Resenha: Documentário - A História Secreta da Obsolescência Planejada
O documentário parte da análise de um caso atualmente comum de
problema com um produto eletrônico (nesse caso, uma impressora) para abordar um fator de grande relevância na história, tanto do desenvolvimento econômico, como do social e tecnológico. A obsolescência planejada é então apresentada primeiramente a partir do seu surgimento histórico num contexto de cartelização da produção de lâmpadas, tendo por finalidade estabelecer um limite a vida útil do produto visando uma crescente produção e venda, decorrente de uma demanda que não mais teria outras opções a não ser consumir o produto do cartel, ou se ver desabastecida. É apresentado como esse fator de produção se expandiu para o resto do mercado se tornando em alguns momentos, planos explícitos para fomentar o crescimento econômico, e como de certa forma esse era fomentado não apenas pelos empresários, mas também pelos trabalhadores das fábricas, preocupados com seus empregos, e também pelos consumidores finais, ávidos por produtos novos e modernos. Obviamente esse processo ocorre de certa forma inconsciente, sem que as pessoas percebam ou tenham ideias claras de seus resultados, sejam eles positivos ou negativos Se por um lado a obsolescência planejada gerou um grande crescimento, por outro levantou dúvidas quanto a sua possível sustentabilidade, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do econômico. Essas questões são levantadas por pensadores que não veem sentido em um crescimento econômico por crescimento econômico, cujo objetivo seria atender a necessidades artificialmente criadas por propaganda, sem atender de maneira eficiente necessidades humanas subjetivas, como a felicidade. Por outro lado, as consequências são reais e objetivas, como a crescente destruição dos recursos naturais e a poluição apresentada em decorrência da crescente produção, explicitamente visível em países chamados de “terceiro mundo” onde os “benefícios” desse contexto econômico não chegam, mas os seus subprodutos são enviados de maneira literal; É a imagem real que faz frente aos vídeos de propaganda da sociedade do consumo, que invadiu os recantos mais resistentes, como o caso dos países que pertenciam a URSS. É claro o dilema ético apresentado aos talvez principais envolvidos nesses processos, os engenheiros, que são de certa forma individualmente dispensáveis, mas coletivamente uma engrenagem essencial pela qual são definidas as partes técnicas de todo o processo. Desde o surgimento da obsolescência programada até os dias atuais, é uma questão de grande relevância pensar que posição tomar nesse jogo social, econômico, moral, intelectual, tecnológico e científico; No final das contas, isso revela uma questão de complexidade histórico-social de nível global, tanto no sentido geográfico, quanto no de aspectos humanos envolvidos. Nos últimos tempos esse panorama vem sofrendo alterações; Se por uma lado, ainda existem reações clássicas, como recorrer ao sistema judiciário para a resolução dos conflitos gerados por esse sistema de produção, por outro os frutos dessa gigantesca produção também criou ferramentas que facilitaram a troca rápida de informações, como é o caso da internet, que hoje permite um contra corrente ecoando críticas e conteúdos para a população em geral, que as permite se posicionar perante esse processo. O documentário chega ao fim com o problema da impressora sendo resolvido após um longo processo de busca por respostas acerca do problema, o que revela de modo translucido a situação atual dos povos que vivem em meio ao fator obsolescência planejada; É possível resistir a essa corrente, procurando alternativas e se associando com pessoas que veem nesse modelo problemas, mas de modo geral, é mais fácil comprar outra “impressora”, não ter que se arriscar com a responsabilização das consequências de mudar todo esse modelo.