevir um discurso
patentemente faturado, aguçado, à luz do que há de legitimamente cognoscível
e peremptoriamente razoável na experiência extramental. Esse é um tema
outro, dificuldade outra: mas seria bom atestar que é ele quem serve como
base, porto seguro mesmo, de que eu possa confiar a veracidade do meu
discurso ao que presentemente a realidade sensível me dispõe ao
entendimento e à sensibilidade.

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