Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Laura Moniz
laura.moniz@hotmail.com
Palavras-chave:
Diversidade, encíclica, inclusão, exclusão, contemporaneidade, Francisco
Abstract
In this paper only the encyclics and the reflections contained in them of the current Pope
Frances are used as corpus. All three encyclics that have been published up to the present day
ponder the question of the catholic faith drawing an idea of religion as being itself a form o
diversity, thus considered in post-modernity; without excluding some discussions and writings
from his predecessors and not even a certain intellectual, literary and philosophical tradition,
the Pope endeavors to find common ground to dialogue with other diversities, keeping his
focus on the foundations of the catholic ideology. He also states his concerns regarding the
planet’s survival on his second encyclic entitled Laudato Si´. The latter is closely connected to
his first encyclic Lumen fidei although it is much blunt and to the point for referring directly
wrongs against humanity; lastly, he draws reflections on the human and on our unavoidable
diversity in his encyclic Fratelli Tutti. One can draw some conclusions from his considerations
regarding the ideas of Evil and Good that are not contrary to global humanist concerns and
also parallel reflections that converge to the same trail that leads to inclusion of diversity,
indiscriminately, but in which the Catholic Church only halts wherever life is at stake or when
her intrinsic dogmatism, where exceptions are not allowed, finds a way to deflect them
without prejudice to diversity.
Keywords:
Diversity, encyclic, inclusion, exclusion, contemporaneity, Pope Francesco
Este trabalho considera as encíclicas papais como documentos do domínio público e que
são dirigidas a destinatários anónimos, e indiferenciados, e não tem pretensões de impor uma
interpretação pessoal como definitiva ou conclusiva, mas como indagação à luz do discurso
inclusivo e globalizante da contemporaneidade que foi debatido no Concílio Vaticano II e que
redundou em alterações posteriores no código de direito canónico.
“Portanto, ao promulgar hoje o Código, estamos plenamente cônscios de que este acto é
expressão da autoridade Pontifícia, e por isso se reveste de um carácter primacial. Mas
estamos de igual modo cônscios de que este Código, no que diz respeito à matéria,
manifesta em si a solicitude colegial pela Igreja por parte de todos os Nossos Irmãos no
Episcopado; além disso, por certa analogia com o Concílio, o mesmo Código deve ser
considerado como o fruto de uma colaboração colegial, que surgiu de energias da parte
de homens e instituições especializadas que, em toda a Igreja, se uniram num todo.” (João
Paulo II apud Vários, 1983: X)
Nesta reflexão inicial limito-me a identificar as variações no discurso encíclico dos papas,
posterior ao concílio, e perceber se a postura do catolicismo se tornou mais abrangente
perante as novas realidades derivantes da passagem do tempo e mudança de mentalidades,
uma vez que foi esta a preocupação de norteou a organização do concílio pelo papa João XXIII,
embora se tenha apenas concluído no decorrer do pontificado de Paulo VI em 1965.
Talvez por feliz sincronia, nos anos 60 o concílio ecuménico Vaticano II debateu a
postura religiosa entre as várias religiões cristãs, além de outros temas da
contemporaneidade.
“No concílio participaram 800 bispos originários de várias instituições e ordens
religiosas, o que equivaleu a quase um terço dos padres conciliares, mas
encontravam-se também presentes 103 superiores gerais de ordens e
congregações e alguns teólogos que acompanhavam os bispos como «peritos».
Este número tão elevado não deve surpreender; mostra apenas a importância
Creio, como disse acima, que as conclusões resultantes do debate do concílio Vaticano
II se reflectem no discurso dos últimos pontífices. Sendo o paradigma religioso católico
indissociável da cultura, sobretudo da cultura ocidental, é pertinente reflectir acerca da
postura do Vaticano, em que medida se mantém na sua linha de conservadorismo e em que
medida se adaptou aos tempos, uma vez que em anos recentes a sua postura em termos
éticos se aproxima grandemente da legislação que tutela os direitos humanos, mas em que
também se nota um retorno às bases do cristianismo, aliada a uma certa cautela em
denominar e lidar com situações amplamente discutidas na nossa época que podem ser
consideradas polémicas.
Assim, para poder definir um centro a partir do qual possamos explicar as
características da Igreja católica e logo, a sua diversidade, e deste modo, a sua própria
identidade, definimos a cristianismo como uma religião que se inicia sob a égide da inclusão da
diversidade, tendo em conta as bases teóricas registadas nos livros do Segundo Testamento.
A mensagem de Jesus Cristo estabelece as premissas para a tolerância, perdão,
aceitação, inclusão e não-violência. Outra das bases, talvez a que mais defina ou deveria
definir o catolicismo, é o respeito pela vida. O discurso que encontramos no cânone do
catolicismo, não tendo em conta os evangelhos apócrifos, poderá talvez não possibilitar
delinear de forma mais abrangente a postura do fundador desta igreja milenar em relação a
todos os aspectos de diversidade que aqui indagamos, mas julgo que, esta breve reflexão é de
momento suficiente, como leitura leiga ou plebeia, como a que aqui propomos, sobre a Igreja
actual e os seus representantes máximos.
A igreja católica baseia-se nos 10 Mandamentos contidos tanto no livro do Êxodo como no
Deuteronómio e que foram comunicados ao profeta Moisés: Adorar um Deus único, respeitar
o Seu dia, não usar o nome de Deus em vão, não idolatrar, não cometer adultério, não cobiçar,
não matar, honrar as hierarquias familiares, não difamar, não roubar. Acrescentam-se a essas
regras a proibição de actos considerados também pecaminosos como a homossexualidade e a
consulta de adivinhos. Estas são as regras do Velho Testamento. Com a vinda de Jesus, este
acrescenta amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Marcos,
12:30-33). Ao longo do Novo testamento observa-se a atitude de compreender, ouvir, não
A sua comunicação tem em conta o facto de o mundo actual ter para o ser humano
uma valência material, mais do que abstracta ou espiritual, e assim a fé tem de ser explicada
pelo Papa Francisco, como fundamental para o ser humano, além de ter de ser explicada em si
mesma, como facto da mente o do espírito que os nossos dias rejeitam porque existe a crença
de que a fé aprisiona o homem e o limita. Não refere outros pensadores que nos poderiam
ocorrer, como Bertrand Russell e a sua obra Porque não sou cristão, nem mesmo obras que
Embora esta consciência – ter fé – ou forma de estar no mundo seja intrínseca ao ser
humano, a vida no mundo actual impele-o a ter como objectivo a sua própria sobrevivência,
num mundo competitivo que se estruturou para criar melhores condições de vida para a
humanidade mas que, ao mesmo tempo, o alienou e o impede de viver ou experienciar outros
aspectos do seu ser que são importantes para o seu equilíbrio e bem-estar e em que o passado
e a aprendizagem que este proporcionou à humanidade é descartado.
“A verdade grande, aquela que explica o conjunto da vida pessoal e social, é vista
com suspeita. Porventura não foi esta — perguntam-se — a verdade pretendida
pelos grandes totalitarismos do século passado, uma verdade que impunha a
própria concepção global para esmagar a história concreta do indivíduo? No fim, resta
apenas um relativismo, no qual a questão sobre a verdade de tudo — que, no fundo,
é também a questão de Deus — já não interessa. Nesta perspectiva, é lógico que se
pretenda eliminar a ligação da religião com a verdade, porque esta associação estaria
na raiz do fanatismo, que quer emudecer quem não partilha da crença própria. A
este respeito, pode-se falar de uma grande obnubilação da memória no nosso
mundo contemporâneo; de facto,a busca da verdade é uma questão de memória,
de memória profunda, porque visa algo que nos precede e, desta forma, pode
conseguir unir-nos para além do nosso «eu» pequeno e limitado; é uma questão
relativa à origem de tudo, a cuja luz se pode ver a meta e também o sentido da estrada
comum.” (Francisco, 2013, LF: 31-32)
Há também, como acima refiro, de acordo com o papa Francisco, certas noções que a
filosofia introduziu nos nossos dias, uma dessas noções é do pragmatismo e individualidade
que conduzem à alienação do ser humano do divino. Deste modo, desta encíclica destaca-se o
seguinte: a fé é encarada nos nossos dias como algo de divergente, logo, é uma diversidade
que tem de ser explicada.
“Por este caminho a fé acabou por ser associada com a escuridão. E a fim de
conviver com a luz da razão, pensou-se na possibilidade de a conservar, de lhe
encontrar um espaço: o espaço para a fé abria-se onde a razão já não podia ter
certezas. Deste modo a fé foi entendida como um salto no vazio (...) impossível de
ser proposta aos outros como luz objectiva e comum para iluminar o caminho. (...)
Quando falta a luz, tudo se torna confuso: é impossível distinguir o bem do mal,
Uma forma de reacção à diferença do não material, para continuarmos esta incursão
no território da Fé como diversidade, é, como nos diz o papa Francisco, a incredulidade que
depois leva ao egocentrismo centrado na materialidade, e que o papa define como idolatria:
“A história de Israel mostra-nos ainda a tentação da incredulidade, em que o povo
caiu várias vezes. Aparece aqui o contrário da fé: a idolatria. (...) [O] povo não
suporta o mistério do rosto divino escondido, não suporta o tempo de espera. Por
sua natureza, a fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece
oferecer, é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o mistério próprio
de um Rosto que pretende revelar-se de forma pessoal e no momento oportuno.”
(Francisco, 2013, LF: 15).
A esta reflexão que elucida acerca desta dicotomia entre espírito/mente e razão/matéria o
papa continua:
“Martin Buber citava esta definição da idolatria, dada pelo rabino de Kock: há
idolatria, «quando um rosto se dirige reverente a um rosto que não é rosto.» Em
vez de fé em Deus, prefere-se adorar o ídolo, cujo rosto se pode fixar e cuja
origem é conhecida, porque foi feito por nós. Diante do ídolo, cujo rosto se pode
fixar e cuja origem é conhecida, porque foi feito por nós. Diante do ídolo, não se
corre o risco de uma possível chamada que nos faça sair das próprias seguranças,
porque os ídolos «têm boca, mas não falam» (Sal 115, 5). Compreende-se assim
que o ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na
adoração da obra das próprias mãos.” (Francisco, 2013, LF: 15-16)
“O início da salvação é a abertura a algo que nos antecede, a um dom originário que
sustenta a vida e a guarda na existência. Só abrindo-nos a esta origem e
reconhecendo-a é que podemos ser transformados, deixando que a salvação actue
em nós e torne a vida fecunda, cheia de frutos bons.” (Francisco, 2013, LF:24)
Este discurso tem implicações práticas. O ser humano atinge a plenitude quando
concede a si mesmo essa fé, entendida como “(...) a general human capacity which has to do
Nesta longa encíclica, Francisco lança o olhar sobre as condições do planeta Terra em
termos gerais referindo o aquecimento global, a degradação do planeta, a importância dos
ecossistemas em si para a manutenção da saúde planetária e sobrevivência de todas as
espécies. Critica o antropocentrismo desregrado e um certo relativismo que objectifica o ser
humano e as consequências da acção humana sobre o planeta.
“Quando o ser humano se coloca no centro, acaba por dar prioridade absoluta aos
seus interesses contingentes, e tudo o mais se torna relativo. Por isso, não deveria
surpreender que, juntamente com a omnipresença do paradigma tecnocrático e a
adoração do poder humano sem limites, se desenvolva nos indivíduos este
relativismo no qual tudo o que não serve os próprios interesses imediatos se
torna irrelevante. Nisto, há uma lógica que permite compreender como se
alimentam mutuamente diferentes atitudes, que provocam ao mesmo tempo a
degradação ambiental e a degradação social.” (Francisco, 2015, LS: 41)
Refere os abusos e adverte para a união de interesses políticos e societais para que o
planeta não se degrade mais. Fala do planeta como «irmã Terra» que deve ser respeitado e
cuidado. A propósito do equilíbrio dos ecossistemas revela a sua preocupação relativamente
ao desaparecimento de espécimes cujo papel é fundamental para a manutenção da vida. A
este tópico alia-se a consciência de que as populações não podem ser escravizadas pela
industrialização abusiva e privadas das suas formas de viver e das suas crenças.
Mais, o estado do planeta, a sua degradação, não é considerado por Francisco como
diversidade, mas como anomalia e desequilíbrio, daí que este discurso seja um eco das
preocupações que já teriam sido parcialmente expressadas no âmbito do Concilio Vaticano II.
Acrescente-se novamente o seu tom directo quando refere de que modo o avanço técnico,
apesar de positivo em alguns aspectos, prejudica a capacidade de sobrevivência dos homens,
retirando-lhes a dignidade de serem auto-suficientes:
“O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através
do trabalho. Mas a orientação da economia favoreceu um tipo de progresso
tecnológico cuja finalidade é reduzir os custos de produção com base na
diminuição dos postos de trabalho, que são substituídos por máquinas. É mais um
exemplo de como a acção do homem se pode voltar contra si mesmo. A
diminuição dos postos de trabalho «tem também um impacto negativo no plano
económico com a progressiva corrosão do “capital social”, isto é, daquele
conjunto de relações de confiança, de credibilidade, de respeito das regras,
indispensável em qualquer convivência civil». Em suma, «os custos humanos são
Por outro lado, ao desenvolver o seu discurso acaba por falar da diversidade dos povos
aborígenes e do seu direito às suas tradições e forma de se relacionarem com a Terra sem
serem submetidos a migrações forçadas e a abandonar o seu modus vivendi que contribui para
o equilíbrio planetário.
“Não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais
interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projectos que
afectam os seus espaços. Com efeito, para eles, a terra não é um bem económico,
mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço
sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus
valores.Eles, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuida.
Em várias partes do mundo, porém, são objecto de pressões para que abandonem
suas terras e as deixem livres para projectos extractivos e agro-pecuários que não
prestam atenção à degradação da natureza e da cultura.” (Francisco, 2015, LS: 49)
No texto de abertura desta encíclica, Francisco diz o seguinte, lançando os tópicos principais
acerca dos quias irá discorrer, e mais uma vez, como acima referimos, demonstrando o estudo
constante das escrituras também das mensagens de profetas e santos, como é o caso de
Francisco de Assis, que o pontífice usa como mote para este discurso. Ao longo da encíclica
Laudato Si´, continua a fazer menção às directivas resultantes do Concílio Vaticano II.
“As questões relacionadas com a fraternidade e a amizade social sempre
estiveram entre as minhas preocupações. A elas me referi repetidamente nos
últimos anos e em vários lugares. Nesta encíclica, quis reunir muitas dessas
intervenções, situando-as num contexto mais amplo de reflexão. Além disso, se na
redação da Laudato si’ tive uma fonte de inspiração no meu irmão Bartolomeu, o
Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, agora
senti-me especialmente estimulado pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, com
quem me encontrei, em Abu Dhabi, para lembrar que Deus «criou todos os seres
humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver
entre si como irmãos». (Francisco, 2020, FT: 2)
Pessoas com deficiência, rejeita uma globalização que esbata as diferenças de forma radical e
destrua a identidade dos povos, relembra a parábola do bom samaritano em contraste com:
“Nesta linha, com tristeza, volto a destacar que «vivemos já muito tempo na
degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegouo
momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu.
Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos
uns contra os outros na defesa dos próprios interesses».[86] Voltemos a
promover o bem, para nós mesmos e para toda a humanidade, e assim
caminharemos juntos para um crescimento genuíno e integral. Cada sociedade
precisa de garantir a transmissão dos valores; caso contrário, transmitem-se o
egoísmo, a violência, a corrupção nas suas diversas formas, a indiferença e, em
última análise, uma vida fechada a toda a transcendência e entrincheirada nos
interesses individuais.” (Francisco, 2020, FT: 31)
Condena a guerra e a violência e afirma que é possível sonhar com uma humanidade melhor e
mais équa. Refere as diferenças religiosas do Islamismo mas reconhece que o diálogo fomenta
a paz e há interesse mútuo dos líderes religiosos em fomentá-la. Discorre acerca do racismo
considerando-o obsoleto, e ao longo de cerca de 100 páginas o seu discurso repete-se,
CONCLUSÃO
Da leitura das três encíclicas publicadas até agora pelo actual pontífice há três aspectos
que se destacam. O primeiro diz respeito à consciência de que a fé actualmente é considerada
como diversidade e tem de ser explicada e definida como dimensão humana que leva ao
transcendente. Embora esse aspecto não tenha sido directamente focado no concílio Vaticano
II, Francisco faz referência várias vezes ao legado do Concílio Vaticano II e chega a citar Paulo
VI transcrevendo um excerto do discurso deste, numa nota de rodapé, que apresento aqui:
O segundo aspecto diz respeito à sabedoria que todos devem ter, esquecendo as
diferenças e logo, as diversidades ou divergências, para trabalhar em nome da casa comum
que é o planeta Terra.
“Oito anos depois da Pacem in terris, em 1971, o Beato Papa Paulo VI referiu- se à
problemática ecológica, apresentando-a como uma crise que é «consequência
dramática» da actividade descontrolada do ser humano: «Por motivo de uma
exploração inconsiderada da natureza, [o ser humano] começa acorrer o risco de a
destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação». E, dirigindo-se à
FAO, falou da possibilidade duma «catástrofe ecológica sob o efeito da explosão
da civilização industrial», sublinhando a «necessidade urgente duma mudança
radical no comportamento da humanidade», porque «os progressos científicos
mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento
económico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e
moral, voltam-se necessariamente contra o homem».” (FRANCISCO, 2015, LS: 2)
O terceiro aspecto tem a ver com a maturação no seio da Igreja Católica de uma maior
abertura em relação à diferença e a sua tentativa de se propor como solução para as
inquietações humanas, incluindo questões polémicas, do ponto de vista cultural e moral e
mesmo social como a tentativa de contornar a questão das uniões homossexuais.
Um trabalho mais abrangente incluiria também a observação de aspectos como o
paralelismo em relação a ideais enumerados na carta da declaração dos direitos do homem ou
mesmo na legislação lavrada por estados democráticos relativamente à diversidade, além dos
aspectos de pressão da mudança societal que poderiam ter forçado o Vaticano a uma
mudança de postura. E mesmo que essa mudança não advenha de nenhum factor exterior
acaba por convergir com discursos como o da UNESCO, no seu relatório mundial sobre
diversidade.
“A diversidade cultural converteu-se também numa questão social de primeira
ordem vinculada à maior diversidade dos códigos sociais que operam no interior
das sociedades e entre estas. Perante essa variedade de códigos e perspectivas,
os estados nem sempre encontram as respostas apropriadas, por vezes urgentes,
nem logram colocar a diversidade cultural ao serviço do bem comum.” (UNESCO,
2009: 3)
Outra limitação deste trabalho prende-se com o corpus delimitado por questões de tempo
disponível e de extensão desta reflexão. Além de não se tratar de ficção, mas de discursos
BIBLIOGRAFIA
UNESCO (2009) Relatório Mundial da UNESCO. Investir na diversidade cultural e no diálogo
intercultural. Resumo. Organização das nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura.
Faria, Teodoro de (2014). O Concílio Vaticano II, 50 anos depois. Cascais: Princípia Editora, Lda.
Zock, Hetty (1999). “Religion as the realization of the faith.” in The Pragmatics of defining
religion – Contexts, Concepts & Contests.pp. 433-459. Ed. Jan G.Platvoet & Arie L.
Molendijk. The Netherlands: Brill
Vários (1983). Código do Direito Canónico promulgado por S.S. o Papa João Paulo II. 4.ª Edição.
Lisboa: Conferência Episcopal Portuguesa.