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e acordo com a ISO/IEC 9126, Facilidade de uso: depois de aprendido,


“Usabilidade refere-se à capa- o aplicativo é fácil de ser utilizado?
cidade de uma aplicação ser Facilidade de memorização: um usuá-
compreendida, aprendida, utilizada e rio ocasional consegue se lembrar com
atrativa para o usuário, em condições facilidade dos comandos?
específicas de utilização.”. Usabilidade Segurança de uso: o aplicativo previne
é um conceito que permite avaliar fa- os erros? E se houver erros, o aplicativo
tores que influem no uso do aplicativo, consegue dar um alerta adequado ao
como: usuário?
Facilidade de aprendizado: aprendo a Satisfação do usuário: o aplicativo é
usar o aplicativo rapidamente? agradável, bom de ser utilizado?
As interfaces com uma boa usabilidade fazem com que o Fidelização do cliente: é natural que um cliente satisfeito
usuário se torne mais produtivo, à medida em que ele não com a usabilidade do aplicativo adquirido volte a procurar
tem que interromper a todo o momento o seu trabalho para os desenvolvedores do mesmo, caso precise de outra solução
buscar orientação adicional. Essa orientação deve ser fornecida em software.
pela interface em si ou, em última instância, pelo sistema de
ajuda do aplicativo. Porém, muitas vezes o usuário é obrigado
a desviar-se das suas tarefas e buscar no ambiente externo a Para garantir o sucesso da avaliação de usabilidade, é fun-
orientação necessária para a execução de suas tarefas. Isso se damental fazer o correto planejamento dos fatores que serão
deve aos erros de usabilidade do aplicativo, que não é amigável considerados. Para isso, considera-se cinco passos para o
e confunde o usuário. planejamento de uma avaliação:
Com base no que foi exposto, podemos afirmar que aplica- Estabelecer um objetivo;
tivos com baixa usabilidade geram vários tipos de problemas Definir métricas;
para o usuário, tais como: Providenciar recursos;
Requerem treinamento excessivo; Escolher as técnicas de avaliação;
Desmotivam a exploração do aplicativo por parte do Recrutar usuários (se for necessário).
usuário;
Confundem os usuários; É importante estabelecer um objetivo para a avaliação de
Induzem os usuários ao erro; usabilidade para que as técnicas e métricas possam ser me-
Geram insatisfação; lhor estabelecidas. Um teste de usabilidade pode ter vários
Diminuem a produtividade. objetivos, tais como:
Estabelecer uma cultura em usabilidade, a ser aplicada em
Walter Cybis, no seu livro “Ergonomia e Usabilidade“, afir- futuros projetos da empresa;
ma que aplicativos com baixa usabilidade sobrecarregam os Minimizar riscos de falhas de usabilidade, principalmente em
usuários em três aspectos: aplicativos usados em situações-limite (aviação, medicina, etc);
Sobrecarga cognitiva: acontece quando o usuário passa a Criar uma característica que diferencie o seu aplicativo dos
não reconhecer, dentro da interface, os meios necessários para produtos concorrentes;
conseguir executar a sua tarefa com eficácia e eficiência; Minimizar os custos de manutenção e suporte;
Sobrecarga perceptiva: acontece quando o usuário encontra Aumentar as vendas e a fidelização de clientes.
diante de si uma interface que, de alguma forma, prejudica a
leitura dos seus itens. Baixo contraste, cores berrantes, excesso Nos testes com usuários, diferentes métricas podem ser ado-
de texto ou fonte inadequada são alguns itens que podem tor- tadas e usadas nas avaliações, dependendo do que se deseja
nar a leitura da interface uma tarefa cansativa e difícil; avaliar. Dentre as métricas coletadas, podemos destacar:
Sobrecarga física: acontece quando o acionamento de al- Tempo de execução de uma tarefa;
guma função é prejudicado por um mecanismo demasiado Número de erros cometidos durante cada tarefa;
complexo. Um exemplo disso é um atalho de teclado que seja Tempo em que o usuário fica sem executar nenhuma função
de difícil acionamento. no aplicativo;
Opiniões do usuário sobre o aplicativo;
Os benefícios mais importantes obtidos quando é dada uma Entre outras.
maior atenção aos aspectos de usabilidade durante o ciclo do
desenvolvimento de aplicativos são: Antes de definir as técnicas que serão usadas, devemos saber
Menores custos de desenvolvimento: pensar em facilitar a vida quais recursos estarão disponíveis. Os recursos podem ser
do usuário em fases iniciais do projeto faz com que os problemas divididos da seguinte forma:
detectados sejam de mais fácil correção do que aqueles surgidos Local: deve-se definir qual o local da avaliação, antes de tudo.
somente na fase de teste, pois nessa última fase a alocação de Você pode montar um laboratório especialmente destinado
pessoas e recursos sai bem mais caro para a empresa. para avaliações de usabilidade, ou mesmo ir até o ambiente do
Redução do tempo de projeto: o cuidado com a usabilidade usuário. Se os usuários estiverem geograficamente dispersos,
em todo o ciclo de desenvolvimento do aplicativo traz a redu- é possível realizar avaliações remotas.
ção dos tempos de teste e controle de qualidade. Aplicativos: além do aplicativo a ser testado, também devem
Menores custos de manutenção e suporte: os produtos com ser providenciados os aplicativos para a coleta de dados (cap-
uma boa usabilidade são mais fáceis de instalar e de aprender turadores de tela, keyloggers, etc.)
a usar. Isto leva a uma redução em custos de aprendizagem
e de suporte. Adicionalmente, o recrutamento de usuários deve levar
Vantagem competitiva: a usabilidade reduz os custos de em conta o público-alvo do aplicativo avaliado, para que os
venda e diminui os ciclos de comercialização dos produtos. resultados reflitam a possível realidade de uso do mesmo. Os
O mais fácil de usar é mais simples de vender. usuários, via de regra, são recrutados através de um estudo
etnográfico (questionário pré-teste), onde eles registram o seu inspeções são baseadas na experiência anterior do avaliador, e
perfil para que o avaliador, futuramente, possa fazer a escolha em bons princípios de usabilidade (denominados heurísticas
dos usuários mais representativos. ou diretrizes). Essa classe de técnicas tem como características
O Avaliador é a pessoa que planeja e conduz as avaliações principais:
de usabilidade, sendo também o responsável pela análise dos Não necessitam da participação do usuário;
dados gerados. As principais atribuições do avaliador são: Partem dos erros da interface para prever o comportamento
Organizar o teste, providenciando os recursos (laboratório, do usuário;
computadores, etc.), escolhendo as técnicas e recrutando os São baseadas em boas práticas genéricas de usabilidade.
usuários;
Conduzir a avaliação, apresentando as tarefas para o usuário No entanto, nestas técnicas, os aspectos subjetivos relaciona-
e monitorando-o (quando são testes diretos) ou avaliando a dos ao usuário não são avaliados. As técnicas mais conhecidas
interface através de heurísticas e diretrizes (quando são ins- são: Avaliação Heurística; Checklists; Percurso Cognitivo.
peções por especialistas); Nas técnicas objetivas são realizados testes empíricos com o
Tabular, analisar e organizar os dados provenientes dos objetivo de descobrir na vida real quais são as dificuldades en-
testes, localizando as violações de usabilidade e sugerindo frentadas pelos usuários durante o uso do aplicativo. Durante
correções. a avaliação são repassadas tarefas que devem ser executadas
pelo usuários. Os usuários, neste contexto, não são avaliados.
Os possíveis avaliadores de usabilidade, em geral, podem O que é avaliado é o aplicativo e a interação do usuário com o
ser enquadrados em uma das seguintes categorias (adaptado aplicativo. A atuação do avaliador se limita a coletar e inter-
de Prates e Barbosa): pretar os dados, vídeos, métricas, identificando os problemas
Ideal: especialista “duplo”. Possui experiência tanto nos da interface do aplicativo e apontando soluções.
processos e princípios de usabilidade quanto nos processos e As tarefas devem ser típicas, no sentido de serem tarefas tão
aspectos relevantes do domínio; realistas quanto se possa prever sobre o uso do aplicativo na
Desejável: especialista em IHC. Conhece o processo de ava- vida real. Normalmente o tempo de execução de uma tarefa
liação, bem como os princípios e diretrizes relevantes. Pode deveria ser de no máximo 20 minutos. É recomendado manter-
aprender o suficiente do domínio para selecionar as tarefas se o tempo de teste inferior a uma hora para não ser muito
que deverão ser realizadas; cansativo para o usuário.
Menos desejável: especialista no domínio. Tem conhecimen- Nielsen recomenda que os testes sejam feitos com cinco usuários,
to no domínio e estuda princípios de interface e o processo de por que esse número apresenta a melhor relação custo-benefício. O
avaliação de usabilidade; teste com apenas um usuário encontra cerca de 30% dos problemas
Menos desejável ainda: membro da equipe de desenvol- do aplicativo; já um teste com cinco usuários consegue identificar
vimento. Tem dificuldade em deixar de lado seu papel de cerca de 85% dos problemas existentes em uma interface.
desenvolvedor e assumir um ponto de vista semelhante ao Nas técnicas prospectivas, o objetivo principal é descobrir
do usuário. problemas de usabilidade com base no feedback do usuário.
Dessa forma, são fornecidos aos usuários questionários onde
são registradas suas experiências, opiniões e preferências, etc.
As técnicas são usadas para avaliar a usabilidade do aplicati- Questionários podem ser úteis de diferentes maneiras dentro
vo e gerar as métricas e evidências necessárias para a tomada do desenvolvimento de interfaces, como, por exemplo:
de decisão e mudanças cabíveis. Conforme a sua característica, Determinação do grau de satisfação dos usuários com re-
a técnica pode receber uma dessas três classificações: lação à interface;
Técnicas Preditivas: são utilizadas para prever problemas Estruturação das informações sobre problemas de usabili-
que os usuários típicos do sistema provavelmente terão (uso dade identificados por usuários;
de especificações, maquetes ou protótipos); Verificação de problemas anteriormente presumidos, por meio
Técnicas Objetivas (ou Interpretativas): são utilizadas para de avaliações preditivas (análises heurísticas, checklists, etc).
compreender melhor como os usuários utilizam o aplicativo
em seu ambiente natural, e como o uso daquele sistema se Entre os questionários reconhecidos como confiáveis e
integra em outras atividades; validados pela extensão do seu uso, desenvolvidos especifi-
Técnicas Prospectivas: são utilizadas para medir o grau de camente para medir a satisfação dos usuários, destacamos os
satisfação do usuário em relação ao aplicativo, além das suas apresentados a seguir:
sugestões e reclamações. QUIS: Questionnaire for User Interaction Satisfaction -
http://lap.umd.edu/quis/
Conforme mencionado anteriormente, as técnicas preditivas WAMMI: Web Local Analysis and Inventory of Measure –
são utilizadas para prever problemas que os usuários típicos http://www.wammi.com/
do aplicativo provavelmente enfrentarão. Elas baseiam-se em SUMI: Software Usability Measurement Inventory –
inspeções, feitas por especialistas, na interface avaliada. Essas http://sumi.ucc.ie/
Dentro da grande maioria das empresas de desenvolvimento
de software, a realização de testes de avaliação de usabilidade
ainda é considerado algo desnecessário ou de pouca importân-
cia. Parte disso ocorre em função de que muitas empresas ainda
lutam para assegurar que o aplicativo funcione. Nunca sobra
tempo para avaliar outros atributos da qualidade, em especial
a usabilidade do aplicativo. No entanto, estudos acadêmicos
e relatos de avaliação de usabilidade de sites e aplicativos de
comércio eletrônico demonstram que melhorias na usabilidade
fazem a diferença para o sucesso de um aplicativo.
Está na hora das empresas perceberem que aplicativos com
altos níveis de usabilidade facilitam a vida do usuário final
durante o uso, reduz investimentos com treinamentos e su-
porte técnico, entre outros benefícios.

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