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RESENHA – (Sobre) Vivências - Documentário LGBT

Kalina de Lima Santos

O documentário (Sobre) Vivências (duração: 53 minutos) que tem


direção de produção do Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação –
Tecnopoéticas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,
aborda uma faceta da violência de gênero, que representa um problema social
sob o qual precisamos cada vez mais nos debruçar, a fim de superarmos - a
questão da violência contra a população “LGBTQIA+”. Faz se necessário
pontuar que a Organização Mundial da Saúde (2017) define violência de
gênero, como qualquer tipo de agressão física, psicológica, sexual ou simbólica
contra alguém em situação de vulnerabilidade devido a sua identidade de
gênero ou orientação sexual, então essa não se trata apenas de violência
contra mulher, como é mormente considerada, mas algo mais amplo.
No documentário, 14 pessoas contam suas histórias de vida, todas elas
atravessadas por experiências de preconceitos de gênero e sexualidade.
(Sobre)Vivências é um documentário que busca ampliar as vozes de pessoas
LGBT's e contribuir para a construção de novas ideias frente a forte
estigmatização que esta população possui na sociedade. Uma importante
sacada dos produtores é trazer relatos cotidianos, que são intencionalmente
explorados com o objetivo de tornar a experiência única e pessoal para cada
um que assiste, colocando em cena pontos do dia a dia dessa população que
nos faz refletir sobre as nuances de uma violência arraigada na nossa
sociedade, nos fazendo pensar sobre como a nossa sociedade faz penosa a
vida para essa população, desde muito cedo e nos pequenos detalhes.
Essa questão demarca um ponto importante a ser considerado e
levantado pela professora Kelly Menezes (UFC) no encontro V do curso:
‘Capacitação para o Enfrentamento da Violência de Gênero’ (06/11), para qual
a sociedade tende a considerar violência, apenas o que está socialmente
demarcado como “delito”, mas que precisamos desmistificar isso, e nomear
todas as formas de violência: machismo, LGBTfobia, racismo etc. Para a
professora, é a partir da nomeação de determinados comportamentos
demarcados por padrões de violência, que podemos enfim enfrentá-los e
consequentemente superar.
Neste sentido, o documentário pode colaborar na medida em que
demarca comportamentos do dia a dia como comportamentos que ferem a
existência dessa população e logo implicam uma LGBTfobia, praticada pelos
colegas de escola, por profissionais de educação e familiares. A violência se
constituí, portanto, em ambiente fluído, e demarcar esses comportamentos
tidos como naturalizados é uma estratégia fundamental para superação desta,
já que existe uma legitimidade social, com padrões socialmente aceitos.
O documentário dialoga também com o vídeo apresentado na aula IV no
filme exibido “meu primeiro sutiã”, apresentado pela professora - Lucivania
Sousa (UFABC) que também ilustra características do dia a dia e o processo
de desconstrução de um pai na compreensão e aceitação do gênero da sua
filha trans. A professora coloca em cena um debate acerca da luta pelo
reconhecimento da humanidade de travestis e mulheres transexuais no Brasil e
explica como se dá o processo de exclusão abordada no documentário.
É importante acrescentar que o debate se faz necessário dada a
problemática que está posta. Uma pesquisa publicada na carta capital (2020)
feita baseado nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que a
cada uma hora um LGBT é agredido no Brasil, entre 2015 e 2017, data em que
os dados foram analisados. Acrescentando de que os números podem ser
ainda maiores, já que há muitas pessoas não registram a ocorrência, não
procuram o sistema de Saúde e, quando procuram, muitos não colocam sua
orientação sexual por medo ou vergonha, o que faz aumentar os casos de
subnotificação da violência. Revelando que precisamos cada vez mais
problematizar e colocar em cena o debate da violência contra essa população.
Referências
(Sobre) Vivências - Documentário LGBT. Direção: Leonidas Taschetto e
Gabriel Celestino. Brasil. Disponível no YouTube, 2018.
Organização Mundial de Saúde (OMS). Violência de gênero. 2017
PUTTI, ALEXANDRE. DIVERSIDADE. Um LGBT é agredido no Brasil a
cada hora, revelam dados do SUS. Carta Capital (2020). Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/diversidade/um-lgbt-e-agredido-no-brasil-a-
cada-hora-revelam-dados-do-sus/.

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