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Neste contexto religioso as obras de arte são dotadas de uma “aura” que as separa
do mundo das coisas habituais/mundanas, sendo a arte aquilo que produz o espetacular, o
fenomenal, o que foge do normal e que deve ser, por causa disto, admirado como algo “de
superior”. Benjamin esclarece que este culto pode ser visto tanto nas religiões normais
quanto de forma “pagã”, como a adoração da beleza ou da perfeição dos corpos humanos
(como faziam os Renascentistas).
Esta concepção tradicional, “aurática” como diz Benjamin, da arte começa a viver
uma crise com o advento da fotografia, crise sobre a qual falaremos mais tarde. Benjamin
fala ainda do advento da “arte técnica”, o que inclui coisas como o cinema, o rádio e o
cinema, tem as suas raízes ainda na segunda metade do Século XIX e ganha força no
Século XX. Esta arte técnica (pensemos no cinema, por exemplo) é marcada cada vez mais
como um objeto de consumo e cada vez menos como algo digno de culto, ou seja, a arte
passa a ser mais parte do nosso cotidiano e neste sentido passa a ser mais política,
deixando de ser somente um objeto de culto como que desligado de tudo.
Benjamin ressalta que a arte técnica “foi feita para ser reproduzida” tanto por razões
econômicas quanto sociais. No aspecto econômico Benjamin ilustra isto com a ideia de que
os custos de produção de um filme tornam na prática impossível que ele possa ser
consumido por uma pessoa somente, como faziam os mecenas no Renascimento, tendo de
ser necessariamente algo que atinge um grande público para fazer sentido econômico (ele
estima, em sua época, que o público de uma grande produção em longa metragem deveria
ser de pelo menos nove milhões de pessoas). E se o filme foi feito para ser consumido por
um público enorme e não é mais algo visto na concepção “aurática” da arte ele
necessariamente terá um impacto social/político
Fotografia:
O grande exemplo dado por Benjamin da fotografia assumindo este novo papel e
realizando esta mudança são as fotografias que Eugène Atget produz sobre as ruas vazias
de Paris: elas não representam ninguém ou nada em específico, de modo que não são
objeto de culto de ninguém, e o seu público alvo é “qualquer pessoa”, sendo as suas fotos o
exemplo de algo sobre ninguém e para ser vista por todos, ou seja, que não é objeto de
culto e sim de exposição.
Benjamin retoma uma polêmica do Século XIX entre pintores e fotógrafos e dá uma
significação própria a esta polêmica: segundo Benjamin era teria ocorrido por conta do
afastamento da fotografia da função de culto da arte, de modo que ele propõe que a
questão não era “se a fotografia era arte”, mas sim como a invenção da fotografia havia
mudado a arte.
Benjamin transpõe esta polêmica do Século XIX para o seu Século XX e afirma que
muitos interpretariam incorretamente o “tipo” de arte do cinema, atribuindo a esta forma de
arte um papel de culto quando na verdade a sua “natureza” é a da exposição. Benjamim se
coloca contra as posições sobre o cinema de outros autores do Século XX, citando Abel
Gance, Séverin-Mars e Werfel como nomes que teriam tentado interpretar o cinema dentro
de um esquema “de culto”, ou seja, de maneira inadequada.
(os pintores não consideravam que a fotografia era arte pois não era necessário o domínio
técnico para produzir imagens perfeitas enquanto fotógrafo, de modo que a fotografia seria
uma arte “de qualquer um”)