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O culpado é o mordomo
NOVEMBER ,
“Se alguém sofreu na mão do Roberto Carlos, esse cara sou eu”, diz, com
um jeito solene, o escritor e psicoterapeuta Roberto Pinheiro Goldkorn.
Logo em seguida, cai numa gargalhada: “Desculpe, não resisti”.
Mariano teria hoje anos, caso esteja em circulação. “Ele era ‘semianarfa’,
fui o ghost writer do livro. Quando vi o calhamaço de anotações dele, quase
incompreensíveis, tive de reescrever tudo. Censurei muito o livro, tive de
pinçar várias coisas muito pesadas. Eu pensava: se eu fosse o Roberto Carlos,
iria me rasgar quando lesse isso aqui”, afirma o ex-editor.
“Esse é o Nichollas, mora! O jovem promete muito e sua voz transmite. Sua
música vai ser a lenha! Ouçam com carinho e atenção esse primeiro
compacto do meu amigo Nichollas. Vocês vão entrar na onda dele”, escreveu
o ‘Rei’.
Mas, em , a lenha virou carvão. Roberto teria sabido de comentários
desairosos de Mariano a respeito de sua mulher na época, Nice, e o demitiu.
Sem conseguir se readaptar ao mercado de trabalho, Mariano começou a
escrever sobre sua experiência. O livro continha uma mensagem para o
cantor: “Desculpe, amigo, se alguma coisa aqui não lhe agrade. Mas acho
que fui, além de tudo, sincero e honesto. Para todos que o curtem sem o
conhecer, para aqueles que veneram o ídolo, o semideus intocável, distante e
material, projetado pela máquina, este livro só vai engrandecer a sua
imagem, tornando-a mais humana, mais palpável, mais próxima”.
Roberto Goldkorn (que foi preso três vezes na ditadura, torturado e integrou
o MR-) conta que tentou por todos os meios convencer Roberto Carlos de
que a liberdade de expressão era mais importante, e no final das contas
aquele era um livro elogioso. Procurou todos os artistas com quem Roberto
tinha amizade na época. “Todos me viraram as costas. É impressionante o
corporativismo dessa classe. A única que me recebeu foi a Wanderléa. Ela
tentou interceder, mas voltou dizendo o seguinte: ‘Roberto odiou o livro’.”
Tentaram ainda ir atrás de uma outra amiga íntima de Roberto, a atriz Lady
Francisco. Ela também não trouxe boas notícias do lado de lá. Ouviram de
alguém que “Roberto disse que vocês vão ser esmagados como piolhos”. Os
aventureiros da primeira biografia proibida descobririam que não era um
bom negócio brigar com alguém da casa real brasileira.
“Mas você nunca pegou nada para você?”, perguntou-lhe uma vez seu editor,
ao que Mariano respondeu: “E para quê? Eu tinha tudo que precisava, nunca
imaginava que um dia estaria passando necessidade”. Apesar de Roberto
Carlos afirmar que só havia mentiras no livro, foi por meio dele que se
soube, pela primeira vez, que o ‘Rei’ tivera um filho, Rafael, com uma fã,
coisa que ele só admitiria em .
O Rei e Eu virou lenda - Araújo conta que, para burlar a vigilância, chegou a
ser reeditado com todos os nomes mudados, e lançado no mercado com o
título de Eu Sou o Rei, assinado por Adelaide Carraro, a famosa autora de
obras eróticas.
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