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BENJAMIN, Walter. O Surrealismo.

In: BEJNAMIN, Walter, Magia e técnica, arte e


política, Editora Brasiliense. Brasília. 1987, p.21-35.

O Surrealismo

Gabriel Rios

No texto “O Surrealismo”, Benjamin (1987) analisa a vanguarda artística francesa do


século XX, o Surrealismo. Por isso, tal título é dado ao texto. No tempo histórico ao qual este
texto se situa, esse movimento, segundo Benjamin (1987), representava o que a Europa tinha
de mais avançado em termos poéticos e artísticos, pelo seu caráter revolucionário e radical do
qual esse grupo detinha nesse tempo. Para caracterizar os surrealistas de tal modo, Benjamin
(1987) diz que eles lidam com outra coisa, que não a literatura:

Quem percebeu que as obras desse círculo não lidam com a literatura, e
sim com outra coisa - manifestação, palavra, documento, bluff,
falsificação, se quiser, tudo menos literatura -, sabe também que são
experiências que estão aqui em jogo, não teorias, e muito menos fantasmas
(BENJAMIN, 1987, p.23).

Justamente por conta dessa visão que Benjamin (1987) tem desse movimento, é que
ele lida com o surrealismo não como um movimento artístico, mas sim uma vanguarda
política e revolucionária de seu tempo da qual tentava alterar a realidade. Pois, segundo os
surrealistas, a vida está cada vez mais organizada pela vigília e cada vez menos para o sonho.
Esse movimento, então, trata de retomar o sonho, tentar utilizá-lo para superar essa realidade.
Sobre esse desejo surrealista, Benjamin (1987) diz:

A vida só parecia digna de ser vivida quando se dissolvia a fronteira entre


o sono e a vigília e a linguagem só parecia autêntica quando o som e a
imagem, a imagem e o som, se interpenetravam de forma tão feliz que não
sobrava a mínima fresta para inserir a pequena moeda a que chamamos
“sentido” (BENJAMIN, 1987, p.22).

Essa superação, segundo Benjamin (1987), se dá através de uma “iluminação profana”


da qual se inspira materialmente naqueles que são os mais miseráveis na sociedade e
antropologicamente naqueles que não puderam contar suas histórias. Portanto, tal iluminação
profana exerce, sobre aqueles que a detém, uma condição de vulnerabilidade advinda da
condição de marginalidade perante a sociedade e que, segundo Benjamin: “Viver numa casa
de vidro é uma virtude revolucionária por excelência. Também isso é embriaguez, um
exibicionismo moral, que nos é extremamente necessário” (BENJAMIN, 1987, p.24).
Além disso, Benjamin (1987) enxerga a cidade como o principal objeto dessa
possibilidade de realizar o sonho, como o “mais onírico dos seus objetos” (BENJAMIN,
1987, p.23), mas essa possibilidade só pode se realizar por meio da revolta, “somente a
revolta desvenda inteiramente o seu rosto surrealista, e nenhum rosto é tão surrealista quanto
o rosto verdadeiro de uma cidade ” (BENJAMIN, 1987, p.23).
Mas nem sempre o movimento teve tal característica revolucionária. Segundo
Benjamin (1987), o surrealismo surge como uma atitude extremamente contemplativa em
uma posição revolucionária, mas como podemos ver em Marx, a realidade não pode ser
apenas interpretada, mas necessita da ação para que ocorra mudança. E esse caráter surge no
movimento, segundo Benjamin (1987), a partir da repressão sofrida pelo movimento por
tentar expressar a liberdade espiritual. “Foi essa hostilidade que empurrou para a esquerda o
surrealismo” (BENJAMIN, 1987, p.28). Exatamente por conta desse movimento em tentar
exercer a liberdade de espírito, Benjamin (1987) exalta o modo como os surrealistas
cunharam o conceito de liberdade:

Desde Bakunin, não havia mais na Europa um conceito radical da


liberdade. Os surrealistas dispõem desse conceito. Foram os primeiros a
liquidar o fossilizado ideal de liberdade dos moralistas e dos humanistas,
porque sabem que “a liberdade, que só pode ser adquirida neste mundo
com mil sacrifícios, que ser desfrutada, enquanto dure, em toda a sua
plenitude e sem qualquer cálculo pragmático. É a prova, a seu ver, de que a
causa de libertação da humanidade, em sua forma revolucionária mais
simples (que é, no entanto, e por isso mesmo, a libertação mais total), é a
única pela qual vale a pena lutar (BENJAMIN, 1987, p.32).

Para que seja possível alcançar o exercício da liberdade, a iluminação profana, a


possibilidade de viver o “futuro mais belo dos nossos filhos e netos” (BENJAMIN, 1987,
p.33), segundo Benjamin (1987), os surrealistas realizam a organização do pessimismo. Um
pessimismo, segundo ele, integral do qual duvida do rumo de toda a sociedade a todo
instante. Tal pessimismo, utilizado como ferramenta revolucionária, seria o oposto do
movimento realizado pelos sociais-democratas que segundo ele:

O socialista vê o futuro mais belo dos nossos filhos e netos no fato de que
todos agem como se fossem anjos, todos possuem tanto como se fossem
ricos e todos vivem como se fossem livres. Não há nenhum vestígio real,
bem entendido, de anjos, riqueza e de liberdade. Apenas imagens. E o
tesouro de imagens desses poetas da social-democracia? O otimismo
(BENJAMIN, 1987, p.33).

Portanto, para Benjamin (1987), esses movimentos necessitam ter como fim último
uma luta material pelo poder e hegemonia ou serão dissolvidos e incorporados por essa
sociedade (capitalista):

Há sempre um instante em tais movimentos em que a tensão original da


sociedade secreta precisa explodir numa luta material e profana pelo poder
e pela hegemonia, ou fragmentar-se e transformar-se, enquanto
manifestação pública (BENJAMIN, 1987, p.22).

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