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In: BEJNAMIN,
Walter, Magia e técnica, arte e política, Editora Brasiliense. Brasília. 1987, p.165-196.
Gabriel Rios
Após evidenciar a perda da autenticidade, Benjamin (1987) cunha um conceito para englobar
todas essas características: o conceito de aura. “O que é aura? É uma figura singular,
composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por
mais perto que ela esteja” (BENJAMIN, 1987, p.170). Esta aparição não se situa somente no
sentido do que é visível, mas também, e principalmente, no sentido perceptivo. Por exemplo,
a carta de Pero Vaz de Caminha à coroa portuguesa, em que ele descreve o território onde
hoje se situa o Brasil e através dessa carta instiga a exploração dessas terras pela coroa
portuguesa.
Avançando em sua argumentação, Benjamin (1987) desenvolve a investigação de outros
aspectos que se perdem diante da reprodutibilidade técnica. Essa tradição, da qual a obra de
arte perdeu ao ter sua aura destruída, se encontrava exprimida no culto em suas formas mais
primitivas de existência, portanto, em sua origem. Porém, “com a reprodutibilidade técnica a
obra de arte se emancipa pela primeira vez na história, de sua existência parasitária,
destacando-se do ritual” (BENJAMIN, 1987, p.171). Portanto, o valor de culto, diante desse
cenário, se vê suplantado pelo valor de exposição.
A arte surge a serviço da magia e do culto e posteriormente, à religião. Essa função ao qual
era atribuída a obra de arte, fazia com que a obra só fosse exposta em rituais ocasionais ou no
máximo a sacerdotes. “A medida que as obras de arte se emancipam do seu uso ritual,
aumentam as ocasiões para serem expostas”(BENJAMIN, 1987, p.173). Ainda sobre ao papel
da arte no passado confrontada pela reprodutibilidade, o autor expõe:
O tema dessas artes, que serviam ao ritual e ao culto, eram o homem e seu
meio, copiados segundo as exigências da sociedade em que a técnica se
fundia inteiramente com o ritual. Diferentemente desse tipo de sociedade, a
sociedade moderna possui a técnica mais emancipada que já existiu.
Porém, essa técnica emancipada se confronta com a forma de produção e
organização socioeconômica dessa sociedade. Por conta disso, ela ainda
executa a mesma função que cumpria na primeira sociedade: exercitar o
homem para as novas percepções exigidas por aparelhos técnicos de sua
vida cotidiana, em outras palavras, para o modo de produção capitalista
(BENJAMIN, 1987, p.173).
Diante disso, podemos dizer que Benjamin (1987) demonstra que diante da
reprodutibilidade técnica, e os avanços tecnológicos da era industrial, o que importa para a
obra de arte é a quantidade de pessoas que a conheceram. Estas novas condições de produção
da sociedade possibilitam uma emancipação como nunca antes vista, porém ela ainda se
confronta com a forma de produção e organização socioeconômica da sociedade capitalista.
Em outros termos, as suas possibilidades e potencialidades são suprimidas por esse modo de
organizar a produção e a vida humana.
Após expor essas questões acerca do valor de uso e de exposição da obra de arte,
Benjamin (1987) aborda o valor de eternidade do qual a arte perdeu:
Para os gregos, cuja arte visava a produção de valores eternos, a mais alta
das artes era a menos perfectível, a escultura, cujas criações se fazem
literalmente a partir de um só bloco. Daí o declínio inevitável da escultura,
na era da obra de arte montável (BENJAMIN, 1987, p.175).
Desse modo, o autor expõe que a arte para os gregos visava produzir valores eternos,
imutáveis, e as criações dessas artes se davam a partir de blocos únicos dos quais não
poderiam ser modificados ou revisados. Já na era da reprodutibilidade técnica a arte é
montável, corrigível e modificável a todo momento de seu processo criativo. Portanto, essa
técnica não visa eternizar um valor, mas sim buscar novos e aprimorá-los.
Ainda se debruçando na questão da montagem, Benjamin (1987) vai além em suas
reflexões, tendo como objeto de análise o cinema e compara o processo do qual o ator
cinematográfico é submetido ao processo que o trabalhador enfrenta nas fábricas:
Sendo assim, a polêmica, o escândalo o choque diante do público, passa a ser uma
ferramenta utilizada para chamar atenção para um determinado objeto, seja artístico,
ideológico e etc.
Por fim, Benjamin faz uma análise do que ele chama de “estética da guerra”. A partir
do processo de proletarização geral dos homens e a crescente massificação por outro lado
desse mesmo processo, aparece o fascismo como força reacionária para tentar organizar as
massas -liberam a expressão de sua natureza, mas não os liberam das correntes das relações
de produção e propriedade. Acerca desse assunto, Benjamin diz:
Tal guerra, segundo o autor, é reflexo da utilização insuficiente utilização dos meios
de produção no processo produtivo (as relações de produção e propriedade que permanecem
as mesmas, mesmo diante da possibilidade material das novas técnicas de produção de
superar essas relações) que desemboca na crise constante da economia política. Para
compensar esse desequilíbrio e contradição, “a técnica cobra em material humano o que lhe
foi negado pela sociedade” (BENJAMIN, 1987, p.196). Diante desse cenário presente no
tempo histórico em que se encontra Benjamin, ele compara o modo que a sociedade grega faz
o uso da estética com o modo em que a sociedade de seu tempo está fazendo uso, mais
especificamente o fascismo:
Diante desse modo em que o autor termina o texto sobre a era da reprodutibilidade
técnica, podemos aproximar esta conclusão ao pensamento de outro pensador: Debord (1967)
e suas teses do livro “Sociedade do Espetáculo”, em que Debord tem como objeto de crítica a
mesma sociedade que Benjamin, a sociedade mercantil/capitalista, porém este processo que
Benjamin identifica de certo modo se encontra mais avançado.