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FARMACOLÓGICAS
E INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS
NA ESTÉTICA
Introdução
Independentemente do agente que causou a ferida, tanto de forma aci-
dental como intencional, o processo de cicatrização é comum a todos os
ferimentos. Trata-se de um processo sistêmico e dinâmico, que depende
das condições em que o organismo se encontra. Esse processo envolve
uma série de reações moleculares, bioquímicas e fisiológicas, de que
participam células, substâncias vasoconstritoras, fatores de crescimento,
matriz extracelular e sinais químicos, que interagem no sentido de reparar
o tecido danificado. É somente durante a fase fetal de desenvolvimento
humano que o sistema de reparo tecidual ocorre sem a formação de
cicatriz.
O processo de cicatrização é dividido em fases, que decorrem desde
o início da lesão, passando por um processo de recuperação da homeos-
tasia até o restabelecimento completo do tecido. Nesse período, há uma
série de eventos bioquímicos e histológicos, no sentido de promover a
cicatrização da área atingida. Existem fatores que podem contribuir para
que esse processo se complete adequadamente e, até mesmo, para
acelerá-lo; contudo, existem também fatores que levam ao retardo da
cicatrização, comprometendo a evolução normal do processo.
Neste capítulo, você vai estudar os processos fisiológicos envolvidos
na cicatrização, bem como os fatores que interferem de forma positiva e
negativa no reparo tecidual. Ainda, você vai compreender o mecanismo
de ação dos fármacos que contribuem para a cicatrização e daqueles
que dificultam esse processo.
2 Fármacos e cicatrização
Fases da cicatrização
Ao ter um ferimento instalado, tanto de forma acidental como intencional,
como no caso das cirurgias, o organismo inicia o processo de reparo tecidual,
denominado cicatrização. Esse processo é complexo e dinâmico e envolve
diversos elementos celulares, hormonais e moleculares, que entram em ação
logo após a lesão e dependem do grau de comprometimento do tecido e das
condições orgânicas do indivíduo, conforme Garbuio et al. (2018). Segundo
Mendonça e Coutinho-Netto (2009), o processo de cicatrização é dividido
didaticamente em três fases, sendo elas: fase inflamatória, fase proliferativa
e fase de remodelagem.
Fase inflamatória
Logo após a instalação do ferimento, inicia-se a fase inflamatória, com libe-
ração de mediadores inflamatórios, como tromboxano A2 e prostaglandinas.
As plaquetas são acionadas devido ao extravasamento de sangue no local,
formando um agregado e ativando a cascata de coagulação. Esta visa a formar
uma barreira contra a contaminação por micro-organismos e organizar a ma-
triz necessária à migração celular e à liberação das citocinas, bem como dos
fatores de crescimento, imprescindíveis para o fechamento da lesão, conforme
apontam Mendonça e Coutinho-Netto (2009) e Pagnano et al. (2009).
A formação do coágulo é necessária para aproximar as bordas da lesão e
para cruzar a fibronectina, que servirá de base para que outras células atuem,
como os fibroblastos, as células endoteliais e os queratinócitos, conforme
apontam Isaac et al. (2010) e Oliveira e Cunha-Dias (2012). As plaquetas são
importantes do ponto de vista homeostático, uma vez que secretam mediadores
inflamatórios e fatores de crescimento para o local do ferimento. Entre os
fatores de crescimento liberados, estão:
Fase proliferativa
Nesta fase, ocorrem quatro eventos: epitelização, angiogênese, formação de
tecido de granulação e deposição do colágeno. A epitelização ocorre até o final
da segunda semana após o ferimento e, se a membrana basal da epiderme não
for lesada, as células epiteliais migram para a superfície, e as demais camadas
são reestruturadas em poucos dias. Caso contrário, as células epiteliais das
bordas da lesão se proliferam, na tentativa de restaurar a pele. A epitelização
se caracteriza pelo encontro das bordas da lesão pelos queratinócitos que não
foram lesados e dos anexos cutâneos, que participam da formação do tecido
de granulação. O fator de necrose tumoral (TNF-α) estimula a angiogênese,
com a participação das células endoteliais e a formação de capilares. O fator
de crescimento PDGF induz os fibroblastos dos tecidos vizinhos a migrarem
para a região, e o TNF-α estimula a produção de colágeno tipo I e a formação
de miofibroblastos, que são imprescindíveis para a contração da lesão, segundo
Freire et al. (2018).
4 Fármacos e cicatrização
(Continua)
Fármacos e cicatrização 7
(Continuação)
A artrite reumatoide é uma doença autoimune inflamatória e crônica. Dessa forma, ela
influencia negativamente no processo de cicatrização, fazendo com que o processo
ocorra de forma lenta, conforme apontam Goeldner et al. (2011). Para saber mais sobre
esse tema, leia o artigo disponível no link a seguir.
https://qrgo.page.link/UAtqv
aponta Aulton (2016). Contudo, a oclusão pode reter o suor no local da lesão
e permitir a infecção, causando efeitos indesejáveis, de acordo com Costa,
Machado e Selores (2005).
A aplicação tópica de fármacos é destinada à obtenção de efeitos na super-
fície da pele, no estrato córneo, na epiderme viável, na derme ou nos anexos
cutâneos (glândulas sudoríparas e sebáceas, folículos pilosos e unhas), ou em
conjunto, atuando em todas as estruturas da pele, conforme aponta Silva (2017).
Em relação à posologia para a via tópica, a quantidade de produto que sai do
orifício de uma bisnaga (geralmente 5 mm) corresponde a aproximadamente
0,5 g, o que é suficiente para cobrir uma superfície de 300 cm2, segundo Costa,
Machado e Selores (2005).
Muitos fármacos contribuem para promover a cicatrização, denominados
cicatrizantes, acelerando esse processo e propiciando o fechamento da ferida.
Os mais conhecidos são os agentes desbridantes, que são enzimas indicadas
para os casos de remoção de tecido desvitalizado ou necrosado. Os agentes
desbridantes enzimáticos mais empregados são a fibrinolisina, a desoxirri-
bonuclease e a colagenase. Esses fármacos podem atuar de forma isolada ou
em associações entre eles e com os antibióticos. Os antibióticos são indica-
dos quando há presença de processo infeccioso secundário, o que retarda a
cicatrização, conforme Oliveira e Cunha-Dias (2012) e Mendes et al. (2017).
No Quadro 2, confira os fármacos usados na cicatrização, verificando seus
mecanismos de ação, suas formas farmacêuticas e as possíveis associações
entre medicamentos.
Alguns fármacos utilizados para tratar patologias diversas podem prejudicar
o processo de cicatrização, ocasionando retardo na cicatrização em diversos
níveis. Por exemplo, alguns fármacos podem inibir a proliferação dos fibro-
blastos, células imprescindíveis para o reparo tecidual, interferindo no processo
de coagulação sanguínea, entre outros aspectos, conforme apontam Oliveira e
Cunha-Dias (2012) e Mendes et al. (2017). Entre os fármacos que dificultam
o processo cicatricial, pode-se citar os anti-inflamatórios esteroidais e não
esteroidais. Os anticoagulantes frequentemente prescritos para o tratamento
e a prevenção das doenças tromboembólicas são a heparina e a varfarina;
esses fármacos estão associados ao maior risco de sangramentos e hemorragia
e, dessa forma, dificultam o processo cicatricial.
Quadro 2. Mecanismos de ação dos fármacos cicatrizantes
Forma
Fármaco Mecanismo de ação Medicamentos e associações farmacêutica Referência
Desoxirribonuclease Enzima lítica; agente desbridante Fibrase (fibrinolisina, Pomada Cristália (2013)
de tecidos e cicatrizante de desoxirribonuclease e Mandelbaum, Santis e
ferimentos; age no DNA das cloranfenicol) Mandelbaum (2003)
células do exsudato da ferida Cauterex (fibrinolisina,
desoxirribonuclease e
gentamicina)
Colagenase Age degradando o colágeno nativo Kollagenase (colagenase) Pomada Cristália (2015)
do ferimento e é indicada para Kollagenase com Cristália (2016)
lesões que apresentem tecido cloranfenicol (colagenase e Franco e Gonçalves
desvitalizado; contraindicada em cloranfenicol) (2008)
cicatrizes por primeira intenção Mandelbaum, Santis e
Mandelbaum (2003)
(Continua)
Fármacos e cicatrização
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(Continuação)
Forma
Fármaco Mecanismo de ação Medicamentos e associações farmacêutica Referência
Fármacos e cicatrização
Cloranfenicol Antibiótico tópico bacteriostático Pode ser associado a Pomada Cristália (2019)
de amplo espectro, usado em agentes desbridantes
infecções bacterianas secundárias (Fibrase, Kollagenase com
que podem estar presentes, cloranfenicol)
prejudicando a cicatrização
Bacitracina Usada na profilaxia de infecções Nebacetin (neomicina e Pomada Takeda Pharma (2017)
cutâneas provenientes de ferimentos, bacitracina) — a associação
queimaduras e abrasões de pequena dos dois antibióticos permite
extensão; geralmente responde a inibição de vários tipos de
bem a bactérias Gram-positivas bactérias
(Continua)
14 Fármacos e cicatrização
(Continuação)
Conheça mais sobre o efeito negativos dos AINEs sobre o processo cicatricial acessa
o link a seguir.
https://qrgo.page.link/H8gSH
Leituras recomendadas
BIELECKI, T.; EHRENFEST, D. M. D. Platelet-Rich Plasma (PRP) and Platelet-Rich Fibrin
(PRF): surgical adjuvants, preparations for in situ regenerative medicine and tools for
tissue engineering. Current Pharmaceutical Biotechnology, v. 13, n. 7, p. 1.121-1.130, 2012.
CAUTEREX: fibriosina. Unguento em bisnaga. Responsável técnico Wilson R. Farias.
Guarulhos: Aché Laboratórios Farmacêuticos, 2017. 1 bula de medicamento (2 p.).
Disponível em: http://www.saudedireta.com.br/catinc/drugs/bulas/cauterex.pdf.
Acesso em: 19 dez. 2019.
FIBRASE: fibrinolisina, desoxirribonuclease e cloranfenicol. Responsável técnico Raquel
Oppermann. Guarulhos: Pfizer, 2007. 1 bula de medicamento (8 p.). Disponível em:
http://www.saudedireta.com.br/catinc/drugs/bulas/fibrase.pdf. Acesso em: 19 dez. 2019.
FIBRINASE COM CLORANFENICOL: fibrinolisina, desoxirribonuclease e cloranfenicol.
Responsável técnico José Carlos Módolo. Itapira: Cristália, 2014. 1 bula de medica-
mento (7 p.).
FRANCO, D.; GONÇALVES, L. F. Feridas cutâneas: a escolha do curativo adequado. Revista
do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 35, n. 3, p. 203-206, 2008.
FREITAS, T. H. P.; SOUZA, D. A. F. Corticosteroides sistêmicos na parte dermatológica: parte
I – principais efeitos adversos. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 82, n. 1, p. 63-70, 2007.
GINO KOLLAGENASE: colagenase e cloranfenicol. Pomada ginecológica. Responsável
técnico José Carlos Módolo. Itapira: Cristália, 2015. 1 bula de medicamento (6 p.).
Disponível em: https://www.cristalia.com.br/arquivos_medicamentos/216/216_GI-
NOKOLLAGENASE_Bula_Profissional.pdf. Acesso em: 19 dez. 2019.
KOLLAGENASE: colagenase. Pomada dermatológica. Responsável técnico José Carlos
Módolo. Itapira: Cristália, 2016. 1 bula de medicamento (2 p.). Disponível em: https://
www.cristalia.com.br/arquivos_medicamentos/113/KOLLAGENASE.pdf. Acesso em:
19 dez. 2019.
Fármacos e cicatrização 17
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