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b) busca ou recuperação (nota 2)
Humanas e I::ciucaç5.0
RESUMO: A Documentação enquanto atividade de seleção, tratamento e
disseminação da informação, em uma "corrente de elos indissociáveis" da UFPr.
(fluxo da informaçãol. A etapa de tratamento da informação envolvendo
1. Análise documental
dois procedimentos interdependentes: análise documental, abordada sob
aspecto metodológico, com especial enfoque às formas de linguagens do-
cumentárias, e a recuperação da informação, abordada em seu conceito e A análise documental, como processo de caracterização do do-
nos problemas intervenientes no processo, tais como "ruídos" e "silên- cumento, pode, conforme seu objetivo, ser subdividida em duas es-
cios". Análise dos fatores especificidade e expressividade como caracterís-
pécies, a saber: (CESARINO 12:269)
ticas das linguagens documentárias, mostrando sua direta influência no
processo de recuperação temática da informação, através de exemplos da
área de Direito do Trabalho .. • análise descritiva ou bibliográfica; visa a registrar os dados refe-
PALAVRAS-CHAVE: Análise documentária; Indexação; Linguagens do-
cumentárias; Recuperação da informação; Representação temática da in- rentes às características físicas do documento, como autor, título,
formação. edição, local de publicação, editor, data de publicação, tradutor,
tamanho, volume(s), número de páginas, etc.
A recuperação da informação deve ser entendida em seu aspec-
to mais dinâmico, como "elo de uma corrente", ou ainda, etapa de • análise temática ou de conteúdo (notas 3 e 4): visa a registrar o(s)
um fluxo: o fluxo da informação. assunto(s) ao(s) quatüs) o documento se refere.
Para tanto, necessário se torna fazer referência a seu macro-
universo: a Documentação, como área do conhecimento que visa a A análise descritiva, em que pesem os numerosos estudos na
reunir e organizar a informação para disseminá-Ia ao usuário. SMIT área, tem-se deparado com maiores entraves, "talvez por ser menos
reduzível a regras e por trabalhar com fatores que não identificam
realmente determinada obra" (CESARINO 12:270), mas um conjun-
:. Extraído da dissertação de mestrado: "A recuperação temática da informação em to, categoria ou classe de documentos.
direito do trabalho no Brasil: propostas para uma linguagem de indexação na
área", defendida em 27.01.89, na Escola de Comunicações e Artes da USP, tendo Enqua.dram-se nesse âmbito a CLASSIFICAÇÃO como "proces-
como orientadora a Profa. Dra. Johanna W. Smit. so mental de agrupamento de elementos portadores de característi-
** Professor-Assistente do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Fa- cas comuns e capazes de serem reconhecidos como uma entidade ou
culdade de Filosofia e Ciências da UNESP - Marília.
De acordo com CESARINO & PINTO (13:273), as linguagens al- FOSKETT (19:316) apresenta ainda como característica dos
fabéticas utilizam-se de termos da própria linguagem natural (nota
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José Augusto Chaves Guimarães
Recuperação Temática da Informação
Uma vez caracterizado o processo de análise documental, pas- RuíDO: documentos fornecidos ao usuário e que não corres-
pondem à solicitação feita, seja:
semos agora a considerar sua etapa subseqüente ou, ainda diría-
mos, seu objetivo imediato: a busca ou recuperação da informação
a) por erro no procedimento de busca.
(nota 17).
Ex:
BROWN (5) define recuperação da informação como o "proces-
so que visa a satisfazer as necessidades/pedidos dos usuários, for-
necendo-Ihes as informações relevantes existentes no acervo" (nota a) o usuário deseJa-'irÍ'fõ~mação-sO-bre '/Direito do Trabalho"'e rece-
be "Direi.to ao Trabalho" (nota 19).
18).
Na definição apresentada, temos a destacar seus elementos:
b) o usuário deseja informação sobre "Enquadramento sindical" e
recebe "Sindicato".
a) PROCESSO: a recuperação da informação é de caráter dinâmico
(ação) e, como tal, necessita de partes interagindo. Aplica-se aqui
o esquema de comunicação de SHANNON e WEAVER (12:158) SILÊNCIO: "conjunto de documentos pertinentes que existem
na memória documental e que, portanto, deveriam responder a uma
onde, de um lado, encontra-se o usuário e, de outro, a informa-
pergunta, mas não foram selecionados no momento da interrogação
ção, tendo os registros informacionais como ponte ou elo.
devido a características não concordantes entre a formulação da
482 da CLT).
Ressalta AMAT-NOGUEIRA (1 :206) que um silêncio de até trin-
ta por cento pode ser ainda considerado aceitável, taxa que deverá
necessariamente ser reduzida em áreas mais especializadas, onde a
quantidade de documentos disponíveis é significativamente menor.
Podemos identificar, a partir do exposto, um princípio da recu-
A Teoria dos Conjuntos fornece subsídios para um melhor en-
peração da informação, ou seja, a capacidade de levantar apenas
tendimento dos RuíDOS e SILÊNCIOS, através de intersecções on-
parte do acervo (nota 20) em resposta a cada pedido, identificando
de: "classes" do, acervo relevantes à necessidade do usuário. Reside aí
o chamado "Princípio da Seletividade" (CHAUMIER 14:44).
A = assunto de interesse do usuário A recuperação da informação tem se tornado, cada vez mais,
B = documentos existentes alvo de estudos, principalmente no que se refere ao desenvolvimen-
A B = documentos relevantes existentes to de novas estratégias de busca e formas de avaliação de sua eficá-
C = documentos efetivamente recuperados cia. Tal fato se dá em razão de um fator apontado, dentre outros,
por SMIT (27:18), COÜ-VINENT (16:25) e FOSKETT (19:3). qual
Assim, partindo-se da premissa que a situação ideal corres- seja: a explosão da informação. Esse aumento de volume da "massa
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ponde à identidade entre A, B e C, temos: documental" existente passa a requerer mecanismos cada vez mais
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sofisticados de tratamento temático, de forma a que o usuário con- maior especificidade na representação temática acarreta menor re-
tinue a receber informação relevante com um percentual mínimo de vocação (nota 23) e maior precisão (FOSKETT 19:14 e PIEDADE
"ruídos" ou "silêncios" (nota 21). 26:12). Assim, o usuário terá em mãos um menor número de docu-
Dessa forma, instaura-se uma "via de dupla mão": de um lado mentos mas, por outro lado, maior será a probabilidade de que os
aumentam (em volume e especificidade) as informações produzidas mesmos atendam satisfatoriamente à solicitação feita, poupando-lhe
em uma determinada área do conhecimento e, de outro, aumentam- tempo na seleção de documentos relevantes (nota 24).
da mesma forma - as solicitações da comunidade usuária. Isso se dá CHAUMIER (14:43), ao referir-se à etapa de tradução de concei-
de forma interdependente, pois o aumento da produção bibliográfi- tos em linguagem de indexação, refere-se à especificidade como re-
ca em uma área presume a maior atenção dada àquela área e, por- gra a ser adotada a dois níveis:
tanto, maior número de pesquisadores dedicados a seu estudo, ne-
cessitando de maior número de informações, estas na exata confor- a) vertical: "o descritor deve se situar ao mesmo nível de especifici-
midade com seus pedidos (sem "ruídos" ou "silêncios"). dade do conceito".
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Conciliação e Julgamento", pré-coordenada como se apresenta, for- temas especializados: modular a qualidade do processo de busca
nece sentido preciso, sem o per iqo das falsas coordenações possíveis (nota 27).
na seguinte associação de descritores: Passemos agora à outra questão atinente ao processo de re-
presentação e recuperação temática: a expressividade da linguagem
JUNTA + CONCILIAÇÃO + JULGAMENTO e, por conseguinte, dos registros informacionais, ponto de acesso
do usuário à informação.
A especificidade, nos sistemas hierárquicos, é apresentada por Aqui, empregamos o termo de forma genérica, diferenciando-o,
LANGRIDGE (22:67). ao referir-se às "Relações de Abrangência". pois, da maneira como é entendido em Teoria da Classificação, ou
Nesse sentido, tais sistemas partem de conceitos genéricos, aplican- seja, a capacidade de uma notação refletir a estrutura de um esque-
do-Ihes divisões sucessivas, atingindo níveis crescentes de especifi- ma de classificação.
cidade ou, como prefere o referido autor, "extensão decrescente Dessa forma, temos por expressividade a capacidade de um
e intensão crescente", fato mais facilmente observável nos sistemas termo de linguagem de irídexação representar fielmente o conceito
decimais onde notações mais extensas representam assuntos mais que pretende substituir, em adequação com o vocabulário da área a
específicos. que se destina (nota 28).
Cabe aqui uma observação: a co-existência de duas linguagens
Direito do Trabalho
Ex.: 341.6 no processo de recuperação da informação, ou seja: a linguagem na-
Contrato individual de trabalho
341.65 Remunera- tural e a linguagem documentária, artificial enquanto preocupada
Obrigações do empregador. Salário.
341.654 com questões ligadas não apenas ao conteúdo da mensagem a ser
ção transmitida, mas também com a padronização, o controle de voca-
Elementos suplementares do salário
341.6543 (8:85) bulário'. Assim, poder-se-ia argumentar que os termos componentes
341.65436 Prêmios de produtividade
de uma linguagem documentá ria (ou de indexação) não têm, em
primeiro plano, o compromisso de serem fiéis ao vocabulário do
Nos sistemas alfabéticos ou combinatórios, a especificidade é
usuário.
objetivamente observável apenas naqueles que apresentam relações
Acreditamos que deve haver um duplo intuito, ou seja: forne-
hierárquicas ("thesauri"):
c~r uma linguagem consistente, mas refletir, com a maior fidelidade
possível, o vocabulário especializado de uma área, pois este, uma
Ex.: Labour dispute / Conflict du travail / Conflicto de trabajo
vez consolidado, constituir-se-á na maneira pela qual o sistema é
BT Social conflict
NT Lock-out (25:74) acionado ou, melhor dizendo, no "input" do processo de busca.
A expressividade, nas linguagens hierárquicas, é considera-
onde NT indica o nível de especificidade atingido (nota 26). v~lmente ~enor que nas linguagens alfabéticas. Tal fato se dá uma
vez que as primeiras trabalham com conceitos, objetivando fornecer
É GULL (21 :343) quem, a nosso ver, atribui à especificidade (ou ao classificador uma idéia d,a área de assuntos a ser representada
'por
, uma determinada notação.
"profundidade de indexação"), sua função mais importante nos sis-
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(16) A prática tem mostrado que a maioria das linguagens alfabéticas em áreas espe-
cializadas inicia-se com o levantamento do vocabulário da área, passando poste-
(5) PIEDADE (26:9) define sinteticamente indexação como "o ato de incluir o registro
de um documento em um repositório de informações (índice)", ao passo que MA- riormente para o estabelecimento de relações horizontais (equivalência e associa-
ção). gerando listas de cabeçalhos de assunto, tornando-se "thesauri" em uma ter-
TOS (24). baseando-se nos "Princípios de Indexação" do UNISIST, mostra, de
ceira etapa, com o estabelecimento de relações verticais e poli-hierárquicas.
forma mais analítica, a indexação como a "representação do conteúdo do docu-
mento por meio de símbolos especiais, quer retirados do texto original (palavras- (17) Dizemos objetivo imediato por entendermos que o objetivo mediato de todas as
etapas da documentação é justamente sua atividade-fim: a disseminação da infor-
chave ou frases-chave). quer escolhidos em uma linguagem de informação".
mação. ,
(6) CINTRA (15) traça um paralelo entre a leitura propriamente dita, como processo
(18) Vale salientar que a expressão "recuperação da informaçâo" passou a ser empre-
interativo leitor/texto e aquela que denomina "leitura para fins documentários",
gada a partir da década de 50, sendo primeiramente utilizada por MOORS (13:270).
na qual o princípio de cooperação autor/leitor é rompido pelo documentalista, que
(19) Note-se que no exemplo apresentado houve uma falha gritante, conduzindo o
realiza uma leitura com objetivO determinado, lançando mão de um conhecimento
usuário para outra área do Direito, considerando-se que o "Direito ao Trabalho"
(7) prévio.
CHAUMIER (14:43) denomina "leitura em diagonal" àquela que visa a extrair ots) pode ser visto no rol 'dos direitos fundamentais ou direitos humanos, estudados
assunto(s) do documento, através de suas "passagens mais ricas em informação", doutrinariamente pelo Direito Constitucional (vide art. 153 da Constituição Federal
de 1967).
tais como: título e subtítulo, introdução, sumário, conclusão, etc.
(20) O termo PARTE se faz necessário, uma vez que um todo documentário (acervo) é
(8) A questão da política de indexação é amplamente discutida por CARNEIRO (7) que
a situa no âmbito do planejamento bibliotecário necessitando, dessa forma, de por si só recuperável, sem necessidade de métodos preliminares de organização,
identificação da organização, da clientela e dos recursoS financeiros, materiais e ou ainda, registros informacionais.
humanos disponíveis. Como elemento do processo de indexação, a autora aponta:
nível de exaustividade e de especificidade do sistema e capacidade de revocação e
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
precisão do mesmo.
(9) "Termos tal como empregados pelo autor analisado" (FOSKETT 19:40).
(10) Nesse caso, devem ser utilizados artifícios que impeçam a ocorrência de falsas co-
ordenações (do tipo "Bibliotecários de sindicatos", ao invés de "Sindicatos de Bi- 1. AMAT-NOGUEIRA, Núria. Técnicas documentales y fuentes de Ia información. Bar-
bliotecários"). tais como os operadores de relação, instrumentoS que indicam os celona: Bibliograf, 1978. 485p.
tipos de coordenaçaO de conceitos que podem ser feitos. 2. BRASIL. Leis, decretos, etc. Consolidação das leis do trabalho. 10. ed. São Paulo: Sa-
(11) A questão da especificidade e da expressividade dos assuntos encontra-se discuti- raiva, 1988.
3. BRASIL. Constituição, 1967. Constituição da República Federativa do Brasil: emenda
(12) da no aitem
Aqui 3. emprega o termo "linguagem
autora natural" como aquela expressa em constitucional n2 1, de 17 de outubro de 1969. 26. ed. São Paulo: Saraiva,
palavras, em contraposição às linguagens codificadas (hierárquicas). 1983.
(13) Vale ressaltar os três princípios básicos estabelecidos por CUTTER: a) "princípio 4. BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Biblioteca. Vocabulário controlado básico
específico" _ o assunto deve dar entrada pelo termo mais específico e não pela (VCB). Brasília: PRODASEN, 1986. 2v. listagem de computador.
classe a que está subordinado; b) "princípio de uso" - deve-se dar entrada pelo 5. BROWN, Alan George. Introduction to subject indexing. London: Clive Bingley, Ham-
termo mais conhecido (mais usual) pela comunidade usuária; c) "princípio sintéti- den (Conn.): Linnet, 1976. v.1.
co" _ deve-se prever estruturas relacionando assuntos (redes de referências cruza- <, 6. CAMPOS, Astério Tavares. O processo classificatório como fundamento das lin-
guagens de indexação. Revista de Biblioteconomia de Brasflía, Brasília, v.6, n.1,
(14) das).
CHAUMIER (14) define os três tipos de relações em linguagens alfabéticas: a) rela- p.1-8, jan.ljun. 1978.
ção de equivalência _ remete ao termo descritor (autorizado) os termos considera- "7. CARNEIRO, Marília Vidigal. Diretrizes para uma política de indexação. Revista da
dos sinônimos ou quase-sinônimos. Ex.: camponês VER trabalhador rural; b) rela- Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v.14, n.2, p.221-241, set.
ção de associação: permite unir os termos que possuem conotações entre si. Ex.: 1985.
contrato de trabalho VER TAMBÉM contrato de experiência; c) relação hierárquica: 8. CARVALHO, Dóris de Queirós. Classificação decimal de direito. 3.ed. Rio de Janeiro:
permite situar um termo em relação ao outro, do geral para o particular. Ministério da FazendalDivisão de Documentação, 1977. 188p.
9. CAVALCANTI, Cordélia Robalinho. Indexação. In: MACHADO, Ubaldino Dantas,
Ex.: Conflito trabalhista etc. Estudos avançados em biblíoteconomia e ciência da informação. Brasília: ABDF,
TG Direito do trabalho
1982. v.1 p. 211-233.
TE Greve 10. CDU. Classificação decimal universal. ed. média em língua portuguesa. Brasília:
(15) LAUREILHE (23:1) define "thesaurus" como: "uma lista de autoridade organizada
de descritores e não descritores que obedecem regras terminológicas próprias, IBICT, 1976. 3v.