A pergunta que dá elance à investigação de Skinner - Porque as pessoas se
comportam de uma certa maneira? – no seu “Sobre o Behaviorismo”, é
procedida, em primeiro momento, por uma presentação das concepções que, à época, se distinguiam e se antepunham ao Behaviorismo radical, escola do qual ele [Skinner] fora o criador e principal idealizador.
É o Mentalismo a concepção teórica à qual Skinner primeiro se interpõe. Para
aquele, a questão de Skinner pode ser interpelada pelo construto de um mundo de propensões essencialmente ideais: um mundo próprio à mente, feito por ela. Como que prontamente, Skinner sublinha um problema que obscurece a ordinária validade de se apelar a uma tese de tal teor: como fenômenos mentais, compreendidos sobre um paradigma específico de desdobramento, podem ser influenciados por fatorações físicas presentes no mundo externo ao do sujeito? E, dentro disto, o que essas linhas introdutórias alavancam, afinal? Sumamente, a disjunção entre um mundo físico e um mundo mental que mutuamente se correlacionam, se articulam, e, mesmo assim, não fazem parte do mesmo domínio, epistemologicamente falando. Isso implica alguns problemas: primeiro: assumir que a causação do comportamento se reduz à situação indiscernível do que o primado do pensamento e da mente comandam; segundo: assumir este ambiente quase metafísico sem poder lançar mão de mecanismo que possam nele introjetar-se e promover investigação. Enfim, e covalente a isso, há o desprezo que, obliquamente, o Mentalismo instiga contra o ambiente; ao assumir o baluarte da mente como mote do que flexiona o comportamento, acaba-se postando à deriva o que a história e a situação atual do ambiente infundem ao sujeito que se comporta. A esta última – e talvez mais grave – tribulação, o Behaviorismo Metodológico distingue uma resolução apraz.
Diametralmente oposto ao Mentalismo, o Behaviorismo radical situa as causas
materiais como componentes fulcrais à determinação do comportamento de um certo ente. É na história físico-ambiental que antepõem o sujeito aonde o Behaviorismo Metodológico assente a égide de seu estudo. Sobre a verve da Psicologia do outro, considerar-se-á os fatos que, na vida de alguém, podem se reportar a fenômenos ambientais concretos asseverados em sua história. Exclui-se, deste modo, o ambiente introspectivamente subjetivo, porquanto se assume não se poder adentrá-lo. É neste último ponto aonde a escola de Skinner interpela sua distinção: como uma mediação entre ambos o Mentalismo e o Behaviorismo Metodológico – e mais próximo deste do que daquele -, ele entende a importância axial do que a história e o contexto ambiental encucam à ação do comportamento humano, sem, no processo, escamotear a possibilidade de que os “meandros” internos do sujeito possam ser debruçados à investigação. Neste sentido, o Behaviorismo Radical questiona a validade do que a introspecção encontra nas superfícies internas à “pele” dos homens sem, no entanto, assumir a posição de um âmbito imaterial e de dimensões metafísicas: não se observa a mente, como os mentalistas a conceituam, somente o comportamento do organismo, de modo que, o que há internamente [ao organismo] é produto colateral da história genética e ambiental do sujeito.
1) O Segundo capítulo do trabalho de Skinner situa-o naquilo que o põe um paço
à frente da posição metodológica do Comportamentismo: investigar as veredas internas do sujeito sem, no processo, deflagrar no Mentalismo. Sentimentos e percepções, ele assume-os como medidas produzidas não por um mundo situado paralelamente às dimensões da fisicalidade e da concretude, mas, pelo contrário, justamente como rebento destas duas.
Os esforços de Skinner partem de uma exposição acerca do fenômeno da fala
e, mais especificamente, da atribuição de adjetivos a certos fenômenos que ao sujeito acometem. É no âmbito público aonde primeiro se apreende como nomear tais embargos (até porque o léxico que adjetiva a dor, o opróbio, etc. provêm, a princípio, de termos que designam flagelações ou torturas coletivamente exercidas); um corte, um golpe, eles são predicados como doloridos: a criança apreende que assim deve predicá-los. Enfim, depois, no contexto privado, a criança poderá correlacionar a semelhança dos eventos – e dos estímulos - e indicar este ou aquele revés como atributo desta ou aquela situação – a certidão da correlação advém do quão próximo o adjetivo despendido publicamente é, depois, mobilizado intimamente. Os termos utilizados para denominar emoções, por outro lado, são majoritariamente metáforas que, de certo modo, remetiam à causação de tais estados: não se é comprimido quando se está triste, e, mesmo assim, depressão é o termo que predica este estado de melancolia; os membros de alguém “tenso” não são cruciados pra fora de seu corpo e, mesmo assim, tenso é como o predicamos. Em suma, estes ditos “estados internos”, geralmente compressos num ambiente privado, idealmente fabricado, são desígnios inferidos a partir de práticas públicas – a partir de um certo contexto histórico-material - que providencia ao sujeito meios de solucionar, verbalmente, a expressão de certos fenômenos que a ele concernem. É, afinal, pelas idiossincrasias do comportamento que se apreende a distinguir, dos efeitos colaterais, certas condições descritivas (com mais certeza predico de faminto aquele que come com ânimo e voracidade, e não aquele que há muito não come); do mesmo modo, estendo a causa como significante do que estado por ela causado: alguém que está excitado à medida que fora instigado, alertado, etc. Em suma: o método de Skinner pra tratar sobre o mundo interno parte de uma investigação sobre as contingências histórico-materiais que levam à concepção de predicados emblemáticos como dor, ódio, temor, etc. que, no entanto, são, como ele demonstra, distensões lexicais de verbos que conluiam a estes estados. Em outro âmbito, Skinner vê tais estados internos como fenômenos que, na verdade, são conceituados primeiro publicamente – e apreendidos primeiro publicamente, também -, para depois poderem ser empregados no ambiente íntimo. Enfim, tais estados de aparência esotérica são faturas publicamente enformadas, histórico-materialmente determinadas e, sobretudo, predicações lexicais desgarradas dos hemisférios puramente mentais que os mentalistas reclamam como o plaino de onde elas advêm.