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Experiência de Quase Morte: um estudo


dos aspectos psicológicos |
Psicologado
Eliena Lopes Alves
104-143 minutos

Resumo: O presente trabalho apresenta o fenômeno da experiência


de quase morte (EQM) que é uma projeção da consciência, forçada,
compulsória, patológica, causada por traumas orgânicos, agentes
físicos, químicos ou psicológicos. É comum a pacientes terminais,
sobreviventes da morte clínica, e em situações em que haja
momentos de perigo extremo, acidentes, choque anafilático,
intoxicação, traumatismo, anestesia, afogamento e outros casos
médicos. Pois é um fenômeno que envolve sujeitos que estão em
iminência de morte física (ou acreditam estar correndo perigo de
morte) e, durante este período crítico, relatam ocorrências (algumas
verificáveis, outras não) que sugerem expansão da consciência, não
obstante estarem inconscientes ou em comatose. Os estudos e as
observações que são feitas pela ciência, nos indivíduos que
passaram por essa experiência podem trazer alguns esclarecimentos
a respeito dele. Sendo assim, pretende-se observar os efeitos dessa
vivência e a mudança das prioridades da vida das pessoas
envolvidas, que muitas vezes passam a ser o amor e o conhecimento
e verificar as novas visões da morte e da finitude. A metodologia
utilizada nessa pesquisa caracteriza-se como exploratória e
qualitativa, pois, tem como objetivo proporcionar maior familiaridade
com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a constituir
hipóteses. O estudo tem como objetivo explorar o que a literatura traz
sobre os sentimentos relacionados a essa experiência, para melhor
compreender os aspectos de mudança que ocorrem no
comportamento dos pacientes que passaram por esse fenômeno e
apontar quais os problemas vivenciados antes, durante e depois
dessa vivência e como a psicologia pode contribuir nesse processo. 

Palavras-chave: experiência de quase morte, a finitude, a negação


da morte, medo.

1. Introdução

O presente trabalho apresenta o fenômeno da experiência de quase


morte (EQM) como um fato cercado de mistérios porque ninguém
que realmente passou pela morte, voltou para relatá-la depois. Mas
os estudos e as observações que são feitas pela ciência, nos
indivíduos que passaram por essa experiência podem trazer alguns
esclarecimentos a respeito do assunto.

Segundo o médico Pazin-Filho (2005) a morte faz parte


complementar da vida e como tal, é objetivo de estudo da medicina.
A definição de morte vem sofrendo modificações em decorrência do
avanço tecnológico da medicina e da disponibilidade de informação,
ficando claro que seu sentido deve levar em conta os valores
culturais da sociedade e não somente o conhecimento médico.

A definição mais aceita, em termos médicos, é o término das funções


vitais. Amplamente difundida essa definição não é exclusiva da
medicina e é utilizada igualmente por leigos. A busca de uma melhor
significação de morte trouxe uma série de conflitos de ordem ética,
agravados em grande parte pela crise de credibilidade que a
medicina moderna vivencia (PAZIN-FILHO, 2005).

A palavra morte traz consigo algumas características e associações:


dor, ruptura, interrupção, desconhecimento, angústia. O confronto
regular com o processo de morrer, com a morte e com o luto é
realidade constante na vida dos profissionais de saúde, que nem
sempre estão organizados para lidar com esse fenômeno (FRANÇA
e BATOMÉ, 2005).
Ao vivenciar um estado eminente da morte, os indivíduos referem-se
a uma experiência profunda, na qual acreditam deixar seus corpos e
ingressar em alguma outra esfera ou dimensão, transcendendo os
limites do ego [01] e as fronteiras convencionais do tempo e do
espaço (TORRES, 1983).

Diante do que se pretende expor nessa pesquisa, levanta-se o


seguinte questionamento: Quais as repercussões psicológicas na
subjetividade humana, decorrentes da Experiência de Quase Morte?
Supõe-se que as EQMs são frutos de fantasias, levantada pelas
próprias esperanças pessoais e culturais do indivíduo, para que ele
se resguarde da ameaça iminente da morte.

Este trabalho consistirá numa pesquisa qualitativa e bibliográfica,


pois tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento. Preocupa-se com
questões particulares, aprofundando-se nos significados das ações e
relações humanas, que não podem ser quantificadas. A pesquisa
qualitativa busca compreender o significado que as pessoas dão às
coisas e à sua vida, na tentativa de capturar a “perspectiva dos
participantes”.

O benefício da Pesquisa Qualitativa é justamente não colocar como


ponto principal da investigação, o sim ou não à hipótese formulada
ou qualificada em termos de probabilidade, mas priorizar o estudo do
significado e do processo das proposições formuladas. E caracteriza-
se por ser uma pesquisa bibliográfica porque é desenvolvida a partir
de material já elaborado, constituído principalmente de livros, revistas
e artigos científicos, tendo como finalidade reunir, estudar, classificar
e analisar as bibliografias relacionadas ao tema proposto (MACONI;
LAKATOS, 2001).

A metodologia utilizada nessa pesquisa caracteriza-se como


exploratória, pois, segundo Minayo (1994) têm como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-
lo mais explicito ou a constituir hipóteses. A pesquisa exploratória
admite uma maior familiaridade entre o pesquisador e o tema
pesquisado, visto que este ainda é pouco conhecido, pouco
explorado. Nessa definição, caso o problema proposto não ofereça
aspectos que permitam a visualização dos processos a serem
adotados, será necessário que o pesquisador inicie um procedimento
de sondagem, com vistas a aprimorar idéias, descobrir intuições e,
posteriormente, construir hipóteses. Seu projeto é, portanto, bastante
maleável, de modo que permite a consideração dos mais variados
aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essa
pesquisa envolve: levantamento bibliográfico entrevista com pessoas
que tiveram experiência prática com o problema pesquisado e
análise de exemplos que estimulem a compreensão.

 O estudo tem como objetivo explorar o que a literatura traz sobre os


sentimentos relacionados à experiência de quase morte, doravante
representado pela sigla (EQM) para melhor compreender os
aspectos de mudança que ocorrem no comportamento dos pacientes
que passaram por essa experiência e apontar quais os problemas
vivenciados antes, durante e depois da experiência de quase morte e
como a psicologia pode contribuir nesse processo.  A revisão de
literatura foi realizada por meio de base de dados Scielo, Pepsic,
Livro, Netsaber, e foram selecionados por artigos indexados
nacionais e internacionais no período de 1975 a 2009, e as palavras
chave usadas na pesquisa foram: experiência de quase morte,
finitude, negação da morte, medo.

A relevância cientifica desse estudo consiste em contribuir para a


compreensão do processo da experiência de quase morte, para os
profissionais de saúde, para os pacientes que sofreram uma EQM e
para todos aqueles que se interessam pelo tema, pois ele é
carregado de dogmas, mitos e simbologias populares, o qual dificulta
uma visão mais realista e científica do assunto.

A estrutura do presente trabalho é apresentada da seguinte forma:


na primeira sessão, será abordado o conceito de morte, medo da
morte, definição de EQM, características e aspectos da EQM. Na
segunda sessão, serão abordados a negação da morte e os cinco
estágios da morte. Na terceira sessão serão enfocadas mais
detalhadamente as teorias científicas que tratam da EQM e na quarta
sessão serão apresentados os efeitos das experiências de quase-
morte e o tratamento de problemas relacionados à EQM.

2. Definição da Morte

A origem da palavra morte vem do latim e da palavra morrere, que


significa perder a vida, falecer, morrer, perecer, cessação definitiva
da vida; e ela faz parte do ciclo natural da vida (XIMENES, 2000).

A palavra morte tem um conceito que remete à noção de falecimento,


término da vida; desaparecimento, extinção (ENRIQUEZ, 1990).
Algumas representações da morte são expressas através de temas e
signos marcantes na literatura: noite, trevas, regiões profundas, terra,
céu, destino, velhice, discórdia, sono, e sepultura (hades no hebraico
e seol no grego).

Segundo Souza (2009, p.56) “a Biociência e a Medicina estudam


como ocorre e quando se processa a passagem da morte e a
Psicologia também é uma das ciências que pode clarificar este
acontecimento, pois ela estuda a natureza da mente humana”.  A
morte além de ser considerado um mistério, ela também se
transformou em tabu; o tabu é considerado por Gama Kury (2002,
p.1050) “Diz-se de qualquer coisa em que não se pode tocar ou
sobre a qual não se deve falar; proibido, interdito”.

Enriquez acerca da percepção dos vivos sobre os mortos, ele diz


que:

O tabu está intimamente ligado a essa relação. O morto contém um


paradoxo, pois de um lado compreende a sacralidade e do outro a
impureza, carrega em si o signo do tabu e com ele, seu poder sobre
os vivos, de forma que qualquer aproximação a este signo torna
impura também quem o toca (ENRIQUEZ 1990, p.37-38).

A morte acompanha toda a trajetória do ser humano desde a mais


tenra idade e em seu ciclo vital, deixando suas marcas. A morte é um
evento biológico que encerra uma vida. Nenhum outro evento vital é
capaz de suscitar nos seres humanos mais pensamentos dirigidos
pela emoção e, portanto, reações emocionais que ela, seja no
indivíduo que está morrendo, seja naqueles à sua volta. Segundo
Pazin-Filho (2005) o conceito tradicional de morte biológica definida
como o instante da interrupção dos batimentos cardíacos tornou-se
arcaico. A morte é vista como um processo, como um fenômeno
progressivo e não mais como um momento, ou evento.

Para Freud (1914-16 p. 332 – 333)

a morte tornou-se questão para o homem a partir de seus


sentimentos ambivalentes para com o outro. A morte de um inimigo
podia ser concebida sob forma de aniquilamento total, mas a perda
de um ente querido bem como odiado sob alguns aspectos fê-lo criar
a noção de alma, de uma continuação pós-morte, de forma que 
este, que antes da morte era fonte de ódio e  amor, passa a também
ser fonte de temor e respeito como espírito.

A promessa da morte e o conhecimento do morrer, mais do que


qualquer outra força na vida, é o que leva o ser humano a enriquecer.
A morte é parte da existência humana, do seu crescimento e
desenvolvimento, tanto quanto o nascimento, ela faz parte do viver. A
morte não é uma moléstia a ser aniquilado, um inimigo a ser atacado
ou uma prisão de onde precisamos fugir, mas é inerente a nossa vida
e que dá sentido à vivência humana (KÜBLER ROSS, 1996a,
1996b).

Kubler Ross (1998) assegura que a morte é apenas uma abertura da


vida para outra existência e que, para se viver dignamente o
procedimento de morrer, deve-se viver verdadeiramente até a hora
da morte. Viver realmente, segundo essa médica psiquiatra, é
exercitar o que se gosta de fazer e estudar o mais complexo das
lições: o amor incondicional.

Ainda segundo França e Botomé (2005), a palavra morte traz


consigo muitos adjetivos e associações: dor, ruptura, interrupção,
desconhecimento, tristeza. Designa o fim absoluto de um ser
humano, de um animal, de uma planta, de uma idéia que "chegada
ao topo da montanha, admira-se ante a paisagem, mas compreende
ser obrigatória a descida" (p. 547).

2.1 Morte Clínica e Morte Vital

A morte clínica é dada como a parada da respiração, da atividade


cardíaca e do funcionamento cerebral, mas não, a impossibilidade de
uma reanimação. Lembrando que não é só com a duração das
batidas do coração e da respiração que se define o momento da
morte. Ultimamente, há vários métodos para se diagnosticar a morte
(SOUZA, 2009).

A cada dia os métodos de reanimação estão sendo aprimoradas. E a


reanimação confirma que a morte não ocorre como um evento que
acontece de uma vez. Por isto, é necessário distinguir entre o
período da morte clínica e o da morte vital propriamente dita. Outro
sinônimo para a morte vital é a morte concreta, pois neste estágio,
não há possibilidade alguma de reanimação. Todas as células do
corpo morreram, não restando um único sinal de animação. A morte
vital é “uma parada irreversível das funções vitais” (SOUZA, 2009,
p.58).

“[...] Em outras palavras, a ‘morte’ é definida como o estado do corpo


do qual é impossível voltar à vida” (MOODY, 1979, p. 142). Já na
morte clínica, o indivíduo ainda permanece no processo de morte
porque os órgãos não cessam de funcionar de uma só vez, e os
tecidos destes mesmos órgãos também têm períodos diferentes de ir
deixando de estar animados, ou seja, sem vida. Mas a morte é
averiguada porque são órgãos muito importantes para todo o
organismo.

“Entre o momento da morte clínica e o da morte vital há, via de regra,


um espaço de tempo de aproximadamente cinco minutos, e em
casos extremos este período pode ser de até trinta minutos”
(SOUZA, 2009, p.58). “A distinção exata entre a morte clínica e a
morte vital é extremamente importante estabelecer, uma vez que há
dificuldade para se determinar a fronteira entre morte e a vida”
(SOUZA, 2009, p.58). A morte não é algo fixo “mas um processo que
se prolonga no tempo e cuja duração ninguém está em condições de
apreciar” (SOTTO e OBERTO, 1978, p. 47). No ambiente médico há
contestações sobre o assunto da definição do momento da morte.
Pode-se dizer que mesmo aceitando o critério de morte encefálica
não se pode ter uma certeza total de que o indivíduo realmente
morreu (SOUZA, 2009).

Pois a morte é verificada após a parada cardíaca e pela perda do


desempenho clínico da atividade cardíaca e baseia-se na ausência
de circulação. De forma parecida à parada cardíaca, a morte
encefálica é mais bem entendida como parada cerebral, baseada na
ausência total das funções clínicas do cérebro (SOUZA, 2009, p.59).

 A morte pode ser determinada após a parada cardíaca, pela perda


da função clínica da atividade cardíaca e é baseado na ausência de
circulação. De forma parecida à parada cardíaca, a morte encefálica
é mais bem entendida como parada cerebral, fundamentada na
ausência total das funções clínicas do cérebro. Isso é documentado
pela perda de consciência, coma aperceptivo e perda de todos os
reflexos do tronco cerebral, inclusive da capacidade de respirar. É a
expressão clínica máxima de insuficiência cerebral irreversível e a
função cerebral não pode piorar que isso (SHEMIE, 2007).

2.2 Medo da Morte

O próprio termo desperta o medo no coração das pessoas. Elas


avaliam a morte tão inexplicável quanto inevitável. Mal conseguem
falar a respeito, explorar além da palavra em si e se aceitar apreciar
suas verdadeiras implicações. Esta é uma reação compreensível,
pelo fato de que tantas pessoas pensam sobre a vida como nada
mais que um estado no qual o corpo humano está biologicamente
ativo.

Segundo Fromm (1976) o medo da morte refere-se, ao medo de


perder o que foi conquistado durante toda sua vida. “O medo que
temos de perder nossos bens é uma conseqüência inevitável do
sentido de segurança baseado naquilo que possuímos” (FROMM,
1976, p.129). Assim sendo quanto mais apegados ao ter do que o
ser, mais medo da morte, o individuo apresentará.

Para Jacques Choron (1963) existem três tipos de medo da morte:


medo do que vem depois da morte (ligado às religiões, castigos,
solidão, sentimento de culpa, etc.), medo do evento ou do processo
de morrer ou passagem (sofrimento prolongado, fraqueza,
dependência, estar exposto e vulnerável, etc.) e medo do "deixar de
ser" (é o mais terrível, é o conflito entre o nada versus a continuidade
do ego após a morte, o não ser).

Segundo KOVÁCS (1992, p. 16): "O medo da morte é a resposta


psicológica mais comum diante da morte", assim sendo, um
sentimento universal que atinge todos os seres humanos,
independente da idade, sexo, nível sócio-econômico e credo
religioso.  E diante desse fato a raça humana é o único que tem
consciência de sua própria morte.

Freud quando fala da atitude que o indivíduo toma em relação à


morte, refere-se à tendência inegável do homem para colocá-la de
lado, para eliminá-la da vida: "Tentamos silenciá-la na realidade e
dispomos até mesmo de um provérbio que diz pensar em alguma
coisa como se fosse à morte” (em alemão, no sentido de pensar em
algo improvável ou incrível).

[...] é impossível imaginar nossa própria morte e, sempre que


tentamos fazê-lo, podemos perceber que ainda estamos presentes
como espectadores. Por isso, a psicanálise pôde aventurar-se a
afirmar que no fundo ninguém crê em sua própria morte, [...] no
inconsciente cada um de nós está convencido de sua própria
imortalidade ( FREUD  1915, p. 327).  

Os medos que foram narrados relacionam-se ao medo da própria


extinção e da suspensão de sonhos para o futuro, tendo a
capacidade de gerar, na pessoa, sentimentos de impotência por não
se poder evitar a morte. O medo da extinção de um ente querido
também foi relatado, podendo contribuir para a vivência de
sentimentos de repudio e inconformismo (KASTENBAUM, 1983,
citado em KOVÁCS, 1992).

Para Elias esse procedimento tem uma explicação psicanalítica.


Trata-se de um recalque individual. Que faz referência aos
postulados freudianos de que o indivíduo cria “mecanismos
psicológicos de defesa” para lidar com as experiências dolorosas
ocorridas especialmente na fase infantil. Desta maneira, a morte é
disfarçada, ocultada. E para além da dimensão individual, ele
também constitui que há um recalque social, “porque o afastamento
dos moribundos é a materialização da incapacidade humana em lidar
com tal fenômeno, já que o caminhar do outro para a morte é a
constante recordação de que o eu também passará pela mesma
experiência” (ELIAS 2001, p.16).

Numa posição oposta, a morte coexiste com a vida, o que não a


impede de ser angustiante, incutir medo e, ao mesmo tempo, ser
musa inspiradora de filósofos, poetas e psicólogos. Por ser
respeitável, é costume indicar a morte por meio de eufemismos:
"fim", "passagem", encontro, "destruição". As palavras não
conseguem expressar dada a complexidade dos afetos envolvidos.

O enigma da morte é parte do problema da alma e da vida em si:


compreender a morte significa realmente compreender a existência.
Durante a vida que se conhece, enquanto ela está no plano físico, o
corpo é vitalizado pela alma; na morte, ocorre uma separação entre a
pessoa e a alma. Porém a alma continua a viver como sempre fez
agora livre das restrições físicas do corpo (SOUZA, 2009).

Como o verdadeiro caráter do indivíduo, sua bondade, virtude e


altruísmo estão na alma, é lógico presumir que ele alcançará um
estado mais elevado após cumprir suas responsabilidades na terra.
Embora a morte represente a elevação da alma para um nível mais
alto, mesmo assim continua sendo uma experiência dolorosa para os
sobreviventes (SOUZA, 2009).

Segundo Rodrigues (1983), o valor da vida e da morte mudou ao


longo dos tempos. Na virada do século XIX, com o advento da
cultura industrial, onde o homem passa a ser visto como produtor e
consumidor de bens tornam-se premente que ele dure mais; e o
avanço na biologia médica e da indústria da saúde propiciou o
aumento da longevidade do ser humano através de técnicas e
cuidados. Até então, segundo ele, o homem apenas “dormia para
acordar em outro mundo”. Com a valorização da vida e meios que
lhe propiciaram qualidade, o homem apegou-se aos valores de vida,
sofrendo da angústia ao se deparar com a finitude representada pela
morte.

2.3 Conceito de EQM  

De acordo com Moody (1975) a EQM ou near-death experience


(NDE), é uma projeção da consciência, forçada, compulsória,
patológica, causada por traumas orgânicos, agentes físicos, químicos
ou psicológicos. É comum a pacientes terminais, sobreviventes da
morte clínica, e em situações em que haja momentos de perigo
extremo, acidentes, choque anafilático, intoxicação, traumatismo,
anestesia, afogamento e outros casos médicos.

Experiência de Quase-Morte (EQM) é um fenômeno que envolve


sujeitos que estão em iminência de morte física (ou acreditam estar
correndo perigo de morte) e, durante este período crítico, relatam
ocorrências (algumas verificáveis, outras não) que sugerem
expansão da consciência não obstante estarem inconscientes ou em
comatose. Os indivíduos que vivenciaram um estado próximo da
morte, referem-se a ela como uma experiência profunda, na qual
acreditam que deixaram seus corpos e ingressaram em alguma outra
esfera/dimensão, transcendendo os limites do ego e as fronteiras
convencionais do tempo e do espaço Moody (1975).  

  Graças ao fantástico progresso da ciência médica e das técnicas de


ressuscitação,  há um número maior de pessoas que sobrevivem a
situações clínicas graves, muitas vezes diagnosticadas como morte
clínica. Ainda segundo Moody (1975), os relatos de algumas 
pessoas falam daquilo que viram, ouviram e sentiram durante
aqueles instantes em que eram consideradas “quase mortas” e
recebiam atendimento médico e apresenta uma nova visâo da
morte e da própria vida. Elas falam da certeza de terem vívenciado
uma realidade em outro plano da existência, sendo que a maioria
descrevem experiências extraordinárias de paz e plenitude,
recapitulações de suas vidas e encontros com seres de luz
carregados de compaixão, amor e compreensão.

Segundo Greyson (2007) as pessoas que descreveram essa


experiência profunda de transcender o mundo físico, foram levadas a
uma transformação na maneira de viver. Esse entendimento é
complementado pela de Moody (1977) que considera a EQM como
sendo uma experiência perceptiva e consciente que é verificada
durante uma situação de quase morte, onde o indivíduo poderia ter
morrido (muitas vezes é considerado clinicamente morto), mas
sobrevive, dando continuidade a sua existência e sofre alterações no
seu comportamento em seu dia a dia.

De acordo com Fernandes (1998) os relatos de EQM ao longo dos


tempos possuíam um caráter especulativo, confundindo-se muitas
vezes com interesses religiosos ou escatológicos. Os estudos
científicos sobre a EQM começaram de fato com uma aproximação
pela sua base fenomenológica, ou seja, por um estudo acerca dos
elementos da experiência. As experiências de quase morte, de
acordo com Greyson (2007), começaram a ser estudadas no século
XIX por Heim (1892), mas foi somente no século XX que Moody
(1975) introduziu o termo EQM, para nomear esses acontecimentos
e determinou características específicas, que vão defini-lo, tanto no
meio acadêmico como na linguagem popular comumente referida.

2.4 Elementos que caracterizam e aspectos clínicos da EQM 

Segundo Souza (2009, p. 59), alguns elementos são comuns a estas


experiências, como:

a) a projeção do corpo: a pessoa tem a sensação de deixar o corpo e


pairar sobre ele e depois pode até descrever os fatos que ocorreram
ao seu redor; b) movimento em um túnel: a pessoa tem a sensação
de se locomover em um túnel escuro; c) visão de luz: a pessoa se
dirige ao encontro de uma luz que exerce profunda atração; d)
encontro com pessoas já mortas: são pessoas conhecidas ou não,
seres sagrados, entidades não identificadas sou “seres de luz”; e)
panorama da própria vida: o indivíduo experimenta um tipo de
flashback, ou seja, uma revisão da própria vida, algumas vezes sob
a perspectiva de outras pessoas. Isto faz com que a pessoa mude
suas atitudes diante da vida quando é reanimada; f) fronteira:
aparentemente representa o limite entre a vida terrena e outra vida;
g) retorno à vida: percebe que deve voltar, pois ainda há coisas por
terminar. Esta decisão é voluntária.

Considera-se que clinicamente a EQM ocorre quando a anóxia


(designação mais freqüente para a redução abaixo dos níveis
fisiológicos da quantidade de oxigênio presente nos tecidos
orgânicos) ou hipóxia, (uma condição patológica em que o corpo
como um todo (hipoxia generalizada) ou de uma região do
corpo (hipóxia tecidual) é privado de fornecimento de oxigênio
adequado), fatores comuns no processo de morte cerebral, precisam
ser implicados nas EQMs (BLACKMORE, 1993; RODIN, 1980).
Contudo, EQMs podem ocorrer sem anóxia ou hipóxia, como em
doenças não-fatais e em acidentes que quase aconteceram, dos
quais o sujeito sai ileso.

Além disso, as vivências anexas à hipóxia são de modo superficial


similares às EQMs. Whinnery (1997) comparou as EQMs às
fantasias que ocorrem durante os momentos breves de inconsciência
induzidos por aceleração rápida em pilotos de caça, embora tenha
referido que seu modelo não explica todos os fenômenos de EQM.
As características fundamentais divididas entre a hipóxia induzida por
aceleração e as EQMs são a aparição do túnel e de luzes brilhantes,
a impressão de estar flutuando, as sensações agradáveis de prazer,
breves fragmentos de figuras visuais e algumas raras vezes o efeito
de deixar o corpo.
Comparando-se os citados devaneios com as EQMs, aqueles
incluem visões de pessoas vivas, mas nunca de pessoas mortas,
assim como neles não há referências às revisões da vida nem à
memória panorâmica (WHINNERY, 1997). Também deve-ser
observar que as EQMs não incluem sintomas típicos de hipóxia, tais
como convulsões mioclônicas, (contrações repentinas, incontroláveis
e involuntárias de um músculo ou grupo de músculos) amnésia
retrógrada para os eventos advindos antes da perda de consciência,
movimentos automáticos, efeitos da memória, formigamento nas
extremidades e em torno da boca, confusão e desorientação após
despertar, assim como efeito de não conseguir movimentar o corpo
ao acordar.

A hipóxia ou a anóxia produz geralmente alucinações


idiossincrásicas e assustadoras e conduzem o indivíduo à agitação e
à agressividade, estados totalmente diferentes da emoção de paz
que são consistentes e universalmente descritos em EQM. Além
disso, a conseqüência das pessoas que tiveram próximas da morte
mostrou que aquelas que referem uma EQM não têm níveis mais
baixos de oxigênio do que aquelas que não tiveram uma EQM
(SABOM, 1982; VAN LOMMEL et.al., 2001).

Os indivíduos que passaram por uma EQM descrevem episódios que


não podem ser vistos nem vivenciados por aqueles à sua volta, é
admissível a hipótese de que as EQMs sejam alucinações
provocadas pela medicação comumente prescrita a pacientes
terminais, ou por distúrbios metabólicos, ou por mau funcionamento
cerebral em indivíduos próximos à morte. Entretanto, muitas EQMs
são descritas por sujeitos que não continuavam com disfunções
orgânicas nem metabólicas que pudessem acarretar alucinações,
assim como pacientes que não a recebem (GREYSON, 1990; OSIS
e HARALDSSON, 1977; SABOM, 1982).

Além de tudo isso, o mau funcionamento cerebral, do ponto de vista


orgânico, produz geralmente turvação da consciência, irritabilidade,
medo, agressividade e visões idiossincráticas, bastante diferentes do
pensamento claro e de sentimento de paz, calma, e conteúdos
previsíveis típicos da EQM. Pacientes com delírio normalmente vêem
pessoas vivas, ao passo que os pacientes próximos à morte e sem
alterações do nível de consciência quase invariavelmente vêem
pessoas falecidas (OSIS e HARALDSSON, 1977).

Os pacientes febris ou anóxicos, quando próximos da morte, fazem


referência a menos EQMs e experiências menos organizadas do que
os paciente que não fazendo uso de fármacos e que não estão febris
nem anóxicos (OSIS e HARALDSSON, 1977; RING, 1980; SABOM,
1982). Tais compreensões podem indicar que o delírio induzido por
drogas ou problemas metabólicos, em vez de tratar uma EQM, de
fato a impede, ou, então, que os pacientes delirantes tendem a não
relembrar as próprias experiências após se restaurarem (KELLY ET
AL, 2006).

2.5 Aspectos Psicológicos da EQM

Segundo Ring (1996, p. 3) a EQM produz vários resultados


psicológicos, entre os quais se destacam:

a) redução ou extinção do medo da morte e maior gosto pela vida; b)


conscientização da importância do amor; c) sensação de união com
todas as coisas; d) valorização do conhecimento; e) maior
responsabilidade pela própria vida; f) ampliação do vigor e da
atividade mental e física; g) aparente rejuvenescimento; h)
reavaliação das coisas materiais da vida; i) profundo senso de
missão; j) mudança carismática na personalidade; l)
desenvolvimento súbito ou gradual de aptidões; m) prazer pelo
conhecimento enciclopédico; n) sentido de urgência e reavaliação de
prioridades.

Depois de uma EQM, os sobreviventes tendem a provarem amplas


mudanças comportamentais e de identificação pessoal: amam mais a
si mesmos, mostram uma análise maior da vida e maior ansiedade e
amor pelos outros, enquanto diminui seu interesse em status pessoal
e posses materiais. A maior parte dos sobreviventes também afirma
que vive depois com um sentido de desígnio espiritual ampliado e,
em alguns casos, que busca um entendimento maior do significado
essencial da vida (RING, 1996).

Moody (1989) observou que depois da EQM, os pacientes mudam


sua estrutura de valores, passam a priorizar os aspectos humanos e
fraternos e perdem o medo da morte. Também ficam saudosos do
estado de bem-aventurança que descobriram na sua experiência e
precisam aprender a lidar com esta saudade. São mudanças tão
significativas que os médicos, psiquiatras e cientistas atualmente
dedicam-se, a ajudar de forma terapêutica, muitos destes pacientes,
a integrar esta vivência espiritual e conhecimento adquirido, à rotina
de suas vidas. Eles precisam de alguém que compreenda esta
experiência para ouvi-los e ajudá-los.

De fato, muitos comentaram que perceberam desde o princípio que


os outros os considerariam mentalmente instáveis se fossem relatar
suas experiências (MOODY, 1975). Por isso os pacientes que
vivenciaram esse fenômeno, decidiram permanecer em silêncio ou
apenas revelar as experiências para algum parente muito próximo.
Enquanto que outros tentaram contar para algum outro indivíduo,
mas foram mal recebidos e dali em diante silenciou.

Segundo Souza, mestre em Psicologia (2009), na maior parte das


vezes, o indivíduo que passa pela morte clínica e é reanimado não
se lembra de nada. Isto não se pode estranhar, visto que ocorre
diariamente com as pessoas nos sonhos. É um fato que sonhar
diariamente é até necessário para manter a saúde, mas muitas
pessoas dizem que sonham raramente e que se lembram dos
sonhos de uma maneira muito superficial. Por isso que os indivíduos
que sofrem uma EQM podem desta não se recordar. Ao fazer esta
observação não se pretende, de antemão, colocar as EQMs no
mesmo patamar dos sonhos. Enquanto algumas pessoas não se
lembram, outras são capazes de relembrar tudo o que lhes
aconteceu e isto proporciona suposições importantes para a
compreensão do fenômeno da EQM.  
Uma das suposições plausíveis julga que as EQMs são frutos da
imaginação, construída pelas próprias perspectivas pessoais e
culturais do indivíduo, para que ele se proteja da ameaça iminente da
morte (GREYSON, 1983b; RODIN, 1980). As conferições de relatos
de EQMs de diferentes culturas indicam que as crenças
antecedentes têm alguma influência no tipo de experiência que uma
pessoa relatará se vivenciar uma circunstância próxima à morte
(KELLEHEAR, 1993). Todavia, não está claro se as crenças culturais
danificam a experiência propriamente, ou simplesmente afetam a sua
memória e a sua representação verbal, ou mesmo a classificação
dos pesquisadores diante do que os sujeitos expõem.

Entre os efeitos dessa vivência, está a mudança das prioridades de


suas vidas, que passam a ser o amor e o conhecimento. (tornando-
se leitores assíduos, cursando faculdades ou escolas para estudar
um campo diferente daquele em que trabalha); novas visões da
morte (antes da vivência, a maioria temia a morte), sendo que muitos
a negavam, defendendo-se como podiam de entrar em contato com
a finitude (MOODY, 1975).

Após a experiência, deram-se conta que os momentos terminais da


existência não são tão penosos quanto imaginavam ser. Existe um
desconforto na fase pré-agônica, porém na transiçãoda vida para a
morte vai havendo uma mudança no estado de consciência, início do
contato com outro plano existencial e suspensão dos sintomas
corporais. Tornam-se conscientes de que a morte pode ser dolorosa,
porém morrer propriamente não é tão doloroso quanto se pensava e
assim eliminam a angústia existencial gerada pelo medo da morte e
sentem que estão começando uma nova vida (MOODY, 1975).

Há também segundo o autor uma necessidade de trabalho


terapêutico com os familiares, pois com freqüência, as acentuadas
mudanças de personalidade que acompanham uma EQM causam
tensão na família, principalmente para o cônjuge que se sente
casado com uma pessoa diferente. Como por exemplo, um homem
agressivo, mal humorado, impulsivo e de difícil convivência, após a
experiência de EQM, tornou-se brando, amoroso e de fácil
convivência. Não sabia como a esposa o suportara antes, mas o fato
é que ela encontrou dificuldades em adaptar-se à personalidade
reestruturada do marido. Estava acostumada com suas explosões
(MOODY, 1989).

Quanto à noção de tempo observou que os indivíduos que passam


por uma EQM, dizem não ter noção de tempo cronometrado pelos
relógios, em geral, relatam que se sentiram na eternidade. No curso
desta experiência, quando desejam ir para algum lugar, é suficiente
apenas pensar neste lugar ou, em determinada pessoa e
imediatamente vêem-se no local (MOODY, 1989).

Algumas pessoas relataram que, enquanto estavam “fora de seus


corpos”, observando os médicos trabalharem na sala de operações,
poderia ver seus parentes na sala de espera e que, para isso, tudo o
que precisavam era sentir vontade de ir vê-los. Tais experiências,
segundo Moody, (1989), constituem, talvez, a melhor resposta para
aqueles que pensam que uma EQM é uma peça que o cérebro prega
em si mesmo.

Apesar de tudo, afirma o autor, é perfeitamente possível, que o


cérebro, sofrendo uma grande angústia, possa tentar acalmar-se,
criando túneis e Seres de Luz, de modo a permitir que a pessoa
repouse. Mas aqueles que podem contar o que está acontecendo em
uma sala, enquanto seus corpos permanecem em outra, estão,
realmente passando por tal experiência e por esta razão.

Moody (1989) apontou que os relatos sobre EQM não são


alucinações pelas quais os pacientes passam, ou um processo
natural de desligamento quando o cérebro está morrendo, mas
experiências reais. Isso, porque, justamente, inúmeras vezes, os
pacientes fizeram descrições muito corretas do que estava
acontecendo ao seu lado ou em torno dela, de uma perspectiva que
não poderiam ter se estivessem no corpo, na cama do hospital
deitados.   .

2.6      Aspectos Espirituais da EQM   


Em relação à Espiritualidade Moody, (1989) observou que uma EQM
quase sempre estimula a curiosidade espiritual. Alguns
pesquisadores passaram a estudar e aceitar os ensinamentos
espirituais de pensadores religiosos. Dentre esses pesquisadores
está Kenneth Ring (1996, p.3), que teceu considerações sobre a
influência das crenças religiosas e do conhecimento prévio das
pessoas sobre EQM na manifestação desse fenômeno: 

Quando chegamos à área de crenças pessoais, no entanto,


poderíamos esperar encontrar algumas correlações definidas com
EQMs. Pessoas com forte orientação religiosa (o que é bem
diferente de freqüência à igreja) ou profunda convicção em uma vida
após a morte poderiam aparentemente ter mais probabilidades do
que, digamos, agnósticos ou ateus, de passar por EQMs. A maioria
dos sobreviventes também declara que vive depois com um sentido
de finalidade espiritual ampliado e, em alguns casos, que procura um
entendimento maior do significado essencial da vida.

Apesar da sensatez dessa suposição, as descobertas de vários


estudos diferentes demonstram que isso não acontece. Na verdade,
não existe diferença nem no tipo nem na incidência de EQMs devido
à orientação religiosa da pessoa  ou falta de orientação.

Certamente, um agnóstico ou um ateu pode e realmente parece ter


mais dificuldade de aceitar a experiência e pode ser menos inclinado
a interpretá-la em termos convencionais do que um crédulo, mas a
forma e o conteúdo da EQM não mudam. Uma EQM é uma
experiência de morte para qualquer pessoa que passe por ela.

Segundo as observações de Dr. Ring “os sobreviventes da EQM


tendem a passar para uma orientação espiritual geral em vez de
religiosa quanto à vida” e que ele denominou de “orientação espiritual
universalista”, a qual é constituída por sete elementos essenciais:

a) uma tendência a se caracterizar como pessoa espiritual em vez de


religiosa; b) uma sensação de estar interiormente próximo de Deus;
c) uma perda de ênfase nos aspectos formais da vida e da adoração
religiosa; d) uma convicção de que existe vida após a morte, apesar
de crenças religiosas; e) uma abertura à doutrina da reencarnação (e
uma simpatia geral pelas religiões orientais); f) uma crença na
unidade essencial por trás de todas as religiões; g) um desejo de
uma religião universal abraçando toda a humanidade (RING, 1996,
p. 3).

Foi observado ainda que os sobreviventes da EQM, embora


continuem a sentir raiva, medo, ciúmes e impaciência, não
permanecem assim por muito tempo. São mais maleáveis e
ponderados, predispostos a aceitar a responsabilidade pessoal e
buscar soluções justas. E discorrendo mais sobre esse assunto a
pesquisadora Atwater (1998, p. 4) constatou que:

Alguns sobreviventes da Experiência de Quase-Morte sentem-se


como se tivessem sido “expulsos do paraíso”, tendo revivido, quando
na verdade prefeririam lá ficar. A maioria deles sabe que não é tão
perfeita como parece que eles deveriam ser, considerando onde
estiveram. Nenhum deles afirma que é santo. Os estados de
depressão podem ser longos, a experiência pode tanto parecer uma
bênção quanto uma maldição. No entanto, muitos também planam
suavemente pelos efeitos posteriores, com pouco ou nenhum
desgaste, ou choro, que evidencie algum tipo de conflito, como se
estivessem sobre “um tapete mágico voador”. O apoio da família é
um fator muito importante.

Weiss (1998) seguindo nessa mesma direção conta que atendeu


vários pacientes com experiência de morte clínica e entre eles, um
bem sucedido homem de negócios sul americano, o qual havia se
submetido a várias sessões de psicoterapia convencional com ele.
Este paciente, Jacob, foi atropelado por uma motocicleta, na
Holanda, em 1975, e ficou inconsciente. Tinha, na época, um pouco
mais de trinta anos.  Relatou que se lembrava de ter pairado sobre
seu corpo e visto a cena do acidente, a ambulância, o médico que
cuidou de seus ferimentos e a multidão que observava.

Percebeu uma luz dourada a distância e, quando se aproximou dele,


viu um monge vestindo um manto marrom. O monge disse a Jacob
que ainda não era sua hora de morrer e que ele precisava voltar para
seu corpo. Jacob sentiu segundo Weiss (1998), a sabedoria e o
poder do monge, o qual também lhe revelou vários acontecimentos
que iriam ocorrer em sua vida futura e que, posteriormente,
realmente aconteceram. Jacob voltou para seu corpo que estava em
um leito de hospital, recuperou a consciência e, pela primeira vez,
sentiu dores terríveis. 

Segundo Weiss (1998) através de suas experiências clínicas,


concluiu que a vida é eterna porque o ser humano está inserido em
outras dimensões além da dimensão física, como por exemplo, a
dimensão espiritual. Analisando-se a vida por este prisma, este autor
observa que não há morte e nem nascimento, apenas passagens do
eu ou “self” ou espírito por diferentes fases. O tempo, por sua vez,
analisado por esta ótica, é medido pelas lições que devem ser
aprendidas.

Weiss (1999) também afirma que, no outro extremo da Vida, quando


o indivíduo vem a óbito, a consciência continua existindo, justamente
porque não depende de uma forma física e a aprendizagem continua
a acontecer em níveis mais elevados desta consciência. O autor,
baseado em suas pesquisas clínicas, afirma que o espírito passa por
vários níveis de consciência quando deixa o corpo físico, no
momento da morte.  

2.7 Aspectos da Consciência

Segundo Elias os aspectos da consciência são hipóteses levantadas


deste estudo

[...] que objetiva re-significar a Dor Simbólica da Morte de pacientes


que vivenciaram a EQM ou pacientes em fase terminal, representada
pela Dor Psíquica e Dor Espiritual, o que, em resumo, significa
melhorar a qualidade da consciência dos pacientes, ajudando-os a
deslocar o pensamento dos estados de tristezas, angústias, culpas,
perdas e principalmente, dos medos, e focá-lo em estados de
tranqüilidade, serenidade, conforto, proteção, paz (ELIAS, 2001, p.
68).

Segundo Borges (1999) na EQM a consciência extracorpórea não


percebe apenas o mundo físico, mas parece relacionar-se com outro
tipo de realidade não-física, experimentando, na quase totalidade dos
casos, um sentimento profundo de amor e de paz, assim como de
unidade com todo o universo. O que os pesquisadores observaram é
que a consciência extracorpórea, numa EQM, produz uma mudança
radical e definitiva na consciência corpórea ou originária.

De acordo com Greyson (2007) tais aspectos transcendentais ou


místicos e a ocorrência de um funcionamento mental ampliado,
quando o cérebro está gravemente danificado, desafiam a teoria
comum da neurociência, a qual afirma que a consciência é
unicamente o produto de processos cerebrais, ou que a mente é
meramente um epifenômeno (fenômeno que vem juntar-se a outro,
mas sem influenciá-lo. de eventos neurológicos).

Uma analogia pode ser estabelecida com a mecânica newtoniana


(leis que descrevem o comportamento de corpos em movimento),
que propõe explicar a física da vida diária. Foi apenas a investigação
de circunstâncias extraordinárias, envolvendo distâncias, velocidades
ou massas, extremamente pequenas ou grandes, que revelou os
alcances do modelo newtoniano e a necessidade de se desenvolver
modelos explanatórios adicionais. Isto também se aplica à questão
da compreensão do relacionamento mente-cérebro: a exploração de
ocorrências extraordinárias tais como uma EQM, pode revelar as
limitações desse modelo atual de compreensão e da necessidade de
se desenvolver um modelo explicativo mais abrangente (GREYSON,
2007).

Ainda segundo Greyson (2007), um exemplo certo das interações


mente/cérebro pode esclarecer como a consciência funciona de
forma tão complexa durante uma EQM, e as pesquisas constataram
que o ato de pensar, a percepção sensorial e a memória
permanecem durante uma parada cardíaca ou sob anestesia geral;
os modelos fisiológicos atuais, que explicam o funcionamento da
mente, consideram tais eventos impossíveis (KELLY et.al., 2007).  

Compreender o receio da morte nos permite ter consciência de


nossos prejuízos habituais, facilitando assim conhecer e elaborar
estes danos e dar suporte ao próprio processo e ao do cliente;
possibilitando ainda um acolhimento mais humanizado e menos
transferencial. Este medo acompanhado da negação da morte, não
elaborada só pode ser minimizado a partir do momento da aceitação
da própria terminalidade em todas as suas dimensões, preparando-
se para suportar o tão dolorido processo de morrer e a ocasião da
morte. Considerados os diferentes aspectos da EQM, passamos a
discutir a negação da morte e os respectivos estágios.

3 Negação da Morte

No mundo moderno considera-se que, no geral a preocupação em


manter a vida não contempla o entendimento da inevitabilidade da
morte e que não se está organizada psicologicamente para lidar com
ela. Ao contrário, a morte não é somente encarada como angustiante
para o individuo que é portador de uma doença fatal, como também
para aquele que aparentemente é saudável, mas, também
assustador para aqueles que o rodeiam, como amigos e familiares e,
até mesmo, para os profissionais de saúde que atuam nas
instituições hospitalares.   

No entanto, negar a morte, não vai mudar o ciclo normal do individuo;


assim como o nascimento, a morte faz parte do processo de vida do
ser humano.  O indivíduo, com relação ao tema da morte e,
sobretudo pelos aspectos figurados, que ela representa, ou seja, pelo
significado ou pelos valores de medo, luto e perdas que produz nas
pessoas que se vive evitando e fugindo dela. Por isso, o sentido da
morte varia no transcorrer da história e entre as diferentes culturas
humanas. Para o homem ocidental atual, a morte passou a ser
percebida como fracasso, impotência e vergonha. Tenta-se vencê-la
a qualquer custo e, quando tal êxito não é alcançado, ela é
camuflada e negada (KUBLER ROSS, 1987).
De acordo com Kovács (2005), negar a morte é uma das formas de
não entrar em contato com os elementos dolorosos. A grande dádiva
da negação e da repressão é aceitar que se viva num mundo de
fantasia onde há ilusão da imortalidade. Se o medo da morte
permanecesse constantemente presente, os sujeitos não
conseguiriam alcançar os seus sonhos e projetos. Por isso
permanece, no indivíduo, o desejo de imortalidade, realizando obras
que não admitam o seu esquecimento, produzindo a ilusão de que a
morte e a decadência da vida física não ocorrerão. Esse
revestimento de força esconde uma fragilidade interna, a finitude e a
vulnerabilidade.

Ainda segundo Kovács (2003), a negação e a idéia de morte são


mecanismos de proteção porque consentem que se viva em um
mundo imaginário no qual a eternidade se faz presente. A negação
surge como uma defesa para não se confrontar com essa fragilidade
humana que é universal. Parece ser mais fácil não falar sobre a
morte do que ter que enfrentar a própria finitude.

Para Cassorla (1998) a negação da morte é entendida quando se


permanece sem saber como atuar diante de um conhecido que
perdeu um ente querido, não lhe dando as condolências, evitando ir
ao velório ou narrando piadas no velório. Atitudes como essas
parecem cooperar para a percepção errônea de que tudo está bem,
de que nada ocorreu, por não desejar vivenciar o sentimento de dor e
de sofrimento pela perda. O que se entende e observa é que não
espera entrar em contato com a  própria finitude e procura-se logo
retomar as  atividades normais.

A existência humana, de acordo com Cassorla (1998) é o maior bem


que tem, mas, para viver bem, é preciso aceitar que a morte faz parte
da vida e que todos expirarão algum dia.

Segundo Kovács (2002) negar a morte é não desejar entrar em


contato com as experiências que acarretam sofrimento, consentindo,
assim, fantasiar a ilusão da imortalidade, dando a idéia de força e de
controle sobre o medo da morte. Por isso que o individuo criou
mecanismos para que pudesse agir sem realmente acreditar em sua
própria morte. É como se confiasse em sua própria imortalidade
física, cogitando reprimir a morte, chegou ao estado da negação da
mesma.

A morte, é sem dúvida o tema mais universal e antigo e que sempre


despertou grande número de emoções e atitudes, é, geralmente,
enfrentada como uma desgraça, um mal, sendo o medo e a
ansiedade seus mais fortes correlatos (KASTENBAUM;
AISENBERG, 1983).

O absurdo entre a inevitabilidade da morte física e a necessidade de


imortalidade pode esclarecer por que a negação da morte é
intrínseca ao homem. Esta negação, embora necessária, pode ou
não ser reforçada pelo sistema cultural ou religioso; o que esclarece
em parte o evento da morte, apesar de ser sempre temida é a
probabilidade de o homem pensar/acreditar que poderá viver sua
vida em outras vidas.

Existem algumas estratégias de negação que podem ser notadas


tanto no contexto organizacional do hospital, como no procedimento
da equipe e pacientes. Diante dessas estratégias Ziegler (1977)
aponta duas formas de negação: a negação prévia e a camuflagem
retrospectiva.

A negação prévia consiste na negativa do acontecimento, antecipada


pela certificação e afirmação de que indivíduo algum morre no
hospital, ilustrada por Kübler-Ross (1987), que, após horas andando
nos corredores de um hospital em busca de paciente em fase
terminal para entrevistar, escutava sempre a mesma resposta dos
médicos: “Não há moribundos neste setor”.

A outra forma de negação, a camuflagem retrospectiva, que


configura como a extinção do episódio, apesar do evento ter ocorrido
e é uma tática de ocultamento da morte. Essa negação se mostra
presente nas normas subentendidas da instituição. Não se espera,
por exemplo, que o paciente morra em qualquer lugar a qualquer
hora. Analisa-se importante que as instituições não exponham os
sobreviventes ao fenômeno da morte. Caso as normas sejam
contestadas, a equipe de profissionais do hospital agirá
imediatamente para disfarçar o ocorrido, “maquiar” a morte, fazendo
com que o morto pareça adormecido, recorrendo a eufemismos etc.

O endeusamento tecnológico é outra manifestação da negação da


morte no contexto hospitalar, o que remete a assuntos de Bioética,
como, por exemplo, a questão da obstinação terapêutica, também
conhecida como distanásia. O conceito de distanásia caracteriza-se
por uma morte lenta e sofrida, com abuso de medidas terapêuticas,
infligindo intenso sofrimento e dor ao moribundo, com ações médicas
incapazes de modificar o quadro mórbido (PESSINI, 2004).

Outra evidência da negação da morte na instituição hospitalar pode


ser averiguada no método de despersonalização imposto ao
paciente. Manejando o despojamento da identidade pessoal, a
instituição hospitalar desempenha seu poder sobre o paciente,
designando-lhe outra identidade (que pode ser um número (o
paciente do leito quatro, da enfermaria dois etc.), ou uma afecção (o
enfartado, o politraumatizado etc.) que se diferencia por ser
vulnerável submissa e dependente. Anula-se, pois, a possibilidade de
questionamento por parte do paciente, que entende que, para ser
acolhido e bem-visto, deve calar-se. Silenciando o paciente, a
instituição silencia também o problema da morte (TORRES;
GUEDES, 1984).

De acordo com Pitta (1999) o conhecimento da equipe de saúde,


voltado unicamente para soluções técnicas, exige um modo de
negação da morte, na medida em que fornece poder ao profissional
da saúde e modera o sentimento de impotência. Nessa definição, o
investimento nos recursos tecnológicos torna-se uma alternativa de
prorrogação da vida do paciente para evitar não só o contato com a
morte, mas a comunicação com a família e os sentimentos mais
profundos do paciente. Nesse assunto, nas palavras de Maranhão
(1996, p.19), desempenha-se a "coisificação do homem", na medida
em que se nega "a experiência da morte e do morrer".
3.1 Os Cinco Estágios da morte

Elizabeth Kübler-Ross (1998) foi à precursora em descrever as


atitudes e reações emocionais geradas pela aproximação da morte
em pacientes terminais, reação humana que não dependem de um
aprendizado só cultural, mas também social e espiritual. Seus
trabalhos descrevem a identificação dos cinco estágios que um
paciente pode vivenciar durante sua terminalidade.

O paciente gravemente enfermo, em geral, é tratado como uma


pessoa que não tem o direito de opinar. Quase sempre é outra
pessoa quem resolve se, quando e onde o paciente deve ser
hospitalizado.

Kübler-Ross (1998) adverte, no entanto, que é importante lembrar


que o doente também tem sentimentos, desejos, opiniões e, acima
de tudo, o direito de ser ouvido. Para articular sobre paciente terminal
e equipe interdisciplinar, tem de levar em apreço a importância do
cuidado dos graves efeitos psicológicos, sociais e físicos da
hospitalização e da patologia, incidentes tanto nos pacientes como
em suas famílias. Esse tipo de paciente é aquele que atravessa a
fase terminal de uma doença e a conseqüência é divulgada e
esperada para óbito, independentemente da terapêutica utilizada,
sendo esta, neste momento, mais paliativa e sem a expectativa de
cura (ALAMY, 1999).

Segundo Angerami Camon (2002, p. 105):

O trabalho de colaboração em equipe distingue-se pela identidade


dos objetivos, que enfatizam as relações de troca entre os seus
diferentes membros.  O autor ressalta que a equipe interdisciplinar é
definida como um grupo de profissionais com formações
diversificadas que atuam de maneira interdependente, inter-
relacionando-se num mesmo ambiente de trabalho, por meio de
comunicações formais e informais.

Para prestar uma boa assistência ao paciente terminal é essencial


que toda a equipe esteja bastante familiarizada com os estágios
pelos quais ele passa, lembrando que estes podem se intercalar e
reproduzir durante todo o processo da doença. Os estágios da
terminalidade descritos por ela são:

a negação e o isolamento, a raiva, a barganha ou negociação, a


depressão e a aceitação, complementando-se com a esperança, que
persiste em todos esses estágios, dando a oportunidade ao paciente
de suportar sua dor. Segundo a autora, quando um paciente não dá
mais sinal de esperança geralmente é o prenúncio de morte iminente
(KÜBLER-ROSS, 1998, p.296).

Tais estágios são aqueles descritos por Kübler-Ross (1998), e sua


observação por parte da equipe de saúde que permite uma visão
autêntica da complexidade vivida pelo paciente diante da sua
situação de terminalidade e do processo de morte.

3.2 Negação e isolamento

A negação, ou pelo menos a negação parcial, é usada por quase


todos os pacientes, ou nos primeiros estágios da doença ou logo
após a constatação, ou às vezes numa fase posterior. Esses
pacientes podem considerar a morte durante certo tempo, mas
precisam deixar de lado tal perspectiva para lutar pela vida. A
negação e a repressão da morte, para Kovács (2003), são
mecanismos de proteção, porque permitem que se viva em um
mundo de fantasia no qual a imortalidade se faz presente.

A negação surge como uma defesa para não se entrar em contato


com essa fragilidade universal. Parece ser mais fácil não falar sobre
a morte do que ter que encarar a própria finitude.  Enquanto que para
Kübler-Ross, negação “funciona como um pára-choque depois de
notícias inesperadas e chocantes, deixando que o paciente se
recupere com o tempo (...)” (KÜBLER-ROSS, 2002, p. 44).

Em geral, essa fase é temporária, pois ele logo percebe que é


necessário lutar pela vida, sendo raro o caso em que ele nega seu
estado até o fim: “Entre nossos duzentos pacientes em fase terminal,
encontrei apenas três que rejeitaram até o último instante a
aproximação da morte” (KÜBLER-ROSS, 2002, p. 45).

É o paciente que traz seu limite, sinalizando até onde se pode falar
sobre a doença. Muitas vezes, o médico esclareceu tudo a respeito
do diagnóstico, falou abertamente sobre seu estado de saúde, mas
de alguma forma o paciente filtra suas palavras e escuta apenas o
que lhe “convém” naquele momento (KUBLLER-ROSS, 1998).

Neste estágio, o sentimento de negação funciona como um pára


choque, para que o paciente se acostume com tal situação, porém
não significa que a paciente não queira conversar em um momento
oportuno sobre a sua morte, é preciso aguardar tal ocasião de
acordo com os sinais demonstrados pelo próprio paciente. É melhor
falar sobre a morte e o morrer bem antes que isso ocorra desde que
o paciente queira, pois um indivíduo saudável pode tratar melhor o
assunto, e até mesmo a família pode se preparar de uma forma
melhor para enfrentar essa situação.

Após esta fase vem à aceitação parcial, a maioria dos pacientes não
se utiliza da negação por muito tempo, é um estado temporário do
paciente do qual ele se recupera gradualmente á medida que vai se
acostumando com a sua realidade, ele reage. Alguns pacientes
utilizam da negação perante alguns membros da equipe hospitalar e
até mesmo são exigentes na escolha dos familiares que podem ficar
a par do seu real estado, para tanto se utilizam da negação
principalmente diante daqueles familiares que ele considera mais
vulneráveis a sua perda e diante de membros da equipe hospitalar
que não passam confiança para o paciente (KUBLLER-ROSS, 1998).

É importante que os médicos e a equipe hospitalar não evitem esses


pacientes, pois os mesmos quando sentem que devem falar abrem a
alma e participam sua solidão para aqueles os quais consideram
interessados em seu estado, que o respeitam. Isso reflete a
necessidade de examinar as reações no trabalho, pois elas  refletem 
nos pacientes contribuindo até para o seu bem estar ou piora
(KUBLLER-ROSS, 1998).
3.3 Raiva

O sentimento de raiva aparece quando não é mais possível manter


firme o primeiro estágio, de negação, ele é substituído por
sentimentos de raiva, revolta, de inveja e ressentimento. Surge,
lógico, uma pergunta: “Por que eu?” (KÜBLER-ROSS, 1998). Este
pode ser considerado um dos estágios mais delicados no que diz
respeito aos cuidados com o paciente. Tanto familiares quanto a
equipe hospitalar temem este momento. A raiva se propaga em todas
as direções e projeta-se no ambiente. E costuma ser um sentimento
de difícil elaboração nessas condições específicas. Este também
tende a ser um sentimento reprimido, abafado e talvez tenha
contribuído anteriormente para o desenvolvimento da doença.

Esse estágio, embora difícil, deve ser encarado como mais uma
etapa, a fim de que se possa reestruturar uma forma cristalizada de
lidar com o mundo, com a vida e, nesse momento, com a doença. É
hora de propiciar a expressão de um sentimento até então
“esquecido”. Isso fortalece o paciente e o libera para melhor lidar
com as frustrações e contrariedades da vida. Significa que a raiva,
assim como outros sentimentos tidos como “positivos”, deve ser
expressa e vivenciada. Assumir a existência da raiva pode ser um
bom começo para a elaboração de um novo olhar e um melhor
entendimento de si próprio como ser humano (KUBLLER-ROSS,
1998).

3.4 Barganha

É o momento em que o paciente começa a ter algumas reações com


esperança ou uma possibilidade de cura. Isso acontece muito com
pacientes terminais, quando almeja um prolongamento de sua vida.
A barganha, na realidade, é uma tentativa de adiantamento, uma
promessa; tem de incluir um prêmio oferecido “por um bom
comportamento”. Para Kübler-Ross (1998), psicologicamente, as
promessas podem estar associadas a uma culpa recôndita, devendo
ser consideradas pela equipe hospitalar.
Pois é hora do paciente negociar secretamente o seu futuro, em
geral com Deus, e colocar-se à disposição para um favor, caso o
pedido seja atendido. A oferta pode também ser negociada com o
médico, como uma forma de planejamento. Ter um bom argumento
para manter-se motivado exerce influência muito positiva sobre o
curso da doença, o estágio da barganha é o menos conhecido,
porém tão útil quanto os demais.

3.5 Depressão 

“Tanto os fatores externos (objetivos), como os internos (subjetivos)


contribuem para que a tristeza do paciente se intensifique e, muitas
vezes, se instale, podendo chegar à depressão” (KÜBLER-ROSS,
1998, p. 92), este identifica dois tipos diferentes de depressão e
considera que deverão ser tratados também de formas distintas. A
primeira é uma depressão reativa e a segunda, uma depressão
preparatória.

A forma reativa dessa manifestação da depressão significa o


surgimento de tristeza e pesar acentuados por algo que foi perdido,
como o emprego, por causa do excesso de faltas ou da
impossibilidade de exercer sua função; a posição de chefe de família
ou até mesmo o imóvel de sua propriedade, em razão do alto custo
do tratamento. São perdas significativas para o paciente que
merecem atenção especial para que ele possa elaborá-las de alguma
forma. Esta forma de depressão reativa requer muita conversa e
intervenções ativas por parte dos outros em muitos assuntos, e o
paciente tem muito a comunicar (KÜBLER-ROSS, 1987).

O segundo tipo de depressão, a preparatória não se dá em


decorrência de perdas passadas, mas leva em conta perdas
iminente. “Quando a depressão é um instrumento na preparação da
perda iminente de todos os objetos amados, para facilitar o estado de
aceitação, o encorajamento e a confiança não têm razão de ser”
(KÜBLER-ROSS, 1998). Ou seja, não é compatível com o momento
de buscar agradar ou animar o paciente quando este sofre por se
encontrar prestes a perder tudo que ama; seria contraproducente e
estaria na oposição da real necessidade do paciente naquele
momento. O que está prestes a emergir são sentimentos de muita
tristeza, pesar, medo, solidão, enfim, sentimentos difíceis tanto para
o paciente quanto para todos à sua volta.

Quando Kluber Ross cita os dois tipos de depressão: a reativa e a


preparatória. A primeira como uma reação aos eventos que já
passaram por, exemplo a depressão de uma mulher que se
submeteu a uma mastectomia. Podem-se ajudar os pacientes que
apresentam esse tipo de quadro depressivo, encorajando-lhes a,
como na velha canção inglesa, isto é, a olhar o lado bom da vida.
Com os pacientes em depressão preparatória, contudo, a abordagem
deve ser diferente. Ele se encontra em estado de profunda
introspecção, preparando-se para entrar no quinto e último estágio, o
de aceitação do fato de que vai morrer.

Quando a depressão é um instrumento de preparação da perda


iminente de todos os objetos, para facilitar o estado de aceitação, o
encorajamento e a confiança não têm razão de ser. O paciente não
deveria ser encorajado a olhar o lado risonho das coisas, pois isto
significaria que ele não deveria contemplar sua morte iminente.
Dizer-lhe para não ficar triste seria contraproducente, pois todos nós
ficamos profundamente tristes quando perdemos um ser amado. O
paciente está prestes a perder tudo e todos a quem ama. Se
deixarmos que exteriorize seu pesar, aceitará mais facilmente a
situação e ficará agradecido aos que puderem estar com ele nesse
estado de depressão sem repetir constantemente que não fique
triste. Este segundo tipo de depressão geralmente é silencioso, em
contraposição ao primeiro, que requer muita conversa e até
intervenções ativas por parte dos outros em muitos assuntos, e o
paciente tem muito para comunicar (KÜBLER-ROSS, 2002, p. 93-4).

Muitos pacientes entram em depressão ao fazerem um retrospecto


de suas vidas e ao não se sentirem satisfeitos com esse balanço,
eles ficam desgostos, por não terem tempo de realizarem tudo que
desejaram. Indivíduos que não puderam concretizar seus planos; que
guardaram rancores contra familiares e/ou amigos, que se
acomodaram numa relação conjugal infeliz ou que investiram toda
sua energia no acúmulo de bens materiais tendem a encarar a morte
iminente com especial desolação.

3.6 Aceitação

O quinto estágio decorre sobre a aceitação da doença sem


depressões decorrentes ao seu estado de saúde. Este paciente já
passou pela fase de não aceitação da enfermidade e não mais
sentirá raiva quanto ao seu destino. Ele terá externado seus
sentimentos, sua inveja pelos vivos e sadios e sua raiva por aqueles
que não são obrigados a enfrentar a morte tão cedo. Terá lamentado
a perda iminente de pessoas e lugares queridos e contemplara seu
fim próximo com certo grau de tranqüilidade e expectativa. Ele estará
cansado e bastante fraco, na maioria dos casos, sentindo a
necessidade de cochilar e dormir com freqüência em intervalos
curtos diferindo da fase de dormir da depressão. Não e um sono de
fuga, nem um instante de descanso para aliviar a dor e sim uma
necessidade gradual e crescente de aumentar as horas de sono. Isso
indica o fim da luta, mas com um significado de aceitação (KÜBLER-
ROSS, 1998).

 A aceitação, em alguns casos, não quer dizer desistir de lutar em


busca da melhora, porém assumir os fatos como eles realmente são.
E contribui para concentrar-se em viver as alegrias e as tristezas do
momento presente. Este é o estágio final do processo e, como os
anteriores, pode oscilar entre estar presente (assumido pelo
paciente) e, de repente, mostrar-se ausente por instantes, e
novamente ser experimentado com maior intensidade. Pode ser
também o estágio de aceitação da morte. “É como se a dor tivesse
esvaecido, a luta tivesse cessado e fosse chegado o momento do
‘repouso derradeiro antes da longa viagem’, no dizer de um paciente”
(KÜBLER-ROSS, 1998, p. 92).
Caso o paciente esteja em estado terminal, o estágio de aceitação
adquirirá outro significado para ele, bem como para os seus
familiares e amigos próximos, que muito provavelmente necessitarão
de compreensão e apoio. O momento, em geral, é mais crítico para
os familiares, na medida em que o paciente, às vésperas da morte,
encontra certa paz e alívio. É uma fase delicada, porém, muitas
vezes, inevitável. Um dos membros da equipe que desconheça
esses estágios poderá incorrer em erros que repercutirão em todo o
processo do paciente, interferindo no trabalho dos outros
profissionais.

Por exemplo, se a enfermeira não sabe que a raiva projetada nela,


pelo paciente, é apenas a manifestação de um sentimento esperado
e compreendido, e reage a ela com aspereza, poderá contribuir para
que o paciente se sinta culpado por seu estado, levando-o a um
quadro depressivo prejudicial para os seus esforços de melhora.
Assim, mais esforço será exigido, por exemplo, da fonoaudióloga,
que deverá mostrar-lhe a importância da sua contribuição no
tratamento; a psicóloga terá mais um elemento de terapia, que
poderia ser evitado, deixando o espaço psicoterapêutico para outras
questões mais emergenciais.

3.7 Esperança

De todos os estágios pelos quais as pessoas passam quando diante


de problemas trágicos, a única coisa que persiste é a esperança. Até
os pacientes mais conformados com sua situação terminal, sempre
deixam transparecem que sentem um sinal de esperança.
Normalmente eles sentem que há uma possibilidade de cura, que de
repente foi descoberto um novo produto, uma nova droga e eles
foram escolhidos pelos médicos para um projeto de pesquisa exitoso
que vai aparecer de um dia para o outro. Esse sentimento sustenta
os dias, meses e anos desses pacientes, isso é esperança (um misto
de racionalização dos sentimentos com uma forma de negação
temporária).
Pacientes sentem maior confiança nos médicos que conservaram
essa esperança nele. Quando um paciente perde a esperança,
geralmente é o prenúncio para o fim, é quando eles chegam a dizer
“é o fim” ou, “Doutor, eu não agüento mais” e foi observado que
muitos desses pacientes morreram num intervalo de 24 horas ou
pouco mais após. Esse estágio era de aceitação. Também há uma
sensação de angústia vinda da esperança: 1º, a substituição da
esperança pela desesperança, tanto da equipe hospitalar quanto da
família, quando essa ainda era importante para o paciente e 2º, a
incapacidade da família em aceitar o estágio final de um paciente, a
família se agarra a uma esperança milagrosa quando o paciente já
estava preparado para morrer (KÜBLER-ROSS, 1998).

 Ainda segundo Ross a Síndrome pseudo-terminal significa que o


paciente havia sido desenganado pelos médicos, mas apresentou
melhora considerável após o tratamento, esses pacientes são
capazes de achar que sua recuperação foi um milagre, uma nova
chance. Por isso, deve-se proporcionar a cada um a oportunidade do
melhor tratamento possível, sem considerar a gravidade do enfermo,
ou seja, não desistir de salva-lo. Desistir desse paciente pode fazer
com que ele se entregue. Continuar tentando fazer com que ele veja
seu médico como um amigo próximo que ficará com ele até o fim
(KÜBLER-ROSS, 1998).

Evitando tocar no assunto sobre morte e morrer pode ser prejudicial


aos pacientes do que encontrar tempo para ouvi-lo e compartilhar
esse momento com ele (a maioria deseja compartilhar seus
problemas e angústias com alguém  trazendo-o alívio). Nem sempre
o paciente quer falar, mas quando ele está mais sociável e deixa
transparecer que continua esperando, geralmente é a hora de
mostrar a ele que estamos prontos para ouvi-lo e então ajudá-lo a
manter viva a sua esperança (KÜBLER-ROSS, 1998). Diante de tudo
que já foi explanado sobre as EQMs, faz-se necessário apresentar as
teorias que justificam esse fenômeno.

4 Teorias que Explicam a EQM


De acordo com Souza (2009) existem várias posições de
especialistas na tentativa de explicar o fenômeno da EQM de forma
racional. Assim serão expostas  algumas das teorias que podem
explicar o que ocorre quando um indivíduo passa por uma
experiência de quase morte.

4.1 Teoria da Morte Cerebral

Esta teoria é uma das mais popularizadas, especialmente pela Dra.


Susan Blackmore, psicóloga inglesa e uma das mais famosas
pesquisadoras sobre causas da EQM. O fato de todos aqueles que
passaram por essa experiência seguirem o mesmo trajeto para a luz,
atravessando estágios similares, ou seja, vivenciando a mesma
prática, faz com que se pense, como sendo uma viagem espiritual
profunda (SOUZA, 2009).

Mas o que se argumenta é que tudo isso não passa de mais uma
função do cérebro que está morrendo. Todos os cérebros morrem da
mesma maneira, dizem os céticos. É por isso que toda EQM tem os
mesmos elementos. Não é porque a pessoa que está morrendo viaja
para um além bonito, mas porque os neurotransmissores no cérebro
estão criando as mesmas ilusões, já que fisiologicamente todos são
iguais (SOUZA, 2009).

 Ainda segundo Souza (2009), a EQM seria criada em virtude da


fisiologia cerebral, e não teria nada de transcendental. Susan
Blackmore ( 2009) teoriza que as pessoas passam por essa
experiência, pois é o último impulso do cérebro para ajudar a
enfrentar o trauma da morte.

4.2 Teoria da Alucinação

Alguns pesquisadores acreditam que as EQMs são explicadas pelas


funções do cérebro, pois ao morrer são secretados endorfinas e
hormônios que agem no sistema nervoso central para suprimir a dor
e essas substâncias podem provocar alucinações e eles
propõemmodelos neurobiológicos para explicar o fenômeno da EQM
lembrando o papel das endorfinas, serotoninas e hormônios; entre
esses pesquisadores estão Carr (1982), Morse, Venecia & Milstein
(1989). Além disso, há muitos relatos de EQM de pessoas que não
possuem problemas metabólicos ou cerebrais que possam levar a
alucinações.

 Entretanto Souza (2009) considera que as endorfinas não são


alucinógenas e não podem recriar um estado similar a EQMs,
embora possam estar envolvidas no processo, não é responsável
pela experiência inteira. Em relação às alucinações pode-se afirmar
que quando a pessoa possui problemas orgânicos do cérebro, os
pensamentos são obscuros, a pessoa fica com irritabilidade,
agressividade, medo e com visões idiossincráticas diferentes do
pensamento claro, apaziguador como ocorre com a EQM. Seriam
sinais de que a EQM não está relacionada com alucinações como
afirmam os céticos? (SOUZA, 2009).

Neste sentido, os relatos de pessoas que sofrem de alucinação e


também vivenciaram uma EQM indicam que existe uma grande
diferença entre o que vêem na alucinação e acham menos reais e o
que vêm na EQM experienciado como mais real.

Verifica-se que indivíduos febris ou sob o efeito de drogas, quando


próximos da morte, relatam que tem poucas características de EQM
e menos delírios (SOUZA, 2009).

Deve-se salientar que os modelos apresentados são especulativos e


não testados, pois os níveis de tais substâncias deveriam ser
medidos durante o fenômeno, coisa até agora de certa forma um
pouco difícil de ser realizada (SOUZA, 2009).

4.3 Teoria do Lóbulo Temporal

Algumas características da EQM podem ocorrer em um tipo de


epilepsia, associadas com os danos ao lóbulo temporal do cérebro.
Os investigadores constatam que, estimulando eletricamente este
lóbulo, nos pacientes, eles podem imitar alguns elementos de EQMs,
tal como o sentido das memórias da vida. Acreditam que o estresse
de pensar ou estar próximo à morte, pode de alguma forma estimular
este lóbulo (SOUZA, 2009).

Melvin Morse (1998) ressaltou que a excitação elétrica do lado direito


do lobo temporal do cérebro, especificamente no sulco de Silvius,
pode causar visões místicas, audição de música sublime, figuras de
anjos e de parentes falecidos e o retrospecto panorâmico da vida. No
entanto ele não apontou se isso ocorreu em todos os casos por ele
observados.

4.4 Teoria da Falta de Oxigênio

Outra hipótese seria que a EQM ocorre como resultado da hipóxia ou


anóxia no cérebro. Whinnery (1997) desenvolveu um modelo
baseado no que ocorre com pilotos de avião a jato. Souza (2009) diz
que a aceleração provoca a perda de consciência por um breve
período, o que faz com que os pilotos relatem alteração da memória,
ocorrência de efeitos visuais e até a visão de um túnel como na
EQM. Mas há somente um relatório que foi capaz de medir os níveis
de oxigênio e gás carbônico no sangue durante a EQM e a relação
entre este fenômeno e a anóxia (SABOM, 1982).

É claro que esses modelos não explicam todo o fenômeno de EQM,


mas podem ser utilizados para ajudar a distinguir os aspectos
componentes do fenômeno que são resultados de perda de
consciência daqueles que estão além deste aspecto e que são
únicos da EQM (SOUZA, 2009).

Ainda é preciso considerar que estes modelos não explicariam


porque alguns pacientes podem dar relatórios completos das coisas
que aconteceram em torno deles durante sua EQM. O Dr. Michael
Sabom (1982) relatou que um paciente, quando teve uma EQM,
prestou atenção em seu médico executando um teste de sangue,
mostrando riquezas de detalhes (SOUZA, 2009).

4.5 Teoria da Despersonalização/Dissociação

As EQMs foram descritas como um tipo de despersonalização, ou


um sentimento de estranhamento ou de irrealidade, que imita o
estado de morte e que sacrifica uma parte da personalidade para
evitar a morte real, muito embora a despersonalização não esclareça
a ampliação da agilidade mental nem a consciência mística,
observadas nas EQMs. O aspecto central da despersonalização é a
sensação de estar desligado do mundo como se, na verdade,
estivesse sonhando.

O indivíduo que experimenta a despersonalização tem a impressão


de estar num mundo fictício, irreal, mas a convicção da realidade não
se altera. A desrealização é uma sensação e não uma alteração do
pensamento como acontece nas psicoses onde o indivíduo não
diferencia realidade da "fantasia". Na despersonalização o indivíduo
tem preservado o senso de realidade apesar de ter uma sensação de
que o que está vendo não é real. É comum a sensação de ser o
observador de si próprio e até sentir o "movimento" de saída de
dentro do próprio corpo de onde se observa a si mesmo de um lugar
de fora do próprio corpo (NOYES e KLETTI, 1977).

A primeira tentativa moderna de explicar EQMs em termos


psicológicos da despersonalização foi feita em 1930, por um
psicólogo Pfister (1930) que afirmava que as pessoas diante de uma
realidade desagradável, como a morte ou uma doença, tentam
substituir essa realidade não aceita através de fantasias plausíveis
para se proteger (SOUZA, 2009).

Enquanto que a despersonalização é tida como uma fantasia, uma


fuga da realidade, o fenômeno de dissociação vem sendo comparada
com a separação de pensamentos, sentimentos ou experiências do
curso normal da consciência e da memória, o que é uma resposta de
adaptação ao trauma, comum em pessoas sem outras alterações
patológicas. Muitas EQMs compartilham com a dissociação, a
desconexão da percepção, cognição, emoção e identidade do fluxo
predominante de consciência do indivíduo (GREYSON, 1997b).

Os pesquisadores têm especulado o fato de que as pessoas que


passaram por uma EQM talvez tenham tendência a dissociar em
resposta a eventos desastrosos, mas não os estressores da vida
diária (IRWIN, 1993; RING, 1992).

Sintomas de dissociação são mais comuns entre sujeitos que


vivenciaram uma EQM do que entre indivíduos que estiveram
próximos da morte sem EQM, embora os escores dos pacientes que
vivenciaram uma EQM ainda estejam dentro da média esperada para
a população normal e bem abaixo dos encontrados em transtornos
dissociativos clínicos (GREYSON, 2000).

O perfil do sintoma dissociativo dos indivíduos que passaram por


uma EQM sugere resposta psicofisiológica normal ao estresse, um
desvio de atenção do ambiente físico para um estado alterado de
consciência, mais que um tipo patológico de dissociação ou uma
manifestação de transtorno dissociativo.

4.6 Teoria da Memória do Nascimento

Outra teoria popular é que a EQM não tem nada a ver com a morte,
mas com memórias do nascimento. A pessoa estaria lembrando-se
do momento do nascimento, ou seja, saindo do útero e chegando ao
ambiente da sala de parto. Isto explicaria a passagem pelo túnel e a
luz logo depois, a lembrança também da acolhida pela equipe
médica e pela mãe ainda na sala de parto, seria a sensação de amor
e calor (SOUZA, 2009). Portanto, segundo essa teoria, o que o
acorre no momento da morte é somente uma memória armazenada
do que aconteceu quando o indivíduo nasceu. Mas em um artigo de
Susan Blackmore (1983) é explicado que tanto as pessoas que
nasceram de parto normal quanto às de cesárea relatam a mesma
experiência do túnel, contradizendo esta teoria, pois os nascidos de
cesárea deveriam ter outro tipo de memória armazenada.

 Outros pesquisadores entre eles, Sagan (1979), interpretou as


EQMs, com suas vivências de visualização de um túnel escuro, de
uma luz brilhante e de entrada em outra dimensão, como uma
memória do próprio nascimento. Entretanto, muitas EQMs não são
vivenciadas pela visão de um túnel nem de uma luz, assim como
muitas outras características comuns de EQM não são explicadas
por esse modelo de “memórias do nascimento”. Além disso, aos
recém-nascidos faltam a acuidade visual, a estabilidade espacial de
suas imagens visuais, a agilidade mental e a capacidade cortical de
codificação para registrar as memórias da experiência do nascimento
(BECKER, 1982).

Por fim, os relatos de experiência fora do corpo e sobre a passagem


através de um túnel para outra dimensão são igualmente comuns
tanto entre as pessoas que nasceram de parto vaginal como entre as
que nasceram de parto por cesárea. Blackmore (1983) contradiz as
predições do modelo “memórias do nascimento”, pois acredita que
tais experiências deveriam ser raras nos indivíduos que nasceram de
parto por cesárea.

4.7 Teoria da Vida após a Morte

Existem muitas evidências circunstanciais de que a consciência


sobrevive à morte corporal, embora se tenha conhecimento que a
ciência necessita de melhores ferramentas para compreender o que
é a consciência. Talvez quando descobrir o que é a consciência
poderá ter evidência científica absoluta que há uma vida após a
morte.  Com raras exceções, pesquisadores têm ignorado a questão
da sobrevivência da consciência após a morte do corpo (SOUZA,
2009).

Ainda segundo Souza (2009), os pesquisadores Ring e Cooper


(1997-1999)  encontraram 31 casos em suas pesquisas de pessoas
cegas (algumas de nascimento) que tiveram percepção visual e
descreveram objetos e acontecimentos após experienciarem uma
EQM. O que se tem hoje são somente indícios, pois já que diante
dos paradigmas científicos existentes atualmente, ainda não se tem
capacidade de fazer uma afirmação segura de que existe uma
sobrevivência após a morte; o que não se pode é deixar de estudar e
pesquisar esses casos.

Todas essas teorias que explicam a EQM podem ser reduzidas a três
paradigmas:

a) uma explicação neurofisiológica que reúne as teorias da morte


cerebral, da alucinação, do lóbulo temporal, da falta de oxigênio; b)
uma explicação psicológica onde se encontra a teoria da
despersonalização, da memória do nascimento; c) a explicação
transcendental que seria a teoria da vida após a morte, ou seja, a
EQM seria uma forma real do homem experienciar o que é a morte e
o que existe após esta. Embora possamos levar em consideração
esses três paradigmas, até o momento não há nenhuma evidência
que aponte para um deles (SOUZA, 2009, p. 63).

4.8 Conseqüências Transformadoras da EQM

Diante de tudo que já foi exposto sobre a EQM, busca-se ainda por
meio de pesquisas e de literatura especializada, explicações a
respeito das modificações que ocorrem após a pessoa ter vivenciado
uma EQM. Dentre essas mudanças há os efeitos orgânicos da EQM,
quando Melvin Morse menciona que Atwater foi a primeira
pesquisadora a afirmar que a EQM altera a fisiologia cerebral. E
também quem primeiro observou que a EQM transforma
significativamente os campos eletromagnéticos que circundam a
pessoa humana (MORSE, 1998).

 A pesquisadora Atwater observou modificações fisiológicas em mais


de três mil pessoas com que teve contato e que passaram por uma
EQM. Do seu relato, destacam-se as seguintes alterações mais
importantes no comportamento fisiológico daquelas pessoas:

a) mudanças substanciais nos níveis de energia; b) maior


sensibilidade à luz, especialmente à luz do sol como também ao som
e ao volume dos sons; c) mudanças no funcionamento de seus
cérebros; d) mudanças no seu metabolismo, com melhora nos
processos digestivos; e) melhoria da saúde em geral, porém com
aumento de alergias para os remédios alopáticos; f) queda da
pressão sangüínea e diminuição do ritmo do pulso; g) hiperestesia
táctil, gustativa e olfativa; h) sensibilidade para a eletricidade e
campos geomagnéticos; i) maior sensibilidade a fatores
meteorológicos, tais como temperatura, pressão, movimentos do ar e
umidade; desabrochamento ou aumento de aptidões
parapsicológicas e atividades curativas por imposição de mão
(ATWATER, 1998, p.4).

    Atwater descobriu ainda que seriam necessários sete anos para


que o sobrevivente da EQM comecem a integrar a sua experiência.
Os três primeiros anos são os mais desafiadores, porque durante
essa fase o sobrevivente está mais desorientado e as pessoas que
lhe estão próximas não entendem o que está ocorrendo. Decorridos
os sete anos, de acordo com o bom êxito dos reajustes feitos pelo
sobrevivente, a vida se torna mais fácil, pois ele entra em sintonia
com o ritmo da vida (ATWATER, 1998).

5 Efeitos das Experiências de Quase-Morte (EQM)

5.1 Efeitos positivos

Em relação aos efeitos EQM, as pesquisas tem se concentrado nas


modificações pessoais benéficas que freqüentemente advêm dessa
experiência. Os resultados que são tipicamente relatados, incluem a
ampliação da espiritualidade, da preocupação com outras pessoas,
da valorização da vida e a diminuição do medo da morte, do
materialismo e da competitividade (SABOM, 1982).

Nos estudos que comparam as atitudes dos indivíduos, antes e após


uma EQM, os resultados indicaram que após essa experiência os
pacientes referiram diminuição do medo da morte, sensação de
relativa invulnerabilidade, sentimento de importância ou de potencial
para uma missão a cumprir e fortalecimento da crença na vida após
a morte (NOYES, 1980).

Melvin Morse (1990) realizou pesquisa com pessoas que tiveram


EQM e relataram sentirem-se diferentes, transformadas; este grupo
foi comparado com pessoas que não passaram pela experiência e
também com um grupo que havia tido a experiência, mas era cético e
não acreditava no que tinha visto.  Após a análise de dados
provenientes dessas pesquisas descobriu que as EQMs provocam
mudanças realmente duradouras nas pessoas relacionadas ao grupo
que creram e não nos indivíduos dos outros grupos.

Estas mudanças incluem: aumento de espiritualidade; diminuição da


ansiedade em relação à morte; maior gosto pela vida; preocupação
com os outros; valorização da vida e menos medo da morte;
inteligência mais elevada, aumento das capacidades sensitivas;
vêem a si mesmo como parte integrante do universo; crença
fortalecida na vida após a morte; senso renovado de propósito; maior
confiança e flexibilidade em lidar com as dificuldades; menor
preocupação com status e posses materiais e amor ao próximo
(SOUZA, 2009, p. 61).

Os sobreviventes das EQMs que demonstram crença no que


vivenciaram, também referiram ter maior apreço pela vida, renovação
do sentido de viver melhor, aumento da confiança e da flexibilidade
para lidar com as adversidades do dia a dia, e observaram que essas
mudanças conduzem a efeitos positivos e significativos em relação à
finalidade e ao sentido da vida, assim como favorece a aceitação da
morte (BAUER, 1985).

Ainda discorrendo sobre os efeitos das EQMs, a pesquisadora


Atwater constatou outras reações positivas como:

a) êxtase, devido ao milagre, beleza e glória da experiência; b)


excitação, porque se sentem muito privilegiados por terem passado
por essa experiência transformadora; c) gratidão, porque algo tão
incrível tenha acontecido com eles; d) admiração, porque se sentem
impossibilitados de falar ou de achar as palavras para se expressar;
e) evangelização, um desejo imediato de contar aos outros as boas
novas sobre a morte, Deus e o poder do amor; f) humildade, pela
grandeza do episódio e do que ele pode acarretar (ATWATER 1998,
p. 4).

Essas mudanças nas atitudes e no comportamento dos pacientes


que passaram por essa experiência e sofreram transformações vêm
sendo confirmados em estudos de longo prazo e também nas
entrevistas com amigos e parentes (RING, 1984). Comparando as
pessoas que vivenciaram uma EQM com as que chegaram próximo
da morte, mas não passaram por essa experiência, os indivíduos que
tiveram uma EQM passaram a dar valor significativamente mais
baixo ao status, ao sucesso profissional, aos aspectos materiais e à
fama (GREYSON, 1983a), e a morte passou a ser vista de forma
menos ameaçadora (GREYSON, 1992).

5.2 Efeitos negativos

Embora indivíduos que tenham passado por uma EQM possam


sofrer se essa experiência conflitar com as crenças e atitudes
prévias, a ênfase da mídia leiga nos seus benefícios, inibe a busca
por ajuda dos pacientes que estão com problemas. Algumas vezes
as pessoas que passaram por uma EQM duvidam de sua própria
sanidade mental, mas com freqüência receiam discutir esse assunto
com seus amigos ou profissionais de saúde, pelo medo de serem
ridicularizadas ou rejeitadas. Ocasionalmente os profissionais de
saúde reagem negativamente quando os pacientes que vivenciaram
e relatam suas experiências; o que os desencoraja de procurar ajuda
para mais bem compreender essa experiência (GREYSON, 1997a;
GREYSON e HARRIS, 1987).

Após uma EQM, os pacientes podem ter problemas emocionais e


apresentar reações negativas. Dentre elas Atwater aponta:

a) raiva, por terem sido revividos e forçados a sair de onde quer que
estejam; b) culpa, por não sentir falta nem se preocuparem com as
pessoas que lhes são caras; c) desapontamento, pela descoberta de
que estão novamente revestidos pelos seus corpos físicos e que
terão novamente de respirar, comer e ir ao banheiro; d) horror, se
suas experiências foram assustadoras ou infernais ou
desagradáveis; e) embaraço, quando querem falar,mas não
conseguem ou têm medo; f) depressão, quando percebem que agora
devem retomar suas vidas anteriores e têm de encontrar um meio de
levar adiante suas vidas comuns, independentemente do que
aconteceu com eles (ATWATER 1998, p. 4).

A maioria dos pacientes que passaram por uma EQM gradualmente


vai se ajustando, por si mesma, à experiência que teve e aos seus
efeitos. Entretanto, essa adaptação freqüentemente requer que eles
adotem novos valores, atitudes e interesses para conciliar a EQM
com os ensinamentos de suas crenças religiosas tradicionais, ou
seus valores e estilos de vida prévios.

Os familiares e amigos podem ter dificuldades em compreender as


novas formas de crer no sobrenatural e os novos comportamentos
dos que passaram pela EQM.  E pensando de outra forma a família
sente-se influenciada pela mídia leiga sobre os efeitos positivos de
uma EQM podem colocar esses pacientes em um pedestal e esperar
por mudanças irreais. Algumas vezes, os amigos esperam paciência
e capacidade grandiosa de perdoar desses indivíduos que passaram
por uma EQM, ou curas milagrosas e poderes proféticos, e acabam
por rejeitar os indivíduos, que passaram por uma EQM, e que não
atendem a essas expectativas não realistas (GREYSON, 1997ª;
GRAYSON e HARRIS, 1987).

Os pesquisadores observaram que a incongruência entre os valores


adotados pelos que passaram por uma EQM e os valores de seus
cônjuges tem resultado taxas relativamente elevadas de divórcio
nesta população de indivíduos que sofreram uma EQM (BUSH,
1991).

A “morte social” que ocorre quando a personalidade conhecida do


sobrevivente de EQM morre pode ser tão desorganizadora para a
família, quanto seria a morte física desse indivíduo (INSINGER,
1991). Os efeitos de uma EQM “podem incluir depressão duradoura,
término de relacionamentos, interrupção da carreira, sentimentos de
intenso isolamento, incapacidade para agir no mundo e longos anos
de esforço para adaptar-se às alterações na percepção da
realidade” (BUSH, 1991, p. 7).

As vivências da EQM tornam-se centrais para a identidade desses


pacientes e parecem diferenciá-los das outras pessoas que convivem
com eles; tais sujeitos acabam por se definirem basicamente como
“sobreviventes de uma EQM” e suas novas atitudes e crenças são
tão diversas daqueles que os circundam, que a preocupação deles
agora é de serem vistos como anormais. Os indivíduos que
vivenciaram uma EQM podem se sentir distantes ou separados das
pessoas que não passaram por experiências similares e temerem ser
ridicularizados ou rejeitados por tais pessoas, às vezes,
naturalmente, com muita razão.  A dificuldade em reconciliar as
novas atitudes e crenças com as expectativas da família e dos
amigos pode interferir na manutenção dos antigos papéis e estilo de
vida, pois estes não têm mais o mesmo significado.

5.3 Tratamentos de problema relacionados à EQM

Embora não haja nenhum estudo controlado sobre os resultados de


intervenções terapêuticas aos problemas relacionados com uma
EQM, os clínicos desenvolveram um consenso de estratégias
psicoterapêuticas (GREYSON, 1997a; GREYSON e HARRIS, 1987).

As modalidades de intervenção psicoterápica com pacientes que


vivenciaram uma EQM sugerem incentivá-los, a verbalizar sua
confusão e seu sofrimento, e também a refletir e clarificar mais que
interpretar as percepções e emoções dos pacientes. Também se
recomenda o oferecimento de informações objetivas sobre a vivência
da EQM, favorecendo o entendimento tanto dos pacientes como dos
familiares; evitando o sentimento de vítima do paciente e ajudando-o
a elaborar as aflições perante as perdas do ego [02]. Os pacientes
que consideram sua experiência inefável podem expressar seus
conflitos usando meios não-verbais de expressão ou por meio da
hipnose e da imaginação dirigida (GREYSON, 1997a; GREYSON e
HARRIS, 1987).

A maneira pela qual um psicoterapeuta responde a um indivíduo que


passou por uma EQM pode ter enorme influência na evolução do
caso. Ou seja, se haverá aceitação da experiência e se vai
transformar em um estímulo para o crescimento psicoespiritual, ou se
será considerada uma experiência bizarra, que não deva ser
compartilhada com os outros, por medo de ser rotulado como
mentalmente doente.        

Mudanças nos valores, crenças e atitudes podem requerer


modificações nas relações familiares e o foco da terapia no “aqui e
agora”, pode ajudar os pacientes a integrar as vivências
experimentadas durante a EQM em suas vidas diárias. A terapia de
família ou de casal pode ser indicada quando mudanças no paciente
demandam mudanças em relacionamentos íntimos, assim como
mudanças na carreira (GREYSON, 1997a).

Diante da EQM, uma experiência tão estranha à vida cotidiana,


explorar problemas e soluções com outras pessoas que também
vivenciaram essa experiência pode reduzir o sentido bizarro
associado ao fenômeno. Assim pacientes podem sentir-se melhor
explorando o assunto em uma psicoterapia de grupo, composta por
pacientes que também passaram por uma EQM, ou em um grupo de
auto-ajuda específico, o que pode favorecer a normalização da
experiência (GREYSON E HÁRRIS, 1987).  

Alguns autores têm advertido contra a prescrição de medicações


para determinados pacientes simultaneamente, ao despertar
espiritual espontâneo, o que pode congelar o processo em
andamento e impedir quaisquer desenvolvimentos reparadores
futuros (WILBER, 1984). Como alternativa, podem ser indicadas as
práticas contemplativas, tais como a meditação ou a oração, que
ajudam o indivíduo em crises espirituais (WILBER, 1984).

Após uma EQM, os pacientes podem ter problemas emocionais,


como raiva e depressão, por terem sido ressuscitados e “mandados
de volta”, talvez contra a própria vontade. Esses pacientes
freqüentemente apresentam dificuldades para conciliar a experiência
de EQM com os ensinamentos de suas crenças religiosas
tradicionais, ou seus valores e estilos de vida prévios. Esses
indivíduos que vivenciaram uma EQM podem se sentir distantes ou
separados das pessoas que não passaram por experiências
similares e temer ser ridicularizados ou rejeitados por tais pessoas às
vezes, naturalmente, com muita razão.

A dificuldade em reconciliar as novas atitudes e crenças com as


expectativas da família e dos amigos pode interferir na manutenção
dos antigos papéis e estilo de vida, pois estes não têm mais o
mesmo significado. Esses pacientes podem sentir que é impossível
comunicar aos outros o significado e o impacto de uma EQM em
suas vidas. Freqüentemente, experimentam um sentido do amor
incondicional durante a EQM e não conseguem mais aceitar as
condições e as limitações dos relacionamentos humanos
(GREYSON, 1997a; GREYSON e HARRIS, 1987).

A maneira pela qual um psicoterapeuta responde a um indivíduo que


passou por uma EQM pode ter enorme influência na evolução do
caso, ou seja, se haverá aceitação da experiência e esta se
transformará em um estímulo para o crescimento psicoespiritual. Ou
se será considerada uma experiência bizarra, que não deva ser
compartilhada com os outros, por medo de ser rotulado como
mentalmente doente.

A literatura sobre problemas relacionados à EQM inclui vinhetas


clínicas que ilustram pedidos para que se realize intervenção
psiquiátrica em relação aos problemas secundários a uma EQM e
que suscitam perguntas não somente sobre o diagnóstico diferencial
das condições comórbidas, mas também do relacionamento causal
entre elas, isto é, se as EQMs podem predispor o sujeito a
determinados transtornos mentais ou se determinadas doenças
mentais predispõem pacientes que vivenciarem uma EQM (CLARK,
1984; GREYSON, 1997a).

6. Considerações Finais

Considerando a complexidade do tema, o que se pode refletir sobre


a EQM que é constituída por um conjunto de vivencias narradas por
alguns indivíduos que passaram no limite da vida e da morte e que,
contudo, conseguiram sobreviver. Essa experiência ocorre em
pacientes terminais, sobreviventes de morte clínica, em
circunstâncias de ameaça extrema em que a morte é iminente, tais
como infarto do miocárdio, choque anafilático, intoxicação,
traumatismo, anestesia, tentativa de suicídio, hemorragia cerebral,
afogamento e outros casos médicos.

Esta experiência torna-se complexa porque envolve diversos


aspectos da vida do paciente. De acordo com os estudos, percebe-
se que abrange aspectos químicos cerebrais, fisiológicos,
psicológicos, espirituais e aspectos da consciência. Mesmo que a
ciência tenha dificuldade em explicar a complexidade que envolve
todos os aspectos vivenciados e relatados pelos pacientes, e de não
ter uma explicação plausível e convincente para si mesma e para o
paciente; a comunidade médica vem pesquisando e discutindo por
décadas o que é científico o que é fisiológico e o que é subjetivo nos
relatos vivenciados por alguns desses pacientes.

Nesses relatos há uma seqüência de aspectos vivenciados por esses


pacientes: impressão de se estar flutuando acima do próprio corpo
percebendo as pessoas ao seu redor e indo ao encontro de Deus,
efeito de paz, visão panorâmica retrospectiva da própria vida,
amplitude das emoções e percepções. Pode aparecer a sensação de
ingressar por um túnel em cujo final surge um “ser de luz”: essas
referências variáveis vão depender dos arquétipos religiosos,
culturais ou filosóficos da pessoa. A linha do tempo entre as duas
dimensões, a física e extrafísica, se apresenta como uma fronteira
que é marcada como se fosse o limiar entre a vida e a morte e é
nesse limite que ocorre a EQM.

Segundo os estudos consultados faz-se necessário lembrar que nem


todas as pessoas que atravessaram uma EQM trazem todas as
características que compõem a mesma. Algumas poderão apresentar
uma ou duas; outras, cinco ou seis. É a presença de um ou mais
desses elementos que definirão uma experiência de quase-morte.
Lembrando que alguns dos indivíduos que vivenciaram todas as
características da EQM relataram que passaram por uma profunda
mudança pessoal após esse evento, enquanto que outros
descreveram mudanças parciais. Essas modificações apontadas
pelos pesquisadores incluem: acréscimo do misticismo; redução da
ansiedade em relação à morte (tanofobia); maior anseio pela vida;
preocupação com o desejo dos outros; sentimento de ambigüidade;
convicção da vida após a morte; maior bom senso e flexibilidade em
lidar com as dificuldades; menor inquietação com statuse com as
posses materiais.

Outros indivíduos relatam mudanças negativas a exemplo de: terem


aborrecimento por trazê-los de volta e por terem sido compelidos a
sair do lugar onde estavam; culpa por não sentirem que amam seus
entes queridos e se preocupam com eles como antes; conflitos de
perda da identidade, pois há momentos em que desejam estar na
terra e em outro momento desejam estar no céu, depressão e
angústia por terem que encarar a vida novamente, sentindo-se
vazias e desanimadas.

Um aspecto propício para futuras pesquisas sobre esta experiência


que traz um fascínio sobre o público em geral, são as repercussões
ocorridas nos relacionamentos interpessoais. Segundo os
pesquisadores da EQM, alguns pacientes que vivenciaram esse
fenômeno e que passaram por essas mudanças psicológicas e
comportamentais significativas, declaram que as mesmas
repercutiram no relacionamento com a família, por terem modificado
seus pontos de vista com relação ao mundo e às outras pessoas.

Como já foram referidos anteriormente, os problemas emocionais


advindos das EQMs como as alterações comportamentais, a crise
existencial, a depressão, e outras dificuldades, devem ser tratadas
com intervenções terapêuticas para que ocorra uma elaboração
desses sofrimentos. A forma como um terapeuta trata o indivíduo que
passou pela EQM pode ser essencial para o processo de aceitação e
coerência da experiência, tornando-a um estímulo para um maior
crescimento.
O psicólogo tem o papel fundamental de ouvir o discurso desses
pacientes e ajudá-los a esclarecer as interpretações das angústias
que eles trazem através da sua própria fala. A escuta e a posição de
congruência e de aceitação integral por parte do terapeuta vai
permitir que o sujeito compartilhe e se liberte dos sentimentos que
lhe angustiam. A terapia em grupo também vai ajudá-los, pois ao
ouvir e sentir o contato com outros que passaram pela mesma
situação, experimentam alívio e a impressão de não serem os únicos
que vivenciaram uma EQM.

É evidente que o assunto EQM continua sendo muito controverso,


pois, como foi apresentada pelas teorias que tentam explicar o
fenômeno, essa experiência pode ser tanto um mecanismo de defesa
psicológica para negar a morte, quanto um problema neurofisiológico
da espécie humana ou verdadeiramente uma experiência real e
transcendental. O que fica claro é que todas essas teorias e as
suposições neurofisiológicas proporcionam esperanças para uma
melhor definição da experiência de quase morte, os eventos
fisiológicos e psicológicos que a envolvem.

Por fim, diante dos argumentos apresentadas, entende-se que


mesmo diante das pesquisas e estudos já realizados, ainda assim os
pesquisadores devem continuar buscando explicações científicas,
físicas, espirituais e psicológicas para o tema, acrescentando-lhe
novos dados. Os efeitos comumente relatados pelos pacientes de
EQM possivelmente continuarão intrigando a todos, especialmente
as profundas modificações existenciais que ocorrem à grande parte
desses indivíduos produzindo uma nova percepção da vida e uma
melhor aceitação de sua transitoriedade humana.

Sobre o Artigo:

Trabalho apresentado como pré-requisito para obtenção do Título de


Psicólogo para a Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de
Santana-Ba.

Orientadora: Profª. Esp. Paula Rúbia O. do Vale Alves


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