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BENJAMIN, Walter. O Autor como produtor.

In: BEJNAMIN, Walter, Magia e técnica,


arte e política, Editora Brasiliense. Brasília. 1987, p.12-136.

O Autor como produtor

Gabriel Rios

No texto “O autor como produtor”, Benjamin (1987) analisa a situação do produtor,


mais especificamente o artista, o escritor e os intelectuais na sociedade do capitalismo
desenvolvido de seu tempo (início do século XX). Além disso, o autor também esboça
caminhos para que o autor supere, ou ao menos tente superar, sua condição na sociedade,
trazendo algumas passagens do Brecht como referência a ser pensada pelos autores que
desejam se situar em uma posição revolucionária, e realiza duras críticas aos intelectuais que
não o fazem de maneira completa ou que a realiza apenas na “imagem”.
Primeiramente, Benjamin (1987) levanta a discussão acerca da forma e do conteúdo
das obras do autor e cunha dois conceitos extremamente fundamentais para entender o
restante do texto: o conceito de tendência e qualidade da obra. Partindo de uma análise
dialética, o autor entende que as obras devem se situar nos contextos sociais vivos e não
somente em sua forma ou tendência literária, como por exemplo um romance ou uma pintura.
Segundo Benjamin (1987) é importante pensar em como a obra se vincula às relações sociais
de sua época, mas também é uma pergunta difícil e que poderá ser equivocada em alguns
momentos. Diante disso, o autor prefere fazer outro tipo de abordagem para analisar as obras:

Gostaria de perguntar: como ela (a obra) se situa dentro dessas relações?


Essa pergunta visa imediatamente a função exercida pela obra no interior
das relações literárias de produção de uma época. Visa de modo imediato a
técnica literária das obras. (BENJAMIN, 1987, p.122).

Para Benjamin (1987), a tendência literária pode consistir num progresso ou


retrocesso da técnica, portanto, “a tendência de uma obra literária só pode ser correta do
ponto de vista político quando for também correta do ponto de vista literário” (BENJAMIN,
1987, p.121).
Após levantar essa discussão e apresentar novos conceitos e formas de abordá-la,
Benjamin (1987) aborda outra questão acerca da posição dos escritores e intelectuais nessa
sociedade. Diante da assimilação indiscriminada dos fatos causado pelo jornal e sua confusão
literária onde seu conteúdo é moldado para o consumo rápido e engajado do leitor, tais
leitores acabam se elevando, segundo Benjamin (1987), à condição de escritores. Desse
modo, a distinção entre o autor e o produtor, já naquela época, desaparece e qualquer um
pode escrever, descrever e prescrever. Algo notado por Benjamin (1987) que já está diluído
em um nível muito mais avançado e totalitário na contemporaneidade.
Justamente por conta de todas essas condições das quais os escritores, artistas e
intelectuais se encontram na sociedade capitalista do início do século XX, é que Benjamin
(1987) considera que:
“A tendência política, por mais revolucionária que pareça, está condenada
a funcionar de modo contra-revolucionário enquanto o escritor permanecer
solidário com o proletariado somente no nível de suas convicções, e não na
qualidade de produtor” (BENJAMIN, 1987, p.126).

Ou seja, por mais que as ideias, produções e escritos aparentam ser revolucionários,
essa “obra” só poderá ser considerada de fato revolucionária no momento em que ela realiza
tal condição na imagem e na ação. Segundo Benjamin (1987), “o menor fragmento autêntico
da vida diária diz mais que a pintura” (BENJAMIN, 1987, p.128). Ou seja, a menor ação na
realidade social viva diz mais do que qualquer tipo de imagem ou texto. Por isso, para o autor
a contradição da inteligência, dos intelectuais, é “a barreira entre a escrita e a imagem”
(BENJAMIN, 1987, p.129). Para a realização dessa ação em que a escrita e a imagem, a
forma e o conteúdo, a ação e o pensamento se unem, segundo Benjamin (1987) é necessário
um progresso técnico por parte dos intelectuais, para que não se compartimentalizar em
apenas uma esfera de competência do qual estamos acostumados a estar no processo
produtivo. Por isso o autor diz:

“Somente a superação daquelas esferas compartimentalizadas de


competência no processo da produção intelectual, que a concepção
burguesa considera fundamentais, transforma essa produção em algo
politicamente válido; além disso, as barreiras de competência entre as duas
forças produtivas - a material e a intelectual -, erigidas para separá-las,
precisam ser derrubadas conjuntamente” (BENJAMIN, 1987, p.129).

Após o apontamento de caminhos que os produtores revolucionários, ou os que


buscam de algum modo ser, devem realizar para permanecer nessa condição, Benjamin
(1987) tece duras críticas aos produtores que realizam tal prática apenas na imagem ou de
forma deturpada. Para isso, Benjamin (1987) cita a “nova objetividade” em que transforma a
luta contra a miséria em um produto de consumo, ou aqueles que suas obras só se realizam no
âmbito da propaganda e não organizacional ou combativa. Para tais atitudes o autor diz que
“a melhor tendência é falsa quando não prescreve a atitude que o escritor deve adotar para
concretizar essa tendência” (BENJAMIN, 1987, p.132).
Por conta disso, para Benjamin (1987) o produtor deve ter clareza acerca de sua
condição diante do aparelho técnico e produtor do qual ele está diante.

“Essa falta de clareza sobre sua situação, diz Brecht, que hoje predomina
entre músicos, escritores e críticos, acarreta consequências graves, que não
são suficientemente consideradas. Acreditando possuir um aparelho, sobre
o qual não dispõem de qualquer controle e que não é mais, como supõem,
um instrumento a serviço do produtor, e sim um instrumento contra o
produtor” (BENJAMIN, 1987, p.132).

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