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“O miúdo lê em voz alta. Seus olhos se abrem mais que a voz que,
lenta e cuidadosa, vai decifrando as letras. Ler era coisa que ele
apenas agora se recordava saber. O velho Tuhair, ignorante das letras,
não lhe despertara a faculdade da leitura. A lua parece ter sido
chamada pela voz de Muidinga. A noite toda se vai enluarando.
Pratinhada, a estrada escuta a estória que desponta dos cadernos:
Quero pôr os tempos...”(COUTO, 2007, p. 13)
O velho e o menino não sabem definir se as estórias de Kindzu são de fato reais
ou apenas ficcionais, nem mesmo certeza de que o homem existiu é possível ter, a única
verdade é que as narrativas dos cadernos amenizam as dores de suas vidas, essas que já
não é possível saber se também são reais ou apenas um logo pesadelo. Essa triste
incerteza que perpassa durante todo o enredo do livro resoluta em uma única afirmação
para nós, leitores de Terra Sonâmbula: a África precisa ser contada.
A literatura não é só uma revolta daquele que lê, mas também daquele que escreve.
Enquanto Muidinga e Tuahir lutava com as palavras contra a devastação da Guerra
Civil, Kindzu buscava um meio de manter sua história e a história de seus ancestrais
viva , e ainda, para nós, os segundos leitores dessa história, Terra sonâmbula é uma
fonte de conhecimentos e saberes provindos do continente africano e reconhecer como
afirma Maria Morais:
Fato é que, após anos de destruição em África, que levou corpo e alma de
milhares de seus habitantes, é preciso revisitar o passado para compreender o que se
tornou no presente, mantendo viva a cultura da sociedade africana tradicional.
Reelaborando a tradição oral africana a literatura acende como o mais importante meio
de consolidação e perpetuação da história desse povo, Mia Couto, Pepetela, Agualusa,
Paulina Chiziane, são atualmente grandes responsáveis por esse trabalho. Podemos
concluir, como a pesquisadora Josilene Campos coloca:
Referências:
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.