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Dizer e Mostrar em Ludwig Wittgenstein

Edmilson Alves de Azevedo*


recebido: 05/2014
aprovado: 07/2014

Resumo: Neste texto, vamos apresentar os elementos


fundamentais da teoria da "representação" no pensamento de
Ludwig Wittgenstein desde a sua concepção da lógica e da
linguagem e dar consequências da distinção entre "mostrar e
dizer" com o seu personagem central o autor pensou limites
entre o que pode ser pensado com significado, e que não pode
ser expressa por meio de proposições, tais como a filosofia
baseada em problema.
Palavras-chave: Linguagem, Mostrar e Dizer, Lógica,
Proposição, Pensamento.

Abstract: In this text, we will present the fundamental elements


of the theory of 'representation' in the thought of Ludwig
Wittgenstein from his conception of logic and language and
give consequences from the distinction between "showing and
saying" with its central character the author's thought
boundaries between what can be thought of with meaning, and
what cannot be expressed by means of propositions, such as
the problem based philosophy.
Keywords: Language, Show and Tell, Logic, Proposition,
Thought.

No Tractactus logicu-philosophicus, Witgenstein tentou


resolver aquilo que constituía segundo pensava, o problema
fundamental da filosofia: delimitar claramente, desde o interior,
o âmbito do dizível e, ao mesmo tempo, implicitamente, do
indizível. Ele pensava ter resolvido a questão e ter assim
liquidado definitivamente com a filosofia; embora a solução
obtida mostrava precisamente que tudo que se pode tentar
legitimamente dizer em filosofia tinham sido, os problemas
filosóficos considerados geralmente como os mais urgentes e os
mais importantes, mas os Lebensproblems, não teriam nem
mesmo aflorado.

*
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
em@il: eazevedojp@gmail.com

Problemata: R. Intern. Fil. v. 5. n. 1 (2014), p. 64-93 ISSN 2236-8612


doi:http://dx.doi.org/10.7443/problemata.v5i1.20251
65 Edmilson Alves de Azevedo
Partamos aqui da proposição tractariana, a de número
4.022, visto ela introduzir tanto a noção de mostrar, apresentar
ou exibir (zeigen), como seu contrário dizer (sagen).
Esta é uma distinção que assumirá, ao longo do
“Tractatus”, uma relevância cada vez maior. Esta distinção, de
certa maneira, divide toda a linguagem em dois campos
(segmentos e que correspondem realmente a dois mundos).
Em 4.022 podemos notar que a proposição em pauta
mostra o seu sentido original, ao mesmo tempo em que a
proposição 4.1112 vem completá-la dizendo: “O que pode ser
mostrado (gezeigt) não pode ser dito (gesagt)”.
O grau daquilo por nós destacado acima se refere à
relação entre aquilo que pode ser dito pela proposição, isto é
pela linguagem, e que, portanto pode ser pensado, e aquilo que
por ela não pode ser expresso, mas apenas pode ser mostrado, e
que expressa o problema fundamental da filosofia para
Wittgenstein.
Ainda em 4.022 diz Wittgenstein: “A proposição mostra,
se for verdadeiro, como estão as coisas. E diz que isto está
assim.”
Isto reitera o ponto de vista wittgensteiniano segundo o
qual só a proposição diz propriamente, à medida que ela
representa ou figura o real. Mas, ao mesmo tempo, a proposição
mostra algo. Vale dizer: ela mostra o seu próprio sentido.
Em 2.221 é dito: “A figuração concorda ou não com a
realidade, é correta ou incorreta, verdadeira ou falsa”.
Ao mesmo tempo em que a proposição mostra o sentido,
está excluída dela a possibilidade de dizer aquilo que pode ser
mostrado. Em 4.1212, diz-se ainda: “o que pode ser mostrado,
não pode ser dito”.
O que tudo aqui está implicado é a impossibilidade de
representar a forma lógica.
Isto é arrematado na proposição:
4.12: “A proposição pode representar a realidade inteira,
não pode, porém, representar o que ela deve ter em
comum com a realidade de poder representá-la – a
forma lógica”.

“Para podermos representar a forma lógica seria preciso


nos colocar, com a proposição, fora da lógica, a saber,
fora do mundo”.

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Isto vale a dizer que a figuração ou forma de
representação só pode ser mostrada, exibida, jamais dita.
Mas de que impossibilidade realmente se trata? Embora
a proposição possa figurar toda a realidade – real ou possível –
não se pode fazê-lo com relação à forma lógica, a forma da
representação, pois para tal se torna necessário que ela mesma se
colocasse ou fora da sua própria forma de representação. Aqui
se faz presente a questão relativa à impossibilidade de uma
metalinguagem, que já fora exposta em 2.174 que “a figuração
não pode, porém, colocar-se fora de sua forma de
representação”.
Para que a proposição, enquanto figuração, pudesse
figurar a sua própria forma lógica, seria necessário que ela
pudesse usar outra figuração que não a sua própia, sua forma
original, o que é uma impossibilidade.
À medida que a forma lógica não é uma possível
combinação de objetos, um possível “estado de coisas”, não
pode, portanto ser figurado, já que pela definição a figura só
pode figurar de coisas, combinação de objetos.
A possibilidade da forma de figuração venha ser figurada
por outra figura de ordem ou nível superior redunda numa
impossibilidade, o que delimita para Wittgenstein as tentativas
feitas por Russel (Teoria dos Tipos) e e outros, de construir uma
metalinguagem ou série de metalinguagens. Isto terminaria por
se fechar num regresso ao infinito.
Isto não significa que a forma da figuração não possa ser
captada por nós, indica antes a possibilidade de ser captada na
sua forma de representação, sem que isto implique fazê-lo sem o
modo de “figurar” ou “dizer”. Antes ela, a figura “mostra” a sua
forma de figuração. Isto se explicita na proposição:
(4.121): “A proposição não pode representar a forma
lógica, esta espelha-se naquela”

“Não é possível representar o que se espelha na


linguagem”.

O que deu origem esta entre dizer e mostrar? Ela está


necessariamente ligada à concepção da linguagem, da
proposição – figuração imediata, pictórica, enquanto uma
espécie de retrato da realidade empírica, do estado de coisas.

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Aqui nos deparamos, mais uma vez,com a relevância dos
pressupostos da teoria isomórfica da linguagem de Wittgenstein,
que tudo fundamenta. Daí deriva-se as concepção segundo a
qual, tanto a lógica quanto a matemática, a filosofia e a estrutura
a priori da linguagem, não podem ser ditos, mas tão somente
mostrados.

Dizer e Mostrar: especificações

Expliquemos melhor as questões lógico-filosóficas


acarretadas pela relação entre: dizer e mostrar. Vem-nos à
mente aqui, num primeiro momento, a distinção kantiana entre
conhecer e pensar.
A possibilidade de um fato que seja pelo menos possível
de ser representado ou descrito pela proposição elementar.

4.022 “A proposição mostra seu sentido. proposição


mostra, se for verdadeiro, como algo está. E diz isto está
assim”

Neste sentido, a proposição, à medida que é um fato


como outros, representa ou expõe os elementos ao mesmo
tempo em que diz algo para, além disso, diz algo. A preposição
diz um fato, à medida que só é possível dizer fatos ou um fato, e
o fáz através dos objetos. Este agenciamento se faz através de
uma figuração que comporta uma forma lógica que tem como
representante o fato ou estados de coisas, enquanto só as
proposições dizem, ao mesmo tempo que os nomes podem
somente nomear. A proposição enquanto agenciamento de um
fato ou representação deste ou dos estados de coisas mostra-os,
sem que possa dizê-los. Este mostrar da proposição expõe o que
há de comum entre o fato descrito, ou seja, uma estrutura que é
comum a ela e ao fato descrito. Isto indica a dupla estrutura da
linguagem, que remete à negação da metalinguagem por
Wittgenstein. À medida que a proposição diz um fato, ela
mostra outro, que é resultado do fato de dizer. Está em jogo aqui
a impossibilidade para Wittgenstein de certas relações
semânticas entre a proposição e a figuração.
Se assim é, isto se deve a que a proposição pode dizer
alguma algo, que ela remete a algo mais, mais que um fato ou
um signo.

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3.1 “Na proposição o pensamento se exprime sensível e
perceptivelmente.”

3.2 “Chamo signo proposicional o signo pelo qual


exprimimos o pensamento. E a proposição é o signo
proposicional em sua relação projetiva com o mundo”.

Desta forma é o pensamento que estabelece na relação


projetiva com o mundo é aquele momento e este é visado por
ela.
3.11 “Utilizamos o signo sensível e perceptível (signo
sonoro ou escrito, etc.) a proposição como projeção da
situação possível.

O método de projeção é o pensar do sentido da


proposição.”

3.5 “O signo proposicional empregado e pensado é o


pensamento”.

4. O pensamento é a proposição significativa”

Estabelece-se aqui uma dupla relação entre a proposição


e o pensamento, ao mesmo tempo em que uma diferença entre a
proposição e o signo proposicional, enquanto este é apenas uma
“expressão sensível do pensamento”. O pensamento aparece
aqui enquanto conteúdo conceitual e ainda não afirmado e que,
ao mesmo tempo objetivo e independente, no nosso próprio
espírito. Aqui o signo proposicional tem por função exprimi-lo.
No prefácio do Tractatus Wittgenstein diz que:
“Pretende, por tanto estabelecer um limite ao pensar, ou
melhor, não ao pensar mas à expressão do pensamento,
portanto para traçar um limite ao pensar deveríamos poder
pensar ambos os lados desse limite (de sorte que deveríamos
pensar o que não pode ser pensado)”.
O limite será pois, traçado unicamente no interior da
língua, tudo o que fica além dele será simplesmente absurdo.
Parece que a distinção entre “dizer e mostrar” aponta
para o aprofundamento e a solução deste problema. Aqui ainda
estão situados a problemática do místico, do expremível, o
pensamento pela proposição, e o mostrável pelos signos que na
proposição estão pelos nomes e, por sua vez pelos objetos ou
estados de coisas.
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O limite da linguagem mostra-se na impossibilidade de
descrever os fatos, o qual corresponde a uma proposição.
(Temos aqui operar com a solução kantiana do problema da
filosofia).1
Os problemas dos limites do pensamento em
Wittgenstein remete às questões da ética e do místico. Para ele a
ultrapassagem do pensamento além de seus limites é algo de não
ético e indica uma impossibilidade. Já no Prefácio do Tractatus,
enfatiza Wittgenstein a relação entre estes limites da linguagem
e o sem-sentido da ultrapassagem destes limites, “olimite será,
pois traçado unicamente no interior da língua; tudo que fica
além dele será simplesmente absurdo.” (Unsinn). Prefácio.
Em contraposição a este limite imposto pela linguagem e
possibilidade de produção do sentido e do sem-sentido ou
absurdo, é a fronteira que vai permitir estabelecer no Tractatus
aquilo que podemos dizer enquanto algo sensato, aquilo que
pode ser dito: os fatos, a positividade, o mundo e sua presença
na linguagem.
Identificar pensamento com a proposição, enquanto uma
é imagem, é identificá-las na identidade da “forma lógica”, que
é, ao mesmo tempo, a “imagem lógica” de um fato diz em:
2.182 que “toda figuração também é lógica. (No
entanto, nem toda figuração é, por exemplo, espacial)”.

2.2 “A figuração tem em comum com o mundo


afigurado a forma lógica da afiguração”.

Somente o pensamento afigurado o mundo enquanto sua


imagem/figura lógica, enquanto constituído de fatos, sendo
assim a figuração é a imagem lógica de um fato. Tudo aquilo
que é passível de ser representado ou figurado, ou estar por
alguma coisa é sua figuração de uma maneira lógica, embora
existam outras maneiras de figurar (espacialmente,
temporalmente, etc.). Deste modo a figuração permite dizer-se
ou pensar-se aquilo que é pensável ou dizível enquanto estados
de coisas que podem figurar e aqui aparecer algo de comum a
todas as figurações que é a forma lógica:
Diz 2.182 “O que cada figuração, de forma qualquer,
deve sempre ter em comum com a realidade para poder
afigurá-la em geral – correta ou falsamente - é a forma
lógica, isto é, a forma da realidade”.

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Aqui o lógico ou a logicidade aparece como aquilo que
há de comum a todas as figuras dos fatos e quanto remetem ao
pensamento ou proposição como sua imagem, temos tão
somente uma figura puramente lógica. Noutras palavras: a
proposição figura a lógica, o mundo. Há assim uma identidade,
uma estrutura comum, entre a figura e o fato que ela representa
ou figura, o que permite que a figura possa representar, estar por
um fato: está é a “forma figurativa (Form der Abbildung). Por
fim, a forma lógica pode ser dita a “fora da realidade”, ou da
factualidade.
No que diz respeito à proposição, a forma da afiguração
ou forma figurativa, é idêntica ou coincide com a forma
lógica, o garante a capacidade de representar enquanto
imagem. Diz ”2.11 – A figuração presenta a situação no
espaço lógico, a subsistência de estados de coisas”.

Aqui a proposição é dita ter um sentido que é anterior a


qualquer confronto com a experiência, algo que é portanto
anterior ao estabelecimento do seu valor de verdade e antes de
ser formulada ou não.
Portanto ter um sentido significa apresentar um estado de
coisas, à medida em que o afigura, enquanto uma possibilidade,
que se inscreve no espaço lógico. Di:z 2.12 “A figuração é um
modelo da realidade.”
Enquanto a imagem é um modelo de realidade, vale
dizer, uma figuração da realidade através de um fragmento,
espécie de uma miniatura que é tomada da própria realidade.
Na figura encontramos coordenados aqueles elementos
entre o fato e aquilo que o representam. Encontramos assim um
isomorfismo entre o real e o fato representado através da
imagem. Põe-se uma relação de termo-a-termo que abstrai-se do
conteúdo empírico imediato e que vem a ser o pensamento de
uma parte do mundo, ou uma proposição.
Diz : 2.14 “A figuração consiste em que seus elementos
estão uns em relação aos outros de um modo
determinado”.

Diz: 2.17 “Deve haver algo de idêntico na figuração e


no afigurado a fim de que possa ser a figuração do
outro”.

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Neste sentido a imagem é uma fixação da posição do fato
entre possíveis, mostra-lhe o seu lugar ou o lugar a ocupar no
espaço lógico, o que se dá antes mesmo de qualquer
enfrentamento com os dados empíricos.
Diz-se 4.01 – A proposição é a figuração da realidade.

“A proposição é o modelo da realidade tal como a


pensamos”.

Aqui a imagem mostra imediatamente seu sentido, à


medida em que é plena de sentido (sinnvoll): o sentido é
mostrado pela figuração de uma situação possível no espaço
lógico. Ao exprimirmos um pensamento ou proposição, ao fazê-
lo, ao mesmo tempo, mostramos o seu sentido pela apresentação
de uma posição possível, o que quer dizer o mesmo. Neste
sentido a proposição mostra “a priori” seu sentido, sem que
tenhamos ainda qualquer referência à realidade concreta, e que
não implica ainda a noção de que ela seja verdadeira ou falsa,
permita que possamos compreender frases jamais ouvidas, sem
que tenham explicado seu sentido. O sentido da proposição já
está ali, ele é e está “a priori” sem que ainda tenha sido referida
à realidade empítica, ele é sua condição de possibilidade. O fato
de que se possa partir da proposição, indica a possibilidade de
construção do mundo através do aparelho lógico e que possa ser
assim que as coisas se dão para tudo aquilo que é lógico, caso
seja ela verdadeira. Da falsidade de uma proposição pode-se
inferir conclusões. Aquilo que é “a priori” que é no caso que ela
seja verdadeira. A proposição tem um estatuto de uma “norma
de referência em relação à qual os fatos de dispõem”. A
proposição apresenta o possível, mostra o possível e diz que esse
possível é (seja verdadeiro ou falso). A linguagem tem
possibilidade de representar todo o real e tão somente o real, não
podendo portanto dizer o que ultrapassa o real, aquilo que é
impensável ou indizível. É possível para a proposição dotada de
sentido representar um fato impossível no espaço lógico.
Diz 3.02 – “O pensamento contém a possibilidade da
situação que pensa. O que é pensável também é
possível.”

A possibilidade de um fato vem mostrar o lugar lógico


do espaço que é expressa a proposição com sentido.

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A Filosofia

A solução da pergunta filosófica não deve jamais


surpreender. Não se pode descobrir nada na filosofia.
4.111 – A filosofia não é a ciência da natureza (A
palavra filosofia deve denotar alguma coisa que se
coloca acima ou abaixo mas não ao lado das ciências
naturais).

A filosofia não tem nada a dizer: é uma atividade ( não


uma teoria) dirigida para clarificação dos pensamentos.
Esta reflexão de Wittgenstein sobre a filosofia é a
conseqüência direta do problema que procura resolver com a
distinção entre aquilo que pode ser dito e aquilo que pode ser
mostrado.
Isto implica ainda, segundo expressa 6.53 que a
“ciência” consiste naquilo que pode ser dito.
Mas podemos perguntar, se, à medida que a filosofia não
nos fala a verdade, de que fala ela? A resposta está em::
4.112 “A finalidade da filosofia é o esclarecimento
lógico dos pensamentos, A filosofia não é teoria mas
atividade.

Uma obra filosófica não resulta em “proposições


filosóficas” mas em tornar claras as proposições”.

A filosofia deve tornar os pensamentos que, por assim


dizer, são vagos e obscuros e torná-los claros e bem delimitados.
A base da filosofia está a lógica e a metafísica. Ela não
possui caráter dedutivo, mas tem uma natureza antes descritiva,
ela está proibida fazer qualquer dedução.
Na “Investigações Filosóficas” diz Wittgenstein sobre o
tema:
“Toda explicação tem que desaparecer e só a descrição
haverá de ocupar seu lugar. E esta descrição recebe sua
luz, isto é, sua finalidade, dos problemas filosóficos.
Estes não são certamente empíricos, mas que se
resolvem mediante uma olhada no funcionamento de
nossa linguagem, e justamente de maneira que esta se
reconheça: apesar de uma inclinação a mal entendê-la.
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Os problemas se resolvem não aduzindo novas
experiências, mas compilando o já conhecido. A
filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento de nosso
entendimento por meio da linguagem”2

4.113 – “A filosofia delimita o domínio contestável das


ciências”.

4.114 – “Deve delimitar o pensável e com isso o


impensável”.

Já no prefácio ao “Tractatus” Wittgenstein procurou a


finalidade do livro. Trata-se de delimitar os limites entre o
pensável e aquilo que não pode ser pensado; entre o que se pode
dizer (pensar) e que somente pode ser mostrado. E isto só pode
ser feito por meio do estudo filosófico de nossa linguagem. A
tarefa da filosofia se limita assim a análise de linguagem e sua
estrutura lógica. Mostrando a lógica de nossa linguagem,
pudesse estabelecer com precisão os limites entre o dizível e o
indizível.
6.53 – “Método correto em filosofia seria propriamente:
nada dizer a não ser o que pode ser dito, isto é,
proposições nada tem a haver com a filosofia; e sempre
que alguém quisesse dizer algo a respeito da metafísica,
demonstrar-lhe que não conferiu denotação a certos
signos de suas proposições. Para outrem esse método
não seria satisfatório – ele não teria o sentimento de que
lhe estaríamos ensinando filosofia – mas seria o único
método estritamente correto.”

Através das tentativas da clarificação da lógica da


linguagem a filosofia mas não se transforma nem vem a ser
uma ciência; mas ela contribui com isso para indicar os limites
entre a ciência e sobretudo o que se pode opinar, pensar ou
dizer;
4.114 – “Deve delimitar o pensável e com isso o
impensável.

Deve demarcar o impensável do interior por meio do


pensável.”

Apresenta-se deste modo a função negativa da filosofia,


ou seja: procura separar as proposições dotadas de sentido
daquelas que não o são, como as proposições metafísicas. Vale

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dizer, encará-las segundo as possibilidades de que possam ser
verdadeiras ou falsas. Do contrário elas são indecidíveis, e fica
assim fora da tarefa da filosofia delas tratar. As proposições
possíveis de serem pensadas, podem sê-los de forma clara, e, à
medida em que assim o são, podem ser expressas pela
linguagem, portanto pela lógica.
4.116 – “Tudo em geral que pode ser pensado o pode
claramente. Tudo o que se deixa exprimir, deixa-se
claramente

4.12 – “A proposição pode representar a realidade


inteira, não pode, porém, representar o que ela deve ter
em comum com a realidade para poder representá-la a
forma lógica.

Para podermos representar a forma lógica seria


preciso nos colocarmos com a proposição, fora da
lógica, a saber fora do mundo.”

4.121 – proposição não pode representar a forma


lógica, esta espelha-se naquela.

Não é possível representar o que se espelha na


linguagem.

O que se exprime na linguagem não podemos expressar


por meio dela.

A proposição mostra a forma lógica da realidade.

Ela a exibe”.

4.1212 – O que “pode” ser mostrado “não pode” ser


dito.

Como elemento mediador entre a linguagem e o mundo


encontramos a forma lógica, o que permite que a linguagem fale
sobre o mundo. Pela relação entre linguagem e mundo através
da forma lógica, pode-se estabelecer uma relação entre
proposição e fato. É também a forma lógica que permite
relacionar os vínculos entre a figuração lingüística do mundo e
aquilo que a figuração tem em comum com o figurado. Na
forma lógica enquanto se dá uma identidade isomórfica entre a
linguagem e mundo. Isto permite à linguagem descrever os fatos

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e esta é sua razão de ser. Este é o elemento fundamental da
teoria figurativa da proposição.
2.18 – O que cada figuração de forma qualquer, deve
sempre ter em comum com a realidade para poder
afigurá-la em geral – correta ou falsamente – é a forma
lógica, isto é, a forma da realidade”.

É a forma lógica que dá à proposição seu sentido. E


assim dá a esta seu caráter descritivo. Enquanto possível de
dizer algo, a proposição só pode fazê-lo enquanto compartilha a
forma lógica daquilo que diz. Tanto quanto o sentido, a forma
lógica não pode ser expressada mas somente mostrada. A
proposição não pode dizer qualquer coisa sobre si mesma.
Aquilo que pode ser dito só pode ser feito em proposições e
estas figuram sempre algo que lhe é estranho. Se não fosse
assim ela não teria possibilidade de ser falsa.
No Prefácio esta relação entre o “dizer e o mostrar” foi
melhor precisada e identificada. Ao pensamento mesmo não se
pode por limites, e assim poder-se-ia poder pensar o impensável.
A atividade filosófica deve se limitar ao âmbito, ao domínio das
“expressões”, do pensamento, e também sobre o que se pode
dizer e o mostrar será traçado unicamente no interior da
linguagem; tudo que fica para além dela será simplesmente
absurdo. Será o indizível, sem sentido (unsinn), o que não quer
dizer que seja sem significado (sinnlos).
Pois aquilo que não pode ser dito, pode ser mostrado na
proposição.
É exatamente aqui que se faz valer o apelo à linguagem
como o limite, tanto negativo quanto positivo, que se estabelece
entre o exprimível, dizível, que para além dele não é possível
qualquer ponte, mas que aponta como uma seta, para o sentido,
que é aquilo que é mostrado. Na forma lógica da proposição ou
na sua figuração na forma lógica.
Trata-se portanto de procurar nos limites da linguagem,
por meio da análise da sua forma lógica, aquilo que nas palavras
do próprio Wittgenstein no Prefácio se deixa transparecer:
“Poder-se-ia apanhar todo o sentido do livro com estas
palavras: em geral o que pode ser dito, o que pode ser
claramente, mas o que não se pode falar deve-se calar”.

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Mais ainda trata-se de estabelecer as relações de sentido
entre o pensamento e aquilo que é sua expressão na forma da
linguagem, à medida em que esta é uma figuração sígnica e
simbólica daquele. A lógica cabe descobrir-se como aquilo que
mostra na linguagem, nos signos que representam a sua forma,
sua expressão da forma do mundo, à medida em que há uma
relação de implicação direta entre linguagem, lógica e mundo.
O trabalho da filosofia, sua tarefa é portanto a crítica.
Assim como Kant que pretendeu apresentar os limites do
conhecimento humano, Wittgenstein buscou por meio de suas
investigações lógico-linguísticas tornar significativas os limites
da fala com sentido ou cheia de sentido.
Mas diferentemente de Kant as investigações de
Wittgenstein terminam no místico e no silêncio.

A primeira frase do Prefácio do Tractatus dão muito no


que pensar.
“Talvez este livro seja compreendido por quem já tenha
cogitado por si próprio os pensamentos aqui expressos,
ou ao menos cogitado pensamentos semelhantes”.

Poder-se-ia perguntar pelas conseqüências da tarefa de


Wittgenstein, procurando estabelecer os limites entre as
implicações metafísicas do seu trabalho e as suas investigações
lógicas. Qual delas pode-se dizer que é a prevalecente: o silêncio
ou mostrar-se/dizer?

O Mundo
1. O mundo é tudo que ocorre.

E tudo que ocorre, ocorre no espaço lógico.

1.2– O mundos e resolve em fatos.

1.21 – Algo pode ocorrer e não ocorrer e todo o resto


permanecer na mesma.

1.13 – Os fatos no espaço lógico são o mundo.


2.063 – A realidade inteira é o mundo.

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2.06 – A subsistência e a não subsistência dos estados
de coisas é a realidade.

2.01 – O estado das coisas é uma ligação de objetos


(coisas – a ligação de objetos (coisas).

O que são estados de coisas podemos imediatamente


compreender se tivermos previamente compreendido o conceito
de proposição elementar, diferentemente da proposição em
geral.
4.211 – É o signo da proposição elementar que nenhuma
outra pessoa possa estar em contradição com ela.

4.22 – A proposição elementar é constituída de nomes.


É uma conexão, um encadeamento de nomes.

E o nome está pelos objetos. Representa-os.

4.23 – O nome só aparece na proposição em conexão


com as proposições elementares.

Os nomes os quais aparecem nas proposições


elementares são:
3.26 – O nome não é para ser desmembrado ademais
por uma definição:

O que não permite qualquer definição ou qualquer


recurso à meta-linguagem que possa falar dos nomes. Já que eles
são signos primitivos.
3.262 – O que no signo não vem expresso é indicado
pela aplicação.

O que os signos escondem, aplicação exprime.

3.263 – As denotações dos signos primitivos podem ser


esclarecidas por elucidações. Elucidações são
proposições que contém os signos primitivos. Só podem
portanto ser entendidas quando já se conhece as
denotações desses signos.

3.203 – O nome denota o objeto. O objeto é sua


denotação (“A” é o mesmo signo que “A”).

3.3 – Só a proposição possui sentido; só em conexão


com a proposição, um nome tem denotação.
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3.363 - As denotações dos signos primitivos podem ser


esclarecidas por elucidações. Elucidações são
proposições que contém os signos primitivos. Só podem
portanto ser entendidas quando já se conhece as
denotações desses signos.

Os elementos últimos da proposição são aqueles signos


simples aos quais chegamos quando a tivermos analisado de
todo.
E para Wittgenstein estes signos são nomes. Basta para
tal que leia-se Proposição 3.203 citada acima. Isto segue a teoria
isomórfica da linguagem, no que se refere à questão da
representação na relação entre os nomes e os objetos. As
proposições podem ser decompostas em nomes, já que seus
elementos ou signos mais simples são simplesmente nomes, e
suas referências são os objetos a que cada um se refere.

Aos nomes da proposição correspondem os objetos do


fato representado. Ao mesmo tempo correspondem à figuração
ou agenciamento na proposição que correspondem à figuração
dos objetos no fato. Daí se segue a única maneira de falar dos
objetos seja nomeando-os. Já no que se refere aos fatos ou
situações não podem ser nomeados, mas tão somente descritos.
Descrever quer dizer que a estrutura que representa o fato por
meio da estrutura isomórfica da proposição.
Esta estrutura é o sentido (Sinn) da proposição. Já no que
se refere a nomear e colocar um signo simples enquanto
representa um objeto.
Nesse sentido um signo é um nome somente quando
funciona enquanto tal no contexto proposicional. Daí a
afirmação de Wittgenstein em:
3.3 – Só a proposição possui sentido; só em conexão
com a proposição, um nome tem denotação.

Para Wittgenstein um nome, se de fato é um nome em


sentido lógico, se limita a nomear, de tal modo que não pode ter
sentido, pois do contrário poderia ser utilizado para descrever o
objeto, o que implicaria que não seria um signo simples, mas
antes teria alguma complexidade. Contrariamente ao nome, a
proposição tem sentido que é o fato que ela representa, mas não

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pode ser referência, já que ela não é o nome de coisa alguma. O
sentido da proposição é saber se aquilo que ela representa é o
caso, é o seu valor de verdade que é a expressão de que o
representado por ela existe ou não existe.
Os intérpretes de Wittgenstein parecem unânimes em
dizer que a relação dos nomes com os objetos e suas respectivas
conexões na realidade permanecem algo de obscuro.
No entanto, Wittgenstein diz que os nomes podem ser
decompostos posteriormente por meio de uma definição, dado
que são signos simples e primitivos, (cf. 3.26). Agora, o que se
expressa no nome, ou seja, sua conexão com o objeto, se mostra
pela sua aplicação, daí a possibilidade de que a denotação dos
nomes, ou signos primitivos, possa ser explicada através de
esclarecimentos, ou por meio de proposições que contenham tais
signos (3.263). O uso de tais signos permitirá mostrar a que se
refere os nomes que nelas surgem. No entanto elas só podem ser
entendidas se se conhece a denotação de seus signos. Isto pode
ser explicado, sem que caia num círculo vicioso, à medida o uso
da linguagem pressupõe a conexão entre seus signos simples e
os objetos do mundo. À medida que se ensina como se usa a
linguagem, esta conexão pode ser mostrada, embora não possa
ser explicada.
Uma proposição não é mais do que uma representação
figurativa da realidade, um modelo da realidade tal como e
como a concebemos.
4.01 – A proposição é figuração da realidade.

A proposição é modelo da realidade tal como a


pensamos.

Wittgenstein dirá que o disco fonográfico, o pensamento


musical, a partitura e as ondas sonoras se encontra entre si numa
relação interna de representação, do mesmo modo como a que
existe entre a linguagem e o mundo; todas estas coisas têm uma
estrutura comum.
4.014 – O disco da vitrola, o pensamento e a escrita
musicais, as ondas sonoras estão uns em relação aos
outros no mesmo relacionamento existente entre a
linguagem e o mundo.

A todos é comum a construção lógica.

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Assim entre a linguagem e o pensamento e a realidade
existe uma correlação de estruturas. Há uma lei de projeção que
permite projetar essas coisas em termos da outra.
4.0141 – Que exista uma regra geral por meio da qual o
músico possa surpreender a sinfonia a partir da
partitura, regra por meio da qual se possa derivar a
sinfonia das linhas do disco e ainda, segundo a primeira
regra, de novo derivar a partitura, nisto consiste
propriamente a semelhança interna dessas figuras
aparentemente tão diversas. E essa regra é a linguagem
musical. É a regra da tradução para a linguagem do
disco.

A proposição é a descrição de um estado de coisas ou


situação. Para Wittgenstein e de acordo com sua teoria da
representação, as proposições se caracterizam pelo fato de seu
sentido ser prévio a sua verdade ou falsidade, daí ser possível
que uma proposição possa ser entendida sem que se saiba se ela
é verdadeira ou falsa.
4.022 – A proposição “mostra” seu sentido.

A proposição “mostra”, “se” for verdade como algo


está.

E diz que isto “está” assim.

4.031 – Uma situação é justaposta à proposição, por


assim dizer, por tentativas”.

É possível dizer diretamente: esta proposição representa


esta ou aquela situação, em vez de esta proposição tem este ou
aquele sentido.
Isto implica saber se os fatos serão dessa maneira caso a
proposição seja verdadeira. Se de fato compreendemos uma
proposição, e antes de sabermos se ela é verdadeira ou falsa,
podemos apreender uma possibilidade. Neste sentido, para
Wittgenstein, a proposição enquanto uma representação, e isto
vale para a representação em geral, determina um lugar no
espaço lógico, a possibilidade da existência da situação que ela
representa, dado que o lugar lógico coincide com o lugar
geométrico em que ambos são a possibilidade de uma
existência.
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3.4 – “A proposição determina um lugar no espaço


lógico. A existência desse espaço lógico é assegurada
pela existência das partes constitutivas, pela existência
das proposições significativas”.

3.411 – “O lugar geométrico e o lógico concordam em


ambos consistem na possibilidade de uma existência.”

O que é representado por uma proposição é, por


conseguinte, uma situação ou um estado de coisas possíveis. E
isto se dá na proposição por intermédio da figuração dos nomes
dos quais ela se compõe.
Assim podemos compreender quando Wittgenstein diz
que entendemos uma proposição bastando que seu sentido seja
mostrado nela, não necessitando-se qualquer explicação ulterior.
4.021 – “A proposição é figuração da realidade; pois
conheço a situação representada por ela quando entendo
a proposição. E entendo que se mostra neste caso é sua
estrutura”.

No entanto:
4.026 – “As denotações dos signos simples (das
palavras) nos devem ser explicadas para que as
compreendamos”.

Com as proposições compreendemos a nós mesmo.


Aqui o que se precisa é que seja explicado a referência
dos constituintes ou seja de seus nomes, uma vez que é uma
relação entre eles e a realidade, entre eles e os elementos menos
complexos da realidade. Neste sentido é necessário à proposição
que ela possa comunicar um novo sentido através de velhas
expressões, já que com os mesmos nomes podemos formar
diferentes sentidos, o que vale dizer, diferentes proposições,
segundo combinações de diferentes estruturas os nomes de
diferentes modos.
4.027 – “Está na essência da proposição poder
comunicar-nos um “novo” sentido”.

4.0311 – “Um nome presenta uma coisa, outro, outra


coisa, e estão ligados entre si de tal modo eu o todo –
como quadro vivo (Eilebendes Bild) – presenta o estado
de coisas”.
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A possibilidade de decomposição da linguagem em


nomes é conseqüência do princípio isomórfico com o mundo
que ela comporta. Aos nomes cabem permitir à linguagem que
ela possa “tocar” a realidade, à medida em que ela pode ser
decomposta, a linguagem como figuração, ela pode ser
submetida à análise lógica, permitindo assim que se possa
estabelecer aquelas partes que nela possa distinguir as partes que
representam as situações.
4.0312 – A possibilidade da proposição se estriba no
princípio da substituição dos objetos por meio de
signos.

Meu pensamento basilar é que as “constantes lógicas”


nada substituem; e a “lógica dos fatos não se deixa
substituir.

4.04 – Tanto se distinguirá na proposição quanto na


situação que ela representa.

Ambos devem possuir a mesma multiplicidade lógica(


matemática).

(Cf. a mecânica de Hertz a propósito dos modelos


dinâmicos)

Daí não se conclue que as diferentes partes da linguagem


se dêm gramaticalmente separadas. O que aqui é pressuposto é
uma análise lógica. É neste sentido que pode compreender o que
diz Wittgenstein na proposição 4.032 –
A proposição é uma figuração da situação unicamente
enquanto for logicamente articulada.

(Também a proposição Ambulo é composta, pois sua


raiz com outra desinência nos dá outro sentido, o
mesmo acontecendo se está desinência estiver com
outra raiz).

O princípio segundo o qual o sentido de uma proposição


é sua estrutura e que representa uma situação ou estado de coisas
possíveis, não implica que para que uma proposição seja tal, no
caso uma figura, precise que exista a situação representada. Isto
só se faz necessário no caso de que a proposição seja verdadeira.
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4.1 – “A proposição representa a subsistência e não


subsistência dos estados de coisas”.

Porém à medida em que a proposição representa a não


existência de um estado de coisas, ela deve estar negada. Neste
caso a negação se acrescenta complexa e logicamente à própria
estrutura figurativa de um estado de cosias.
2.06 – A subsistência e não subsistência dos estados de
coisas é a realidade.

(Chamamos de fato positivo à subsistência de estados de


coisas e de negativo à não subsistência deles). O que aqui se
expressa é que uma proposição negativa não possa corresponder
a nenhum fato de caráter negativo, um fato negativo é tão
somente um fato inexistente. As proposições elementares são
aquelas que afirmam a existência de um estado de coisas, razão
pela qual duas proposições elementares não podem ser com
relação a outra contraditória, pois só poderiam ser assim caso
uma delas fosse negativa, e em tal caso não seria elementar.
4.211 – “É um signo da proposição elementar que
nenhuma outra possa estar em contradição com ela.”

Do mesmo modo não se pode deduzir uma proposição


elementar de outra, o que só é possível se, pelo menos, uma
delas é complexa. No que tange às proposições elementares, à
lógica cabe dizer tão somente que elas devem existir.
Apresentada a linguagem, aí se apresenta o fundamento “a
priori” das proposições elementares. Segundo o princípio de
extensionalidade, exige-se logicamente que as proposições
complexas sejam funções-verdade de proposições das
proposições elementares.
5.5562 – Por motivos puramente lógicos sabemos que
deve haver proposições elementares: desse modo, isto
deve ser conhecido por todo aquele que compreende as
proposições na sua forma não analisada.

No entanto não cabe à lógica dizer que proposições


elementares existem, o que comportam elas e quais são suas
formas. Procurar explicar tais questões aprioristicamente
rendudará no sem-sentido.

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Dizer e Mostrar em Ludwig Wittgenstein 84

5.55 – Devemos agora “a priori” responder à pergunta a


respeito de todas as formas possíveis de proposição
elementares.

A proposição elementar constitui-se de nomes. Posto que


não podemos dar o número de nomes com denotação diferente,
não podemos também dar a composição das proposições
elementares.
5.5571 – Se não posso indicar “a priori” as proposições
elementares, querer indicá-las deve redundar num
patente absurdo (unsinn).

Aqui se coloca um problema empírico. Lembremos que


para obtermos a totalidade das proposições elementares
necessitar-se-ia ter disposição a totalidade dos objetos aos quais
elas se referem, o que termina por ser uma questão empírica que
se atém ao nosso conhecimento crescente do mundo.
Aquilo que se possa decidir sobre as proposições
elementares quanto a sua existência, quantas existem, só pode
ser decidido pela aplicação da lógica e que não pode ser
antecipado pela própria lógica.
5.557 – A “aplicação da lógica decide que proposições
elementares existem.

O que está na aplicação a lógica não pode antecipar.

É claro: a lógica não há de colidir com sua aplicação.

Mas a lógica deve referir-se à sua aplicação.

Desse modo, a lógica e sua aplicação não devem


sobrepor-se uma à outra.

Necessita-se, para aplicação da lógica à medida em que


se refere ao nosso conhecimento do mundo, de componentes
empíricos estranhos à própria lógica. Recorrer aos nomes se faz
necessário para dar as formas das proposições elementares e
para tal temos que conhecer de alguma maneira seus referentes,
remetendo-se assim ao que há no mundo. No entanto na lógica
não podemos decidir que exista isso ou não aquilo no mundo.

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5.61 – A lógica preenche o mundo, os limites do
mundão são também seus limites.

Não podemos pois dizer na lógica: isto e isto existem no


mundo, aquilo não.

Portanto se pressuporia aparentemente que excluímos


certas possibilidades, o que não pode ocorrer pois, do
contrário, a lógica deveria colocar-se além dos limites
do mundo, como se pudesse considerar esses limites
também do outro lado.

Não podemos pensar o que não podemos pensar, por


isso também não podemos dizer o que não podemos
pensar.

Ao lógico, não cabe dar exemplos.


O princípio de isomorfia só cabe ser aplicado às
proposições elementares. Quanto as proposições complexas,
estas conteriam, além de nomes aqueles elementos que não
encontram correspondência na realidade, tais como
quantificadores e diferentes partículas conectivas. Pela análise
das proposições complexas chegamos diretamente a proposição
simples. E este é o suposto do atomismo lógico de Wittgenstein.
Os nomes estão concatenados na proposição simples. Os
símbolos são funções de nomes.
4.221 – É óbvio que, graças à análise da proposição,
devemos chegar a proposições elementares que
consistam de nomes numa vinculação imediata.

Pergunta-se aqui como se dá o vínculo proposicional.

4.22 – A proposição elementar é constituída de nomes.


É uma conexão, um encadeamento de nomes.

4.24 – Os nomes são símbolos mais simples, indico-os


por letras singulares (“x”, “y”, “z”).

Escrevo as proposições elementares como função dos


nomes, com a seguinte forma: “ƒx”, Ø(x, y), etc. ou
indico-as por meio de letras p, q, r.

Aqui está tudo que a lógica pode nos ensinar sobre a


linguagem. Trata-se de saber o que nos mostra a linguagem
sobre o mundo.

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Análise e Figuração

A filosofia enquanto atividade para Wittgenstein é ao


mesmo tempo crítica: acontece na distinção entre sentido e sem-
sentido, nos limites entre ele, do que pode ser dito, e o que
propriamente não pode ser dito.
4.022 – O homem possui a capacidade de construir
linguagens nas quais cada sentido se deixa exprimir,
sem contudo pressentir como e o que cada palavra
denota. Assim se fala sem saber como os sons
singulares são produzidos.

A linguagem corrente forma parte do organismo


humana e não é menos complicada do que ele.

É humanamente impossível de imediato aprender dela a


lógica da linguagem.

A linguagem veda o pensamento, do mesmo modo, não


é possível concluir, da forma exterior da veste, a forma
do pensamento vestido por ela; Porquanto a forma
exterior da veste não foi feita com intuito de deixar
conhecer a forma do corpo. Os acordos silenciosos
para entender a linguagem corrente são enormemente
complicados.

Na lógica da linguagem na qual é lida imediatamente a


humana possibilidade, chegar a esclarecer o seu funcionamento
e um entendimento de sua função de mostrar deve ser feita pelo
homem na própria linguagem.
3.325- “Para evitar erros devemos usar uma linguagem
simbólica que os exclua, pois está não empregará
significativamente o mesmo signo para símbolos
diferentes, e não empregará signos, que designam do
mesmo modo. Uma linguagem simbólica, portanto, que
obedece a gramática “lógica” – à sintaxe lógica”.

Quando há sentido, nós pensamos e aí figuramos


proposições que se deixam aparecer em expressões. Proposições
chama-se no Tractatus figurações da realidade. O pensamento
constitui-se o tema central do Tractatus e Wittgenstein procura
traçar os limites do pensamento através da expressão na

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linguagem. Enquanto a linguagem é a expressão do pensamento,
permite que haja um certo intercâmbio entre ambos. O estudo da
proposição é exatamente o meio para fundamentar uma teoria do
pensamento. Há assim, uma relação estreita entre o pensamento
e proposição. Assim como toda proposição com significado
expressa um pensamento, todo pensamento terá que ser
expressável numa proposição. A linguagem enquanto precisa ser
transmitida, precisa para tal do pensamento. Se pensamento e
proposição são mutuamente implicativos isto se deve a que
proposição é uma figuração dos fatos, como já vimos
anteriormente. Os pensamentos são por sua vez figuras que
podem expressar-se proposições 3-“pensamento é a figuração
lógica dos fatos”.
No pensamento a forma da figuração se reduz à forma
lógica. Qualquer pensamento pode, em princípio, ser
corretamente expresso e interpretado numa proposição. Mas não
devemos esquecer que isto se dá tão somente em princípio, pois
a linguagem pode disfarçar o pensamento correto (cf. 4.002). Na
medida em que a linguagem pode atuar como um disfarce para o
pensamento se faz necessário a busca de uma linguagem a mais
correta possível para que se possa evitar esta possibilidade.
Embora a linguagem corrente esteja em perfeita ordem lógica,
sua gramática por nos induzir a erro, dada a sua complexidade.
Eis aí o motivo pelo qual Wittgenstein procurou delimitar a
possibilidade de uma linguagem logicamente perfeita que
pudesse expressar corretamente os pensamentos. Aí se poderia
encontrar uma perfeita correspondência entre proposição e
pensamento, de modo que sua expressão possa ser unívoca. E
isto é o que quer dizer a proposição.
3.001 – “Um estado de coisas é pensável” significa:
podemos construir-nos uma figuração dele.
4.116 – Tudo em geral o que pode ser pensado o que
pode claramente. Tudo o que se deixa exprimir, deixa-
se claramente

E aqui entramos depois do que até agora foi dito na


distinção fundamental entre “dizer e mostrar”.

Dizer e Mostrar a Lógica, o Ético e o Místico

Tudo que foi dito até aqui procura colocar o verdadeiro


problema no centro da filosofia de Wittgenstein. Ou seja, a
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Dizer e Mostrar em Ludwig Wittgenstein 88
distinção, do ponto de vista lógico, daquilo que é uma teoria, e
lembremos que a filosofia não é uma teoria para Wittgenstein;
sobre aquilo que pode ser expresso pela linguagem no seu uso
proposicional. Isto indicará, em contrapartida, o que pode e não
pode ser mostrado por ela. Ou o que pode ser dito por ela com
sentido.
Proposições que dizem algo são aquelas que podem ser
verdadeiras ou falsas. Vale dizer: quando se indica suas
condições de verdade por intermédio dos signos “V” para
verdadeiro e “F” para falso e qeu podem pela declaração dessa
condição bi-onívoco enquanto condições de possibilidade de sua
verdade ou falsidade aparecer como tal.
Dadas as proposições “chove ou faz sol”, esquematicamente “p
v q (“p” para chove – “q” para “faz sol” e “v” para “ou”). Deixa-
se assim a possibilidade de verdade se reproduzir este modo.

p q v

V V V

V F V

F V V

F F F

A última coluna sob o signo de disjunção “v” apresenta


as condições de verdade das proposições acima citadas: “p v q”
que é a série: VVVF.
Para a conjunção: “Chove ou faz sol”m respectivamente
(“p . q”), dizem as respectivas expressões os seguintes valores
de verdade, VFFF, pois a conjunção, ou signo proposicional,
ambos os componentes das proposições são verdadeiros.
Tais proposições dizem algo, pois para chegarmos à
identificação de seus valores de verdade não se considera o
símbolo em si mesmo, mas deve-se examinar se elas concordam
com a realidade. As proposições “chove ou faz sol” e
precisamente falsa se na realidade “chove ou faz sol”.
Diferentemente se comportam as proposições as quais
contém na última coluna da tabela de verdade os valores V ou
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apenas F. Por exemplo, são as proposições “Chove ou faz sol”,
como: “chove e não faz chove”, respectivamente (“p v ~ p”),
respectivamente “p . ~ p). A tabela das primeiras condições de
verdade da primeira diz o seguinte:

P ~P V

V F V

F V V

E a seguir a tabela dos valores de verdade da segunda


proposição:

P ~P V

V F F

F V F

No primeiro caso obtivemos a descrição das condições


de verdade exclusivamente “V”, no segundo caso
exclusivamente “F”. Às proposições do primeiro tipo chama-as
Wittgenstein tautologias, às proposições do segundo tipo
contradições. Para identificar os verificar da verdade ou
falsidade de semelhantes proposições não é necessário compará-
las com a realidade; basta simplesmente considerar seus
respectivos valores de verdade. E assim reconhece-se que as
tautologias são sempre verdadeiras enquanto as considerações
são falsas. Wittgenstein descreve a relação dos diferentes tipos
de proposição em:
4.463 – As condições de verdade determinam o campo
aberto aos fatos pela proposição.

A proposição, a figura, o modelo são, num sentido


negativo, como um corpo sólido que limita a liberdade
de movimento do outro, no sentido positivo, como um
espaço limitado por uma substância sólida onde o corpo
pode ter lugar.

A tautologia deixa inteiramente à realidade o espaço


lógico – infinito -, a contradição preenche o espaço
lógico inteiro, não deixando à realidade ponto algum.
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Nenhuma delas pode, por conseguinte, determina a
realidade de um modo qualquer.

A tautologia como a contradição são assim algo como os


casos limites da proposição, vale dizer: à rigor, na verdade já
não são proposições, pois elas nada dizem, não são figurações,
mas elas mostram algo – “A proposição mostra os que mostra,
as tautologias não tem qualquer valor de verdade, pois elas são
incondicionalmente verdadeiras e as contradições não são sob
quaisquer condições imputáveis de verdadeiras.
As tautologias e as contradições são desprovidas de
sentido (sinnlos).

4.461 – A proposição mostra o que diz, a tautologia e a


contradição que não dizem nada.

A tautologia não possui condições de verdade pois é


verdadeira sob qualquer condição; a contradição sobe
nenhuma condição é verdadeira. A tautologia e a
contradição são vazias de sentido. (Como o ponto de
onde duas flechas partem em direções opostas). (nada
sei, por exemplo, a respeito do tempo se sei que chove
ou não chove).

Tautologia e contradição não tem qualquer sentido


porque suas condições de verdade ou seus valores de verdade
não podem ser determinados pela realidade.
4.022 – A proposição “mostra” seu sentido. A
proposição “mostra”, se for verdadeiro, como algo está.
E “diz” que algo “está” assim.

Propriamente proposições mostram, em comparação com


isso, seu sentido, vale dizer, elas mostram como se comportam
com os fatos, contanto que elas sejam verdadeiras, e dizem que
as coisas (em conformidade com isto) se comportam assim. De
que modo é tão importante a distinção entre “dizer e mostrar”?
Por que são para Wittgenstein as distinções fundamentais que o
Tractatus procura esclarecer?
Parte da resposta deriva-se da idéia de que as
proposições enquanto universais e espelho do mundo são as
tautologias.

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5.511 – Como é possível a lógica, que tudo abrange e
espelha o mundo, precisar de tais artifícios e
manipulações especiais? Somente porque tudo isto está
ligado a uma rede infinitamente fina, ao grande espelho.

6.1231 – O sintoma da proposição lógica não é a


validade universal.

Se universal quer dizer apenas valer para todas as coisas


de modo acidental. Uma proposição não universalizada
pode ser tautologia tanto quanto uma proposição
universalizada.

Vale dizer: sua validade universal não é contingente, mas


universal. Somente nos sinais da proposição deixa-se ser vista
sobre a realidade empírica, que a linha da condição de verdade
apenas confronta.

A lógica deixa-se livremente construir-se com as


contradições.
6.1202 – É claro que, em vez da tautologia, é possível
empregar a contradição para os mesmos fins.

Que as proposições em enlaces determinados constroem


tautologias e respectivamente contradições, mostra algo sobre a
forma da linguagem e com isso sobre a lógica da afiguração.
Mostra-se assim isto no axioma fundamental. “O que pode ser
mostrado não pode ser dito, traduzir-se em palavras.
Apenas o emprego de uma notação lógica suficiente
pode dar uma explicação suficiente sobre a essência do lógico,
não pode descrevê-la.
Esta concepção, que aparece sempre com novas
variações ao longo do “Tractatus” está claramente ligada ao
pensamento fundamental, segundo ao “a lógica dos fatos não se
deixa apresentar”.
4.12 – A proposição pode representar a realidade inteira,
não pode, porém, representar o que ela deve ter em
comum com a realidade para poder representá-la – a
forma lógica.

Para podermos representar a forma lógica seria preciso


nos colocar com a proposição fora da lógica, a saber
fora, fora do mundo.

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O resultado é mostrado por Wittgenstein na observação
em:
6.124 – As proposições lógicas descrevem os andaimes
do mundo, ou melhor, os representam. Não “tratam” de
nada. Pressupõem que os nomes possuem denotação e
as proposições elementares, sentido. E tal é a sua
vinculação com o mundo. É claro que isso deve indicar
alguma coisa a respeito do mundo, que certas
vinculações de símbolo – que essencialmente possuem
um caráter determinado – são o decisivo. Dissemos que,
nos símbolos que usamos, muito era arbitrário, muito
não o era. E na lógica apenas isso exprime? O que quer
dizer que na lógica “nós” não exprimimos o que
queremos com a ajuda de signos, mas que a natureza
dos signos naturalmente necessários na lógica, asserta-
se a si próprio. Ai conhecermos a sintaxe lógica de uma
linguagem simbólica qualquer, já estão dadas todas as
proposições da lógica.

A flagrante distinção entre dizer e mostrar desempenha não


apenas, em conexão com a doutrina do sentido da proposição e a
lógica das afigurações, um papel, mas tem um lado mais
alargado: conduz ao pensamento conclusivo do Tractatus.

É isto o que recorda Wittgenstein numa carta a Ficker de


novembro ou outubro de 1919:
“O sentido do livro é um sentido ético. Minha obra
consiste em duas partes, a que aqui apresento e a que
não escrevi. O ético é delimitado por meu livro, por
assim dizê-lo desde dentro; e estou convencido de que,
estritamente, só assim pode delimitar-se”.

Wittgenstein procura traçar os limites do ético com a


conseqüência de calar sobre ele ali onde terá que haver falado
sobre ele; tais limites ficam pois, mostrados. E este é o sentido
fundamental do Tractatus: mostrar o pouco que se consegue
quando se soluciona os problemas dos quais trata, pois o
realmente importante são os problemas éticos, como o sentido
da vida, e sobre isso nada se pode dizer. O mesmo poder-se-ia
dizer do místico3.
7- Do que não se pode falar, deve-se calar.

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93 Edmilson Alves de Azevedo
Bibliografia

WITTGENSTEIN, L. “Tractatus Lógico-Philosophicus. Trad.


José A. Giannotti: Companhia Editora Nacional/Editora de U.
de São Paulo, São Paulo, 1968.
______ Philosophical Investigations. Trad. G.E.M./Anscombe.
Basil Blacwell, Oxford, 1953.
______Werkausgabe Band 1.
CHAUVIRÉ, C. Wittgenstein. Jorge Zhar Editor; Rio de Janeiro,
1991.
STENIUS, Erik. Wittergenstein’s Tractatus. A Critical
Exposition of its Main Lines of Thought. Basil Blacwell. Oxford,
1964.
FANN, K.T. El concepto de Filosofia en Wittgenstein. Editora
Tecnos. Madrid, 1975.

Notas
1
(Wittgenstein – Werkausgabe, Band 8 – pga. 463-4; Suhkamp Verlag,
Frankfurt a. Main. 1984).
2
(Investigações Filosóficas. (§ –109).
3
(cf. HADOT, P. Wittgenstein y los limites del lenguaje. Valência , PRE-
TEXTOS, 2007).

Problemata: R. Intern. Fil. v. 5. n. 1 (2014), p. 64-93


ISSN 2236-8612

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