História da Psicologia e Sistemas Psicológicos – Behaviorismo - Profa.
Débora Cristina Morato Pinto
Data: 14/04/2022 Alexsander Antonio Ferreira RA: 802214 Bruno Lovetro, RA: 739451
ATIVIDADE FINAL
1) As duas afirmações acima esquematizam as posições de Skinner face a dois
movimentos: o mentalismo e o behaviorismo metodológico. Pensando em termos de recusa, aceitação parcial e aceitação total, expliquem os principais argumentos levantados no primeiro capítulo de Sobre o Behaviorismo que sustentam as duas posições. (4,0 pontos).
A pergunta que dá elance à investigação de Skinner, “Porque as pessoas se
comportam de uma certa maneira?” no seu Sobre o Behaviorismo, é procedida, em primeiro momento, por uma apresentação das concepções que, à época, se distinguiam e se antepunham ao Behaviorismo radical, escola da qual ele, Skinner, fora o criador e principal idealizador. É o Mentalismo a concepção teórica à qual Skinner primeiro se interpõe. Para aquele, a questão de Skinner pode ser interpelada pelo constructo de um mundo de propensões essencialmente ideais: um mundo próprio à mente, feito por ela. Como que prontamente, Skinner sublinha um problema que obscurece a ordinária validade de se apelar a uma tese de tal teor: como fenômenos mentais, compreendidos sobre um paradigma específico de desdobramento, podem ser influenciados por fatorações físicas presentes no mundo externo ao do sujeito? E, dentro disso, o que essas linhas introdutórias alavancam, afinal? Sumamente: a disjunção entre um mundo físico e um mundo mental que mutuamente se correlacionam, se articulam e, mesmo assim, não fazem parte do mesmo domínio, epistemologicamente falando. Isso implica alguns problemas; primeiro: assumir que a causação do comportamento se reduz à situação indiscernível do que o primado do pensamento e da mente comandam; segundo: assumir este ambiente quase metafísico sem poder lançar mão de mecanismo que possam nele introjetar-se e promover investigação. Enfim, e covalente a isso, há o desprezo que, obliquamente, o Mentalismo instiga contra o ambiente; ao assumir o baluarte da mente como mote do que flexiona o comportamento, acaba-se postando à deriva o que a história e a situação atual do ambiente infundem ao sujeito que se comporta. A esta última – e talvez mais grave – tribulação, o Behaviorismo Metodológico distingue uma resolução apraz. Diametralmente oposto ao Mentalismo, o Behaviorismo radical situa as causas materiais como componentes fulcrais à determinação do comportamento de um certo ente. É na história físico-ambiental que antepõem o sujeito aonde o Behaviorismo Metodológico assente a égide de seu estudo. Sobre a verve da Psicologia do outro, considerar-se-á os fatos que, na vida de alguém, podem se reportar a fenômenos ambientais concretos asseverados em sua história. Exclui-se, deste modo, o ambiente introspectivamente subjetivo, porquanto se assume não se poder adentrá-lo. É neste último ponto aonde a escola de Skinner interpela sua distinção: como uma mediação entre ambos o Mentalismo e o Behaviorismo Metodológico – e mais próximo deste do que daquele -, ele entende a importância axial do que a história e o contexto ambiental encucam à ação do comportamento humano, sem, no processo, escamotear a possibilidade de que os “meandros” internos do sujeito possam ser debruçados à investigação. Neste sentido, o Behaviorismo Radical questiona a validade do que a introspecção encontra nas superfícies internas à “pele” dos homens sem, no entanto, assumir a posição de um âmbito imaterial e de dimensões metafísicas: não se observa a mente, como os mentalistas a conceituam, somente o comportamento do organismo, de modo que, o que há internamente [ao organismo] é produto colateral da história genética e ambiental do sujeito. Assim, face ao mentalismo, pode-se dizer que as posições de Skinner são de recusa quanto à distinção entre um mundo físico e mental (dualismo) e, consequentemente, à teoria da mente como uma espécie de galeria onde estariam situadas as representações (ou cópias) as quais, além de poderem ser acessadas com o esforço da memória e da atenção (supostos modos de a mente operar com essas representações), funcionariam como explicação para as motivações do comportamento – a título de exemplo, o caso da criança que, sentindo-se faminta (um fato mental), come o alimento nutritivo (um fato físico). Nesse caso, e em linhas muito gerais, todo o problema consiste na tentativa de se abordar um fenômeno comportamental qualquer, como a percepção por exemplo, a partir de processos físicos e psíquicos entre os quais é praticamente impossível estabelecer qualquer nexo de causalidade razoavelmente explicável em termos científicos, como queria Skinner com o seu behaviorismo radical (afinal, apenas metafisicamente se pode especular a respeito desse vínculo). Por outro lado, pode-se dizer que Skinner aceita parcialmente a tese segundo a qual a introspecção – esse “voltar- se a si mesmo” que os mentalistas teriam equivocadamente identificado na relação da mente com as cópias vislumbradas em seu interior – pode ser adotada metodologicamente, desde que se compreenda que as coisas sentidas ou introspectivamente observadas não são algo de imaterial, presente apenas em um mundo mental (sobre isso, falaremos mais detidamente na resposta à segunda pergunta). Face ao behaviorismo metodológico, há um mesmo esquema de aceitação e recusa parcial/total por parte de Skinner. Em termos de aceitação, temos a tese segundo a qual se deve considerar aquilo que pode ser objetivamente observado no comportamento de alguém, sempre levando em conta sua história ambiental prévia. No entanto, essa aceitação deve ser considerada apenas parcialmente já que, segundo Skinner, ao excluir os acontecimentos privados (afinal de contas, seria impossível qualquer acordo público acerca de sua validade), o behaviorismo metodológico desvia a atenção da auto- observação e do autoconhecimento – isto é, daquilo que só poderia ser feito por meio da introspecção –, tornando-se uma versão psicológica do positivismo ou do operacionismo lógico. O próprio Skinner, ao fechar a seção “O Behaviorismo Metodológico” presente no Capítulo 1, questiona: “Deveremos ignorar tudo isso [questões relacionadas à introspecção, por exemplo, se ‘os sentimentos que experimentamos imediatamente antes de agir não terão nenhuma relação com o nosso comportamento’] porque não o pudemos estudar objetivamente?”.
2) Para mostrar como o behaviorismo radical é mais consistente e eficaz segundo
aquilo que ele pretende explicar, Skinner tem que dar conta de fenômenos e processos implicados “dentro da pele”, ou seja, de eventos supostamente “mentais”, tais como os sentimentos e a percepção. Expliquem, em linhas gerais, como ele pretende ter enfrentado tal desafio (2,0 pontos).
Como mencionado na resposta anterior, a saída que Skinner encontra para a
explicação dos fenômenos e processos implicados “dentro da pele” é, em primeiro lugar, não insistir na chamada verdade por consenso (isto é, aquela adotada no behaviorismo metodológico e que faria dele uma versão psicológica do positivismo ou do operacionismo lógico, que considera apenas aquilo que é objetivamente observável) e, consequentemente, deslocar o papel (ou, melhor dizendo, a função) da introspecção ao atribuir-lhe não mais a capacidade de observar em seu interior cópias/ideias/representações ou sentimentos – os quais, entre outras coisas, funcionariam como explicação para as motivações do comportamento –, mas o próprio corpo do observador. Skinner considera tais acontecimentos observáveis, e o que o possibilita não os descartar como subjetivos é o fato de ele questionar a natureza do objeto observado e a fidedignidade das observações. É assim que Skinner sintetiza ou, melhor, “equilibra o jogo” entre mentalismo e behaviorismo radical.
A posição deve ser assim exposta: o que é sentido ou
introspectivamente observado não é nenhum mundo imaterial da consciência, da mente ou da vida mental, mas o próprio corpo do observador. Isto não significa, como mostrarei mais tarde, que a introspecção seja uma espécie de pesquisa fisiológica, nem tampouco (e este é o cerne do argumento) significa que o que é sentido ou introspectivamente observado seja a causa do comportamento. (SKINNER, 2006, p. 19)
O Segundo capítulo do trabalho de Skinner situa-o naquilo que o põe um passo à
frente da posição metodológica do Comportamentismo: investigar as veredas internas do sujeito sem, no processo, deflagrar no Mentalismo. Sentimentos e percepções, ele assume-os como medidas produzidas não por um mundo situado paralelamente às dimensões da fisicalidade e da concretude, mas, pelo contrário, justamente como rebento destas duas. Os esforços de Skinner partem de uma exposição acerca do fenômeno da fala e, mais especificamente, da atribuição de adjetivos a certos fenômenos que ao sujeito acometem. É no âmbito público aonde primeiro se apreende como nomear tais embargos (até porque o léxico que adjetiva a dor, o opróbio, etc. provêm, a princípio, de termos que designam flagelações ou torturas coletivamente exercidas); um corte, um golpe, eles são predicados como doloridos: a criança apreende que assim deve predicá-los. Enfim, depois, no contexto privado, a criança poderá correlacionar a semelhança dos eventos – e dos estímulos - e indicar este ou aquele revés como atributo desta ou aquela situação (a certidão da correlação advém do quão próximo o adjetivo despendido publicamente é, depois, mobilizado intimamente). Os termos utilizados para denominar emoções, por outro lado, são majoritariamente metáforas que, de certo modo, remetiam à causação de tais estados: não se é comprimido quando se está triste, e, mesmo assim, depressão é o termo que predica este estado de melancolia; os membros de alguém “tenso” não são cruciados pra fora de seu corpo e, mesmo assim, tenso é como o predicamos. Em suma, estes ditos “estados internos”, geralmente compressos num ambiente privado, idealmente fabricado, são desígnios inferidos a partir de práticas públicas – a partir de um certo contexto histórico-material – que providenciam ao sujeito meios de solucionar, verbalmente, a expressão de certos fenômenos que a ele concernem. É, afinal, pelas idiossincrasias do comportamento que se apreende a distinguir, dos efeitos colaterais, certas condições descritivas (com mais certeza predico de faminto aquele que come com ânimo e voracidade, e não aquele que há muito não come); do mesmo modo, estendo a causa como significante do que estado por ela causado: alguém que está excitado à medida que fora instigado, alertado, etc. Em suma: o método de Skinner pra tratar sobre o mundo interno parte de uma investigação sobre as contingências histórico-materiais que levam à concepção de predicados emblemáticos como dor, ódio, temor, etc. que, no entanto, são, como ele demonstra, distensões lexicais de verbos que conluiam a estes estados. Em outro âmbito, Skinner vê tais estados internos como fenômenos que, na verdade, são conceituados primeiro publicamente – e apreendidos primeiro publicamente, também –, para depois poderem ser empregados no ambiente íntimo.
Enfim, tais estados de aparência esotérica são faturas publicamente enformadas,
histórico-materialmente determinadas e, sobretudo, predicações lexicais desgarradas dos hemisférios puramente mentais que os mentalistas reclamam como o plaino de onde elas advêm.
Referência bibliográfica: SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.